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domingo, 27 de dezembro de 2020

Do Natal 2020, da velhice, da demência e do amor...

Podes não saber quem fomos

Podes esquecer-nos num segundo e recordar-nos no segundo seguinte

Podes até não saber quem tu própria és

Não importa!

Nós sabemos quem foste e sabemos quem tu és!

E nesse exacto segundo, em que com carinho e naturalidade te limpamos o pingo do nariz que teima em cair, te desviamos os cabelos dos olhos e te afagamos o rosto, entre as iguarias do almoço e as gargalhadas... 

Nesse exacto segundo, tu sabes com total lucidez e perfeita clareza...lembrando-nos também a nós próprios...quem somos!  Obrigada Tia Lurdes.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Natal 2020

Ouvimos e dizemos, com uma repetitividade tão grave quanto oca, que este Natal é um Natal diferente, um Natal atípico neste ano atípico e resgatamos da prosa que ouvimos vezes sem conta nos média que nos invadem a casa e o cérebro e alma, vocábulos que não usávamos habitualmente e nos fingimos de inteligentes, preocupados, conscientes e responsáveis. E seremos certamente...

E é verdade que este Natal é diferente. Diferente do ano passado e diferente de todos os anteriores. Diferente do Natal do próximo ano e de todos os seguintes. Simplesmente porque todos os instantes que se vivem são absolutamente únicos e simplesmente irrepetíveis. E só diremos que este Natal é diferente porque, embora saibamos que não é assim, temos por hábito e para nossa própria defesa e conforto emocional, dar por garantido. Dar por garantido, as coisas, as pessoas, a vida, e acharmos de de alguma forma podemos repetir, o Natal, os dias, os gestos, as emoções, os abraços, as gargalhadas, as pessoas, e por isso tanta vez desvalorizamos ou até mesmo adiamos...o Natal, os dias, os gestos, as emoções, os abraços, as gargalhadas, as pessoas. O instante. A vida.

Hoje, neste Natal "diferente", tão diferente como todos os outros, venho "repetir" o sentimento e o desejo sincero, que de tantas vezes repetido, se confunde com vulgar, banal, rotineiro e sem valor, só porque nos parece igual e repetido, mas que é único e absolutamente diferente de todos os outros, simplesemnte porque este instante e este Natal, como todos os instantes da Vida, não se repetirá. 

Feliz Natal a todos os amigos, com saúde, amor, paz e pão. Umas Festas Felizes para todos, neste Natal, nestes dias, neste instante que estão a viver. E por mim, pode mesmo ser "apenas" muitas festinhas, muito amor e muita saúde. É a prenda que peço e que não se embrulha. Vivam este Natal e todos os instantes da vida como são: únicos!


Feliz Natal cachorrada!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

"Solidão" ou "Eu e esta cadeira"

Por fim, depois da curta visita, que tardara mais que o necessário e desejável, com os seus olhos pequeninos e claros, por trás das lentes dos óculos, desviou o olhar, libertando-nos dele e focou-se no que parecia ser a imensidão do vazio: "Vocês agora estão aqui, comigo entre estas quatro paredes, mas estão a ver aquela cadeira? Agora vocês vão embora, fecha-se esta porta e eu aqui fico. Entre estas quatro paredes, eu e esta cadeira". Solta uma gargalhada envergonhada e triste e continua, com a mesma doçura na voz, mas agora carregada de tristeza e dor. "Não faz mal, é assim...a vida...eu e esta cadeira, ficamos para aqui...sozinhas...eu e esta cadeira...".

Agora, aproxima-se mais um Natal e eu recordo bem os Natais em que me enviavas brinquedos, de lá, do Ultramar, e postais, sempre lindos, com paisagens exóticas, e ilustrações com realidades tão distintas da minha, que me faziam sonhar. Nos meus aniversários e noutras ocasiões, sempre que terias vontade e podias. Escassas as palavras, mas sempre carregadas de amor e carinho, atravessavam o Oceano desde o teu coração e chegavam ao meu, cravando-se aí, guardadas até hoje. Nem tanto as palavras mas sim inequivocamente o amor, que vencia distâncias, atavessava o mar e chegava até mim.

Recordo o tempo em que eu era menina de colo e tu me carregavas e embalavas.

Os passeios que dávamos quando eu era menina e já corria traquina, pelo campo entre as flores, saltitando entre riachos, equilibrando-se nas pedras, sentindo a terra, inalando o perfume da vegetção e sendo feliz. (Acho que vem dai o meu gosto pelas incursões pelo campo e pela Natureza, correndo e saltando). O passeio ao Jardim Zoológico, o baloiço que ajudavas a embalar. A ajuda que sempre me davas para descer ou subir muros ou sempre que alguma dificuldade se me deparava. A mão dada, o consolo e o mimo, o afago no rosto e a lágrima limpa com a tua mão macia, sempre a cheirar a creme Nívea, e a doçura na voz que ecoa clara ainda hoje na minha cabeça como se estivessemos lá, nesse tempo guardado na memória, há quase cinquenta anos atrás. 

Sempre a tua palavra amiga, o carinho, o amor, o bem-querer, sempre comigo ao longo da minha vida desde que nasci. De uma forma ou outra, acompanhaste-me a minha vida inteira e eu...sinto-me abençoada e grata por isso.