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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Surpresa e genuinidade

Fim de dia. O veículo circula entre milhares de outros. Seguro, confiante, assim como vai a Mãe e a Filha da Mãe, no seu interior, lado a lado, em mais compras necessárias para as aulas que agora começaram, em conversa de igual para igual:

- Mãe?

- Diz.

- Temos de começar a treinar. Posso correr contigo, por exemplo todos os sábados ou todos os domingos. Mas sempre! Não há preguiça nem "ai quero dormir". É para ir... é para ir!

- A sério? Queres? Mas porquê? - a Mãe não consegue esconder a surpresa. A filha sempre abominou a corrida perante os bens intencionados amigos e colegas de corrida da Mãe que sempre que vêm a miúda insistem para que ela corra, como se isso fosse uma pisada a seguir só porque a Mãe corre, e o pai e o avô correram até a saúde o permitir.

- Ora Mãe! Para estar em melhor forma física. Para apanhar o Ricardo quando ele me rouba o boné, por exemplo. Oh Mãe, eu gosto mesmo de correr, estás a ver? Mas correr mesmo, fazer sprints, depois abrandar, assim, estás a ver? Depois descansar um bocado e depois correr de novo a alta velocidade, sentir os cabelos ao vento e... aí sinto-me como...como... um cavalo selvagem! Adoro! Estás a perceber Mãe? É que eu gosto mesmo muito de correr, mas assim, não em provas, com inscrição e dorsal e isso tudo, isso é uma grande seca..."

Surpresa, a Mãe está a ver sim senhora. Está a ver e a perceber que afinal a miúda, genuinamente gosta de correr, gosta efectivamente de correr, como a Mãe se recorda de ter gostado também um dia. Talvez se tenha distraído e fugido da essência, da essência da corrida, longe das provas e das multidões e das t-shirts uniformes e das cores dos clubes, dos Garmins e dos Polares e das pseudo reportagens escritas e fotográficas que se espera que se faça, porque as organizações merecem, porque é importante divulgar, etc. etc. Tudo muito válido, mas há que garantir a essência, senão nada que se faça fará sentido. A Mãe precisa de regressar à Essência. Sua, para encontrar de novo a Corrida na sua plenitude. Desejem-lhe sorte nesta busca por favor.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O maltês


Tirou as chaves da algibeira e em resposta ao chocalhar das mesmas, não teve o latido do cachorro de outrora, do outro lado da porta, ansioso por o ver chegar. Não teve os risinhos das crianças que correriam para si com vozinhas estridentes de alegria. Não teve o beijo da mulher de seus lábios cansados mas sorridentes e macios, nem o afago no rosto com que ela quase sempre acompanhava o beijo.

A chave rodou na fechadura, a porta rendeu-se abrindo-se e ele mergulhou no silêncio em que a casa habitava. Dirigiu-se à cozinha, abriu a lata do pão e verificou o saco: um naco esquecido já a criar bolor, cujo odor ele inalou profundamente, levando-o mais perto das narinas, até sentir uma repulsa, certificando-se do que os olhos viam e confirmou através do olfacto que o alimento não estava em condições de ser consumido. Noutro saco, uma carcaça de ontem, sim, tinha comprado ontem duas carcaças e lembra-se agora que só tinha comido uma. Estava boa portanto, esta segunda.

Abriu o frigorífico e constatou que as prateleiras sujas apenas suportavam um resto de margarina embrulhada em prata, um pacote de leite aberto e umas garrafas de cerveja. Abeirou-se então da porta da despensa e retirou uma lata de sardinhas. Conservas é o que há mais ultimamente nesta casa. Desde que está sozinho, parece que descobriu o quão prático e saboroso é abrir uma carcaça do dia anterior, despejar lá para dentro o conteúdo de um enlatado, sardinhas ou atum, deixar escorrer o óleo que o pão ensopa sofregamente, fechá-la e devorá-la fazendo-a acompanhar de uns goles de cerveja bem gelada.

São refeições rápidas estas do maltês. Rápidas demais. Talvez por isso, por vezes repete a cerveja, e fica ainda a bebericar uma terceira ou mesmo quarta garrafa mesmo depois de acabar o conduto, de olhos presos numa televisão que passa imagens que ele não vê.

Às vezes treina, depois de um dia de trabalho e antes de chegar a casa. Mesmo sem ter ninguém à sua espera, treina, e só agora que não tem ninguém à sua espera quando treina, é que sente a falta de ter alguém que o aguarda e que reclama porque ele foi treinar e não está mais presente. Agora pode, que não tem ninguém a reclamar a sua presença, pode treinar sem tempo nem pressa. Mas terrivelmente, sente a falta deles, à sua espera. Agora tem a casa vazia à sua espera. Mas mesmo sentindo a falta deles, ele treina.

É esta a vida do maltês.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

34ª Meia Maratona de S.João das Lampas

Aconteceu no passado sábado dia 11 Setembro de 2010 e eu não estive lá...

Foi a 34ª Meia Maratona de S.João das Lampas:

Videos:
http://www.tvportugal.tv/

http://www.saloia.tv/

Fotos: na Galeria da AMMA - Atletismo Magazine Modalidades Amadoras


E eu? Eu não estive lá. Simples! Quer dizer, ter lá estado...estive, mas...

Não posso dizer rigorosamente nada, nem bem nem mal, nem sequer assim-assim, apenas posso dizer que cheguei a S.João das Lampas pelas 17:20 hrs e se estava convencidíssima que a prova tinha Partida às 17:30hrs, também não teria chegado com a devida antecedência, diga-se de passagem, mas ainda assim correria. Mas não, a prova teve Partida à hora marcada e anunciada: 17:00hrs, e eu, só posso dizer que fiquei com um grande melão. Só isso.

Tão grande o melão que o meti debaixo do braço com esforço, dei meia volta e saí dali. Riram-se! Quem ia comigo riu-se: que não era razão para ficar tão chateada, que provas há muitas, que para o ano há mais, etc e tal... Mas não! Se ando a levar as Corridas mais a brincar que nunca, esta não era apenas uma prova. Era A Prova! Aquela a que eu não queria faltar! Desde que a conheci que a faço, com uma devoção e prazer muito especial.

Mas não tive outro remédio. A 34ª Meia Maratona de S.João das Lampas, essa não a corri, nem Meia nem Mini (que seria o caso caso tivesse chegado a horas). É só o que posso dizer.

Aproveitando que estava equipada, fui treinar, bem longe dali por sinal. Nem meia hora chegou... e enquanto corria pensava, que é quando mais penso quando vou sozinha, ou mesmo acompanhada, faço-me sempre acompanhar pelos pensamentos, e esses sempre me acompanham qualquer que seja o meu ritmo, e reconsiderava eu qual era no presente o papel da Corrida na minha Vida, e se valia a pena andar para aí a correr, de prova em prova... Considerações inconclusivas...como sempre.

O treino de cardio e musculação no Ginásio continua duas vezes por semana, e as corridas cá fora, são esporádicas, lentas e curtas, e dolorosas, porque acompanhadas de um cansaço normal (ou anormal) de quem tem de encarar e assumir a realidade de que é presentemente um indivíduo que adoptou o sedentarismo como prática diária, mesmo sem dar conta, a passar um dia de cada vez, e chega-se a um (dia) e ... e essa acho que é ainda a parte mais difícil: assumir e enfrentar a realidade... sou uma sedentária. Tenho dito.

E num processo inverso aos heróis nacionais, que passam de 30 anos de sedentarismo com excesso de peso, a atletas, e criam um blogue para contar as suas façanhas, eu passei de atleta a indivíduo sedentário com excesso de peso. Só me falta é fumar!

Esta é a realidade. Ainda assim mantenho o blogue, não para servir de exemplo nem para me motivar, mas para contar as vitórias e as derrotas, numa corrida contínua, pois esta é a vida e eu gosto de escrever e vocês de me ler, que eu sei.

Até amanhã ou depois querido diário

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Nova actividade

Temos de nos proteger. De nós próprios também ou precisamente de nós próprios principalmente. Estou em crer que a segunda hipótese é a mais forte, a situação com maior potencial e risco de desenvolvimento caso descuremos as trincheiras ou baixemos as barreiras. Seremos o nosso maior inimigo em caso de guerra e de ataques fantasmas mas nem por isso menos reais. Reais... E a realidade qual é e onde está? Cuidado. É preciso cuidado. Estar atento e zelar por nós. Esse é o ponto de partida. Para que possamos fazer algum bem aos outros. Começa sempre em e por nós. Sozinhos, em luta frontal e directa, corpo a corpo, de almas desnudadas e espada erguida contra moinhos de vento que nos afligem como guerreiros de armadura de ferro com suas espadas afiadas e luzidias.

1º Inscrição no Ginásio - Paga!

2º Avaliação física - Resultado: de "Muito Fraco" a "Fraco"

"- Sim, o seu corpo tem uma memória histórica das épocas em que podemos considerar que praticava exercício físico com regularidade, mas tudo isso está adormecido. É só acordá-lo, despertá-lo com movimento e energia, (não faltar às aulas!!) e daqui a uns 3 meses, faz-se uma reavaliação física e vai ver a diferença! Não espere perder muito peso! Vai substituir essa massa gorda (vulgo banhas e pneus) por massa muscular, que é até mais pesada, mas perderá volume e ganhará firmeza." - até parece saber o que diz o jovem instrutor. Confio nele, e principalmente... confio em mim. Vamos em frente Sr. Instrutor.




3º Primeira aula com explicação exaustiva de cada aparelho de musculação e definição de um plano de treino, cargas e número de repetições e series

4º Hoje: o efectivo começar do treino: Injecção de energia e bem estar! 1h30m a malhar, diria eu se fosse brasileira ou tivesse adoptado também esse vocábulo entre outros que nem damos por eles, mas como não sou, digo que estive 1h30m a praticar exercício físico, dividido entre exercícios de força e de cardio, como o são por exemplo a bicicleta, a passadeira e a elíptica.

Até amanhã querido diário

domingo, 5 de setembro de 2010

Fim de semana

Com perfeita consciência da relatividade e subjectividade da verdade que cremos absoluta porque ela é a nossa, tornando-se a única, aquela que sentimos, na pele, no corpo, gravada no âmago da alma. Agora. Já. Neste instante. No imediato. E essa verdade ninguém nos tira. Cada um é dono da sua.

E hoje "é verdade" que não tenho filhos, nem namorado, nem pais, nem amigos, nem sequer tenho cão, e envolta nesta verdade, consciencializo-me que me tenho a mim, de saúde (e da boa!), tenho o sol e tenho ainda e sempre... a Corrida! Essa amiga, aliada e fiel, ainda que magoada por andar tão "maltratada", mas ela, como amiga que é, compreende. O afastamento, a falta de vontade até para estar com ela, e não cobra ao ponto de fazer estremecer a amizade. Nada disso. Cada encontro é um reencontro e saio sempre vitoriosa e feliz. Sempre! Depois de estar com ela. Quase uma relação lesbiana esta! Com muito prazer e amor, mas sem as suas dúvidas, zangas e arrufos de tempos a tempos. Uma relação como todas as outras afinal.

Assim, depois de um sábado a aproveitar a Praia, assim, plana, bela e plena, como eu gosto e com quem gosto


e depois de hoje de manhã não me ter sido possível ir à Corrida das Festas conforme estava previsto, no fim da manhã, com a minha verdade de hoje, de agora, equipei-me e fui correr um pouco. Só para matar saudades dela:

Domingo, 5 de Setembro de 2010
5 Km em 30m57s Média de 6:08 / Km

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Não precisava...

Não precisava de vir dizer que a semana passou. Todos sabem e eu não precisava, simplesmente não precisava.

Não precisava de dizer nem que a semana passou e que o mês de Agosto também, e antes deste, outros meses passaram, perfazendo anos que também passaram. Não precisava de dizer que tenho 41 anos neste mundo e quase os mesmos no da corrida. Não precisava de dizer que olho-me ao espelho e vejo um corpo sedentário, onde a actividade física regular e uma consequente forma mínima, é apenas uma lembrança passada. Uma recordação adormecida que o corpo guarda, à espera de ser ou não, um dia despertada para de novo se mexer. Simplesmente, se mexer. Não precisava de dizer. Não, não precisava. De dizer que me tornei num indivíduo sedentário. Uma quarentona sedentária. E também não precisava de dizer que se para a primeira condição sou absolutamente alheia e impotente, já para a segunda... depende de mim perto dos 100%. Da minha vontade e do meu querer. Não precisava dizer isto pois não? Nem vocês precisavam de ler. Mas... pelos vistos, leram! É assim a Vida, quantas vezes se faz o que aparentemente não é preciso e precisamente por isso a Vida ganha Vida.

domingo, 29 de Agosto de 2010: 7 Km em 51m46s, média de 7:23 / Km - Treino na serra com acentuado desnível

6ª feira, 3 de Setembro de 2010: 7 Km em 40m36s, média de 5:48 / Km


E a semana passou e o fim de semana está aí. E domingo, depois de alguns anos ausente, estarei de novo na Corrida da Festa:

Bom Fim de Semana Camaradas! E até ao Avante!