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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

ainda o XXV Grande Prémio de Atletismo de Carnaval do Alto do Moinho

Realizou o Centro Cultural e Recreativo do Alto do Moinho no dia 27 de Fevereiro de 2011, o XXV Grande Prémio de Atletismo de Carnaval do Alto do Moinho. Vigésima quinta edição que inovou pelas provas abertas aos escalões mais jovens. Desde o Benjamim ao Veterano, todos puderam nesta edição correr, participar e competir, ganhando os habituais prémios por classificação, taças, troféus e medalhas, para além da t-shirt oferecida a todos os participantes.

Um clube organizador, com os apoios locais e da Câmara Municipal do Seixal, que aproveita e bem para divulgar e promover a Corrida para todos, salientando-se o facto do Clube manter viva uma escola de atletismo, onde se proporciona às crianças a possibilidade de conhecer o Atletismo e desse forma activa se formarem também como indivíduos para além da vertente desportiva.

A prova teve inscrições gratuitas, abastecimento suficiente e o trânsito apenas condicionado o que, salvo raras excepções, se traduz em segurança deficiente, mas aqui não foi excepção. Percurso bem marcado (2 voltas na corrida principal), e um pórtico insuflável a marcar quer as Partidas quer as Chegadas. Fita de controlo dada a meio do percurso, um "speaker" entusiasta e animado, entrega de prémios em pódio, bancada da Asics e da Gold Nutrition e temos uma prova que completa as 25 edições com sucesso, e tendo em conta os recursos disponíveis, ainda inova e renasce com a criação das provas para os escalões de formação, só pode estar de parabéns.



Classificações por escalões

Classificações por equipa - Prova Principal

Classificações por equipa - Provas Jovens





Mais de 400 novas fotos do Grande Prémio Carnaval Alto do Moinho no site da AMMA - Atletismo Magazine Modalidades Amadoras - um sítio ao serviço do Atleta, esse, que rápido ou lento, famoso ou anónimo, criança ou velho, corre, nada, joga, sua, ri e chora e enche a vida, a dele e a nossa, de muito mais cor, alegria e saúde. E aí estão eles em centenas de fotos, imagens que ficam de momentos ímpares da vida de cada um. Expressões e esgares captados no exacto instante que dura uma mensagem transmitida por um olhar ou um gesto, muitas vezes dizendo muito mais que as palavras.



A Prova da Maria

"Eu gostei da prova" - diz ela como se isso tivesse algum significado especial para além de revelar uma opinião pessoal num momento e numa circunstância também pessoal, quer do seu estado de espírito quer de saúde física e mental, quer ainda do envolvimento social em que se encontra naquele determinado momento.

No entanto, se reflectirmos um pouco, se por um lado aquela e todas as outras opiniões pessoais que se baseiam em factos e vivências pontuais e pessoais não podem de forma nenhuma caracterizar ou definir uma prova, por outro, não deixam de ser válidas pelo simples facto de existirem, mais que não seja como momentos fotográficos captados num instante, diluídos num todo que é a Prova.

Correu mais devagar do que alguma vez correu. Não caminhou, nem mesmo quando o suave desnível lhe revelava a força da gravidade em todo o seu esplendor, a puxar os seus 70 quilos para baixo e para trás, exactamente no sentido inverso ao que ela queria seguir.

Deu por si a admirar as pernas dos velhotes ainda com força para vencerem as subidas e a deixavam para trás a ela, sem dó nem piedade. Exactamente como ela quando pode. Mas desta vez não pôde.

Correu como pôde, partiu e chegou à meta. Sem grande história ou marco na memória. Talvez os tenha substituído pelos outros momentos, aqueles que passou a fotografar os miúdos nas suas provas, por exemplo. Aqueles em que sentiu viva a força da Corrida, mas não nela desta vez. Acontece... pensa. E sim, valeu a pena, claro que valeu a pena ainda assim. E se aqueles homens e mulheres não se cansam de organizar o evento, não é ela que se cansará de correr. Nem de escrever, só porque não lhe apetece por preguiça ou falta de organização mental. O certo é que quando insiste, nem sempre o resultado é satisfatório, mas ainda assim, ela continua. Por aí a correr e a fotografar e por aqui a escrever. E só por essa teimosia, já a vida lhe traz ganho, garante. Por isso, pensa continuar.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

XXV Grande Prémio de Carnaval Alto do Moinho

XXV Grande Prémio de Carnaval Alto do Moinho - 27 Fevereiro 2011


Imagens:

A partida da prova principal:
Eu, cá atrás, logo na Partida:
Em prova:

A chegar à Meta:
Com Joaquina Flores, um exemplo de Vida, dentro na Corrida:
As provas dos mais novos:



O meu registo de Corrida: 8960 metros em 55m29s, média de 6:11 / Km


Mais fotos do Grande Prémio Alto do Moinho, no site da AMMA - Atletismo Magazine Modalidades Amadoras

Palavras aqui só amanhã

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Sábado de Sol

Nada de jeito ou de especial, dirão. Mas isso, se é especial ou não, só eu é que sei, tal qual como os sportinguistas, só eu é que sei porque não fiquei em casa, e fui correr alguma coisa neste Sábado de Sol.

Alguma coisa, especial como só eu sei, e que se traduziu em 4550 metros (sim, só 4,5 Km, e depois?!) em 27m45s, média de 6:08 / Km.

Amanhã tenho Corrida, podia servir de desculpa e justificação, mas não, só corri isso porque ... porque amanhã tenho Corrida é verdade, mas que me vi à rasca, vi, admito e assumo que me seria muito penoso correr mais tempo e distância! E sei muito bem porquê. Em forma física, prática de exercício e aumento de peso, é como se tivesse andado a ver até onde podia descer. Já vi! Agora é voltar a subir. Não quero descer mais! Mais que isto!

Beijinhos e abraços e um bom fim de semana para todos. Ah, é verdade, e amanhã tenho mesmo Corrida: XXV Grande Prémio de Carnaval do Alto do Moinho, porque a Margem Sul está no meu coração

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Grande Prémio de Atletismo da Charneca da Caparica

Organizado pelos Amigos do Atletismo da Charneca da Caparica e pela Junta de Freguesia da Charneca da Caparica, com os apoios da Câmara Municipal de Almada, Bombeiros Voluntários de Cacilhas e Comércio Local, realizou-se hoje o Grande Prémio de Atletismo da Charneca da Caparica.

Destaco a perseverança do Clube que mantém a prova viva, ano após ano. Em moldes idênticos aos das provas do antigo e agora inexistente Troféu de Almada, a organização divide as provas por escalões, desde os mais novos que Benjamins, passando por estes, até aos escalões mais velhos. Peca por isso por manter a prova feminina fora da prova principal, que tem cerca de 8500 metros, ficando o sector feminino condicionado a uma corrida de distância inferior a 3 Km.

Com excepção das provas dos mais pequenos, todas aquelas que se alargaram no perímetro, tiveram de se defrontar com fraca sinalização e igualmente fraca a segurança no que ao condicionamento do trânsito diz respeito.

Valorizo os prémios de presença: bolo, fruta e água, assim como Troféus e medalhas por classificação para todos os escalões, e também por equipas, sabendo nós a importância que estes assumem nos escalões mais jovens.

Valorizo principalmente a vontade e o trabalho de manter esta corrida de pé, assim como as inscrições gratuitas e todo o trabalho necessário para conseguir realizar a prova, não sem percalços como atrasos nas partidas e outros referidos, revelando um amadorismo que por isso mesmo, reveste estas gentes de um valor especial, pois sem intuitos lucrativos, promove e divulga a Corrida, não só neste evento, mas num trabalho de todo o ano, com treino e motivação aos seus próprios atletas e à comunidade.

Está por tudo isto, o Clube dos Amigos do Atletismo da Charneca da Caparica, meritório dos mais sinceros Parabéns, que lhes dou sem dúvida alguma.

Ana Pereira


A Prova da Maria

Venci. Ganhei. Lutei e venci! Venci os fantasmas e sozinha como há muito não fazia (desta vez o meu querido pai não me pôde acompanhar), levantei-me cedo, arranjei-me e pûs-me a caminho. 40 Km depois, estava na Charneca da Caparica. Cedo. Demasiado cedo talvez. Vou tomar café enquanto aguardo pelo meu Clube e pelas horas. Dali a pouco, o reencontro. Um abraço e beijinhos a todos. Pego na máquina. Gosto de fotografar. Principalmente as provas dos mais pequenos. Enquanto acho que ainda não é tempo de fazer o meu aquecimento, fotografo os pequenos. As condições não são as melhores, o Sol parece estar sempre do lado errado e não me facilita o trabalho/prazer de fotografar. Faço o que posso.

Depressa chega a minha hora de aquecer. Com o António, companheiro como poucos. Apesar da sua prova só começar depois da minha acabar, faz-me companhia no aquecimento. Conversamos um pouco. A máquina fotográfica já mudou de mãos (obrigada Inês, mas para a próxima eu quero-te é a correr ao meu lado), e o sinal de partida é dado.

Faço a prova com tanto bom senso que nem me reconheço. Em vez de correr à maluca por a distância ser curta, aqui a menina modera o andamento para um nível aceitável de esforço. É que a máquina está parada praticamente desde o ano passado, 31 Dezembro, e os 42 anos já pesam, mais o corpo que os anos, mas enfim deixai-a pensar assim, que são os anos que pesam. Desta forma faço uma prova bastante tranquila:

2730 metros em 15m28s, média de 6:40 / Km

Logo nos primeiros metros as posições se definem: fico de imediato para trás com umas senhoras perto de 2 décadas mais velhas que eu, e com a minha chefe de equipa, que já só corre a brincar. Deixo-me ir com elas, mas depressa (500 m) me apercebo que eu poderia ir um nadinha mais rápido. E vou. E a partir daí faço a prova totalmente sozinha. A perder-se de vista a atleta da frente e idem para a de trás, chegando mesmo em determinados cruzamentos ter de perguntar a populares por onde deveria seguir. Corro na berma, há veículos na estrada, até que um camião do lixo encosta para fazer a devida recolha do lixo e obriga-me a sair da berma e ir pelo meio da estrada, no preciso momento em que um veículo que o seguia ao vê-lo encostar, o resolve ultrapassar. Nada de especial, assim como numa curva apertada de muito má visibilidade é-me feita uma tangente por um outro veículo de vem de frente para mim. Escapo destas mas não gosto e quem me conhece sabe que em minha opinião a segurança é dos itens que mais valorizo numa organização e é óbvio que nem o facto de não pagar inscrições atenua o perigo e a responsabilidade, que a organização tem o cuidado de deferir para o atleta no regulamento, por isso, não há reclamações, mas nem por isso deixo de ter a minha opinião do ocorrido.

Passados estes episódios, há uma vozinha de criança que me chega aos ouvidos: "Força menina!" - levanto os olhos da estrada e do caminho e deparo-me com um petiz de 4 anitos, de olhos negros a bater-me palmas. Arranca-me um sorriso de orelha a orelha. Menina?! Sorrio, aceno-lhe e agradeço.

Rapidamente estou a chegar à meta. Muita gente chama por mim. Diz o meu nome. O meu nome na boca delas e o sorriso é agora constante. Falta o meu pai mas nem por isso me sinto só.

Recebo a água, o bolo, a maçã e depressa volto a pegar na máquina fotográfica para agora fotografar a prova principal. Pena que as pilhas se acabaram e não consegui fotografar todos os atletas à chegada. Ainda assim, como cada vez que corro, ganhei e venci.


Boa semana para todos

Maria Sem Frio Nem Casa


Algumas imagens:

As provas dos mais jovens:
A partida da minha prova:
A minha chegada, isolada, pois claro, seja lá o que isso queira dizer, mas que foi isolada, ai isso foi, como a imagem comprova: Já com os prémios de presença, dados à chegada: água, uma peça de fruta e um bolo de chocolate:
A partida da prova principal:
A mesa à chegada, com água, fruta e bolos:
Cerca de 150 Fotos do Grande Prémio de Atletismo da Charneca da Caparica, na AMMA - Atletismo Magazine Modalidades Amadoras

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O Sábado


O Sábado revestiu-se de outras cores, tonalidades mortiças e baças, a distorcer as imagens, mas tão reais e definidas elas, as tonalidades, cinzentas e baças. Recorda-o, ao Sábado, como se fosse hoje, hoje mesmo e de novo Sábado. Cinzento e molhado também como o outro. A repetir-se indiferente e alheio a ela. O Sábado vestiu-se de negro para sair e mais nenhum sábado será igual. Revê as pedras da calçada molhadas, entre as botas calçadas, que ela palmilha no caminho que fez naquele Sábado. Baço e chuvoso. Como hoje. Não havia mais ninguém na rua, Sábado cedo, Sábado negro. Recorda o cheiro do pato a cozer na panela quando reentra em casa. O caldo a fervilhar e o arroz que cozeu nele. Jamais uma canja de pato será igual para ela. Este Sábado entranhou-se de odores, de vozes, de sons e silêncios, de gritos mudos, de dores amordaçadas e escondidas fingidas, que digeriu sozinha.

Hoje, sábado de novo, igual e diferente, mas há coisas que nem o tempo apaga e o Sábado continuará a ter o mesmo sabor, ácido e cruel, amargo como o fel, o mesmo cheiro adocicado e fétido, nauseabundo misturado com o pato a ferver na panela, e o silêncio a doer na alma, apesar dos gritos dentro dela... estridentes e agudos, uivos de dor a rasgar-lhe as entranhas e a querer sair pela casa, atravessar janelas e romper paredes e perder-no no céu cinzento do Sábado, em busca de compreensão, perdão e paz.

Amanhã, Domingo, quere-se igual a tantos outros domingos: dia de Corrida, de rever gente, a correr e a repetir-se alheia e indiferente, como o Sábado, e é dia de correr sozinha e voltar para casa feliz... só porque correu.

Entretanto sente-a aproximar-se, a querer instalar-se ameaçando paralisá-a e castrá-la, mas ela sacode-a com as forças e as armas que tem. É só por isso que amanhã Domingo, ela vai correr. Se ainda for a tempo, se ela a não a apanhar antes disso.

E hoje, ouve vezes sem conta e canta, canta baixinho com o coração cheio de esperança e alegria e paz...não sem sentir um nó na garganta só porque se emociona, e chora e sorri ao mesmo tempo...e segura-se, e segura-se à Vida e canta e canta:


Israel "IZ"


"Somewhere Over the Rainbow"

Música de Harold Arlen, Letra de E.Y. Harburg

"Somewhere over the rainbow
Way up high,
There's a land that I heard of
Once in a lullaby.

Somewhere over the rainbow
Skies are blue,
And the dreams that you dare to dream
Really do come true.

Someday I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far
Behind me.
Where troubles melt like lemon drops
Away above the chimney tops
That's where you'll find me.

Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly.
Birds fly over the rainbow.
Why then, oh why can't I?

If happy little bluebirds fly
Beyond the rainbow
Why, oh why can't I?"

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Filme

O filme fazia-se anunciar de mistério e aventura com cheirinho a romance no ar. Deixava adivinhar riscos corridos e algum perigo, mas depressa se revelou muito romântico e cómico, com verdadeiras cenas de autêntica comédia romântica como por exemplo o primeiro encontro deles, a querer ser comemorado à lareira, com uma garrafa de vinho que se revelou estragado mas que nem por isso lhes estragou a noite, alternando com sério e doce romance e ainda algum erotismo por vezes a roçar a pornografia e muita sensualidade. À mistura algum suspense e terror quando por exemplo na banheira ela apavorada esperava a qualquer momento a invasão dele na casa de banho, de serra eléctrica ou machado na mão, a correr o cortinado de rompante e a (não) surpreendê-la nua e molhada, totalmente indefesa na banheira daquela mansão isolada no meio da montanha no Nordeste de Portugal, ou quando nus, pela primeira vez ela o abraçou a medo, e fazendo deslizar a sua mão pelas costas dele devagar, temia descobrir-lhe algum indício de ser alienígena, como escamas ou objecto frio e metálico, o que felizmente não se veio a concretizar. O início de uma vida a dois, cheia de partilha e muito amor, num constante descobrir do outro e o redescobrir do Amor, fazem-nos acreditar que o Amor é ainda possível depois de algumas más experiências de vida das personagens. Algumas dissidências resolvidas a bem, e o solidificar de uma relação, não sem dificuldades, vão sendo mostradas ao longo do filme, fazendo-nos agarrar às personagens e à história. Mas de repente o romance que parece belo e excitante e nos embala durante quase duas horas de duração do filme, dá lugar ao drama, ao abandono e ao crime. Pequeno nada que impõe um fim inevitável, triste, dramático e ensanguentado, digno dos mais célebres "Thrillers" que surpreende tudo e todos os desatentos que não observaram os vários sinais que foram sendo dados na segunda parte do filme, mas que, absorvidos pelo sonho de um amor de sonho que quereriam para si, não repararam neles. Quando a fita é cortada e abruptamente chega ao fim, acaba o filme e o espectador não sabe se a história morre assim ou se vai haver continuação, com outras personagens ou estas mesmas, mortas ou vivas, que isto nos filmes tudo é possível.

Bons sonhos e bons filmes

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Quem?

Quem me deu a mão e o seu corpo quente e forte para eu me encostar e apoiar nestes dias?

Quem me olhou impotente mas profunda e comtemplativamente enquanto eu sofria, matava e morria? Quem me beijou o rosto lavado em lágrimas (lavado salvo seja, que haveria de certeza muito muco nasal também à mistura) e quem não me abandonou um minuto que fosse? Quem sem saber, sabia tudo, e não me largou e me apoiou o tempo todo? Porque sentia e simplesmente sabia que eu precisava?

Quem me lambeu as lágrimas e o ranho, sem pudor, querendo de novo o meu rosto limpo? Quem me pediu um sorriso quando eu chorava? Quem me desafiava para brincar quando o que mais me apetecia era estar quieta, e que depois, me respeitava, largava a bola e ficou horas silenciosamente a olhar-me nos olhos?

Quem esteve sempre comigo? E hoje quem me fez interromper o tédio e a rotina das limpezas e me fez calçar os ténis e ir para a rua correr?

Ela, a Molly:2 Km com ela: corre / anda /faz xixi / cheira aqui / cheira ali
+
6 Km sozinha em 38 minutos, tendo lá pelo Km 3, caminhado cerca de 200 metros


Eu sei que nós humanos, gostamos (e precisamos) de humanizar as acções dos cães e de outros animais, que eles quando nos lambem as lágrimas é mesmo pelo sabor e não estão propriamente a oferecer-nos o seu melhor lenço de branco alvo e bordado à mão. Mas sabe bem. Sabe muitíssmo bem ter um Amigo assim: que sem compreender as razões, nos compreende, está ali connosco, em perfeita sintonia, a apoiar-nos, a tentar que fiquemos melhor. Não tenho qualquer dúvida que um Cão é um Amigo. Dos melhores que se pode ter. E eu tenho: a Molly.

Com isto não quero dizer que desvalorize os humanos. Tive e tenho amigos que também estiveram (e estão) comigo. Em horas más também. Porque normalmente nessas é que se apuram e refinam as amizades e o amor e outras balelas tantas vezes referidas mas não sentidas.

Quis apenas, hoje, demonstrar o valor que atribuo a um peludo de quatro patas e mostrar o que ele nos pode dar. Sem pedir nada em troca, sem segundas intenções, sem se importar com o nosso aspecto, sem nos julgar ou censurar - embora tenhamos as nossas dissidências e ela me mostre muito bem quando está chateada e/ou amuada, - sem interesse para além do Amor que nos tem. Porque Amizade é uma forma de Amor.

Também podia fazer uma composição, tão ou mais comprida que esta, acerca das desvantagens de ter um cão. Mas agora não me apetece, até porque na minha opinião, o acima descrito sobrepõe-se a tudo o resto e tem um valor inestimável, valor esse que pretendo preservar.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Branco


Acordou com a claridade do amanhecer. Paredes brancas, quadros em tons de azul a mostrar o mar e a sua vida, e a cortina branca a dançar com a leve brisa marítima e fresca que entrava pela fresta da janela.

Um balbuciar de bebé fê-la virar o rosto para o lado, abandonando o branco dos lençóis do lugar vazio ao seu lado na cama e pousou o olhar sobre o rosto que mais a ilumina. A sua filha que completou agora um ano, brinca no berço, com os seus próprios pezinhos descalços e ensaia sons, imitando palavras. Quando os seus olhos castanhos redondos tocam os da sua mamã, rasga o rosto com o sorriso mais lindo do mundo, mostrando os seus únicos dois dentes e um queixo a luzir de babinha.

- Olá...bebé... - Levanta-se a trá-la para a sua cama enchendo-a de beijos no pescoço fazendo-a soltar doces gargalhadas. Genuínas. Depois, vai preparar o biberão, passa pelo outro quarto onde dormem ainda a sua filha mais velha e a sua enteada, filha do seu namorado. Satisfá-la poder oferecer esta casa e estas férias aos seus.

Alimenta a pequena, muda-lhe a fralda, fá-la arrotar, e fica-se a vê-la adormecer de novo, nos seus braços, de boca entreaberta, deixando-lhe ver os dois dentinhos de baixo, os únicos que ela tinha, e de bochecha esmagada contra o seu seio nu, sob a fina película da sua camisa de dormir transparente, deixando adivinhar o mamilo castanho.

Podia ficar ali para sempre, assim, a olhar o seu bebé com amor, sabendo que o seu outro amor dormia também descansado no quarto ao lado. Não lhe fossem doer os braços, e poderia ficar ali para sempre, sim. Assim. Voltou a colocar a bebé no berço e recostou-se na sua cama, contra as almofadas grandes e brancas que lhe amparavam as costas, e as lágrimas em noites de dor, e os desejos em noites quentes, em que sozinha usa os seus próprios dedos para se satisfazer, percorrendo com eles o seu corpo sem temor ou segredos, e pensando nele, ausente, afogava nelas os seus suspiros quando sozinha se amava.

Era cedo e a casa dormia de novo, como elas. Estavam de férias e ainda era muito cedo para irem para a praia. Deixou-se ficar ali a gozar a casa de férias que agora conseguia pagar com alguma facilidade, ouvindo as gaivotas lá fora a dizerem que já era dia, e esticou-se na cama, só sua. Encheu-a de si, com o seu odor, puxou para si uma almofada que abraçou com força, desejando que fosse ele, pensando nele. Apertou-a contra si e abraçou-a como se fosse gente, ausente.

Mas inexplicavelmente os braços continuavam a doer-lhe, como se o cansaço a tivesse vencido, e à sua volta estão de novo as paredes brancas mas sem quadros azuis. E o branco dos lençóis engole-a e quando os levanta como se a certificar-se que as suas pernas bambaleantes agora mesmo antes de se deitar, ainda ali estivessem e lhe pertencessem obedientes, descobre que a humidade que sente entre as pernas não é fruto de desejo ou sonhos eróticos, mas do sangue que jorra em catadupas e mancha o imaculado branco dos lençóis, das paredes, dos quadros que não existem, da sua camisa de dormir de tecido grosso e áspero, e ela sabe nesse momento que o seu bebé está morto.

Um dia, ela vai levantar-se. Dessa cama branca nesse quarto de paredes brancas apenas manchadas de sangue pelas suas próprias mãos sujas que não souberam salvar o seu bebé, ainda quente o seu corpo quando o soltou para a Morte. Um dia ela vai levantar-se. E talvez correr ainda, se ela for uma dessas mulheres. Mas não hoje. Não hoje, porque hoje o seu bebé está morto, e o branco ocupou o seu lugar, invadindo outros espaços, sobrepondo-se às outras cores.