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quarta-feira, 31 de maio de 2006


4ª feira, 31 de Maio de 2006

Hoje trago-vos aqui uma velha história, que talvez vos seja por demais conhecida, mas que me apeteceu recordar trazendo aqui, pois faço dela uma regra de vida, entre muitos outros provérbios e ditos populares, que sabiamente duram há séculos, e continuam sempre actuais e perfeitamente adaptáveis aos dias de hoje, pois o ser humano, apesar da evolução e sofistificação de tanta coisa, no mais íntimo do seu ser, conserva os mesmos ímpetos em termos de sentimentos e emoções. Temas como o amor, o ódio, o ciúme, a inveja, a maldade e a bondade, só para nomear alguns, são eternos e surpreendentemente o Homem age e reage da mesma forma hoje como há mil anos atrás.

O Velho, o Menino e o Burro

Um velho, um menino e um burro vinham caminhando por uma estrada. Algumas pessoas passavam e comentavam:- Olha para aqueles! São mais burros que o próprio burro. Caminham a pé e o burro segue descansado.O velho reflectiu e resolveu: Sentou-se no dorso do burro e continuaram acaminhada. Outras pessoas passaram e comentaram:

- Olha que maldade. O velho folgado em cima do burro e o pobre menino caminhando.

O velho achou melhor descer do burro e colocar o menino no seu lugar. A caminhada seguia tranquila até que alguns passantes comentaram:

- Olha o absurdo da situação. O menino, que é novo e forte vai no lombo do animal e o velhinho, coitado, segue caminhando.

O velho então, já confuso, tirou o menino do lombo do animal e terminou acaminhada carregando o burro nas costas. Claro que quem por eles passou, fez seu comentário:

- Olha para aquela estupidez! Têm o burro que os poderia carregar, e eles ainda por cima é que carregam com ele!

Além de divertida, esta fábula mostra que não podemos dedicar atenção irracional às críticas e opiniões alheias sobre a nossa pessoa e as nossas atitudes, pois estas existirão sempre, independente da maneira que agirmos.

E ensina-nos (a quem ainda não sabe) que o importante é estar e agir de acordo connosco próprios, pois haverá sempre, mas mesmo sempre, alguém para quem não estamos bem e que nos criticará até ao tutano.
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Hoje já é 4ª feira e ainda não treinei nada depois da estafeta. Mas de forma descontraída, assobio uma canção, dou um chuto na bola e continuo no meu caminho.

terça-feira, 30 de maio de 2006


2ºfeira, 29 de Maio de 2006

Arrelia!

A notícia vem escrita numa folha A4, meticulosamente dobrada em quatro, dentro da mochila junto com o equipamento. A notícia podia ser boa, mas não é.

Se até aqui julgava que nem os 350 km de viagem rigorosamente a meio da noite, a conduzir sozinha, depois de um dia bem preenchido e agitado, e as três escassas horas em que me seria possível dormir, me iam impedir de participar na Corrida das Festas Cidade do Porto no dia 18 de Junho próximo, hoje os meus planos caíram por terra ao ler aquela folha de papel.

Estar em dois lugares que se quer muito, em simultâneo, é simplesmente impossível. Não há força de vontade, loucura, energia ou versatilidade que alguma vez tenha alcançado tal proeza.

Por isso, inevitavelmente, prevalece o que mais pesa. E o que mais pesa não é a minha participação na Corrida das Festas, mas sim estar presente para a minha filha em momentos que se pretendem únicos e marcantes. E eu, assim a providência o permite, estarei presente, não ausente.

Por isso este ano, a par do ano passado, vou ficar por cá, embora em circunstâncias muito diferentes.

No ano passado desisti da minha participação em prol de uma ténue tentativa de desaparecer do planeta. Mas resisti eu e resistiu o planeta. Não desapareci e o planeta também não. E este ano cá estamos de novo os dois, espero é ainda continuar a estar, daqui por um ano, e a Corrida das Festas também, que eu ainda não a consegui fazer desde que a Runporto a organiza. Sou ainda do tempo em que esta distinta prova era organizada pelo Pedrosa. Era uma das melhores corridas que se realizava em Portugal (fins anos 90). Era a Corrida S.João. As garrafas de vinho do Porto com o rótulo alusivo à prova, foram guardadas com carinho, até ao dia que fui obrigada a deixá-las para trás assim como tanta e tanta coisa que se deixa pela vida fora… Não importa. O mais valioso tenho sempre comigo, onde quer que eu esteja, pois dentro de mim habita e o meu tesouro está aqui a dormir, como um anjo da guarda, que ainda os há.

domingo, 28 de maio de 2006

Estafeta de Palmela - No fim da minha prestação. Testemunho entregue. Agora corre ainda com
mais calor a minha colega de equipa

Domingo, 28 de Maio de 2006

Não. Não vou falar de coisas tristes, que seria do meu peso e da minha forma física depois de ter estado três semanas sem treinar.

Vou falar de coisas alegres e boas: A Estafeta de Palmela.

O nosso clube - Clube do Sargento da Armada – levou quatro equipas: duas femininas (uma delas para a Mini Estafeta) e duas masculinas.

Fui deixada na partida do segundo percurso, junto à Autoeuropa, que foi o que me coube em sorte: 5700 metros para correr.

A falta de casas de banho instaladas no local, levou-nos a todos atrás das escassas moitas existentes no local.

As necessidades são feitas rapidamente e os calções são levados abaixo e acima num abrir e fechar de olhos. O pior é que ao “abrir de olhos” detecto de imediato que tenho comigo qualquer coisa que não tinha quando me baixei. Uns arreliadores picos instalaram-se onde não deviam. Puxa daqui, puxa dali (que não havia tempo nem lugar para uma correcta e atenta observação com consequente remoção eficaz e completa dos variadíssimos picos que entretanto se quebraram e espalharam) volto a ficar minimamente confortável para correr, mas o que é certo é que quando no banho me dispo, a roupa interior está cravada de picos e o corpinho…podem imaginar…)

Quase depois de todos receberem o testemunho, lá vem a Isabelinha. Tomo o testemunho e parto enérgica(?). Em todo o meu percurso passo uma mulher (ganho uma posição) e sou passada por dois ou três homens. No fim, fiz 29m31s, o que dá uma média de 5m11s o km, vergonhoso para a distância.

Ainda assim, fomos a 5ª equipa feminina (entre 6), e pelo tempo, constato que também deixamos para trás três equipas masculinas!

Uma boa surpresa foi reencontrar aquele rapaz giro que aquecia em tronco nu, exibindo um fantástico e muito bem trabalhado e bronzeado peito e estômago, que me fez esquecer os picos no rabo, e que no fim insistia para tomar banho no nosso balneário (não sei se a brincar ou a sério), e a mim, só me assaltaram ideias fantásticas, e disse que por mim não me importava nada (já não sei muito bem se também era a brincar ou a sério…).

Só me resta esperar voltar a encontra-lo por aí a correr, pois apesar de muitos dos meus sonhos se terem tornado autênticos pesadelos, de forma teimosa ainda insisto em não deixar de sonhar.

sexta-feira, 26 de maio de 2006

26 de Maio de 2006

Planeamento de participações em provas

Objectivo: Obter Motivação intermédia para a Maratona do Porto – 15 Outubro 2006

Pois a Maratona está demasiado longe e não está a exercer sobre mim o efeito desejado. O pior é que o tempo passa, e a continuar assim, vou chegar lá perto, e …não há maratona para ninguém! (quer dizer…para mim)

Próximo domingo dia 28 de Maio – ao mesmo tempo que se realiza em Lisboa "A Corrida da Mulher", onde se paga EUR 10,00 para correr se tivermos a sorte de não ser cancerosas, (dinheiro que reverte para a LPCC), pois para termos a sorte de não pagar, temos de ter o azar referido em segundo, e eu, sortuda tendo em conta a segunda hipótese, mas azarada tendo em conta a primeira, estou solidária para com a minha equipa e para com as mulheres da minha equipa- CLUBE DO SARGENTO DA ARMADA , e vou participar na Estafeta de Palmela. E quando quiser e PUDER ofertar dez euros à LPCC, assim o farei. Mas de momento, a coisa está preta!

Uma equipa feminina! Todas dependemos de todas! Nós quatro fazemos a equipa. – será apenas mais uma forma de incentivar as mulheres a correr, a participar, a unirem-se na corrida, e quem sabe nalguma coisa mais.

Dia 4 de Junho – Corrida do Oriente (Sempre será melhor treinar no meio da molhada, que sozinha). Assim, até tenho a falsa sensação de que não estou sozinha.

Dia 10 de Junho – Grande Prémio da Arrábida – pelas razões acima mencionadas, e evidentemente pelo ambiente envolvente – a serra da Arrábida.

Dia 15 de Junho - 20ª Escalada do Mendro - Vidigueira

Dia 18 de Junho – Corrida das Festas Cidade do Porto (com muita vontade E NÃO SÓ) consegue-se… quase tudo – Vou pela festa.

Dia 24 de Junho - Corrida das Fogueiras - Peniche: por nada faltaria, quem lá esteve sabe do que falo, e quem não esteve bem que deveria experimentar correr no escuro, com o mar ao lado, e com as fogueiras por única iluminação

Dia 9 de Julho – Trail de 12 km na Serra da Freita, onde treinava o Sálvio Nora – Vou … porque sim…simplesmente.

Detalhes deste nobre evento em:

http://www.omundodacorrida.com/phpBB2/viewtopic.php?t=395

E treinos para isto tudo? Eh pá, já nem lembro a última vez que corri…

quinta-feira, 25 de maio de 2006


25 de Maio de 2006

Morreu na sua casa, deitada na cama com a cabeça pendida para o solo, num gesto de abandono total. Um fio de baba pendura-se-lhe da boca e está quente ainda.

Conforme caiu na cama, assim ficou, com as partes traseiras imóveis, ossos deformados, e estava assim há não mais de dois dias. A parcial paralisia ainda lhe permitiu sair da cama e vir cá fora fazer as necessidades. Não tocou na comida nem na água desde então. Quando lhe levantei o rosto pesado, sem força, viva ainda, ela moveu as sobrancelhas e entreabriu os olhos cansados. Olhou-me e sorriu-me. Juro que lhe vi um sorriso, apesar da dor adivinhada, em silêncio absoluto, nem um gemido sequer. Agoniou dois dias sem se queixar. Sofremos com ela, impotentes, e em consciência sabíamos a única coisa a fazer, mas a esperança, a maldita esperança que às vezes mais valia morrer, fez-nos mantê-la viva, a sofrer calada.

Hoje, já tudo passou. Está a descansar sem agonia debaixo da velha figueira, com sete palmos de terra em cima do corpo esquelético.

Ao volante, viro-me para trás e a minha filha tem duas grossas lágrimas a encharcarem-lhe o rosto. Sofre em silêncio. Como a Princesa sofreu.

Treze anos tinha a Princesa. Treze anos. Não, não vivia connosco, mas não passávamos mais de uma quinzena sem a vermos.

Na Natureza nada se perde, tudo se transforma. E nas ervas e nas plantas que hão-de nascer, e em todas as flores onde as borboletas e abelhas hão-de pousar um dia, estará o espírito da Princesa. Da terra nascemos, à terra voltamos, e se formos amados, seremos eternos.

“…a terra à terra, a cinza à cinza, o pó ao pó…” Descansa em paz Princesa. Nunca te esqueceremos.

quarta-feira, 24 de maio de 2006

24 de Maio de 2006

Portas fechadas
Silêncio
Uma voz que de longe me chama
E ainda mantém
No mais fundo de mim
Acesa uma pequena chama

Portas fechadas
Sem fechadura
Um selo na prova
Alguém do outro lado

Muitas portas
Muitos alguéns
A vida a passar
Dos dois lados da porta

O que me falta para te encontrar?
O que me falta para te ter?
Faltas-me tu precisamente

E esta porta entre nós
Que teimo em não abrir
Apenas com medo
Do que vou descobrir

Incongruências
Vidas sem sentido

E eu hoje só queria
Uma asa protectora
Dessas que nos cobrem
Envolvem e aquecem
E nos fazem esquecer que temos
De abrir uma porta

Pois não se pode viver
De porta fechada
Nem sempre,
Debaixo da asa


Nota: não queria estragar o Blog com lamechices destas, mas … há dias assim.

segunda-feira, 22 de maio de 2006


21 de Maio de 2006

Esquecermo-nos de nós…Pode acontecer pelos melhores motivos mas também pelos piores. Ou ainda pelo simples facto de nos anularmos e esquecermos que temos também direito à felicidade. À nossa. Só nossa. Mas isto leva-me também a pensar que a nossa Felicidade nunca é só nossa. Esse conceito é de uma Felicidade que não existe. Só somos felizes se conseguirmos fazer mais alguém feliz. Nem que seja por instantes.

Ao fim de longas horas a fazer e receber felicidade, paramos de repente e lembramo-nos que não almoçamos ou não jantamos. Que as horas passaram e nós por felicidade desta vez, esquecemo-nos de nós próprios, de necessidades tão básicas como a comida, ou a higiene, seguidas de uma vaidade para parecer e sentirmo-nos melhor ainda.

Pois foi o que me aconteceu este fim-de-semana. Estive bem, a fazer felicidade. A produzir como uma abelha obreira, a fabricar sorrisos e alegrias, e olhares brilhantes e vivos. Pela felicidade de todos os que me rodearam, estive eu feliz também. Estive feliz, mas… esqueci-me de mim. Estive feliz através da felicidade que me rodeou e também por mim produzida, mas e eu, eu? Tenho a sensação que me esqueci de mim.

Chama-se a isto egoísmo? Chama-se a isto felicidade forjada? Não creio…Apenas chego ao final dos dois dias, e sinto…que me esqueci de mim…Como se eu, as minhas necessidades e desejos, não tivessem importância. Chamar-se-á a isto que me aconteceu, resignação, anulação de mim própria?

Ou estarei finalmente mais perto de aprender a ser essa coisa fugidia e indefinida, qual imagem desfocada que nos escapa e foge das linhas rígidas e claras, que todos ambicionam, e que se chama ser feliz?

Vou-me deitar, e mesmo com esta vaga sensação de nada ter feito por mim, o que é um facto é que me sinto feliz, bastante feliz, e se calhar, fiz muito mais do que quando sozinha tento chegar a algum lado, numa luta desesperada e inglória, que travo desde sempre comigo própria e com o meu corpo.

sábado, 20 de maio de 2006



19 de Maio de 2006

Um estúpido cansaço apodera-se de mim. Como se tivesse subido uma montanha e estivesse no seu cume olhando o vasto vale sem forças para respirar sequer. “É da altitude…”, diria alguém e eu acreditaria que sim, deveria ser da altitude e da magnitude da paisagem que se alcança agora, depois do esforço da subida.

Mas eu estou a meio da montanha, nem sei bem se valerá o esforço de continuar a subir, ou se mais valerá descer. É que nos vales as pessoas também são felizes. E não é isso que se procura alcançar? A Felicidade? Seja lá através do que for?

Tomei hoje conhecimento que muito provavelmente não me vai ser possível ir à Corrida das Festas – Cidade do Porto, dia 18 de Junho próximo, que era programa que se cruzava com o meu, e no qual muito gostaria de participar.

Ainda não está totalmente fora de hipótese, mas será com bastante esforço se o conseguir concretizar, embora sem anúncio ou aparato, para além deste blog lido por meia dúzia de gatos, que teimosamente me invadem e insistem em ler-me.

Assim como eu, são também centenas de pessoas que vemos diariamente a correr com um sorriso na face, de forma modesta e discreta, e sabemos lá nós o que aqueles homens e mulheres têm de vencer para estar ali, simplesmente a correr. Mas enquanto olharmos só para o nosso umbigo, vanglorizando-nos dos nossos feitos, apregoando as nossas enormes dificuldades como se elas fossem únicas no mundo e mais nenhum ser sofresse do mesmo ou de mal pior, nunca saberemos as grandes vitórias que esses eles e essas elas, desconhecidos heróis (como o soldado) alcançam no dia a dia. Nunca saberemos, pois não há notícia nem aparato… Só quando morrem em combate…como o soldado …desconhecido ele, desconhecidos nós.

Então tocarão as trombetas a anunciar a nossa morte, e alguém nos oferecerá flores tardiamente entregues para poderem ser cheiradas. Sobre a nossa campa, acabarão elas de morrer também, transformando-se em terra de novo, para renascerem mais tarde.

É sexta-feira, a semana não foi fácil, tenho estado bastante constipada, não tenho corrido, e certamente a tudo isso se deve…isto.

quinta-feira, 18 de maio de 2006


18 de Maio 2006

Hoje (podia dizer que não sei porquê, mas sei muito bem!) lembrei-me do Sálvio, de quem ainda não apaguei os contactos, como se ao mantê-los, mantivesse tudo como dantes.
Dantes, eu escrevia e ele lia-me. Lia-me e escrevia ele também, vindo muitas vezes ao meu encontro, fazendo-me sorrir por entre as lágrimas, enternecendo-me numa onda ora de carinho, ora de alegre e sadio humor que me fazia soltar uma gargalhada.

E hoje, que a minha menina faz anos e se ele estivesse cá, estaria aqui alguma coisa sua. Escrito para ela. Tenho a certeza disso. Como ele já não o pode fazer, faço eu. Porque de alguma forma, ele está cá! Deixo aqui uma mensagem de Sávio Nora escrita a 1 de Dezembro de 2005, para a minha menina que faz hoje 9 anos.


“Hoje, por ser dia feriado com muita chuva e frio e por isso bom para estar em casa no quentinho, aqui vai uma poesia para a menininha que já tem duas gatinhas:

EU TENHO UM CÃOZINHO

Eu tenho um cãozinho
ai eu tenho tenho
por causa do cão
é que eu aqui venho.

Eu tenho um cãozinho
e você tem dois
adeus meu amor
e até depois.

Eu tenho um cãozinho
e você tem três
adeus meu amor
até outra vez.

Eu tenho um cãozinho
e você tem quatro
a cara do cão
é o seu retrato.

Não, não tenho um cãozinho e esta coisa do retrato é para brincar, tá bem!”

Sálvio J.Azevedo Nora

quarta-feira, 17 de maio de 2006


Já é 18 de Maio de 2006.

Passam 18 minutos da meia noite. Exactamente há nove anos atrás nascias tu, minha filha!

Querida! Parece que estás comigo desde sempre! E estás comigo sempre, como eu estou contigo, mesmo quando a ausência física está presente.

Há precisamente nove anos, nesta hora, aguardava por ti numa sala de hospital, entre uivos de dor, e a calmaria que me levava para lá da consciência. Um misto, de terror e medo, e de ânsia e prazer. Parir um filho! O culminar de oito meses em que te carreguei dentro de mim, para depois te carregar cá fora por bastante mais tempo. A partir da hora em que caíste no meu peito, ainda de pernas abertas a sangrar como um porco assassinado eu, e sebosa e inchada tu, com os pequeninos olhos semi-abertos como uma toupeira arrancada à toca, a minha vida mudou para sempre. Nunca mais estive só desde então. Companheira, cúmplice, que me obriga a acordar quando queria dormir, que me obriga a rir quando queria chorar, que me obriga a viver quando queria morrer!

Nada se equipara ao momento em que um filho depois de oito meses a gera-se em nós, do nosso sangue e da nossa carne, nem sempre em perfeita harmonia como que a antever a vida cá fora, se liberta para o mundo, cai em cima do nosso peito, nos aperta o dedo com força (evidentemente por reflexo) e nos olha de forma interrogativa enquanto de boca fechada movimenta os lábios treinando o movimento de sucção e respira de forma perfeita pelas narinas abertas! A natureza é quase sempre perfeita! Eu tive a grande sorte, de para mim, ela ter sido perfeita e sublime! Tenho uma menina linda (como lindas são todas as meninas).

Minha filha, meu amor! Nove anos que nos acompanhamos mutuamente. Que continuemos sempre como até hoje, e hoje, que tenhas um dia muito feliz! Como tu mereces! Tudo farei para que assim seja! Hoje, e sempre! Amo-te!

segunda-feira, 15 de maio de 2006


Esta noite acordei com fome. Levantei-me e dirigi-me à cozinha. Abri o enorme frigorífico branco, alto e robusto, comprado especialmente para circunstâncias bem diferentes das de hoje.

Olhei-o por fora. Austero, imponente, olhou-me ele também do alto dos seus dois metros de brancura maculada por desenhos infantis e recados ultrapassados no tempo. Senti-me tão pequenina. Nunca tinha reparado como ele era grande, forte, e frio. E imponente, ocupando um lugar de destaque na cozinha.

Passados os primeiros instantes de sinistra e invulgar intimidação, arranjei coragem para o abrir.

Não podia estar cheio evidentemente, mas com agrado e alívio verifiquei que com alguma perícia há comida que chegue até final do mês. Com satisfação revi os alimentos arrumados com ordem: manteiga, queijo, iogurtes, fiambre, legumes, ovos, sumo, uns restos de cozinhados, sobremesas, calda de tomate, sopa e leite.

Com prazer retirei o pacote deste último, enchi um copo e bebi sofregamente até ao fim, deixando um bigode branco sobre o lábio superior que lambi descontraída e descaradamente antes de voltar para a cama onde me esperava um corpo morninho no qual me aninhei e esqueci o mundo por umas escassas horas.

domingo, 14 de maio de 2006


Domingo, 14 de Maio de 2006

Obrigada Mãe por este prato de comida benevolentemente divido por dois quando já não era muito para um. Alguém conhece o aconchego do estômago por uma pequena dose de comida acompanhada de toneladas de amor? Alguém conhece esse calor que nos aconchega, acaricia, acalma e adormece com um doce e suave sabor?

Quando os excessos são mote na sociedade de hoje, como que para compensar tantos séculos de abstinência e de faltas cometidas, a começar pelas demonstrações de amor, pelos companheirismos e amizades bem teatralizadas e a acabar nos bens de consumo como oferendas de sentimento, não sabem o que me soube bem uma coisa tão simples, tão básica, que de tão simples e básica poucos alcançam já: um pratinho de comida dividido com amor.

A vida tem ciclos, e quando a volta parece que está dada por completo, regressa-se ao início, sempre com mais bagagem, se não andarmos cá a ver passar os comboios, sempre mais ricos, fazendo riqueza até com as perdas, pois com elas devemos sempre aprender algo, e isso é a bagagem que transportamos e que nos engrandece. E continuamos a caminhar quando não conseguirmos correr. E eu hoje não consigo correr. Mas o caminho está aí e eu vou ter de continuar a caminhar. Mas esperem. Vou sentar-em aqui um pouco a descansar antes de recomeçar. É que o caminho raras vezes é fácil, e o que se me apresenta hoje é árduo, mas hoje sinto-me incapaz de desbravar mato para fazer outro. Hoje, vou ficar aqui sentada um bocadinho. É que há dias assim. Parar também é preciso para depois se continuar em frente.

sexta-feira, 12 de maio de 2006


Tendências

Tem o ser humano a tendência para se agrupar. Pertencer ao grupo, ser aceite socialmente e ser membro de algo torna-se tão necessário e importante quanto a água para beber, e disso depende também a saúde do indivíduo, sendo saúde, não me canso de repetir, um Bem Estar Físico, Mental e Social. As três vertentes estão interligadas, e um desequilíbrio numa delas, afecta as restantes.

Nesta base, compreende-se perfeitamente o cumprimento entre dois corredores que se cruzam no meio de uma multidão, quando não falam a mais ninguém. Já vos sucedeu? Certamente que sim.

As crenças do grupo são também as nossas, na tentativa de garantirmos um suporte sólido para as nossas carências, que nos mantenha ao de cima, mesmo se grande parte das vezes deixamos de pensar para seguir o pensamento do grupo pois existe o risco da rejeição, da marginalidade, do chincalho dos outros, e consequentemente da solidão, sentimentos com que muitas vezes temos dificuldade de lidar.

O ser diferente, pensar diferente é um acto de coragem. Mesmo que o preço de o assumirmos seja demasiado alto, é sempre preferível a seguir o rebanho pela cabeça dos outros.

Eu? Sou uma cabra maltesa, subindo e descendo pedregulhos na serra mais alta e no vale mais maravilhoso, longe do rebanho do senhor, um senhor qualquer, que o que é preciso é acreditar num senhor qualquer, desde que ele guie o rebanho. Esta cabra segue quase sempre sozinha. Com as desvantagens mas também com as inequívocas vantagens. São opções que se tomam a cada minuto que passa.

Ah, é verdade! Ontem não cheguei a presentear-me com um treino. Obrigações impediram-me mais uma vez. Os cinco dias da semana são um problema para treinar! Sinceramente, não sei como resolver este assunto, e por momentos penso que a Maratona do Porto é uma triste utopia.

quinta-feira, 11 de maio de 2006



5ª feira, 11 de Maio de 2006

Ironicamente, os dias em que escrevo na minha agenda de treinos (uma folha excel bem organizada e estruturada) a palavra "Descanso" são aqueles em que mais me sinto cansada e sem energia para o que quer que seja.

O treino dá-me vigor e renova-me. Se fisicamente pode haver o óbvio desgaste e cansaço, em termos de cabeça, fico como nova. Não é que já não o seja, entenda-se, mas fico refrescada, pronta para quase tudo.

Os benefícios do treino serão então mais físicos ou psíquicos? Tudo depende dos indivíduos e do próprio treino, mas principalmente da forma como o treino é encarado.

Pessoalmente, elejo os benefícios psíquicos. Mas como o corpo e a mente são um só, inseparáveis e dissociáveis, concluo o que já toda a gente sabe embora não o aplique:

A prática do exercício físico é uma das actividades mais saudáveis e ricas que podemos oferecer-nos a nós próprios.

Acho que logo me vou presentear.

quarta-feira, 10 de maio de 2006


Ensinamentos / Caminho

O Sálvio já deve estar enterrado a esta hora. E nós, continuamos vivos por ora.

Diz-me um amigo que anda em baixo, também com isto do Sálvio entre outras arrelias e problemas pessoais, de relações, afectos, emoções, etc. Quem lhe dera a ele ter menos dez anos, diz-me resignado e infeliz.

- Menos dez anos?! – interrogo eu – para quê rapaz? Lembra-te que daqui a dez anos vais dizer precisamente a mesma coisa com a mesma triste nostalgia, impotência e resignação. O tempo é hoje! A vida é hoje! Olha o Sálvio!

- Sim, tens razão miúda – concorda.

E nós? Que fazemos nós que temos hoje precisamente os dez anos a menos que daqui a dez anos iremos desejar ter?

Recordo o Sálvio. Não choro. Mas estou triste. Muito triste. Mais do que quando chorava sozinha no meu quarto.

À minha volta rolam e circundam os outros. Mais ou menos afáveis, mais ou menos corajosos, mais ou menos fiéis, mais ou menos falsos, mais ou menos brincalhões, mais ou menos nada e tanta coisa.

Indiferente, faço o que aprendi e que tenho de fazer:

Sigo o meu caminho. Este que escolhi, que descubro, invento e crio e saboreio passo a passo. Árido por vezes, florido por outras. Mas é meu, único, e só no qual eu me sinto eu!

terça-feira, 9 de maio de 2006


A luz apagou-se.

A dor acabou.

Hoje Sálvio J. Azevedo Nora fechou os olhos pela última vez. Ou alguém lhos fechou. A dor acabou. É só o que quero pensar, que a dor acabou.

Ficará no coração de cada um, à maneira de cada um, com as marcas que deixou em tantos de nós, companheiro de estrada, serra, e vida!

Hoje, o Mundo ficou mais pobre…

Amanhã vai a enterrar (apenas o corpo, a matéria que há-de apodrecer e ser terra e vida de novo, em cada planta que há-de nascer, em cada raio de sol e brisa que nos tocará), e sai da Igreja de Matosinhos pelas 15:00Hrs de amanhã dia 10 de Maio de 2006.

Estarás sempre connosco Sálvio, e que o que nos deixaste nos ensine a viver melhor. Connosco e com os outros.

domingo, 7 de maio de 2006

Na partida, em agradável cavaqueira com as nossas meninas (Clube Sargento Armada)


Domingo, 7 de Maio de 2006

Dia da última prova do Troféu de Almada. Não me sinto mal, mas acho que o treino de uma hora de ontem não teria sido muito aconselhável para quem estando no meu deplorável estado, tinha prova hoje.

Não estava recuperada. Aqueci apenas 9 minutos – deveria ter sido mais, mas a conversa de café também soube bem, e a prova fi-la em esforço com a agravante de uma dor de burro (burra neste caso!) que se me instalou ao fim do primeiro quilometro, e com a qual tive de conviver durante mais dois, ou seja até final da prova, que pelo tempo que demorei (16m41s) devia ter um bocadinho mais dos 3 km anunciados).

O percurso resumiu-se num descida e retorno com consequente subida. Se eu estivesse bem... outro galo teria cantado! Assim, fui 4ª da geral feminina e quem cantou foram outras galinhas!

sábado, 6 de maio de 2006

No fim, cansadita, mas nunca esquecendo os alongamentos

Sábado, 6 de Maio de 2006

Apesar de ontem ter tido um ataque voraz e ter comido que nem uma larva, hoje, inexplicavelmente, acordo menos gorda. Peso 62,900 Kg, o que em termos semanais, em comparação com o sábado passado e ignorando as oscilações diárias, significa uma perda de 0,5 Kg. Bastante razoável. O importante é ir perdendo. Perdas muito rápidas não são boas para a saúde, pois acabamos por estar a perder massa muscular, e o que eu pretendo é a perda de gordura acumulada. Tenho de manter um consumo calórico e nutricional que garanta o funcionamento correcto do metabolismo, e a partir daí quanto menos ingerir melhor! Energia que gaste em movimento, terá o organismo que ir buscar às reservas em mim acumuladas.

E se esta larva hoje lhe apetecia começar a fazer casulo, optou por contrariar essa tendência e foi voar que nem borboleta colorida para o meio das flores! Maravilhoso! Uma hora certinha de corrida contínua lenta, em piso de terra batida, sob um sol primaveril e em aromas paradisíacos envolta. A larva hoje foi borboleta. Simplesmente porque assim escolheu, em vez de ficar fechado no casulo!

Mas há aqui um grande problema! A falta de resistência é notória! Ao fim de 25, 30 minutos, a corrida começa a ser em esforço. Apetece-me parar e pensar que já não foi mau, mas em esforço continuei pois sei que se quero ganhar resistência, tenho precisamente de ir aumentando a duração do tempo de corrida! Mesmo que diminua o ritmo! E foi isso que hoje fiz!

Com este treino de hoje, acabo a semana com o total de 4 treinos, totalizando 3h24m34s. Nada mau, apesar da irregularidade dos treinos: 3 dias seguidos de treino, 3 dias seguidos parados, e hoje, novo treino!

Amanhã outro dia! Acordarei larva, casulo ou borboleta? Hum…Acho que já sei…

quinta-feira, 4 de maio de 2006


5ª feira, dia 4 de Maio de 2006

Gostaria muito de vir aqui escrever que treinei assiduamente nestes dias em que não escrevi e que me estou a habituar de novo a treinar, mas seria mentira.

Gostaria de ter tempo e vontade para ter tempo, e tempo para ter vontade, mas a verdade é que não tenho. Nem tempo nem vontade. Estou aqui agora, com o tempo que me resta do dia de hoje, a escrever. Porque ainda tenho tempo e vontade.

Depois de ter corrido três dias consecutivos (fim semana e feriado), estou há três dias sem praticar exercício físico digno desse nome. Nada de importante ou grave, claro, mas a questão é que quando o dia é rotineiro por questões de obrigatoriedade, está-me a ser muito difícil encaixar uns míseros 30 minutos para correr, ou nadar, ou fazer outro exercício qualquer.

Significa isto apenas que o grande objectivo de fazer a Maratona do Porto em Outubro, será bem mais difícil de alcançar do que se poderia supor. Quando as semanas passam elas a correr, e a nós nos resta apenas o fim se semana e um feriado ou outro, as coisas ficam realmente complicadas. Mas nada de ser pessimista! Será apenas maior o desafio. Adivinha-se uma saborosa vitória na mesma proporção.

Hoje, estive a olhar a evolução da vida aqui dentro de minha casa. Um autêntico milagre! Tenho passado algum tempo a trepar a uma árvore específica para apanhar folhas que vão alimentar umas larvas que a minha filha trouxe aqui para casa.

Não param de comer! Comem o dia inteiro e até de noite. Param por curtos períodos para digestão e absorção dos nutrientes. São comedoras vorazes, quase que insaciáveis, pois precisam se alimentar dos nutrientes necessários para o período de hibernação de sua próxima fase de vida e para isso necessitam armazenar bastante energia. Quando param de comer por completo, estão preparadas para a nova fase. Aí, fazem o casulo com a própria saliva que em contacto com o ar adquire consistência de fios muito resistentes.

No casulo, a larva isola-se e alheia-se por completo do mundo. Fechada sobre si própria transforma-se, fruto de uma evolução, um crescimento e uma passagem para um novo estádio.

Há algo de verdadeiramente mágico e fantástico, na transformação de uma larva numa mariposa ou borboleta. Mais que uma mudança, é uma verdadeira metamorfose. Algo bem profundo.

Fechadas em si, no casulo por uns dias, elas alheiam-se do mundo e transformam-se de dentro para fora. Das suas entranhas refeitas, nasce outro ser, que é o mesmo afinal. É um segredo só seu, bem guardado e secreto, que todos nós humanos, pelo menos uma vez na vida devíamos conhecer e aplicar.

Mas elas guardam este segredo íntimo. Dentro do casulo, quando já não é visível para ninguém, acontece magia silenciosamente, até ao dia que essa magia explode depois em rara beleza para dar vida aos nossos jardins e cor às nossas vidas.

Esse milagre da Natureza está a acontecer na minha casa. E eu quero aprender.

segunda-feira, 1 de maio de 2006


2ª feira, 1 de Maio de 2006

Hoje acordei gorda. Inexplicavelmente 900 gramas a mais do que ontem! Sem nenhuma razão! Compreendo perfeitamente que se deve a retenção de líquidos e questões hormonais, mas de qualquer forma não é nada agradável, quando nos andamos a portar muito bem (exercício e alimentação) e temos esta notícia pela manhã!

Como adorei ontem o sítio onde corri, hoje lá voltei com a intenção de fazer 1 hora nas calminhas.
E faço os primeiros 30 minutos muito bem acompanhada por companheiros de areia que numa onda mais forte desaparecem como castelo construído à beira mar, deixando apenas as conchas agora vazias. Faço o retorno e constato de imediato que o tempo restante não ia ser fácil. Ainda por cima só.

Sinto-me pesada, e ainda me doem as coxas e os gémeos (de ontem). Há algum vento contra e mentalizo-me que qualquer coisa acima de meia hora, já não é mau, que o esforço dispendido na prova de ontem ainda não foi recuperado.

Como falava ontem com um amigo que fez a maratona de Madrid, tentando ensinar-nos a próprios que o nosso corpo tem limites e que devemos respeitá-los (nunca aplicamos!!), é necessário o tempo suficiente de recuperação e de descanso. Depois de um treino duro, é contraproducente outro treino de igual dificuldade.

Assim, para mim, depois de ontem, com os treinos que não tenho, voltar a querer fazer 1 hora e sentir-me bem era missão impossível pois o corpo ainda não está recuperado. Isto aplica-se a todos os níveis atléticos, desde a alta competição ao mais coxo do pelotão! Se eu tenho andado a fazer pouco mais de meia hora uma vez por semana, depois de ontem, como me queria sentir? Não sou a super Mulher!

Por isso, aceitando os limites (que existem), e agarrando-me ao bom senso, aos 35 minutos de corrida parei, tirei os ténis e mergulhei naquela água maravilhosa que só a Costa da Caparica possui, e revigorei-me! Segui o resto o caminho de retorno a caminhar energicamente com os pés dentro de água! Não foi como planeara, mas foi muito bom!

E amanhã outro dia!