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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Chamam-lhe Parque da Paz

E hoje havia. Paz.

Quando se vai treinar depois das duas horas da tarde, quando os que escolheram a manhã para se exercitar já se foram, e ainda não chegaram os da tarde, pois estarão provavelmente à mesa a almoçar como pessoas normais, o Parque da Paz é de facto um lugar que nos transmite paz, apesar de um constante e incomodativo zumbido do tráfego ao longe, mas ainda assim demasiado perto para o meu gosto.

Pois com prova amanhã, talvez não fosse propriamente recomendável ou aconselhável um treino a meio do dia de hoje. Mas como não me mexia desde domingo (20 Km Cascais) achei por bem hoje fazer alguma coisa, já que não fiz antes. E isto do recomendável e aconselhável no que a provas e treinos diz respeito depende a 100% do objectivo e da perspectiva sob a qual se mira o assunto. E em cada português há um treinador, como todos sabemos.

Por isso, aqui a treinadora ditou: Vai correr! E ela foi!

Para além das aves (patos reais, cisnes, gansos, gaivotas, melros, pombos, pardais e outras aves que desconheço o nome), encontrei apenas uma moça a caminhar. Mais nova que eu, mais baixa e completamente obesa. Caminhava a um ritmo que se poderia chamar de rápido, comparado com o meu passo de corrida lento. Lancei-lhe um olhar e sorri em jeito de cumprimento, “boa tarde”. Respondeu-me ofegante com um brilhante sorriso no meio do rosto redondo.

Admirei-a! Como eu, ali num dia cinzento, ameaçando chuva, enquanto quase todos estão a almoçar, ela e eu a lutar talvez por um objectivo vulgar e comum: sentir-se melhor, quer física quer mentalmente. Que fantasmas e sonhos guarda um corpo?

Corri durante 45 minutos apenas, mas de forma alguma uns insignificantes ou míseros 45 minutos.

Amanhã, espera-me prova na Charneca da Caparica. 2800 metros, ou coisa parecida, pois é medição não oficial, como seria de esperar em provas onde por vezes os postes eléctricos ou as tampas de esgoto no asfalto marcam a partida ou a chegada.

Até amanhã querido diário

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A dieta e a facadinha

Há vários dias que seguia uma dieta rigorosamente vigiada e equilibrada tendo em vista uma perca de peso, que era já de facto excessivo e dava mostras de aumentar até ao infinito, caso ela não fizesse caso.

Naquele dia chegou a casa esfomeada, sedenta, não propriamente com fome, mas com uma vontade louca e incontrolável de se preencher, encher, tapar e esconder, até transbordar e afogar uma angústia inexplicável.

Nada teria feito prever aquilo. O dia correra-lhe bem, dentro dos parâmetros a que se habituara a medi-lo. Quer profissionalmente, quer nas relações com colegas e superiores, quer com a família. Nem tivera nenhuma má notícia, nem fora defrontada com algum novo problema, por insignificante que fosse. No entanto aquela vontade de calar, matar, sufocar e esquecer-se, dominou-a.

Como cega, retirou um bolo da caixa. Engoli-o sem o saborear. Depois outro. Talvez ainda fosse a tempo de parar…mas não, estava perdida e fora de controlo. Aquilo dominava-a. Era preciso matar aquilo. Tapar, esconder. Com comida. Comeu outro e ainda mais outro, até o pacote ficar vazio.

Depois abriu o armário. Percorreu o seu interior como visão raio x em busca de alimentos o mais calóricos possível. Um chocolate esquecido. Engoliu-o. Uma barra de cereais com chocolate, um resto de bolachas recheadas. Tudo foi engolido em segundos.

Enjoada, parou e dirigiu-se à casa de banho. Viu o reflexo do seu rosto branco no espelho. Não planeara aquilo. Tudo acontecera de repente. Tão de repente...

Quando saiu do escritório jamais pensara que os minutos seguintes se desenrolassem daquela forma. Como se ela não fosse interveniente mas apenas espectadora, impotente perante o desenvolvimento dos acontecimentos. Ela não previra aquilo… Estava tudo tão dentro do seu controlo…

E agora isto. Aquilo tinha-a vencido de novo. Olheiras sobre os olhos enegrecem-lhe o rosto envelhecido. Ela não planeara isto… Pegou numa lâmina nova e roçou-lhe o dedo no sentido contrário ao do corte como que apenas a confirmar como estava afiada. Arregaçou a manga da camisola de lã e viu as veias espessas e bem delineadas sob a pele branca. Tocou ao de leve com a lâmina sobre a pele e exerceu uma leve pressão enquanto a fazia deslizar. Um ardor e um vermelho vivo tingiu-lhe a pele. Gota de sangue minúscula. O ardor deu-lhe prazer. Levantou a lâmina e pousou-a mais abaixo, mais perto do pulso sobre outras veias e exercendo agora maior pressão, fê-la deslizar com mais força. O ardor sufocou-a e o sangue já não em gotas, jorrou-lhe em golfadas, sobre o lavatório, as suas roupas e acabando a salpicar o chão. Talvez tivesse cortado a veia certa. Ou talvez a errada.

Olhou uma outra vez ainda o seu rosto no espelho, a admirar a dor, a punir-se e a cultivá-la como um louco e deixou as costas deslizarem pela parede fria de azulejos brancos, descendo lentamente o corpo até ao chão onde se acocorou. Novo corte ardente e mais sangue vivo a escapar-se-lhe do corpo gordo e infame, manchando o chão, de agora maculada brancura suja. Dela.

Fechou os olhos e não acordou.

Quando a encontraram dias depois, rodeada de pacotes de bolacha e de chocolate vazios no chão, de cabeça tombada inerte sobre o peito e o braço e a mão a descansarem numa poça de sangue coagulado, espesso e escuro agora, da sua feliz ignorância, sussurraram de forma fatidicamente irónica:

“Só por teres dado uma facadinha na dieta… não era preciso isto, minha querida…”

De nada lhes valeria dizer, pois jamais compreenderiam, que a dieta e a facadinha não tinham tido rigorosamente nada a ver com o que acabara de acontecer.

FIM

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Às vezes...

"Às vezes, penso que as pessoas percebem que me falta qualquer coisa, que sou vazia. Por detrás do emprego, das roupas e da maquilhagem, nada há a conhecer. Às vezes , penso que sou uma concha e não consigo compreender porque é que as pessoas gostam de mim. E, quando estou com desconhecidos, lembro-me disso. De que sou insubstancial."

escrito por uma personagem do livro(*) que estou a ler de momento, mas às vezes, retirando a parte da maquilhagem que normalmente não uso, às vezes... poderia ser eu a escrever isto… às vezes… e hoje é uma das vezes, e o desconhecido... és tu aí sentado que me lês, mesmo que penses que me conheces...

Dia: Sem treino

"A Filha da minha melhor amiga" de Dorothy Koomson

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

"A próxima" ou "Prova de Versatilidade ou outra coisa qualquer"

Porque o meu clube (Clube do Sargento da Armada) vai, eu irei. É já no próximo domingo dia 1 de Março.

O quê?! Uma prova de 2800 metros para o meu escalão?!

Mas tu estás louca mulher ?! Isso é de rebentar o coração! Dele te saltar pela boca!

Estas organizações devem entender que uma prova mais curta significará necessariamente menos esforço, por isso para as mulheres e concretamente para o meu escalão (Pré-Veterana Feminina) definem 2800 metros, quando é precisamente o oposto: prova mais curta, ritmo mais rápido, logo maior esforço.

É para dar o litro ou então nem vale a pena lá ir. Isto é a minha opinião. Que vou eu lá fazer? Fazer uma "série" de 2800 metros? Sim, é mais ou menos isso... Bem, vou pela equipa e o resto, logo se verá...

Exercício hoje: como é dia de Carnaval, mascarei-me de dona de casa e limpei, lavei, engomei, arrumei... e deixei a casa substancialmente mais habitável, que bem precisava coitada...

domingo, 22 de fevereiro de 2009

XXVI edição 20 Km de Cascais


Ele há provas em que de imediato não nos ocorre nada para contar. Porque nada temos a reclamar, a denunciar, a exigir e reivindicar. Esta é a posição típica de muitos de nós. E é à primeira vista a minha postura sobre a prova que acabei de realizar.

Mas e o que se faz bem? Calamos? Ignoramos? Nem pensar!

Realizou-se hoje a XXVI edição dos 20 Km de Cascais. Prova organizada pelo Centro de Cultura e Desporto do Município de Cascais com o apoio de Câmara Municipal de Cascais e Águas de Cascais, e organização técnica da Xistarca, entidade que depois de vários anos a “organizar” provas atingiu um patamar onde a engrenagem está montada e oleada, de onde resultam de uma forma geral provas regulares, de qualidade satisfatória.

A 26ª edição dos 20 km de Cascais foi hoje mais um exemplo disso.

Com uma prova de 5 Km a realizar-se em simultâneo (Rapidinha) desde há uns anos, este ano a prova reuniu mais de 3000 pessoas a praticar desporto numa manhã soalheira e amena, com cerca de 1400 participantes na prova principal e cerca de 700 na Rapidinha, salientando o facto da inscrição ser gratuita para indivíduos com mais de 65 anos, quer para a prova principal quer para a Rapidinha, considerando pessoalmente o valor da inscrição para os restantes (EUR 6,00) aceitável para o que é oferecido.

Saliento também o medalhão específico para cada uma das provas, assim como a t-shirt, sendo a dos 20 Km com a inscrição do nome de todos os classificados na edição anterior. Negativamente destaco a ausência de bebidas isotónicas, quer nos abastecimentos quer no final, apesar de não ter faltado água, mas para uma prova de 20 km onde o tempo limite é de 2h30m, em minha opinião a bebida isotónica não devia falhar.

A prova decorre num ambiente bastante festivo, onde se promove a participação de mascarados, aproveitando o facto de se realizar no fim-de-semana do Carnaval.

O levantamento de dorsais é feito de forma expedita e eficiente, a partida é dada a horas. Os quilómetros estão marcados, embora não primam pela exactidão. O percurso está muito bem definido, assinalado e o trânsito está completamente cortado. Há abastecimentos em quantidade suficiente. A prova mais curta sai com 5 min de atraso em relação à principal, não havendo qualquer atropelo entre os atletas da frente e os outros, mesmo com a primeira volta por dentro de Cascais. Controlo por chip electrónico. Classificações disponibilizadas rapidamente para os primeiros 1000 atletas chegados.

A beleza do percurso não é item a descurar. Os 20 Km de Cascais proporcionam-nos correr ao lado do mar, o que é de uma beleza singular.

A chegada é também animada, onde se corta a meta dignamente, com fotógrafo e aplausos, e onde há espaço para alongar e retirar o chip.

A entrega de prémios no local é feita também de forma regular.

Recebemos o saco (medalhão e t-shirt) e ficamos satisfeitos com que os 20 km de Cascais nos proporciona mais uma vez. Vontade de voltar, fica sim senhora! Sempre que se possa.

Parabéns a todos os envolvidos que tornaram esta edição em mais uma edição de sucesso.

Ana Pereira

Classificações e informação no site da Xistarca, encarregada da organização técnica da prova
Reportagem fotográfica com milhares de fotos, na AMMA
Algumas fotos de autoria de meu pai, no meu Album do Picasa


Eu e o meu pai:


A minha equipa: Clube do Sargento da Armada:



Com o meu amigo Fernando Oliveira, que se há uns anos me explusou do clube, por razões pessoais e alheias à minha pessoa, consequência de actos e atitudes de terceiros, hoje definitavemente tem uma boa parte da responsabilidade de eu estar aqui, a correr. Por isso... obrigada Fernando:

Já em prova:
A subir:
Os quatro A's: António Almeida, António Bento, António Pinho e... Ana Pereira:






Já a caminho da meta, depois de ter sido rebocada o caminho todo pelos Antónios: o Bento e o Pinho, grandes camaradas e companheiros do princípio ao fim nesta prova:




Que saudades que tinha disto, Pinho!




Os medalhões: dos 20 km e da Rapidinha


F otos de António Melro (meu pai), Orlando e Leonor Duarte, Isabel Almeida e naturalmente da entidade que fim-de-semana após fim-de-semana, sábados e domingos, eterniza momentos, em desportos e modalidades amadoras pouco divulgadas, os quais na maior parte dos casos vingam com escassos apoios e meios, o que os remete para um desconhecimento geral do público e uma quase marginalização, impedindo e dificultando o seu eventual desenvolvimento.



Em eventos vulgares para muitos, mas de certeza muito especiais para muitos outros, que se dispõem quer a organizar, quer a participar nas provas, a lutar vencendo em cada meta cortada, em cada conquista pessoal, está a equipa da AMMA, atenta, de máquina na mão, discretos e sem alarido, com a serenidade e a modéstia de quem sabe perfeitamente o que está a fazer e chega onde está hoje.





A registar o momento, "o nosso" momento. Quantas vezes as palavras não conseguem transmitir o que uma imagem captada "naquele"momento consegue dizer? Obrigada AMMA!
José Gaspar e Carlos Viana Rodrigues, de quem tenho o privilégio de ser Amiga e de ter a sua Amizade



Agora… agora… a minha prova, a corrida por dentro de mim, a correr-me nas veias, nas artérias, a ser bombeada pelo coração, a percorrer os músculos, os órgãos, e entrar e sair deles, a saltar-me pelos poros, pelos olhos, no sorriso, na felicidade e na dor, deixando-me pensar que a dor dá prazer e se foi precisa e propositadamente por isso que não treinei toda a semana que antecedeu a prova.

Reflexões profundas levando-me para lá, para o fundo, onde não há sol, e todas as reflexões são escuras e frias como o mar que nos acompanha ali ao lado, bravo e duro. Implacável. Reflexões aligeiradas pelo apoio incondicional dos Antónios: Pinho e Bento, que me traziam para cima, de novo para a luz, que me acompanharam do início ao fim da prova, durante o longo período em que a minha prova hoje durou: 2h07m46s.

Partimos juntos com o António Almeida, mas o ritmo era de facto muito lento, e sensivelmente ao Km 5, ele foi para a frente, fazer a sua prova, o que apreciei e incentivei.

Pessoalmente não gosto muito que me acompanhem. Faz-me sempre sentir que tenho de andar mais, que estou a empatar, a atrasar os outros. Mas tanto o Bento como o Pinho foram persistentes. Tornaram a prova, uma prova de teimosia, por mais que eu abrandasse, eles não me largaram. Foi um prazer correr com eles, agradeço-lhes a paciência e a força, a força que não se vê mas se dá e se recebe.

Tinha planeado fazer uma prova a 6 min o quilómetro, o que consegui na primeira metade, mas já se está a ver o que aconteceu na segunda. 20 Km são 20 Km. Não se fazem… assim… sem treinos… Tive o que mereci. Sofri. É verdade! Ganhei! É verdade também! Jamais me arrependeria de ter ido.

Encontrar a Vitória e os pais, os amigos, os amigos… um beijo, uma palavra, um olhar, um aceno, o meu pai… a corrida, a vida. Ali, para ser vivida e absorvida. E eu assim fiz. Vivi e absorvi. Cada gota de emoção e de sentimento entranhou-se-me no corpo e pelo olhar foi directo à alma, onde nem sempre é fácil chegar, e onde guardo tesouros.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Extremos

Não fossem estes extremos onde vivo, oscilando entre uma e outra ponta da corda em cada segundo que passa, habitando mundos distintos como a noite e o dia, e talvez tivesse feito um ou dois treinos de corrida esta semana, cada um de trinta ou quarenta minutos de duração apenas, mas ainda assim teriam sido feitos. E teria nadado um pouco, talvez outros quarenta minutos apenas, mas ainda assim, teriam existido esses minutos de exercício físico.

Não fosse este querer constante de tudo ou nada, esta mania de me entregar e amar por inteiro ou por inteiro abandonar e me abandonar, de dar tudo ou nada, e de achar que de outra forma não valerá a pena, e esta semana teria sido diferente.

Mas não foi. Factores externos facilitam o abate, a preguiça, a desistência, a inércia, a opção do fazer nada, prevalece facilmente sobre a opção de fazer alguma coisa por pouco que fosse. Aprendizagem constante da fácil lição mas difícil de colocar em prática nalgumas áreas da vida, pelo menos mais difícil numas que noutras.

Matérias simples como a diferença de comer uma bolacha de chocolate ou um pacote inteiro. A diferença de fazer 2 ou 3 treinos semanais de corrida de 20 ou 30 minutos apenas, ou fazer rigorosamente nada, parece matéria difícil para exame oral onde se privilegia a prática em detrimento da teoria. E esta semana ainda, eu não fiquei aprovada. Chumbei na totalidade das perguntas, e fui reprovada.

E falta apenas um dia para os 20 Km de Cascais. Mais uma vez, alinharei sem uma mínima preparação que considere suficiente.

Uma prova, um passeio em passo de corrida muito lenta, é o que se espera. Valerá a pena esta tentativa de percorrer a corda, de novo em sentido oposto ao que me encontro, pé ante pé, balançando sobre o infinito, mantendo-me segura ao invisível, num equilíbrio esforçado, na esperança de, de novo chegar ao outro lado sem a corda se partir?

Até amanhã querido diário

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

"Obrigado Senhor"

Continuando a história do meu pai como num livro que se lê, pouco depois da operação e do problema descoberto no coração que o impedia para sempre de correr, escrevi o que se segue:

"Obrigado Senhor!"

Sou um velho a quem, não os anos, mas sim a doença, tirou o prazer de correr.

Mas agradeço Senhor, por nesta minha vida me teres dado o dom de me saber reconhecer e encontrar quando me foi possível correr.

A minha vida foi sempre uma nulidade. Tinha a mulher e os filhos. Ganhava para eles, mas era efectivamente um pai e marido ausente. Abafado pela autoridade feminina da casa, isolei-me no meu trabalho, na Columbofilia, e também um pouco no álcool, confesso.

Os filhos cresceram, e eu estive sempre um pouco aparte.

Reformo-me, e com a minha filha, parece que agora, eu velho, ela mulher, nos encontramos, e dou, agora eu, os meus primeiros passos, na corrida. No pós-reforma, a corrida tornou-se então a minha vida! E fui feliz Senhor, nesses breves anos em que tive a dádiva de poder correr, e ouvir o bater do meu coração e os meus passos no chão, e encharcado em suor alcançar mais uma meta em cada prova em que participava!

E senti-me vivo, Senhor! Ah, Senhor, como fui feliz nessa breve passagem da minha vida (pouco mais de dois anos). Sentir o ar na cara e a minha alma elevar-se como nunca se elevara na vida! Tentar, arriscar, ousar, eram palavras que eu nunca usava e que com a corrida, foram todas postas em prática e superadas! Tanto que a corrida me deu!

Depois de me mostrares essa luz na vida, voltas a apagá-la, Senhor! Com esta doença é-me vedada a corrida e só me é permitido pouco mais do que caminhar lentamente.

Agora, vou ver a minha filha correr, e trémulo, seguro a mão da minha netinha e tomo conta dela para a mãe poder correr! Afinal, ainda sou útil. E alegro-me com as suas conquistas e assim vivo ainda um pouco a corrida, mas dentro de mim há um imensa tristeza apenas compreensível para quem ama a corrida. Todos os outros me chamam de louco, velho tonto!

Mas Senhor, quando por fim descansar no meu caixão, estarei feliz, porque vou olhar para trás e ver que nesta vida me foi dada a alegria de poder correr. Como aquelas coisas em que nem que fosse apenas uma vez na vida, tinha valido a pena! E valeu a pena! Obrigado Senhor."


Ana Pereira, 2003
Hoje... hoje ele é o Melro que conhecem! E está aí para as curvas! Não a correr, mas a fazer aquilo que pode: a caminhar, a tirar fotos, a conversar, a rir, a conviver e a viver momentos felizes. Porque enquanto há vida, há sempre alguma coisa para fazer e alguma felicidade para viver. Alguns desses momentos felizes:

Passeio Avós e Netos, com a neta, Lisboa, Março 2002:
Com a neta, em Março 2004 - véspera dos "30 Km Olivença - Elvas":
Grande Prémio Sálvio Nora, Serra da Freita, Verão 2006:
Corrida do Dia do Pai, Porto, 2007: Meia Maratona de Pombal, Verão 2007:
Manteigas -Penhas Douradas, Março 2008:
Caminhada - Maratona do Porto, Outubro 2008:
Grande Prémio do Atlântico, Costa da Caparica, Fevereiro 2009:


E eu? Eu hoje... não corri... outra vez... mas não pensem nem por sombras que isso signifique que os 20 Km de Cascais estão em risco de não ter a nossa digníssima presença: eu nos 20 Km e o meu pai na Rapidinha!

E haja pois muitos dias, e muitos anos, e muita saúde e muitas corridas e muita vida... para viver!
Até... amanhã... ou depois, querido diário

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Continuação de "O Pai" e "O prazer de ser o último"

Em seguimento ao meu último texto deixado neste blogue, tive vontade de dar continuidade à história, que se uns conhecem, outros nem tanto, e por isso aqui deixo o que escrevi ainda sobre o meu pai, quando ele mostrava um cansaço e esforço anormal nas provas, decorria o ano de 2001.

"O prazer de ser o último"

"Maria fez com que o pai começasse a correr. Ela atleta desde sempre, ele, nunca tinha corrido na vida. Começou com 62 anos e nunca mais largou. Com a entrada na reforma, a corrida deu-lhe um sentido para a vida.

Após três anos neste mundo da corrida, hoje o pai anda cansado, lesionado, doente talvez. Mas não deixa de correr. Sente que se parar, não irá voltar a recomeçar. Ele tem visto isso em tantos colegas do seu escalão! Por isso insiste e não desiste! Só que inevitavelmente, vai agravando o seu estado, e a sua debilidade é visível para todos, acentuada pelos seus cabelos brancos e rosto estragado pelos anos.

Maria já não sabe o que fazer perante a relutância do pai em consultar um médico.

O pai, aquele homem forte que lhe deu a vida, que a ensinou e amparou tantas vezes, é agora um velhote fraco, cansado e teimoso! Arrasta-se nas corridas. Maria teme o pior em cada prova. Mas poderá ela tirar-lhe essa alegria?

Num domingo frio mas soalheiro, ela decide acompanhá-lo numa prova e constata de muito perto o estado em que ele está. Anima-o, incentiva-o, dá-lhe força, e perante as suas dificuldades propõe-lhe a desistência, que ele recusa teimosamente, e então Maria continua a apoiá-lo até à meta.

Vai rastejando pelo asfalto.

Nunca sabemos quando é a nossa última prova, o nosso último dia. A vida prega-nos partidas, e depois, quando já é tarde demais, inutilmente homenageamos quem já cá não está.

Naquele domingo Maria disse ao pai que o amava, que apesar de tantos conflitos ao longo da vida, afinal estavam de novo juntos, na corrida e na vida, e naquela prova ela prescindiu de um hipotético 2º ou 3º lugar, e ficou classificada em última, juntamente com o pai.

Cortaram a meta de mão dada, como na sua (dele) primeira prova (em muito melhor condição física), e alguém estende uma medalha à Maria, que pensando que era só para as mulheres, a estende de imediato ao pai.

Nada a premiaria melhor do que a sensação tida naquela chegada à meta. Mas afinal a medalha era de presença. Uma medalha igualzinha à do ano anterior, mas que para a Maria representa o prazer de ser a última e sentir-se a melhor do mundo por ter acompanhado e ajudado o pai naquilo que ele mais gosta. E quem sabe, se pela última vez...

Ana Pereira, Primavera 2001"

Não, esta prova não foi a sua última prova. Chegou ainda à sua 137ª prova na sua curta carreira, na S.Silvestre da Amadora, a 31 de Dezembro de 2001, essa sim, a última vez em que correu, que coincidiu com a última prova da filha no seu estado civil de casada...

Depois disso, foi forçado a ir ao médico. Diagnosticaram-lhe uma hérnia inguinal, à qual teria de ser operado. De imediato lhe proíbem a corrida enquanto aguarda a operação, o que só conseguiu quando recorreu aos serviços de saúde privados, e já nos exames e análises habituais para a preparação de uma cirurgia em segurança, eis que lhe é detectado a fatalidade que lhe modificaria de novo a sua vida para sempre: Miocardiopatia dilatada com insuficiência cardíaca, donde lhe veio a proibição de correr, ou de praticar qualquer exercício físico que lhe exigisse um esforço cardiovascular, com o risco de arritmias e morte súbita. Poderia apenas... caminhar sem esforço.


Sábado, domingo e hoje 2ª feira: não houve treino nenhum...
Amanhã seguir-se-á ainda a continuidade da história do Melro com outro texto desta sua filha, que ele não tem outra igual ou diferente.

Até amanhã

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O Pai e A continuação dos treinos


Levo-o para todo o lado. Assim possa eu e assim possa ele. E assim será até um de nós já não puder. Haja caminhada e ele alinha feliz como dantes alinhava nas partidas das corridas. Faz o que pode: caminha, tira fotos, conversa, ri e vive momentos felizes. Tem 73 anos hoje.

Com a aproximação dos 20 Km de Cascais , prova onde irei alinhar, a realizar dia 22 de Fevereiro, recordo de há 10 anos atrás, ter escrito:

"O exemplo do Melro

Domingo, 14 de Fevereiro de 1999. Ar cansado, mas feliz por ter concluído (1h 49m) os 20 km de Cascais. O Melro, 63 anos feitos, festejou o 1º ano da prática da corrida, pois a sua estreia aconteceu precisamente na "Rapidinha" do ano passado.

Nunca tinha corrido na vida. Amigo dos copos, columbófilo por herança, uma voltinha de bicicleta de longe em longe e nada mais!

O bichinho da corrida nasceu quando começou a acompanhar o genro e a filha nas provas de estrada. A acompanhar é como quem diz: a ir ver, a aplaudir e a admirar este ambiente muito especial.

O Melro, observador e irrequieto como a ave, reparou nos "velhotes" alguns com mais primaveras que ele, que corriam nessas provas e começou a deixar escapar frases como:
"eu se calhar também era capaz...ou não?"

A filha nunca acreditou que o Melro pudesse correr, com a sua barriguinha típica de bebedor, e só lhe respondia que para fazer aquilo era preciso muito treino e que lá por ele ver aqueles velhotes com mais de 70 anos a participar, não seria fácil para ele imitá-los. O genro dizia que tinha de começar devagar.

O Melro vem um dia dizer à filha que tinha estado a treinar no quintal (que nem 50 m tem de comprimento). Havia no Melro uma vontade de correr mas ao mesmo tempo uma timidez e uma indecisão de dizer: "Eu quero, sou capaz e vou começar". Precisava de um empurrão.


No Natal de 1997, o genro e a filha ofereceram-lhe uns sapatos de corrida. E logo começou o Melro, com um programa de treinos feito pelo genro, que ele cumpria à risca.

A exigência da ida ao médico foi o 1º obstáculo a vencer. O Melro achava que não era preciso.
Mas o "treinador" ameaçou que sem ida ao médico não havia mais treinos para ninguém. E lá foi o Melro ao médico. Felizmente a máquina estava boa.

O 2º obstáculo foi o aquecimento. Não foi fácil convencê-lo. Ele queria era calçar os ténis e sair para correr. Levou algum tempo a perceber a sua importância.

O treino de início, era, um minuto a correr, um minuto a andar. Depois, dois minutos a correr e um a andar, e assim progressivamente, lá estava o Melro todo nervoso mas entusiasmado na linha de partida da Rapidinha de Cascais, em Fevereiro de 1998.


Fez a prova toda acompanhado pela filha. Seguiu-se a Mini-Maratona da ponte, e desde então nunca mais parou. Já lá vão 27 provas num total de 260 km percorridos (fora os 2 a 3 treinos semanais), onze quilos perdidos, muitos copos por beber (não todos) e, o mais importante, um rejuvenescimento físico e mental que o fez encarar esta nova fase da vida (recém reformado) duma forma viva e entusiasmante.

Este relato não só demonstra que nunca é tarde para começar, como também a importância das Minis e Rapidinhas na iniciação de muitos corredores (também a filha do Melro se iniciou numa Mini da Ponte), contrariando a opinião de muitos atletas, que dizem que estas provas só servem para atrapalhar os que correm "a sério".

Ana Pereira, 1999"


António Melro Pereira, 14 de Fevereiro de 1999 nos 20 Km de Cascais

Dia 22 de Fevereiro de 2009, lá estaremos os dois! Eu a tentar fazer os 20 Km. Ele fará a Rapidinha, de preferência com muita calma.

E hoje, por mim mas também muito por ele, e porque quero continuar a levar este barco até ao inevitável dia da sua última viagem, eu hoje corri.

52 min de corrida contínua lenta.

Até amanhã querido diário

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Correr e escrever

Saiu do escritório e foi para casa a correr, e a correr apanhou a roupa e estendeu outra que não coubera no estendal quando estendera a primeira. Despiu-se, vestiu-se, calçou os ténis e preparou uma mochila com uma toalha usada, uma garrafa de água com sumo de limão que acabara de espremer e os documentos que lhe permitem conduzir legalmente.


Passam das 20:00Hrs e fazem 10ºC. Correu exactamente 51 minutos num ritmo calmo mas teve a sensação de se sentir um pouco de nada menos pesada do que nas últimas vezes que correu.


Passou pelo restaurante onde já fora feliz em tempos. Pensou nele. E sentiu saudades. Muitas saudades... E queria acabar o treino, tomar um duche, vestir uma roupa feminina que a tornaria elegante, perfumar-se e maquilhar-se levemente e sentar-se com ele de novo naquele restaurante a comer um bom arroz de tamboril e um melhor vinho branco fresco. E queria falar e rir e conversar. Corridas, planos, treinos, histórias engraçadas e outras sérias. O passado, o presente, o futuro, a misturarem-se à mesa atirando emoções de um para outro, como um feixe de luz que os faz sorrir, rir, e transbordar de alegria. A corrida, sempre a corrida a conduzir-lhes a vida, a acompanhá-los nas suas vidas. A ligá-los inicialmente para depois descobrirem que tinham muito mais coisas a partilhar. Com carinho, amizade, respeito, admiração, prazer também. Queria soltar gargalhadas e ver o brilho dos olhos dele. Queria despedir-se dele numa doce embriaguez de amizade e ternura, com um beijo demorado e carinhoso, ainda com os lábios frios do vinho a aquecerem-se na face dele macia, a roçarem os lábios dele involuntária, inocente e inconsequentemente, quando os seus rostos se afastam, e mandar outro para a esposa dele que só estava ausente pela circunstância da distância, e a quem ela muito admira e respeita, mais que ele próprio, mas isso é outra história.


Queria…

Mas acabou o treino, alongou a correr, e a correr foi buscar a filha ao clube. São perto de dez da noite quando mete a chave à porta. Manda a miúda para o banho, atira uns feijões verdes, umas batatas, dois ovos e uma posta de bacalhau para dentro de um tacho onde a água já ferve, e vai secar o cabelo à miúda que entretanto acabara o banho.


Tira a comida e comem juntas. Hora de lavar os dentes, e preparar as mochilas para o dia seguinte, já de rotina retomada, felizmente a miúda está bem melhor hoje.


É a vez dela tomar banho. Arruma a cozinha. E caminham os ponteiros para a meia noite quando se senta em frente ao computador a fazer uma coisa de que ela gosta verdadeiramente: alimentar o seu diário, com letras e palavras e estórias, atirando-as ao acaso, juntando-as depois, ordenando-as em tentativas tantas vezes inglórias, de as fazer fazer sentido, para que este se mantenha vivo, e através dele, viva ela também. Correr e escrever é também viver. E ela já não vive sem nenhum dos dois.

Até amanhã querido diário

Tua
Ana

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Selos e Correntes

Nos 2 últimos dias, recebi de:



Stéphanie Perrone - Stéphanie Perrone

Duarte Gregório - Vai DeGavarinho mas vai... e de

Ana - Voz do Avesso :

O Selo... "Que Blog Maneiro!"

De entre os blogues conhecidos de cada um, cada um deveria indicar 10, oferecendo este Selo, significando que os considera "Um blog Maneiro!"

Aos 3 agradeço a preferência e ter sido uma das 10 escolhidas por cada um deles.

Cada um dos "escolhidos" deveria depois indicar uns outros 10 blogues "maneiros!", aos quais ofereceria também o selo, seguindo umas determinadas regras e ir dessa forma propagando o Selo, ao mesmo tempo que se vão "premiando" e divulgando outros blogues.

Só por esta última parte, a ideia já valeria a pena. No entanto, se há coisas com que embirro solenemente são "Correntes", e rara é aquela qu eu não corto. (mania da contradição provavelmente).

Divulgar 10 blogues que considero "à maneira" não consigo, pois ao fazê-lo teria de indicar muitos mais, e para isso utilizo a coluna aí ao lado direito, onde tenho links para os meus "blogs maneiros!", à medida que os vou descobrindo.

Peço desculpa por não dar continuidade a uma corrente inofensiva e que me foi enviada certamente com a melhor das intenções e que eu muito agradeço, mas não vou seguir as regras e o Selo fica por aqui, pois se o oferecesse a 10 blogues, muitos outros seriam injustiçados, e os blogues são diferentes, gostamos mais de uns do que de outros, por razões diferentes, e os parâmetros são difíceis e subjectivos para dar uma pontuação minimamente justa, correcta e imparcial. Por isso não o faço. Aos três que me indicaram, Stéphanie, Duarte e Ana, para além de agradecer, peço as minhas desculpas.

Hoje voltou a não haver qualquer espécie de treino.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Segurança Social


Não é à toa que a Maria Sem Frio Nem Casa tem esse nome. Como a casa se tem mudado (ou a Maria é que se tem mudado?) com uma frequência invulgar nos últimos anos, não seria de admirar que a documentação cívica e legal se encontre “um pouco”(??) desactualizada. Mas se cada vez que ela muda de casa, mudasse TODA a documentação, não fazia ela outra coisa! Deixai-a assentar arraiais que daqui a uns meses (prevê-se) a situação muda (uma vez mais), e nessa altura ela actualizará tudo. Promessa convicta feita a si mesma, e já a alguns simpáticos agentes da autoridade.

Ora bem, pelo acima exposto, como é óbvio o cartão de beneficiário da Segurança Social, entidade para a qual é obrigada descontar todo o final de mês, certinho e direitinho sem falhar vai já para 21 anos, nada menos que EUR 11,00 em cada 100,00 que recebe (se calhar anda mas é a receber muito…), não está propriamente actualizado a nível de morada. De acordo com a morada da altura em que o emitiu, pertence a um determinado Centro de Saúde.

Para evitar confusões, ela pega (salvo seja) na filha doente e no carro e dirige-se ao dito Centro a que “pertence” (Corroios).

-Consulta de Urgência?! Mas aqui já não há Urgências… Não sabia?! – a expressão e tom de indignação da empregada do Centro de Saúde, quase que a fazem sentir culpada por não saber, e desculpa-se o melhor que pode:
- Não, não sabia… olhe é sinal que não tenho precisado ou tenho sido “obrigada” a recorrer a sistemas alternativos… porque posso…ou …podia.

Indicado o novo Centro onde se dão Consultas de Urgência, ela volta a pegar (salvo seja) na filha e no carro e dirige-se ao tal novo Centro (Moinho de Maré)

- Mas tem médico de família?
- Acho que não… tinha, mas morreu há uns anos, era o Dr.Moreira, não sei o que vocês fizeram com os doentes dele… Mas isso faz diferença? Eu preciso é de uma Consulta de Urgência para a miúda.
- Ai pois claro que faz diferença! Aqui só há consultas de Urgência para quem tem médico de família…

A empregada verifica no computador e confirma o veredicto ameaçado: a miúda não tem médico de família! É-lhe indicado um outro Centro de Saúde, neste caso na Amora (SAP), onde são atendidos os doentes sem médico de família.

Ela, porque pertence a uma classe que ainda se pode chamar de privilegiada nos dias que correm, volta a pegar (salvo seja) na miúda e no carro que ainda tem gasóleo, e dirige-se ao 3º Centro de Saúde da Segurança Social nesse dia, que dista uns 15 km do primeiro, a tal entidade para a qual ela desconta todos os meses 11 euros por cada 100 que o patrão lhe paga, e por fim, é atendida por um médico, que se estivesse a atender cavalos e vacas, ter-se-ia pena dos animais…

A miúda foi ouvida, despida, vista, espreitada e interrogada com questões curtas cuspidas com rispidez, observada, vestida e calada! Em princípio não é nada grave, saem de lá com a receita médica e como a miúda ainda não atingiu 12 anos, a consulta é gratuita. (aleluia, aleluia!) Necessidade a quanto obrigas… Mas pensando bem... quantos onze euros a mãe já entregou à dita entidade? Já para não falar no pai...

Dias em casa, ao contrário do que seria normal, assim ...com a miúda doente… não sabem mesmo nada bem.
Hoje não houve treino nenhum para a gente desta morada.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

(ainda) Eu e o Atlântico (X Grande Prémio) e O Prémio

Tinha consciência que uma semana parada, não poderia fazer muito melhor que em Grândola (mesma distância uma semana antes), mas sabia também que em Grândola não tinha dado o litro. Tinha-me aguentado até ao km 5, e depois senti que podia reduzir a lentidão um pouco, mas optei por acompanhar o meu colega de equipa, Fernando Oliveira, também sem preparação e lesionado. Chegámos juntos com o António Pereira, companheiro que se dispôs a acompanhar-nos a ambos, e acabámos com 1h01m45s. Isto em Grândola (para os distraídos).

Desta vez, na Caparica, queria fazer o que conseguisse fazer, mas com consciência que não seria grande coisa. No entanto queria acabar a sentir que tinha dado o meu melhor. Fosse lá o que isso fosse! Mental e secretamente ambicionava baixar da hora. Como se isso fosse uma grande coisa.

Depois de entregar o meu pai na Caminhada e deixá-lo partir, aqueci lentamente, cumprimentei tanta e tanta gente, a recordar-me o quanto a corrida nos pode dar. Quanta gente conheço… Conhecidos mas também Amigos. Amigos sim!

Partimos de novo juntos: eu, Fernando Oliveira e António Pereira, de novo disposto a andar devagar.

A Caparica abre-nos ruas e ruelas de vivendas e conduz-nos para a avenida agora em obras, para depressa desviarmo-nos para perto da praia, sem no entanto a vislumbrarmos, sempre separados por altas dunas.

Sorrisos e sorrisos. Olhares e acenos. Cumplicidade e esforço dividido. Sorrisos de novo. E mais sorrisos. Correr faz-me feliz! Por uma hora ou um minuto que seja!

Corri o que pude, deixara o Fernando cedo (km 2 sensivelmente) e segui. O António acompanha-me.

Km 6 e arrependo-me de ter aumentado a velocidade. Temo que o Fernando me volte a apanhar. Não tenho treino nem qualquer base para manter um ritmo inferior a 6min/Km por muito tempo…É o estado não da nação, mas o meu… O António incentiva-me que deveríamos apenas manter e faríamos menos que uma hora. Apenas manter… pois precisamente a dificuldade era essa, manter.

- Aninhas! Estás a vir ao de cima outra vez?! Boa! – companheiro de equipa, hoje guia de um atleta invisual, o Ginja, que me cumprimentara com uma palmadinha na face na semana passada “Bem vinda de novo Aninhas!”, fazendo-me sentir uma miúda que já não sou.

Há pessoas felizes por me verem! Tanto ou mais que eu! Sentimento recíproco sincero.

Acompanho-os um pouco mas eles vão mais lentos que eu, e eu estou a sofrer um pouco mas a aguentar, leia-se manter.

Aguento até à meta. Carlos Viana, Gaspar, Orlando e Leonor que nem vejo, mas que me “capturam ” na sua máquina, e … o meu pai! O meu pai! Cheguei! Feliz! 57m17s! Baixei da hora! Não parece grande coisa, mas garanto-vos que é!

Estou feliz! Muito feliz! O momento gravado no tempo! Impagável! Registado! Na memória, na carne e na alma. Gravado a ferro no dorso no animal! Um sorriso mais, natural, sincero, directo da alma para os lábios a rasgar na cara redonda!

Vir ao de cima outra vez! É isso mesmo! Estou a vir ao de cima outra vez!!!

É este O Prémio que levo para casa. É isto e mais que não consigo dizer, que a Corrida me dá.

Obrigada a todos que contribuem para isso e que bem sabem quem são!
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Antes da prova, com Fernando Oliveira e António Almeida:
A prova a decorrer:



A aproximar-me da meta:
Fotos de Carlos Viana Rodrigues, da AMMA, onde se encontram 2 albuns com milhares de fotos desta prova, e tambem de Isabel Almeida
A medalha para todos:

E do Atlântico, retenho a água, elemento onde muito bem me dou (desde que não haja ondas), e faço hoje

50 min de Natação,

como início da preparação para o XXVI 20 Km de Cascais a realizar dia 22 de Fevereiro de 2009.

Parece que não tem nada a ver, não parece? Pois parece...

Até amanhã querido diário