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sábado, 30 de junho de 2007

Ultra Trail Serra da Freita


Foi assim em 2006:

Memorial Sálvio Nora - 9 de Julho de 2006

Agora custa-me escrever.

Porque é que ontem à noite no meio da trovoada na noite escura apenas momentaneamente iluminada pelos relâmpagos, pelo piar assustado das aves e pelo correr do rio agitado pelas violentas gotas de chuva, tudo me parecia tão claro e óbvio, e as palavras dançavam na minha cabeça, fluidas, fáceis e belas e se entendiam e arrumavam em harmonia? Estarias comigo sem eu o saber?

Estou a escrever-te debaixo da mesma azinheira onde te ouvi e te falei pela última vez.

Agora falo-te e ouço-te em qualquer lugar. Mas naquele dia, involuntariamente talvez, mentiste por certo dizendo que estavas melhor.

Pouco mais de dois meses passados reencontramo-nos. Na Serra da Freita desta vez. Para o Memorial Sálvio Nora.

Se gostei do Memorial? Não, não gostei. Teria preferido que estivesses entre nós a correr naquele magnífico cenário numa prova igual mas com um outro nome qualquer.

Detestei olhar o teu velho equipamento agora sobre um boneco, como se fosse uma farda de um militar de que ninguém recorda o nome, meticulosamente limpa, vincada, arrumada, esquecida e sem vida no canto de um museu qualquer.

Queria-o sujo e suado sobre o pulsar do teu corpo quente e coberto de pó.Resta-me pensar que quem gosta de nós e quem nós gostamos nunca nos deixa completamente e na verdade tu estiveste entre nós esvoaçando entre as borboletas e guiando-nos pela magnitude desta serra tantas vezes lida mas nunca corrida, neste teu "Mundo Fantástico" que sem ti é de difícil compreensão e de sentido duvidoso, mas ajudai-nos por favor a tentar alcançar um pouco dessa sabedoria.

Estou perdida Sálvio, muito para além da imensidão desta serra e do percurso desta prova onde as fitas sinalizadoras foram claramente ineficientes.

As vacas que me ensinaste arouquesas, a água que corre, o céu que nos cobre e abençoa e as pedras, as outras e as parideiras que guardo como valiosos troféus, uma aceite durante a minha experiência de 12 Km, e outra resgatada por um amigo que tu gostarias de ter acompanhado neste Trail de 50 Km, e que me foi ofertada dias depois, são preciosidades da vida contidas em forma de pedras agora a descansar na frescura da minha casa, amontoadas ao lado da tartaruga de madeira.Um dos ensinamentos que me passaste e da forma mais abrupta possível foi que mesmo das coisas más poderemos sempre retirar coisas boas.

Com a tua partida fui levada a conhecer uma pessoa extraordinária. Ela é especial, encanta, transmite alegria e é uma tua grande e verdadeira amiga, companheira de treino também e sempre presente no teu "Mundo Fantástico", que aqui homenageio pois sempre preferi as homenagens aos vivos: Margarida Pinto!

Ao vê-la chegar dos 50 Km tive a certeza que tu estiveste ali o tempo todo a sorrir connosco e que tudo aquilo vale a pena, que a tua morte me fez conhecer esta maravilhosa pessoa e família, e que ainda fez nascer este Memorial que tem todo o potencial para se tornar uma referência internacional no género, sem perder o essencial: o ar que se respira e a envolve e que és tu!

E tu, gostaste do Memorial, Sálvio? O que nos escreverias sobre ele de forma majestosa e apaixonante trazendo-nos até ele apelados pelas tuas palavras mágicas?

De forma humilde e talvez medíocre, em oposição à riqueza de emoções e sentimentos que sinto em catadupa, e lutando para contrariar a anarquia das palavras soltas que me assaltam, isto foi só o que eu consegui escrever sobre esta edição experimental do Memorial Sálvio Nora.
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E este ano como será? Voltarei para contar.

domingo, 24 de junho de 2007

Mata dos Medos

A Mata dos Medos foi hoje palco de mais um treino fabuloso como o são todos os meus treinos ali.

Em boa hora mandada plantar por D.João V, séc. XVIII, na tentativa de travar o avanço das dunas (também designadas por “medos”, o que veio dar nome à Mata), a Mata dos Medos é desde 1971 considerada parte integrante da Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica.

Cerca de 300 hectares onde predomina o pinheiro manso, mas também o zimbro-costeiro, o medronheiro, a aroeira e o rosmaninho, entre muita outra vegetação de identificação impossível para um leigo como eu, mas que constituem uma rica colecção botânica que ladeia caminhos e trilhos de terra batida arenosa e criam um paraíso para uma boa parte dos corredores, onde eu me englobo, como já se viu.

Paraíso também o é para as raposas, coelhos, ouriços caixeiros, genetas, gralhas-pretas, corvos, poupas, pica-paus, águias-de-asa-redonda, açores, patos bravos, lagartixas, sardões, sardaniscas, e várias espécies de cobras, que só excepcionalmente se deixam ver.

Clandestinamente, entro e saio na mata deixando apenas pegadas e algumas gotas de suor certamente.

Gosto de partilhar aquilo de que gosto. Hoje “levei” lá dois novos amigos e dei-lhes a conhecer o "meu" pinhal. Com prazer. Muito prazer. Tanto ou mais que aquele que o meu próprio treino me deu. Não somos nada sem os outros...


Eles? Acho que gostaram. Repetiremos.

1h27m de corrida contínua lenta.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Correntes

Normalmente quebro as "correntes".

Aquelas do "passa a 10 pessoas e um homem lindo (o dos teus sonhos certamente) virá te beijar e declarar o seu amor e se não passares vai-te cair um raio em cima que te fará num oito e vais apanhar piolhos e urticária, dentro dos próximos 4 dias", etc., etc, e tal.

E também aquelas estilo: "se não passares nada te acontecerá, mas perdeste a oportunidade de fazer alguém sorrir" , etc e tal... essas também já não pegam comigo.

Morre tudo ali! À chegada. Chego mesmo a pensar que sou uma cortadora nata de "correntes" e que tenho o dom de destruir sonhos cor-de-rosa de quem ainda os tenha.

Nunca tinha pensado muito nisto até hoje que alguém especial me passou "uma corrente" não tanto para eu passar a 30 pessoas e ter garantido sexo do bom nos próximos 3 dias, mas para a "levar a me conhecer melhor", palavras dela.

E porque se há correntes que quebro de imediato, outras que tento quebrar há anos mas que me têm dado muita luta, outras há que quero eu criá-las, fortalecer e solidificar, e esta "corrente", que nasce ténue e invisível com uma menina que podia talvez ser a minha, faz parte destas últimas.

É corrente que não vou querer quebrar nunca e que me lisonjeou sobremaneira e de forma comovente, ao ter sido "escolhida" por ela, para "passar a corrente".

Por ela e para ela Menina Sem Nome, vou responder às perguntas. Mas como ela o tinha feito inicialmente, também eu não o vou passar a ninguém, embora, como ela, também há quem me fascine…

E com isto, talvez eu própria me conheça um bocadinho mais. Pelo menos faz-me pensar.

7 coisas que tenho que fazer antes de morrer:

1) Ajudar a minha filha a crescer e vê-la uma Mulher feliz e livre
2) Correr uma Ultra Maratona
3) Bater o meu record pessoal na Maratona (baixar das 3h49m)
4) Viajar, viajar, viajar... pelo mundo inteiro, sem limites de tempo ou outros
5) Chegar a algum lado e finalmente não sentir vontade de partir
6) Voltar a pesar 52 Kg
7) Descansar no ombro de alguém e sentir paz

7 coisas que mais gosto:
1) Escrever
2) Rir
3) Ler
4) Paz
5) Mar
6) Montanha
7) Silêncio
Acrescento:
8) Conduzir

7 prazeres fúteis:
1) não fazer nada
2) dormir
3) vaguear em lojas de roupa e sem as poder comprar, sonhar que as tenho
... não me lembro de mais nada... ou não os tenho mesmo...

7 coisas que mais digo (pessoalmente, as expressões que se seguem e outras) são sempre passageiras e devem-se ao facto de lidar com pessoas que muito as utilizam também. Ivoluntariamente adopto-as mas felizmente acabam por passar com o tempo a maior parte delas
1) "Correcto?"
2) "Está-se a passar!" ou "Passou-se!"
3) Ok

7 coisas que faço bem:
1) Ouvir
2) Transmitir o que quer que seja através da escrita
3) Ser Mãe
4) Ser Sincera... embora tenha aprendido que em certas situações mais vale não o ser, pelo menos de forma muito efusiva
5) Conduzir
6) Assumir - o que quer que seja: erros, sentimentos, etc.
7) Amar os outros

7 coisas que eu não faço:
1) Treinar sem cronómetro - absolutamente impensável!
2) Fingir por muito tempo
3) Contentar-me com algo "insuficiente" só porque "antes assim que nada" ou "antes assim que pior"
4) Deixar de dizer o que penso, mesmo quando o mais inteligente seria ficar calada ou dizer algo diferente - isto também se molda, pois tenho aprendido que há situações em que esta bruta frontalidade não nos dá benefício nenhum
5) Fumar à frente da minha filha
6) Numa viagem chegar ao destino sem me enganar pelo menos duas ou três vezes
7) Amar-me o suficiente
Acrescento:
8) Estacionar o carro com facilidade

7 coisas que me encantam:
1) A serenidade do rosto da minha filha adormecida
2) O sorriso e as gargalhadas da minha filha
3) Manifestações de carinho e amizade de terceiros para com a minha filha e para comigo
4) Cães
5) Pessoas simples e humildes
6) Gestos bonitos inesperados e genuínos
7) Amor, nas suas mais variadas demonstrações
Acrescento:
8) A cidade do Porto

7 coisas que eu odeio:
1) Falsidade
2) Complexo de superioridade
3) Teorias que os próprios não conseguem aplicar
4) Ironia
5) Falta de frontalidade
6) Incoerência
7) Achincalhar com alguém

Isto levou-me mais tempo a preencher do que pensei. Será que não me conheço ?

Avancemos então na continuidade da busca e da descoberta.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

PISTA 8

Nasceu mais uma pista de atletismo para nos encontrarmos e correr.

A Pista 8 abriu as suas portas. Novo Fórum de Atletismo.

Estão convidados a entrar e a correr .... escrever... queria eu dizer.

http://www.fotorunporto.com/forum/index.php

Até já

domingo, 17 de junho de 2007

16º Grande Prémio Museu Ferroviário


Entroncamento. Terra de comboios e de fenómenos. Nabos gigantes e porcos com dois rabos é o que me vem à memória ao falar em Entroncamento.

Mas também se corre ali. Hoje participei no 16º Grande Prémio Museu Ferroviário, prova de 10 km, organizada pelo Grupo Desportivo dos Ferroviários do Entroncamento com o apoio da Câmara Municipal do Entroncamento e das juntas de freguesia de São João Baptista e Nossa Senhora de Fátima, e ainda da Refer, prova esta que conseguiu ter à chegada cerca de 559 atletas.

Hoje o fenómeno ali devo ter sido eu sentir-me bem e feliz, pois toda a organização esteve suficiente e naturalmente bem, desde as inscrições feitas singelamente através do telefone, a um custo sensato para o que foi oferecido, passando pelo levantamento dos dorsais, partida, trânsito cortado, beleza e sinalização de percurso, abastecimentos, chegada, classificações, balneários, entrega de prémios e estes últimos em si que eram um bonito medalhão e uma mais bonita t-shirt com um sugestivo conselho inscrito nas costas, até ao sentimento geral e constante de sermos bem vindos e melhor tratados.

E assim se correu no Entroncamento…Pela terceira vez enverguei a camisola do AFIS – Ovar e a transpirei como gosto. A prova é fácil. As muito ligeiras subidas e descidas não se teriam notado se eu estivesse um nadinha melhor preparada. O Sol fez-se sentir nas ruas mais abrigadas pelas casas e pelas gentes que aplaudiam, e a brisa fresca e algumas sombras nos refrescaram também.

Correr paralelamente à linha do comboio faz-me sentir em viagem. Sempre. Para algum lado. O cheiro característico das linhas do comboio que não sei definir mas que identifico nitidamente recorda-me onde estou e transporta-me para outros tempos e lugares.

A frescura da passagem junto à água, encobertos e ladeados pela verdura, pisando terra molhada e o intenso cheiro a húmus transportam-nos também para outras paragens.

A água que nos é ofertada em dois abastecimentos em gestos cuidados e generosos também nos ajuda.

E assim, de passo em passo somos levados. De olhar em olhar, de sorriso em sorriso, de prédios e casas e de palavras amigas da boca de quem não conhecemos, fomos levados. De mão em mão, por essas ruas e estradas e ruelas e chegamos à meta.

Assim cheguei à meta com 55m17s (10 km) feliz e contente. Obrigada Entroncamento.



Preparada para partir. Lá de trás como convém:


Correr ao lado da linha do comboio: A escassos metros da meta:

No final do funil, já de saco na mão e cronómetro desligado:

Os prémios para todos os que participaram e terminaram a prova:

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Dia 13 de Junho - que bom é trabalhar em Lisboa!

Com muita frequência se ouve as pessoas dizerem que não sabem porque não emagrecem, ou porque o emagrecimento é tão lento ou tão pouco.

Pois a mim (às avessas como tantas vezes ando) o que me admira é o facto de ter só e apenas engordado um singelo e único quilo no espaço de um mês de autênticas orgias alimentares bem acompanhadas do não merecido descanso (leia-se descanso como sinónimo da ausência da prática de exercícios físicos).

E assim cheguei a início de Junho. Assim: grande, volumosa e pesada. Mas ainda assim, como um autêntico Golias desengonçado e trôpego ao lado de um Davi ligeiro e leve que nem gafanhoto saltitante (que neste filme são amigos) hoje fui treinar.

Fiz 1h25m num percurso onde já cheguei a fazer 1h14m… As comparações são inevitáveis, mas nem por isso me aborreço (pelo menos assim muito…) pois atenuo a desolação ao pensar que mais vale ter feito 1h25m num percurso onde já cheguei a fazer 1h14m, do que ter ficado no sofá e fazer tempo nenhum em percurso algum.

Bem, além de arejar a cabeça e mexer o corpo, enchendo os pulmões do aroma único do pinhal, dissipei as dúvidas que tinha sobre a capacidade de correr 10 km no próximo domingo, lá na terra dos fenómenos: Entroncamento.

sábado, 9 de junho de 2007

Amigos, Felicidade e Dinheiro

Diz a teoria que se os primeiros e a segunda estão seguramente interligados e de alguma forma dependentes pois uns influenciam a outra e vice-versa, já o terceiro não deveria interferir nem ter reflexo nos anteriores.

Teoria de facto. Bonita teoria até, como quase todas as teorias. Mas na prática a história é outra. Se as mais básicas necessidades não são satisfeitas (essas que se satisfazem com bens que se trocam por dinheiro, como por exemplo o pão e a manteiga ou margarina para aconchegar a barriga) torna-se muito complicado ser feliz. Se o telemóvel que resiste vindo de épocas de vacas gordas não tem saldo, fala-se com os amigos apenas em pensamento. E não chega, pois a habilidade da telepatia está ainda muito pouco desenvolvida.

Se os convívios das provas são muito bonitos e salutares, eles simplesmente se perdem pois para quem não saiba os carros para andarem precisam de gasolina ou gasóleo e sabem como se arranja esse bem? Que nos proporcionaria a felicidade de ir correr ao Algarve ou ao Minho, ou mesmo só e apenas ao outro lado do rio Tejo? Imaginem que é o vilão, o dinheiro, esse metal amado e odiado que, dizem, não dá felicidade a ninguém.

De facto, o dinheiro em si não dá felicidade a ninguém, concordo, mas a falta dele, sem dúvida que dá infelicidade a muita gente. Há até quem se suicide por isso, e não são de todo indivíduos supérfluos que valorizam apenas os bens materiais, isso garanto-vos eu.

Sem dinheiro, continuamos a ter amigos, porque amigo digno desse nome não desaparece assim.

Depois há os outros que nestas situações nos surgem inesperada ou previsivelmente, para apenas nos fornicarem. O corpo, a alma, a vida. Cabe-nos a nós, deixar ou não.

Limito-me a deixar os dias passar e a garantir que haja pão (e mais qualquer coisa) sobre a mesa em cada um deles. Estranha corrida esta. Tanto tempo a correr e tão cansada e ainda não avisto a meta…

Claro que temos de adaptar as metas às nossas capacidades e às circunstâncias do momento, mas já há muito tempo que ando demasiado perto da Partida, sem progredir e isso não me deixa particularmente feliz.


Nota: ultimamente tenho hesitado em escrever. Isto ou outra coisa qualquer… Tanta gente que me conhece, mais ainda aquela que pensa que me conhece e mais alguns ainda que sabem quem eu sou sem me conhecer… Que pensarão, que julgamento farão?

Sorrio. Estou-me literalmente nas tintas…

As massas… hoje coroam-te, amanhã crucificam-te, sem se darem ao trabalho de te conhecer sequer. São ovelhas que seguem as ondas e a maré, o que está na moda, o que lhes traz vantagem no imediato, o conforto de pertencer ao grupo, a um grupo qualquer. Sem interrogações pois pensar cansa muito.
E eu? Eu continuo a ser a mesma Ovelha Negra.