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quinta-feira, 25 de maio de 2006
25 de Maio de 2006
Morreu na sua casa, deitada na cama com a cabeça pendida para o solo, num gesto de abandono total. Um fio de baba pendura-se-lhe da boca e está quente ainda.
Conforme caiu na cama, assim ficou, com as partes traseiras imóveis, ossos deformados, e estava assim há não mais de dois dias. A parcial paralisia ainda lhe permitiu sair da cama e vir cá fora fazer as necessidades. Não tocou na comida nem na água desde então. Quando lhe levantei o rosto pesado, sem força, viva ainda, ela moveu as sobrancelhas e entreabriu os olhos cansados. Olhou-me e sorriu-me. Juro que lhe vi um sorriso, apesar da dor adivinhada, em silêncio absoluto, nem um gemido sequer. Agoniou dois dias sem se queixar. Sofremos com ela, impotentes, e em consciência sabíamos a única coisa a fazer, mas a esperança, a maldita esperança que às vezes mais valia morrer, fez-nos mantê-la viva, a sofrer calada.
Hoje, já tudo passou. Está a descansar sem agonia debaixo da velha figueira, com sete palmos de terra em cima do corpo esquelético.
Ao volante, viro-me para trás e a minha filha tem duas grossas lágrimas a encharcarem-lhe o rosto. Sofre em silêncio. Como a Princesa sofreu.
Treze anos tinha a Princesa. Treze anos. Não, não vivia connosco, mas não passávamos mais de uma quinzena sem a vermos.
Na Natureza nada se perde, tudo se transforma. E nas ervas e nas plantas que hão-de nascer, e em todas as flores onde as borboletas e abelhas hão-de pousar um dia, estará o espírito da Princesa. Da terra nascemos, à terra voltamos, e se formos amados, seremos eternos.
“…a terra à terra, a cinza à cinza, o pó ao pó…” Descansa em paz Princesa. Nunca te esqueceremos.
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