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domingo, 28 de maio de 2017

Corrida de Belém, 27 de Maio de 2017


Ganhei o dorsal num passatempo oferecido pelo Running Magazine e graças aos "Gostos" que alguns amigos colocaram na foto com que participei. A todos eles, e especialmente à Alexandra Pestana, que me deu a conhecer a oportunidade, muito agradeço. Comecei por votar nela (e nos amigos que também participavam) e depois, porque não tentar a minha sorte? E a brincadeira acabou por me levar a conhecer a Corrida de Belém.

Na véspera foi dia de levantar o dorsal, que não havia entregas no dia da prova e lá rumámos ao Estádio do Restelo. Entrega rápida e fácil. T-shirt técnica, bonita, uma revista Running Magazine, dorsal, chip e alfinetes. Confesso que me surpreendeu e entristeceu um pouco como o Estádio do Restelo, desta equipa com que muito simpatizo, logo a seguir ao Benfica que esse corre-me nas veias, o estado em que se encontram os espaços exteriores. De aspecto abandonado, com ervas e mato a crescer como se não houvesse amanhã. Impressão (?) que (re)confirmei no dia da prova quando quis usar as casas de banho e o cheiro que não era de hoje por certo, era...perfeitamente justificável quando descobri que não havia água, nem nos autoclismos nem nas torneiras...

Tirando isso, todo o ambiente é muito agradável. Excluindo o estado da pista, (pronto hoje acordei para reparar no menos bom) mas já vi aquela pista mais azul, e se isso é um pormenor, então o Sol e a geada estragam, é compreensível..., já o facto de haver erva a romper pelo meio da pista, levantando algumas partes, não me parece que o seja.

Remetendo estes pormenores ao escasso valor que eles têm para a Corrida em si, a Corrida de Belém esteve muito bem e não digo isto só para rimar, mas sim porque é verdade.

É organizada pela Junta de Freguesia de Belém, em colaboração com o Clube de Futebol “Os Belenenses”, o Clube de Atletismo Amigos de Belém, com a Câmara Municipal de Lisboa e tem o apoio técnico da HMS Sports Consulting, Lda.

Oferece uma corrida de 10 km, uma caminhada de 4 km e várias corridas para crianças dos 5 aos 13 anos, procurando de forma activa incentivar a prática desportiva, e teve todo o sucesso. Ver a pequenada a esforçar-se a praticar desporto, conviver e divertir-se é sempre muito salutar. Pena que o número de participantes não fosse bem maior. E se a inscrição dos pequenos também se pagava (EUR 3,00) considero esse valor bem melhor empregue pelo que é proporcionado à criança do que muitos brinquedos ou guloseimas que os pais providenciam sem pensar duas vezes. Pena não serem mais mas quem esteve, não saiu defraudado pelo que vi.


A prova principal tinha um custo de EUR 8,00 na fase inicial e é minha opinião também ser valor devidamente retribuído pelo que a Corrida proporciona.

Parece-me que a Corrida de Belém não terá grandes pretensões. Não há altetas de elite nem prémios monetários, ou sequer prémios por escalões, medalhinhas nem troféus ("iguais" a tantos outros). Apenas premeia os 3 primeiros da geral, esses sim com troféus, e vouchers dos Hotéis Vila Galé para uma noite de alojamento nessa cadeia de hotéis. Todos os outros, além do que receberam no levantamento do dorsal, recebem à chegada à meta, água, uma maçã e um voucher para utilização de um dia no Ginásio Infante de Sagres .

Não vamos esquecer que receberam um percurso para correr completamente cortado ao trânsito, com alguma dureza, bem controlado pela polícia e pela organização, bem sinalizado, com abastecimento de água, num cenário belíssimo (aquela descida com a Torre de Belém ao fundo e o Tejo é magnífica), uma prova cronometrada, com partida e chegada dentro do Estádio (espectacular), com pórticos insufláveis, com classificação muito rapidamente disponibilizada, com diploma personalizado, com dinamizadores a ajudar a fazer o aquecimento antes da partida e os alongamentos no final, muita animação e com tudo isto uma estupenda manhã de desporto e convívio.  

Está pois por isso a Corrida de Belém de Parabéns, pois creio ter atingido os seus objectivos e os seus objectivos são, a meu ver, a essência da Corrida. Por isso, mesmo que aparentemente desprovida da ambição de querer vir a ser uma "grande" prova, é uma prova magnífica que recomendo.

Um pontinho menos bom, é a estreita saída do Estádio, que para quem saiu de lá de trás, como eu, acabou por afunilar um pouco, pelo que pessoalmente, o 1º km foi praticamente de aquecimento, mas isto, é como em outras provas, se queremos ir fazer tempos, há que nos posicionarmos "bem" logo na partida, o que claramente não era o meu caso.

A minha prova:

Quero dar o meu melhor. Tenho treinado, a lesão tem dado tréguas, estamos em paz portanto, e queria ir ali correr o mais que conseguisse aos 10 Km, sem saber muito bem o que isso significaria hoje. Não tinha ideia do percurso nem do desnível, para além dos 10 km de distância. Apesar da organização o ter disponibilizado no site, não me dei ao trabalho de o "estudar". Parti do meio para trás do pelotão. A pista está cheia. Dá-se praticamente uma volta à pista e corre-se lento. Muita gente. Sigo com a Alexandra que queria baixar da hora, o que conseguiu e muito a alegrou. Feito pelo qual lhe dou os parabéns genuinamente pois a prova não era propriamente a mais indicada para bater records. Algum congestionamento para sair do estádio e por fim mais libertas para correr. Por ali deixo-a para trás, pois acredito que seguramente estarei (bem) abaixo da hora (5 ou 10 minutos...uma diferença enorme, portanto... :) ) mas queria ver o que conseguiria e sigo para a frente, "rápida" e bem. Tão bem que me aguentei como gente grande logo nas primeiras subidas. E nas descidas. Ver a Torre de Belém ao fundo com o Tejo, foi sem dúvida uma das melhores sensações da prova! E assim fui, a passar gente, forte e feliz. Até...sensivelmente aos 5 km. Nessa altura há uma recta ao lado da linha do comboio, em direcção ao Padrão dos Descobrimentos, que fica muito longe de nós para o apreciarmos como merece, e nessa altura, há uma quebra. Física e mental que estes dois estão quase sempre de mãos dadas. Há um sol abrasador e um ponto de retorno lá à frente. Há já atletas em sentido contrário. Sou passada por alguns. O ritmo segue agora mais lento e com um esforço sobremaneira acrescentado. Esforço físico e mental. Vontade de parar. Muitas vezes já corri ali. Boas e más recordações. É a cabeça, são as pernas e a caixa. Tudo me pesa. Já não vou muito bem... Mas sigo. Ponto de retorno e uma brisa fresca varre-me por completo e dá-me ânimo. Sigo. Sou passada por atletas que lá atrás passei. Péssima experiência essa. Paciência! Tivesses juízo ao princípio! Armaste-te em boa ao início não foi?! Agora aguenta e não chora! Ou chora se for preciso. Não, não é preciso. É manter, só manter, só quero manter. E mantenho! Lá pelo km 8 e tal, depois dos magníficos Jerónimos, nova e comprida subida e aí meus amigos, eu quis manter mas tive de caminhar um pouco, retomar a Corrida e caminhar de novo, para logo que a subida termina, voltar a correr, como posso e o Estádio é já ali! Entro no Estádio, há uma volta a dar à pista e eu vou novamente no modo "Mantém". Até avisto uma rapariga a pouco mais de 1,5 m de mim à minha frente e deixo-a ir, sem qualquer reacção da minha parte. Tomara eu manter... E lá mantenho até à meta. Corto-a com 9,800 Km percorridos em 54´40" numa média de 5:33/Km, a ver aqui, registado pelo Strava fui o 298º atleta a cortar a meta de um total de 689.

Recebo o saco, abrando, respiro fundo, caminho e tento recuperar. Um jovem, algo ameaçador, de alicate na mão (acredito que fosse a minha percepção algo distorcida devida ao esforço), pergunta-me se quero ajuda para tirar o chip. Sim, quero...mas não me cortes os atacadores! Agradeço e sorrio. Reencontro o meu pai, a Alexandra que entretanto chegou, alongámos na relva onde não devíamos estar. Ela super feliz pelo record, e eu, longe de estar no meu melhor...estou muito contente por esta vivência que a Vida me proporcionou. Os tempos, os desempenhos, isso é um terreno fértil para me motivar e me fazer melhorar.







Aquecimento antes da prova

Antes

Depois










Algumas fotos pelo Melro, para ver aqui

quinta-feira, 25 de maio de 2017

6ª Corrida Bucelas Capital do Arinto

6ª Corrida Bucelas Capital do Arinto - 21 de Maio de 2017


Já nem me lembrava muito bem como tinha sido há 2 anos (ver aqui), mas o que retive foi um percurso durinho, o calor, e sim, uma manhã muito agradável a fazer o que tanto gosto: Correr. 

E este ano, na sua 6ª edição, a Corrida Bucelas Capital do Arinto, inserida no 33º Troféu Corrida das Colectividades do Concelho de Loures, deixa-me sensivelmente as mesmas marcas: um percurso durinho: duas pequenas voltas a Bucelas, uma recta, a subida para Vila de Rei, e descida, nova passagem por Bucelas, para se subir arduamente à Bemposta, e descer e depois rolar para a meta à velocidade que as pernas permitam.

A prova é organizada pela Associação Recreativa, Cultural e Desportiva de Vila de Rei em conjunto com a Junta de Freguesia de Bucelas, e com o apoio da Câmara Municipal de Loures, dos Bombeiros Voluntários de Bucelas e Comércio local.

Retenho e saliento também a participação dos escalões jovens, sempre apoiados e cativados para a Corrida, por trabalho e mérito dos clubes que participam no Troféu.

Houve troféus para os primeiros classificados por escalão e garrafas de Vinho branco Arinto, que dá a Bucelas o título de Bucelas Capital do Arinto desde 2010, aos primeiros classificados da geral, 10 aos homens, 5 às mulheres, o que não deixa de ser pena o facto da maioria dos atletas ver o Arinto por um canudo quando a casta e o cartaz turístico de Bucelas dá o nome à Corrida e datr uma pequena garrafita de Arinto a todos, seria uma ideia promocional bastante mais eficiente e simpática, a meu ver. Oh pá, mas a inscrição é gratuita, o que querias mais ?! Pois, pois claro que a inscrição é gratuita, e o essencial foi garantido: a segurança (este ano o trânsito esteve bem melhor controlado que há 2 anos), o abastecimento de água a meio da prova, a indicação do percurso, o "acompanhamento" do mesmo pela Organização, a manhã de desporto e convívio proporcionada a todos, os troféus e a alegria sempre inerente à Corrida quando falamos de Corrida para todos e foi isso que a 6ª Corrida Bucelas Capital do Arinto nos deu! Por tudo isso está a Organização de Parabéns e venha a 7ª edição com muito sucesso!

A minha Corrida foi isto...

Entusiasmo, alegria, aquecer e partir confiante...Rápido demais constatei depressa. É que aquelas duas voltinhas a Bucelas começam logo a deixar marca (quando a forma e a preparação não é a melhor), depois apanhas a recta ensolarada, ponto de retorno e a subida para Vila de Rei.Tive de caminhar pois claro! Depois desces, passas de novo em Bucelas, e tens de ter força para não pareceres que já vais a morrer. Recta debaixo de Sol para começar a dolorosa subida para a Bemposta. Caminho, pois claro que caminho. Bolas, tenho tanto para treinar (se quero melhorar...e eu quero!). Depois desces e nova recta no asfalto quente até Bucelas, para a meta. Aguenta, aguenta, aguenta, mantém o ritmo, mantém o passo, mesmo que devagarinho, mantém! Mesmo que te apeteça atirar-te para o chão, mantém por favor... Lá mantive, como pude.

E assim, chego à meta da 6a Corrida Bucelas Capital do Arinto, com 10,120 Km percorridos em 56m51s, média (enganadora devido ao desnível) de 5:37/Km...a valer um 3° lugar no escalão, de um total de 7 atletas (no escalão)

Satisfeita, sim claro! Como sempre que corro!

Até para o ano Bucelas!




















FOTOS:

Fotos pelo meu pai, António Melro, para ver aqui

Fotos pelos Run For Friends, para ver aqui

quinta-feira, 18 de maio de 2017

5º Trilho das Lampas









S.João das Lampas, 13 de Maio de 2017 

Entre engomar a camisa de branco imaculado que impreterivelmente vai ter de se usar amanhã e mexer o arroz que coze e fará parte do almoço de amanhã também, a rapariga dá umas fugidas ao papel para ir tomando notas do que será o texto, agora apenas as ideias que lhe vão surgindo, pontos fundamentais e importantes que ela quer transmitir, coisas que se passaram ali e que ela quer gritar ao mundo, como que a dizer-lhe que há ali uma coisa fantástica, que todos deviam experimentar um dia. E sentir! Como se o que ela dissesse tivesse alguma importância e alguma repercussão quer no evento, quer nas pessoas. Como se fizesse diferença. Não sabe. Confessa que gostaria de "influenciar" as pessoas, de partilhar com elas, de alguma forma as levar a alguma coisa que lhes dê prazer e alegria.Como ela sente ao Correr. Por isso também, se mantém este espaço, registo pessoal essencial para a própria e espaço de divulgação de interesse subjectivo.

Ela esteve no 5º Trilho das Lampas, e tem lá estado desde a 1ª edição que foi..."ontem", mas ainda assim sente um orgulho imenso por lá estar desde o seu nascimento e tudo a leva a querer continuar a participar. Até...sempre! Enquanto as pernas e o coração deixarem, pelo menos!

Pode dizer que a prova é organizada pela Meia Maratona de S. João das Lampas - Grupo de Dinamização Desportiva, em conjunto com a Sociedade Recreativa, Desportiva e Familiar de S. João das Lampas. Dirá também que a prova está incluída na Taça de Portugal de Trail Running e que tem a supervisão da Associação de Trail Runnig de Portugal (ATRP).E isso é tudo verdade, mas para isso basta ir espreitar o regulamento, onde se encontra bastante mais informação.

Mas o que ela crê ser essencial é tentar transmitir o que ali se passou na tarde de 13 de Maio em S.João das Lampas. Pode facilmente elogiar a Organização, pois tem razões válidas e sólidas para isso. Pode falar de números e apresentar factos. Que a prova teve uma partida pontual e bonita, que teve 625 atletas chegados à meta, que houve 4 abastecimentos de luxo alguns, com água e detergente para lavar as mãos, com fruta, bolinhos e salgados (batata frita.... mas quando oferecem tomate e sal grosso que ela adora?! em vez de batatas oleosas ?!), animação pelo caminho pelo Rancho Folclórico e Etnográfico do MTBA (Magoito, Tojeira, Bolembre e Arneiro dos Marinheiros) a cantar, tocar e dançar (pode-se ver aqui esse momento, na altura em que passavam os caminheiros, mas eles ali estiveram o tempo todo, até passarem todos os participantes - momento registado pelo amigo Joaquim Adelino, este ano a caminhar). Pode dizer que o Trilho teve excelentes marcações, o que se revela de primordial importância se considerarmos que cerca de metade da prova decorre de noite para uma boa parte do pelotão. Que teve um percurso de dificuldade moderada num magnífico cenário incluindo um pôr do sol na praia, que as classificações saíram rapidamente e que de forma regular se procedeu à entrega de prémios no local para os primeiros de cada escalão. Que os prémios de presença são um belíssimo medalhão, uma t-shirt técnica e um saquinho para o pão (por exemplo). Que todos têm acesso a um diploma com o seu resultado. Que é disponibilizado banho a quem quiser. Que há massagem à chegada, chá, sopa, fruta, água, bolos, mais batatas fritas... Mas a sustentar tudo isto estarão sempre as pessoas. Na base de tudo! As pessoas, os sentimentos e as emoções. As pessoas com as suas rotinas, trabalhos, responsabilidades diversas, família, camisas brancas para engomar e arroz ao lume para mexer. E depois... depois, organizam estas coisas, que a maior parte de nós não faz uma ínfima ideia do trabalho e preocupação que dá. Assim, com uma dose elevada de entrega e atrevo-me mesmo a dizer de amor, outra tanta de responsabilidade e seriedade, aliada à experiência, sem faltar a humildade e chega o dia, chegamos nós a S. João das Lampas e vemos toda uma engrenagem montada de forma aparentemente fácil, simples e "perfeita". São guerreiros que travam batalhas muitas vezes invisíveis, para o pessoal ir ali só desfrutar (pagando a devida inscrição obviamente, ao valor inicial de EUR 10,50, valor esse que vemos completamente retribuído e com juros, a considerar tudo o que é oferecido ao participante), ou para o pessoal que vai ali competir à séria, não deixando por isso de usufruir, mesmo que o significado da palavra seja diferente para cada um dos participantes. Estas pessoas são a Organização. A dar-lhe rosto o meu amigo Fernando Andrade, inevitavelmente apoiado por uma boa equipa e onde os voluntários desempenham um papel fundamental. A par da Corrida, há também uma caminhada, a exigir igualmente toda uma preparação de cuidados e atenções. Ao mestre Fernando Andrade e a todas as pessoas que têm estado ao seu lado para porem de pé este evento (assim como a Meia Maratona de S.João das Lampas, que é "só" a 2ª Meia Maratona mais antiga de Portugal, a ter a sua 41ª edição este ano em Setembro) tiro o meu chapéu e dou os merecidos parabéns por esta edição do Trilho das Lampas, Vocês são fantásticos e fazem do Trilho das Lampas uma prova singular e muito especial, satisfazendo critérios para quem lá vai competir à séria, não descurando por isso todos os ingredientes para os que lá vão assim...como eu!


Agora, o Trilho dela...

Ela é apenas uma entre muitos. Apaixonados pelo Trail. De ontem e de hoje. Pelo Trail e pela Corrida no geral. Uma entre muitos que engomam camisas brancas e mexem o arroz e no intervalo, saem de casa e vão ali subir e descer montes e arribas, suar, arranhar-se nos arbustos, atravessar riachos e encharcar os pés, ouvir o coaxar das rãs, inalar os aromas emanados da vegetação e da terra molhada, ver o pôr do Sol na praia e terminar a jornada felizes e mais fortes para todos os desafios da vida, mesmo que o corpo esteja todo empenado e dorido.

Ela, não juntou amigos para irem com ela, como gostaria. Aliás, uma fase de quase um ano a tratar de lesão que a impossibilitava de correr, afastou-a das lides e das pessoas. E as pessoas dela. Depois, quando há coisa de 3 meses, incrédula, lhe parecia que a Fascite Plantar começava finalmente a dar algumas tréguas, atreveu-se a tentar recomeçar a correr. Mas os quase 20 Kg ganhos entretanto e a inactividade por tão longo período de tempo, não lhe facilitaram a tarefa. Viu-se caída no fundo, tão fundo como não se lembra de alguma vez ter estado, mas teve de se levantar. Dolorosa e lentamente. Com muito trabalho, persistência, paciência, fé e vontade, chega a hoje, aqui, a S. João das Lampas e acredita (durante a maior parte do tempo) estar capaz de fazer o percurso do Trilho. Leva o pai, e sim, afinal alguns companheiros do grupo que representa (Runners da Frente Ribeirinha da Póvoa de Santa Iria) também iam. Ia o Chefe, António Soares, mola impulsionadora do grupo e da Corrida e do exercício para todos em prol da saúde, do lazer, desporto e convívio. Mas apesar disso, eram nitidamente poucos.



Chegaram cedo, a tempo de levantar os dorsais com toda a calma, cumprimentar o melhor dos anfitriões: o amigo Fernando Andrade, reencontrar alguns outros amigos de longa data e começar a inspirar as Lampas e o seu Trilho. O pórtico montado no meio da relva de onde seria dada a partida, as grades já formadas para a clássica voltinha na relva na partida, a música no ar e depressa se viram a ultimar os preparativos do equipamento a levar, e a fazer um ligeiro trote para um muito ligeiro aquecimento.

Posicionaram-se na Partida. Entretanto já o pai se afastara para tentar tirar uma foto à partida. Ela evita ficar muito à frente. Prefere sempre ficar lá mais atrás, no seu lugar, de acordo com o seu andamento, livrando-se assim da frustração de sentir que é ultrapassada por todos os atletas e de rebentar muito cedo por involuntariamente ir logo num ritmo que não é o seu. Do meio da multidão, avista o Fernando Andrade, a anunciar ao altifalante os minutos que faltam, a dar algumas recomendações importantes e lá vem o Presidente da Junta, mesmo a tempo de ainda dar duas palavras e o tiro de partida.




Inicia-se o Trilho. Conforme fora recomendado nos minutos antes da Partida, seria importante os atletas (especialmente os mais rápidos) aproveitarem os 3 primeiros quilómetros para acertarem o posicionamento consoante os andamentos pois devido ao trilho estreito e a subir nessa parte da prova, adivinhava-se algum congestionamento, o que de facto veio a acontecer à passagem da rapariga, o que, considerando que está no último terço do pelotão, não lhe parece propriamente relevante.

A Corrida segue ao seu ritmo, o possível. Confortável. Caminha quando o terreno inclina e corre quando pode. Já conhece bem aqueles Trilhos mas não lhe peçam para ser guia que ela é uma despistada. Mas à medida que avança recorda cada passo dado, cada pedra que saltita, cada arbusto que a acaricia à sua passagem (ou vamos lá, que a arranha e rasga a pele até fazer sangue, deixemo-nos lá de lamechices fofinhas). 

O terreno está molhado, uma poça de água aqui e ali, mas bem melhor do que se esperava tendo em conta o que tem chovido. O coaxar das rãs é uma constante durante parte do percurso. O verde. Os trilhos estreitos. A azenha, os riachos, as pontes. A animação do Rancho Folclórico, ali no meio do Trilho, quando não se espera, alegres a cantar, dançar e tocar, a contagiar-nos com a sua energia e alegria! Simpatia nos olhares e palavras de incentivo.Tudo belíssimo! Há sempre gente. Um pouco à frente, um pouco atrás. Ela segue com ela mesma. Um sorriso aqui, outro ali, dado e recebido. Algumas caras conhecidas, o Miguel que serpenteia energicamente entre os atletas ora para a frente ora para trás, para filmar, fotografar, apoiar. Bolas, é preciso estar muito bem, pensa esta rapariga e sorri. Para quem a rodeia, e sorri para si própria. Apesar de quase sempre acompanhada, não deixa de sentir uma confortável e reconfortante comunhão intimista consigo mesma. Apesar do esforço físico (controlado) vai numa completa e intensa serenidade e paz. E felicidade. Porque sente! O privilégio de poder voltar a Correr. E o privilégio de poder voltar a Correr ali! E sorri, sorri muito e avança. Sozinha por momentos. É então que a ouve "Oi filha, tudo bem?", e um ténue nó na garganta se forma para se libertar no coração e agradecer a vida que tem, a saúde que tem e o verdadeiro privilégio de estar ali! E volta a sorrir! "Vai filha, vai, eu domingo vou a Portalegre", "Aos 100, claro?" diria a rapariga ao que a outra de corpo franzino e alma generosa responderia "Sim, aos 100", com a maior da naturalidade e a rapariga ali ficaria a admirar a força e a alma da senhora Analice a avançar no seu passo miudinho e seguro. Fora assim outras vezes entre as duas. Hoje, só esta rapariga corre.

Sobe para a praia e ainda ela lá em cima e já o Sol cansado se quer deitar sobre o mar. Parece sussurrar-lhe segredos e promete voltar no dia seguinte. Dilui-se nele e ela ainda agora a descer para a praia, quando chega já ele se pusera. Não esperou pela rapariga mas ela não o censura, tivesse corrido mais depressa, ora essa. Atravessa a praia entre pedras e areia e fios de água a correr para o mar e sorri para o fotógrafo Paulo Sezilio que tão bem capta o que transborda da alma de cada um, pelo menos no caso desta rapariga foi claramente assim.

Para sair da praia inicia-se nova subida, agora por onde corre água e há lama. Vale a vegetação onde a rapariga se agarra evitando derrapagens. E segue. Sempre a subir. Por fim alcança as arribas, já quase lusco-fusco. 

Depois, o fantástico abastecimento onde há tudo a começar por lava-mãos e detergente. Depois, fruta, bolinhos, salgados, água...Do melhor. Não reconhece ninguém mas há sempre uma "Boa noite", um sorriso, um "Obrigada", porque as pessoas, os gestos, os sentimentos e as emoções, são o que realmente conta. Come pouco e segue. Não sem antes agradecer e deixar a casca da laranja no contentor lá colocado para o efeito. E  aí tem mais arribas para desbravar. Escarpas onde o mar ruge. Já pouca luz há, mas ela, agora mais só, pois com o avançar da prova, os atletas vão~se dispersando cada vez mais (fez praticamente o resto da prova sozinha a partir sensivelmente do km 12 ou 13) consegue ver-lhe a fúria e a espuma da rebentação contra as rochas. Fúria contida. Rugido feroz mas estranhamente apaziguador. Porque ela está a salvo, pensa. Membros da Organização surgem do nada (assim parece mas estarão estrategicamente bem colocados pelo certo), só para alertar que se segue descida acentuada e recomendar cuidado. Delicioso. Ela tem cuidado. Por vezes um ou outro atleta aproxima-se e ela deixa-os passar, pois o seu "cuidado" a descer (também lhe podem chamar mariquice ou cagufa ou mesmo falta de jeito) tornam-na ainda mais lenta nestas descidas mais ou menos perigosas. Depois, quando o terreno permite, corre, e mesmo devagarinho acaba por passar esses mesmos atletas que a passaram na descida. É assim, cada um com as suas dificuldades, medos e limitações. Cada um com as suas lutas e monstros para enfrentar, não se tornando por isso nem mais nem menos que o outro, apenas diferente, no entanto igual na coragem de enfrentar este desafio e na vontade de se superar, ganhando força e ânimo para outras vulgares tarefas da vida, bastante menos heróicas e pouco elogiadas, mas no entanto bem mais importantes.

Já o frontal vai ligado. Há um bom bocado. As marcações reflectoras coladas no chão  estão absolutamente irrepreensíveis! Damos um passo e já estamos a ver a seguinte e a seguinte também (e o meu frontal é fraquinho). Os passos sucedem-se de luzinha em luzinha e a rapariga avança sempre e ainda com o som do Mar por companhia.

Caminhos entre os campos agora, já estamos a afastar-nos do Mar. Vegetação e bons trilhos para correr. Aparece já uma ou outra casa onde crianças estão a ver-nos passar e a animar-nos. "Tu consegues! Tu consegues!". Ecoou dentro de mim a vozinha daquila menina e mesmo quando nova subida se depara lá pelo km 17...as mãos nos joelhos e avança lenta, a caminhar e a respirar como pode, não pára e sinte-se confiante.

Temos também por essa altura a Ponte Romana, iluminada por archotes. Magnífico cenário. Aprecia, aprecia sobremaneira. Avança dorida mas avança.

De novo caminhos de terra batida para correr. Correr...quer dizer... quem nessa altura e depois desta tareia consiga correr! A rapariga consegue mas não como queria. Alterna uma Corrida muito lenta com passos a caminhar. Nesta figura encontra um ou outro atleta também, nas mesmas condições que ela, oscilando Corrida e Caminhada. 

Por fim pisam já asfalto e dirigem-se para a meta. O GPS já marca perto de 20 Km. Há séculos que ela não percorria tal distância. E dado todo o seu historial recente, acha mesmo que nem se saiu nada mal. A aproximação ao largo de S.João das Lampas dá-lhe forças e o ânimo está em alta. Ela vai conseguir terminar! E afinal parece que nem vai ser a última! Ah, o que interessa é participar, etc e tal, somos todos vencedores, está certo mas aqui a rapariga se puder ser "vencedora" a  fazer aquilo em 2h45m não o vai fazer em 3h. (e já o fez, em mais que isso no ano passado: 3h21m e foi bom na mesma, mas este ano foi muito melhor, especialmente pela forma como se sentiu ao longo de toda a prova).

Vê os amigos da equipa já a comer a sopinha e a gritarem-lhe, e ela entra no relvado e renascem-lhe forças para correr por aquele relvado fora com a maior das alegrias até à meta. Lá está o pai a ensaiar fotografias que acaba por não conseguir tirar e o Manuel António da AMMA, Atletismo Magazine Modalidades Amadoras.


Uma menina pequenina lourinha hesita em lhe dar a medalha, provavelmente por timidez perante este animal ainda ofegante, a suar, espumar e a cheirar mal que acabou de cortar a meta, o que a fez perguntar tão docemente quanto conseguiu se a menina não achava que a rapariga a merecia, ao que a menina anui com um acenar de cabeça e lhe estica o braço com a medalha. Doce momento aquele, episódio observado por mulheres, que ali estavam também a entregar as medalhas e sorriem com o episódio entre uma troca de olhares. Doce recordação e segue-se para a mesa da paparoca. Água, água por favor. Não, chá não quero...água e laranja e banana por favor. E está a rapariga neste ataque alimentar a roçar a Bulimia tal é a ânsia com que come e ingere água, quando é apanhada pela amiga Leonor e então oferece-lhe o melhor sorriso que consegue, genuinamente feliz também por a ver ali e plena de felicidade pelo que acabou de conseguir fazer mas também a considerar se vai continuar a comer e beber água ou se vai vomitar (o que acabou por acontecer mais tarde). E o rico sorriso foi este: um esgar estranho a revelar dúvidas quase existenciais (vomito ou continuo a meter coisas para dentro?), tão bem captado pela querida Leonor:


E esta é a estória do Trilho das Lampas dela, este, o quinto.

E ela, como o Sol promete ao Mar, agora vai descansar mas promete voltar. E para o ano cá estará para a 6ª edição e promete ainda antes disso ir ao habitual Ensaio, também uma oportunidade de fazer a totalidade do percurso de dia.


Referências para mais tarde recordar: Percorridos 20,400 Km em 2h45m43s, média de 8´07"/Km, tendo sido classificada em 467ª posição num total de 635 chegados à meta

Resultados completos, podem ser consultados aqui






















Video: 6 minutos do 5º Trilho das Lampas, pelo Miguel Batista, ver aqui


Albuns de Fotos:

Pela Manuel António, da AMMA - Atletismo Magazine Modalidades Amadoras, ver aqui,

Pela Leonor Duarte, ver aqui

Pela Celina Jorge, ver aqui

Pela Paula Fonseca, ver aqui

Pelo Paulo Sezilo Foto Desporto, 
ver aqui Album 1
ver aqui Album 2


E para ler, pela Maria Sem Frio Nem Casa, que orgulhosamente é totalista do Trilho das Lampas (apesar da prova ter ainda e apenas 5 edições, mas é um orgulho que alimenta ano após ano e assim se quer manter), podemos Recordar...

o 1º Trilho das Lampas, para ler aqui

o 2º Trilho das Lampas, para ler aqui

o 3º Trilho das Lampas, para ler aqui

o 4º Trilho das Lampas, para ler aqui