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terça-feira, 8 de abril de 2008

A falta que um homem faz

Banheira entupida, água a brotar no ralo como se de nascente se tratasse. Lavatório usado para lavagem de dentuças e eis que, caso raramente visto, brota da banheira água em galões acompanhada do som próprio de glu glu glu.

Fazendo pressão no ralo, sai agora a água por trás do bidé. Xiiiiiii…. Em fio desta vez. Tapete ensopado, avança a água pelo chão como mancha negra ameaçadora que encharca chinelos e peúgas e de repente dou por mim de calças arregaçadas como se de pescador me tratasse, e esfregona e balde numa luta inglória de conter o riacho que nasce na minha casa de banho.

Contida a enxurrada, joelhos no chão, luto agora contra o sifão que parece colado ao chão. Socorro-me da caixa de ferramentas que contem objectos de formas absolutamente estranhas e utilidade duvidosa.

Espátula inserida na ranhura do sifão e forço, rodando o objecto. Nada acontece e escapa-me a espátula, arranhando-me a mão. "Au!" – solto a exclamação e a espátula que cai estrondosa no chão. Chave, chavinhas e chavetas, tudo me parece inútil. Inglesas, francesas, philips e simples, de fendas de vários tamanhos e feitios. E o raio do sifão não se mexe.

Chave de fendas e martelo numa das extremidades da ranhura. Hum… para a direita ou para a esquerda? Para que raio de lado é que se abre isto? E se fecha? Hum, tudo é tão relativo. Muno-me da intuição (pouco feminina) e martelo para o lado que me parece dar mais jeito. O sifão não se move. Insisto. Não posso ganhar muito balanço com o martelo senão ainda corro o risco de partir a sanita!

Mais uma martelada e o sifão parece mexer-se. Uau! Estou no caminho certo. Mas agora é melhor bater do outro lado senão ainda se parte o bidé. Mais um toque, mais um movimento do sifão, e assim vou rodando as marteladas, até me escapar o martelo, pois claro, a cabeça do cabo da chave de fendas parece-me pequena e os dedos estão ali mesmo ao lado.

Depois de uma luta suada e dorida e ferida, lá consigo abrir o sifão, e a operação foi concluída com êxito (desentupimento concluído) sinto-me extremamente bem, mas é nestas alturas que mais sinto falta da porra de um homem, e o preço de viver sozinha com uma criança.

Um gajo faz falta. Para trabalhos de canalizações, electricidade, electrónica, deslocação de móveis e afins.

Ufa! Desta, saí-me bem (com algum custo é verdade) mas nem sempre é assim. Mal me levanto, gloriosa e vitoriosa a deixar correr água sem esta voltar para trás, como se isso fosse uma coisa absolutamente fantástica e magnífica (é das tais coisas... que só valorizamos quando nos faltam), e ouço lá dentro:

- Mãe!!!!! O candeeiro fez um barulho e a luz apagou-se!!!!

12 comentários:

luis mota disse...

Olá Ana!
Fizeste um bom trabalho. A pancada do martelo é a solução para "descolar" a rosca.
Não te conheço pessoalmente, mas gostava de saber se me podes ajudar.
Gostava de participar na corrida do metropolitano. Já enviei a verba por tranferência bancária mas... as inscrições esgotaram. Depois do que me aconteceu na meia de Lisboa só me faltava esta.
Não sei se conheces alguém que conheça alguém que tenha um dorsal a mais ou que por motivos imprevistos não vá correr. EU QUERIA PARTICIPAR! Será que me podes ajudar ou alguém teu conhecido?
Já agora, acho que a lâmpada está fundida.(Não é necessario martelo desta vez!)
Luís Mota

António Almeida disse...

Olá Ana

que bom que voltou, como sabe sou mais um que gosta mesmo muito de ler aquilo que vai escrevendo.
Quanto aos Sinos tive pena mas a ausência foi por uma boa causa, talvez para o ano.
Na corrida do metro já estou inscrito.
Uma boa semana.

Anónimo disse...

Ana,

Sinto-me feliz voltares... quanto à inundação em tua casa lamento e é sempre aborrecido tal acontecer. Também acho que a falta de um homem para determinadas coisas...não é bem assim. Tudo tem a vêr com o material apropriado para realizar determinadas tarefas e de especialistas pois não acredito que um mecânico de automóveis ou que um canalizador perceba bem de electricidade e vice-versa. Existe sempre quem dê um jeito em tudo, são os chamados de "curiosos" mas pode-nos sair caro. Estou-me a lembrar de um "dito especialista" em arranjos de electrodomésticos que eu chamei a minha casa. Deu-me cabo da carteira e do resto do frigorífico que durou apenas mais uns meses. Mas parece que resolveste bem o teu problema e ainda bem...

Beijinhos e até...
Fernando Sousa

António Bento disse...

Boas Ana,
a admiração é recíproca e este blogue faz-me, assim como a muita gente de bem, uma falta diária.
ainda bem que o regresso foi rápido.
OBRIGADO pelo incentivo e pelas palavras Amigas.
São um forte motivo e inspiração para os momentos em que delas mais vou precisar, por alturas de belém, santos, a caminho do parque das nações e da meta.
Beijinho GRANDE e até breve.
AB

Unknown disse...

Se precisares de ajuda, podes contar comigo.. :)

RA disse...

E mais uma aventura...pela forma como escreveste esbocei um sorriso a imaginar tal situação!!!

Está tudo bem ? Estive na prova dos Sininhos e correu-me muito bem. Tenho as fotos no meu outro blog e aí já podes ver a diferença da minha barriguinha.

Uma grande beijoquita agora de duas ...

Fernando Andrade. disse...

O “homo desobstrúcius”, uma das mais primitivas variantes do “homo habilis”, é um hominídeo que, nos últimos cem anos, entrou em profunda decadência no planeta.
A principal razão apontada para explicar a situação, prende-se com o facto das fémeas terem conquistado a sua emancipação em relação aos machos que foram, assim, perdendo poderes na hierarquia familiar. Dantes, o macho aceitava as tarefas que implicassem mais destreza física e a garantia do sustento da família enquanto as fêmeas se responsabilizavam pelo conforto do lar e pelos cuidados com as crias. Mas era o macho que ditava as leis!
Agora, ao esbaterem-se as diferenças vai surgindo o moderno “homo concordantis”, mais tolerante mas menos responsável , que toma o lugar do “desobstrúcius” ...

Em suma : a necessidade aguça o engenho e elas, afinal, conseguem desenrascar-se perfeitamente, mesmo em tarefas que nunca antes tinham feito.

Paulo Silva disse...

“homo desobstrúcius”
“homo concordantis”

he, he he, gostei

http://toni.blogs.sapo.pt/arquivo/evolution.jpg

Zen disse...

A tese pós "darwnista" do Fernando é o máximo! Combina a evolução biológica a par da evolução cultural, está fantástico! Apesar de discutível, não deixa de ter a sua "cientificidade".

Este post da Ana fez-me abrir um largo sorriso. Pelo forma (sempre) original e criativa com que aborda os seus dilemas existenciais. Parabéns ( mais uma vez) Ana!

Mas a Ana é uma mulher antiquada, as mulheres modernas já não precisam de homens para arranjar canos e fazer bricolage. As mulheres modernas, ou arranjam os canos ou escolhem canalizadores por catálogo que além de arranjar canos são também polivalentes noutras habilidades manuais ( desculpa a malícia).
Os homens hoje já não fazem falta nenhuma! Ou melhor, vão fazendo falta para a função reprodutora, por enquanto. Com o crescente fim do mito mulher-mãe e a evolução dos bancos de fertilização anónimos, o futuro ou remete-nos para uma adaptação transmasculina ( eu sei que é difícil definir isto), ou para a extinção!
Ah e para os outros prazeres ( para os quais os homens ainda vão sendo solicitados), a cibernética tratará do resto. Para quem viu o Blade Runner, lembra-se certamente dos seres-máquina dotados de sentimentos programáveis ( à medida das necessidades manipulativas do "utilizador"). Juntemos-lhe
isto e uma clonagem feita exclusivamente por mulheres que tratariam de reproduzir uns Georges Clooneys, que arranjariam canos, ofereciam flores todos os dias, faziam o jantar e pacientemente esperavam pela acalmia das tempestades hormonais, mesmo que estas tenham sessões incompreensíveis de ciúmes, crises de choro sem sentido e interpelações rudes pela localização dos chinelos e adios machos!

É claro que tudo isto é ficção. Realidade foi mesmo a inundação na casa da Ana.

Obrigados por apelares à nossa criatividade Ana.

Beijinhos

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

A todos os que aí deixaram palavras (e seu respectivo valor) agradeço.

Sem desprestigiar qualquer de vós que aqui escreveu, permitam-me destacar a participação do Fernando Andrade, que como costume, (apesar de ser um pequeno texto), é de uma magnitude e originalidade ímpar e muito própria do próprio! Único o Fernando Andrade!

E logo de seguida o meu amigo Zen.
"A Ana é uma mulher antiquada" - ai pois é, se de desentupimento de canos se trata, e tão próximos do esgoto com o que lá se pode adivinhar, bem que preferia ter um gajo para tratar dessas e de outras tarefas afins. Ai preferia mesmo, e sou bem antiquada nesse aspecto sim! Mas, em contraste, acabei por ser eu a resolver o problema, e se não chamei o Homem do Gás, ai, não, o Canalizador, que eventualmente poderia ser jeitoso para outras tarefas igualmente urgentes, necessárias e inadiáveis, é porque me falta aquilo por que essa raça trabalha (como eu): por dinheiro.

E assim, por via das circunstâncias, esta mulher antiquada, foi forçada a ser "moderna", e desinibida de cigarro nos queixos enquanto praguejava umas asneiras entre uma martelada nos dedos e uma unha partida. Mas confesso Zen, sou tão antiquada que bem lá no fundo de mim, ainda PCGC. Um beijinho especial para ti!

Ao Luís Mota: obrigada pelas dicas. Não, no cadeeiro não usei o martelo...

Ao António Almeida: o sentimento é recíproco. Gosto sempre muito das suas palavras de corredor.

Ao Fernando Sousa: Tens razão, é que há homens, Homens, HOMENS, homenzinhos e outras espéceis de difícil definição. O último que passou cá por casa, para me consertar uma coisa (quando conseguia) partia-me ou avariava-me uma ou mesmo duas!

Ao António Bento: obrigada pela visita... e amanhã pensarei em si, sem qualquer dúvida

Ao Paulo Silva: foi uma surpresa e uma honra vê-lo pisar este chão.

À Rosa: obrigada também. Já lá vou ver, já lá vou ver!

Ao Carlos Lopes: pois... obrigada também, mas como podes constatar, eu safo-me!

Mário Pinto disse...

Bom dia Ana.
Antes de mais, excelente trabalho com a banheira e respectivo sifão.
Se algum dia precisar de ajuda para trabalhos desse género e não quiser ser "roubada", deixo aqui uma rede de sites de uma empresa chamada CARD - Central de Assitência e Reparação ao Domicílio.
Os srs trabalham em Lisboa, Porto, Coimbra e Algarve e como já são grandinhos, pelo menos têm uma reputação a manter!
Lá vai - www.desentupimentosurgentes.com
www.canalizadores24horas.com
www.chavesfechaduras.com
www.reparacaoestoreslisboa.com

Têm tabelas de preços e factura (sei que é estúpido dizer: tem facturas, mas a realidade é que nestes ramos à muito malta que faz biscates e se quiser apresentar no seguro é obrigatório factura!)

Miguel Angelo disse...

Os cabelos compridos que ficam aí acumulados.
O trabalho que isso dá a abrir.