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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

48 anos






48 Primaveras, outros tantos Verões, mais 48 Outonos e também 48 Invernos. Acumulo estações como emoções. Estas últimas exponenciadas ao máximo, limitadas pelas correntes que me prendem, circunstâncias e fraquezas, mas multiplicadas pelos meses, pelas semanas, pelos dias, pelas horas, pelos momentos e por cada exacto instante em que respiro. Instante excepcional este, em que inspiro e expiro. Injustamente esquecida a sua singularidade e magnitude e remetido para a banalidade das coisas esse instante, tal a sua frequência e suposta e assumida garantida regularidade. 48 anos depois do primeiro, tento não esquecer o quão especial é este instante. Este! Exactamente este! Sinónimo de Vida desde que nascemos e depois, tão menosprezado, até ao dia em deixe de se cumprir naturalmente...

"Soneto de aniversário

Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envelhecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece."
Vinicius de Moraes