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quarta-feira, 27 de março de 2013

Um dia...






















Vieram de longe. Não muito, para os dias que correm e para as facilidades que há. Mas o mundo de cada um é muito diferente do de muitos outros e com onze anos feitos, neste pequeno país, a miúda já tinha vindo a Lisboa, é certo, mas nunca ao Jardim Zoológico. A promessa, feita há anos, vinha a ser adiada de férias para férias, de ano para ano. E nunca calhou. Por tempo ou falta dele. Por dinheiro ou falta dele. Por vontade ou falta dele. Os adultos sempre a manterem os pés no chão, o sonho adiado e as expectativas defraudadas. Um dia...Um dia...diziam.

O dia foi hoje. Muitos quilómetros percorridos e um sábado de chuva a comprometer uma vez mais a realização do sonho.

Fé. Uns têm. Outros não. Nisto. Naquilo. Sempre fé. Esta rapariga tem fé. Ateia desde que pensa, continua a ter fé. Muita fé. Não lhe perguntem em quê. Apenas fé. Positivismo, optimismo, ingenuidade, bondade, seja lá o que for. Esta rapariga tem. Nem sempre. Mas quando quer verdadeiramente, tem! A necessária e suficiente para mudar o mundo! E na maior parte das vezes até consegue!

Sábado chovia copiosamente quando acordaram mas ela estava decidida a ajudar a realizar o sonho da pequena e tinha fé. Fé que o sol ia brilhar neste sábado para lhes permitir usufruir do Zoo em todas as suas possibilidades.

Prepararam a merenda que os quase EUR 40,00 por 2 pessoas de entrada no Zoo não permitiriam mais extravagâncias. Meteram-se no carro teimosamente debaixo de chuva e meteram-se na auto-estrada. A pequena, calada, temia a decisão dos adultos. Tanta chuva, diziam, talvez seja melhor um programa alternativo, dizia uma. Não! Dizia esta rapariga. Isto vai melhorar! Vai melhorar! Mas até ela começava a sentir a sua confiança abalada. Chovia torrencialmente na A1 e os limpa-vidros do carro eram insuficientes para que lhes fosse permitido ver a estrada. A velocidade do carro diminuiu e a rapariga decidiu: vamos até lá! Lá, à porta, logo decidimos! E teimosamente conduziu a viatura até Sete Rios, estacionou e já a chuva se transformara apenas em chuviscos.

Pegou na mochila, na máquina fotográfica e entrou no espaço. A pequena, tímida mas de olhinhos brilhantes, avançava em silêncio, com uma alegria contida, ainda sem saber se seria legítimo manifestá-la.

Os chuviscos eram agora salpicos espaçados. A rapariga sorria. Para consigo. Vai melhorar! Pensava, com uma fé de novo inderrubável agora e compraram os bilhetes.

O dia melhorou e foi um dia memorável. Sonho realizado! Miúda feliz. Rapariga feliz! E todos os outros acompanhantes, claro! Objectivo atingido.

Repetiram vários espectáculos, repetiram o teleférico, que de início era temido. A miúda teve o privilégio de ser convidada a fazer festas e dar beijinhos aos golfinhos, a outra fotografou e filmou. Os animais são bem tratados. Estão bonitos. E se é verdade que o ideal é a liberdade, também é verdade que estas condições em cativeiro são preferíveis à extinção ameaçada de muitas espécies. E de outra forma, jamais teríamos a oportunidade de as ver de perto. E se o preço a pagar é o cativeiro para os animais, não deixa de ser verdade que os bichos estão e são bem tratados no Jardim Zoológico de Lisboa.

Foi assim, um dia feliz. Um sonho realizado. Com sol e sorrisos. E emoção. Muita emoção. Para a miúda, a tia, esta rapariga e a outra miúda. Um dia feliz. E este, já ninguém nos tira.





NOTA:
O Jardim Zoológico de Lisboa está bem e recomenda-se. Está cheio de crias e merece uma visita! A fé diz-me que os EUR 36,00 que gastei na entrada para mim e para a minha filha, serão bem utilizados! Para além de terem sido muito bem aproveitados. Merece sem dúvida, a nossa (e a vossa) visita.



Fotos e edição de video por Donafava:


segunda-feira, 18 de março de 2013

São os meus pais




Estão juntos há mais de 50 anos. Na realidade fazem hoje 51 anos de casados. Juntos. Bem ou mal, turra  daqui, turra dali, estão unidos há 51 anos. Cada um à sua maneira, cuida do outro, preocupa-se, estima, respeita, apoia, ama afinal. Há 51 anos... Coisa que nem de perto nem de longe eu alguma vez consegui, consigo ou conseguirei fazer...

Parabéns a eles. Que estejam por cá juntos e com saúde por muitos e bons anos!

nota: a família é maior, não muito, mas maior, há mais elementos mas são todos uns envergonhados e gostam pouco ou nada de se mostrar. Nada como eu, descarada até ao osso

domingo, 17 de março de 2013

Hoje

Ontem foi ontem. Passou. Consequências para hoje. Por certo.

Hoje é hoje. Está nas minhas mãos (parte da coisa).

Consequências para amanhã por certo.

Estou farta que me forniquem. Principalmente estou farta que me forniquem a cabeça.

Sempre quis acreditar e ainda acredito que as pessoas só nos fazem o que nós permitimos. Pelo menos a partir de determinado momento. De surpresa todos podemos ser apanhados, mas depois, permitirmos a continuação de certas coisas que não nos agradam e só nos prejudicam e fazem sentir mal, só depende de nós. Se à primeira podemos ser "vítimas", à segunda passamos a ser voluntários.

Também é verdade que tenho uma tendência doentia para infligir a dor e depois chorar com pena de mim própria. É verdade. Admito. Admitir é o princípio. Combato. Como posso. Como sei. Consciente que posso sempre mais.

Quero sentir-me bem. Só tenho de eliminar isto e aquilo e fomentar aquilo e aqueloutro, mesmo sob o olhar reprovador de alguém, como sempre sabemos que acontecerá. Parece simples. Chama-se viver. Saberei?




Nota: os treinos voltaram, claro. Eles são sem dúvida alguma, fonte inesgotável de bem-estar

sábado, 16 de março de 2013

Estados

A princípio é sempre assim. Vem devagarinho, em silêncio, pé ante pé, em pezinhos de lã, sem aviso ou ruído. Vai avançando para nós e vai-se assim, silenciosamente instalando enquanto impotentes damos por isso.

Primeiro fingimos não dar por ela, desviamos o olhar, não queremos ver e acreditamos que se olharmos em frente, quando nos virarmos ela já lá não vai estar. Ziguezagueamos para a despistar na vã esperança dela nos perder o rasto.

Mas não. Ela acaba sempre por nos alcançar. Implacável. Ruidosa agora. Impossível ignorar ou fingir. O silêncio seria quebrado se conseguíssemos gritar. Mas não. Sob o peso dela os gritos são mudos. Queremos levantar-nos mas o peso dela impede-nos, esmagando-nos e abafando-nos o corpo, a voz e a alma.


sexta-feira, 15 de março de 2013

dias sem treinos



"...sempre vivendo estados
E por vezes bem desamparados

..."                                         Xutos & Pontapés


"...Vocação de excessos..." 
"...Quero estoirar no fim da jornada"


                                                  UHF



...Oscilando estádios... descaradamente inspirada nas palavras dos Xutos & Pontapés e dos UHF, palavras que se vêm colar a mim, cobrindo-me como um manto, encaixando-se em mim e moldando a forma do meu corpo na perfeição, como se ali sempre tivessem pertencido.

São dias sem treinos.

São dias assim.

Até amanhã querido diário

terça-feira, 12 de março de 2013

Corrida das Lezírias 2013


Gosto de correr nas Lezírias. De quando em quando treino por lá. Estradões de terra batida ladeados pelas lezírias ribatejanas. Cavalos, touros, terras cultivadas e o Tejo, água, sempre muita água, vegetação, aves, insectos. E eu. É assim também na Corrida das Lezírias. Acompanhada de centenas de atletas que como eu ali vão participar.

Sou do tempo do chá quente no final da Corrida. Da chegada no meio da cidade. Dos banhos em balneários precários. No entanto, sempre me agradou esta prova. Absolutamente fã.

Hoje muita coisa está diferente. Continuo fã.

O Pavilhão do Cevadideiro em Vila Franca de Xira, é secretariado, apoio na partida e na chegada, incluindo massagens e banho.

Organiza a Camara Municipal de Vila Franca de Xira com apoio técnico da Xistarca.

Destaco as condições naturais onde a Corrida decorre: as Lezírias, a terra batida, a vista, a cidade de Vila Franca de Xira, com um pouco de empedrado a desagradar aos músculos e ao esqueleto. O ambiente antes da partida, os exercícios de aquecimento incentivados por monitor animado e ajudado pela música, o percurso bem sinalizado, muito bonito, os quilómetros marcados, a passagem pela ponte sobre o Tejo, o trânsito cortado ou suficientemente condicionado na ponte para a cauda do pelotão já no regresso, os campinos vestidos a rigor em cima de bonitos cavalos brancos - imagem de marca da Corrida das Lezírias, os abastecimentos de água, a simpatia da organização, a chegada, o ambiente, a medalha e a camisola para todos, a excelente oferta de fruta cortada na chegada, a água em garrafa grande, o espaço para alongar, descontrair, esperar amigos e conviver.

Houve também Caminhada no passeio de Alhandra e provas para os mais jovens.

Uma vez mais a Corrida das Lezírias está de parabéns, em forma e recomenda-se. Eu recomendo. E volto!







José Gaspar - AMMA, sempre pronto para registar o nosso momento a cortar a Meta

Foto de Fábio Pio, Amante da Corrida, delicadamente copiada do seu Album de Fotos da Corrida das Lezírias 2013, aqui

Outros momentos registados da Corrida:



Até para o ano Corrida das Lezírias. 

domingo, 10 de março de 2013

Corrida das Lezírias 2013


10 de Março de 2013 - Vila Franca de Xira

Estive lá e corri.

Antes da prova
Aquecimento com exercícios variados

Já partimos. terei cerca de 300 metros de prova
Perto da chegada, já com praticamente 15 km nas pernas, a cerca de 200 metros da Meta
E ali está a placa dos 15 para não me deixar mentir

Resultados no site da Xistarca, aqui

Fotos da Corrida das Lezírias 2013, na Galeria de Fotos do site da AMMA - Atletismo Magazine Modalidades Amadoras aqui

Marca: 15,210 Km em 1h24m07s numa média de 5:32 / Km

Mais conversa, só amanhã ou depois ou talvez nem por isso, tudo depende da vontade da rapariga. Da vontade e não só mas isso é outra história. Que a Corrida das Lezírias merece que se fale dela e por boas razões, lá isso merece! Por isso, vamos a ver o que se segue.

Até amanhã querido diário

domingo, 3 de março de 2013

UHF - Teatro Municipal Joaquim Benite -Almada - O arranque da digressão 2013


".../... Soutien preso à pele
         Entre os amigos gritando
         Corpo aberto à ternura
         Da música deste concerto

         .../..."


in Concerto, UHF


Foi mais ou menos assim, que ela se sentiu na última fila daquela sala de espectáculos do Teatro Municipal Joaquim Benite, Almada, palco onde curiosamente os UHF tocaram pela 1ª vez, nesta noite de 1 de Março de 2013, nesta cidade que os viu nascer, dando início à digressão 2013 - 35 anos de UHF, 
 
A sala, quase cheia, recebeu os filhos com ilustre público e a velha Nação UHF sempre presente, que os ampara e não deixa morrer.

E ela, mais de 30 anos depois de os ter descoberto, quando era ela jovem adolescente ainda, redescobre-os agora, há coisa pouca, desde o Verão passado apenas, crê, mas com uma surpresa gigantesca e uma maturidade de que se orgulha, constata que, mesmo tendo-se alterado as circunstâncias, as emoções e sensações que lhe são transmitidas em cada espectáculo se mantêm inalteradas, agora vividas e sentidas com uma outra intensidade e outro sabor.

E se as razões que a certa altura a fizeram desligar um bocadinho (um bocadão) não deixaram de existir e fazer algum sentido na altura, também não deixa de ser verdade que aquilo que os UHF ainda hoje lhe transmitem e proporcionam em cada concerto são razões fortes que fazem renascer e fortalecem o encantamento, permitindo-lhe continuar a deliciar-se com as interpretações, de temas novos e de antigos reinventados, de forma magnífica a maior parte deles.

Por tudo isso, a rapariga, uma vez mais, saiu da sala no fim do concerto absolutamente rendida e deliciada por esta noite encantada proporcionada pelos UHF.
Na noite fria, desce a rua da cidade que foi sua durante 20 anos e de braço dado com o rapaz e feliz, trauteia baixinho "...Marco os dias para voltar..."

sexta-feira, 1 de março de 2013

Viver com ela é...

... viver bem durante vários dias, semanas, meses, com tudo ilusoriamente controladinho, fera presa e dominada, segura por rédeas curtas e mãos firmes auxiliadas pela cabeça. Sempre a cabeça a dominar tudo.

E de repente, ela surge. Primeiro espreita a medo e é refreada, mas logo a seguir se solta, imparável, incontornável, inevitável e absolutamente incontrolável. Rédeas soltas, couro rasgado e quebrado, besta à solta à sua vontade. Própria como se a alma nada pudesse fazer senão aceitá-la, deixá-la consumir até bater no fundo para depois voltar ao lugar onde vive. Adormecida, mas jamais aniquilida. Até à próxima vez.

Assim, a rapariga chega a casa e como autónomo manipulado, dirige-se à despensa e ao frigorífico. Portas abertas de par em par. Analisa a velocidade relâmpado o interior. Divide com uma visão raio-X os comestíveis e/ou digeríveis das matérias não digeríveis como plástico, vidro, lata, etc. E então, absolutamente possuída, de forma voraz e descontrolada, tudo o que é comestível, ela pega e leva à boca, àquela abertura que permite a entrada de alimentos no nosso organismo. E através dessa cavidade ela faz passar tudo o que consegue. Mal mastiga, não degusta, apenas enche, enche o espaço. Até não ter mais. Espaço. De forma dolorosa, só pára quando a dor física a trai. Esófago, diafragma, estômago, revoltam-se em conjunto contra o ataque, bombardeamento real, tentativa de destruição total e tentam salvar o corpo num grito mudo em uníssono. Dão sinais: pára! E ela insiste, até mesmo não poder mais e depois...depois sente a outra dor, aquela que não consegue localizar com exactidão em parte alguma do seu corpo.

No dia seguinte acorda ressacada sem ter ingerido um pingo de álcool. Toma duche e olha-se ao espelho. Não aconteceu nada? Não aconteceu nada?! Finge. Hoje é outro dia. Já passou. Finge outra vez. Mas o abdómen inchado, saliente e de pele esticada até quase rebentar não a deixam esquecer. Nem as bochechas inchadas, como hamster que esconde comida aí e quer convencer o mundo que não foi ele que acabou com a comida toda, a deixam esquecer ou mentir sequer.

É denunciada e só lhe resta uma coisa: avançar. Agora que a fera recolhe de novo, de mansinho ao seu ninho, a ela resta-lhe empurrar a porta para que esta não saia de novo tão depressa.

É assim viver com ela. Ela...a Compulsão Alimentar.