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quinta-feira, 31 de março de 2016

A Quinta de Estrada, os Carris e os patos

Nem sei quantos quilómetros corri. Coisa ali entre os 10 e os 11 talvez. Ritmo de 6:19/Km disseram no final. Não sei. Ia descontraída. Muito descontraída. Nem o Garmin foi comigo. Ia calma. Serena. Como se quer. Na conversa e bastante animada por almejar oportunidades de novas aventuras e desafios no que à Corrida diz respeito, o que acaba por significar invariavelmente novas aventuras e desafios na própria Vida.

Não falto às Quintas de Estrada (mentira, às vezes falto). Ajudam-me na busca constante de um necessário equilíbrio. Só isso. Só isso como se "isso" fosse pouco ou banal. Ajudam-me a seguir nos carris. E eles, os carris, ali tão perto, molhados da chuva ou simplesmente da humidade da noite, brilhantes e reluzentes sob as luzes dos candeeiros de iluminação pública, e por vezes tão tentadores (demasiado) ao som de cada comboio rápido que passa e apita ao aproximar-se, primeiro ao longe e depois a invadir-nos os tímpanos com aquele som metálico, frio e fatal das rodas sobre os carris, num ritmo frenético, regular e impiedoso.

São assim as Quintas de Estrada. Entre a linha do comboio e o Rio Tejo com os seus casais de patos, a levantarem voo ou pelo contrário a aterrarem. Juntos. Sempre juntos, fiéis por uma vida. Às vezes gostava de ser um pato.




Apesar de só constarem três nas fotos, na verdade hoje estiveram lá meia dúzia deles. A correrem como patos entre a linha do comboio e o Rio Tejo e foi sem dúvida ou hesitação, um excelente começar de dia.

sábado, 26 de março de 2016

Treino: o Ensaio Geral para o IV Trilho das Lampas, que irá decorrer dia 14 de Maio ao fim da tarde

É só um treino. Anda lá. Uns estão fora, outros não querem gastar a manhã toda longe da família, outros estão lesionados e outros ainda não se sentem capazes de fazer a distância e vencer as dificuldades do percurso.

É em S.João das Lampas. É o percurso do Trilho das Lampas, que se vai realizar dia 14 de Maio ao fim do dia, aquele que começa de dia e termina à noite! Eles têm tudo marcado, é melhor que muitas provas! É a oportunidade de se fazer o percurso todo à luz do dia e sempre com companhia!

Anda lá! É um treino de amigos. Amigo puxa amigo, anda lá! Até têm abastecimento! Aquilo junta mais de cem pessoas! Anda lá! Anda lá! É em S.João das Lampas!

Ela insiste como se estendesse aos amigos uma iguaria excepcional que não se encontra em mais lado nenhum. E assim é! S.João das Lampas é ímpar na forma de nos receber. E ela quer mostrar-lhes. Quer dar-lhes a provar. Quer que eles vejam. Quer que eles sintam! Não conseguiu levar muitos. Não que o seu poder de persuasão seja fraco quando acredita com todo o coração no que diz ou faz, mas pelas razões acima expostas.

Mas os que foram, alguns também para fazer um percurso mais curto e acessível (12 Km) pois a Organização proporcionou também uma caminhada neste treino, não saíram de lá defraudados pois tudo esteve excepcional!

Cedo se enche o largo de S. João das Lampas, e são já para cima de cem, que ouvem atentamente o amigo Fernando Andrade, o mentor de tudo isto, do Trilho, da Meia Maratona de S.João das Lampas, numas palavrinhas introdutórias ao Treino. São-nos dadas as boas-vindas, há um genuíno prazer de receber, de agradar, de fazer bem. Sente-se. Embrulhada numa modéstia e humidade também genuínas, está a sabedoria de quem corre, de quem organiza e sabe fazer bem e já cá anda há muito tempo. E cativa. Quem vai a S.João das Lampas, seja na versão do Trilho, da Meia Maratona, dos treinos, quer este, quer o nocturno da Meia (feito à noite no percurso exacto da Meia Maratona) sai de lá com este sentimento. Ali, somos bem tratados, ali somos verdadeiramente bem-vindos.

Mas que raio, porque isto acontece? As provas precisam ser promovidas? Vendidas? A mais e mais e mais gente? Não, bolas! Aqui, e bem mostrado neste treino, a essência é o amor à Corrida, é o prazer de receber, é o poder chamar de amigo a todos os participantes porque é isso que são: Amigos. É este o poder de S.João das Lampas no seu melhor.

O percurso é bastante variado: estradões, terra batida, trilhos, praia e asfalto também. E muito bonito na sua variedade. A passagem pela praia da Samarra (sensivelmente a meio do percurso) é espectacular e ao subirmos, ao chegar cá acima somos presentados com um abastecimento melhor que em muitas provas em que se paga e bem. Para começar, um lava-mãos com sabonete líquido, uma graça dirão alguns, uma necessidade dirão outros, mas de certeza um símbolo bem marcante da vontade de nos fazer sentir bem. 

Fruta, bolos, salgados, água, frutos secos, uma mesa farta, e sorrisos, muitos sorrisos de todos os que se voluntariaram para ajudar a concretizar este evento.

No final, porque este é um treino de amigos, houve folar de Páscoa e Moscatel. E mais fruta, e bolinhos e frutos secos e água e ... oh meus deus, como isto é possível? Só porque gosto de correr e de receber amigos?! O Fernando Andrade é único! Com uma boa equipa ao seu lado, tem feito um trabalho extraordinário em prol da Corrida. Desde pelo menos há 39 anos, quando já estava à frente da organização da 1ª edição da Meia Maratona de S. João das Lampas, que se mantém bem viva e que terá este ano em Setembro, a sua 40ª edição, onde eu não vou faltar!

E é isto! S. João das Lampas cativa. Atrai. Mima. Afaga e faz-nos sair de lá com um sorriso de orelha a orelha e o coração cheio. Para além de umas dorzitas aqui e ali mas se não fosse assim também não tinha graça.

Obrigada Fernando Andrade e toda a sua equipa. 

Um agradecimento também a todos os que fotografaram o treino de forma tão empolgada e nos deixarem tantas maravilhosas recordações em forma de imagens, para além da nossa memória, e que podem ser vistas nos vários albuns abaixo.

E dia 14 de Maio lá estarei para o IV Trilho das Lampas. Já estou inscrita, e tu?
























O percurso e os meus passos, podem ser vistos aqui

Foram 20,100 Km percorridos em 2h33m

Albuns de fotos:

Pelo meu pai, António Melro, a ver aqui

Pela Manuela Folgado, a ver aqui o Album 1

E o Album 2, a ver aqui

Pelo Duarte Andrade, a ver aqui

Pela Leonor e Orlando Duarte, a ver aqui

Pelos Runners Dream Moments, a ver aqui 

Pelas Tartarugas solidárias, a ver aqui

Pelo MBM Run & Foto Team, a ver aqui

Pelos Montes Saloios, a ver aqui


quarta-feira, 23 de março de 2016

XIV Trilhos de Mogadouro - Amendoeiras em flor - 20 de Março de 2016













Uma ideia do percurso: 








 


 E de volta a Magadouro:















Há um prato de arroz de feijão sobre a mesa. Outro, bem cheio de salada de alface que vão partilhar. Há um reconforto sentido naquele refeitório da escola, diante do calor da comida, do bem estar e felicidade do pai e da sua própria sensação de felicidade pelo presente depois do banho frio que a fez arrepiar até ao tutano.

Este presente foi decidido há poucas horas atrás, quando a 450 Km de distância se fez a mala com a roupa para depois do banho e se preparou o equipamento para a Corrida, apesar das adversidades e alguns contras desta odisseia, que sempre os há.

Mas a decisão foi tomada, esta Corrida chama-se  XIV Trilhos de Mogadouro, Amendoeiras em Flor, ela já a conhece, não a quer perder e de manhã cedo chega ao Mogadouro e está pronta para a correr.

Ela é a única da sua equipa: Runners da Frente Ribeirinha da Póvoa de Santa Iria. Em dia que a capital apregoa milhares de corredores em cima de uma ponte, ela preferiu a Montanha, mais especificamente o Mogadouro, longe da confusão e da balbúrdia da cidade e do aparato.

A entrega de dorsais é um pouco demorada apesar do número reduzido de participantes, mas não nos podemos esquecer que esta organização proporcionou também Corridas nos escalões mais jovens, uma caminhada e havia almoço oferecido para os atletas, e a pagar para os acompanhantes, e tudo isto (entregas de dorsais, aceitação de novas inscrições, venda de almoços para acompanhantes) foi feito em simultâneo, demorando mais que o desejável, com pagamentos e trocos e a falta deles. Perfeitamente compreensível.

A Corrida teve um custo de EUR 7,50. Teve o percurso uma marcação irrepreensível, 5 postos de abastecimentos (água), uma t-shirt técnica, um frasco de mel, fruta, iogurte, uma barra de cereais e ainda o referido almoço no final. Os banhos foram de água fria para a maioria. Disponibilizou também a organização o Pavilhão para quem quisesse pernoitar na véspera.

Estes atletas correm que se fartam. Pensa ela, ainda antes de começar. Conhece-lhes os rostos e o nervoso miudinho revelado em pequenos gestos de cada um, antes da partida, mostra bem que não brincam e não estão ali como ela, apenas para usufruir da Montanha. 

Mal a partida é dada, ela fica no grupo de trás juntamente com 5 ou 6 atletas. Isolados, pois todos os outros parecem desaparecer serra dentro. E desaparecem mesmo! Este pequeno grupo acaba também por oscilar posições e ela segue naturalmente com um atleta que veio a saber ser da terra que foi sua há uns anos: Margem Sul. E talvez a partir do 3º Km seguem juntos até ao final. Com naturalidade a passada era a mesma e a necessidade de caminhar ou o novo fôlego para retomar o passo de Corrida pareciam harmoniosamente sincronizados. E em amena cavaqueira, os quilómetros passam melhor e mais depressa, e assim foram vendo as placas em contagem decrescente: "Faltam 17 km", "Faltam 16 Km"...até à meta.

O percurso é muito bonito. Estradões a exigir pouca ou nenhuma técnica, tornam a prova muito "corrível" o que é comprovado pelos tempos dos atletas da frente. Bons desníveis mas quem tiver pernas e fôlego é correr por ali fora! O que não é o caso dela, claro, que segue lá atrás e acaba a prova com apenas 7 atletas atrás dela e nenhum à vista à sua frente, apesar de termos confirmado que 96 corriam à sua frente! Alguma lama, algumas pedras e vistas magníficas. A Montanha deslumbra-a sempre. Pedras e pedras majestosas e o céu ali tão perto. 

Mogadouro recebe muito bem. Sempre um sorriso, um apoio, uma palavra, um cuidado e uma força materializada em forma de garrafa de água que nos era estendida em cada abastecimento. Não havia neve, nem vento nem frio nem calor. Condições excelentes este ano.Correu descontraidamente ao ritmo que as pernas e o coração lhe permitiam. Depois de subir e descer, ver as amendoeiras flor e de novo subir ao ponto mais alto da Serra, a cerca de 900 m de altitude, desce para a vila mas ao entrar na calçada, de novo uma agora ligeira elevação a desafia e ela vê-se de novo obrigada a caminhar. Alguns habitantes a incentivar os últimos, e ela era dos últimos. Sempre trocas de palavras e de sorrisos e novo alento é encontrado. Depois, depois, já com a meta à vista e no plano, ela volta a correr. Corre. E reencontra o velho pai encostado ao pórtico da Meta, segurando a máquina fotográfica para registar o momento da chegada dela. Feliz momento este. Por tudo.

É isto a Corrida, é isto a Montanha. Que ela não consegue transcrever em palavras. Mas sente. Sente o ar frio transmontano no rosto e sabe-lhe estupendamente bem ao mesmo tempo que o suor lhe escorre pela testa, sente a terra e as pedras a resvalarem sob os ténis, a lama, o cheiro a vegetação, aqui e ali o cheiro da lenha a queimar, saída de uma ou outra chaminé de uma casa de pedra ao longe, e sente-se imensamente feliz entre o Céu e a Terra, que ela palmilha hesitante, escolhendo o piso, equilibrando-se e avançando. É o seu ambiente. É onde pertence. E está feliz.

Depois da meta cortada, vai tomar um banho que a surpreende frio, pois acabou qualquer coisa, a água quente não chegou para todos. Mas todos eram tão poucos... Condescende mas não lhe agrada. Condescende porque muitas provas há que se queres vai tomar banho a casa que já não é mau. Ali não. O Pavilhão tem boas condições, e os atletas até puderam lá dormir na véspera, mas a água quente é que não chegou. 

Depois, vamos ao almoço. Para cima de cinco estrelas! Não porque a ementa fosse "gourmet" mas por todo o cuidado, carinho e atenção posto na oferenda. Carnes grelhadas, arroz de feijão, salada, pão, fruta e bebidas à discrição sempre com uma simpatia e generosidade em gestos puros de gente simples que prima por bem receber. Ali, sentada à frente da comida fumegante, vendo o pai abastecer-se satisfeito, teve ela uns instantes de deleite divinal, de copo de vinho tinto na mão que levou aos lábios e degustou lentamente em pequenos goles, sentindo a roupa quente e seca junto à pele, o repouso das pernas e de tudo o resto, e aquilo pareceu-lhe o Céu. Momento divino de perfeita e completa felicidade, assim, aparentemente proporcionada por um prato de arroz de feijão. Por esse momento, fruto das vivências das horas que o precederam, ela voltará de novo ao Mogadouro para o ano. 

Depois, quer analisar a prova sem sentimentalismos, como se pudéssemos viver sem eles e o que lhe apraz dizer é apenas o seguinte:


A prova, integrada no Circuito Nacional de Montanha e organizada pela Câmara Municipal de Mogadouro em colaboração com a Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada, União de Freguesias de Mogadouro, Valverde, Vale de Porco e Vilar de Rei, Associação de Atletismo de Bragança e ainda Terras de Aventura, tem um caractér muito competitivo e não registou na meta mais que 104 participantes chegados, não deixando no entanto de tratar muito bem o atleta que não luta por um bom lugar na classificação. Deixa no entanto de prestar justiça e um serviço de igualdade no que  à participação feminina diz respeito, quando cria apenas 2 escalões para este género quando os Homens se vêem classificados divididos em 6 escalões! Uma velha questão que infelizmente ainda está longe de desaparecer, revelando uma descriminação que não devia existir. E se no meu caso, não é a grelha de prémios que me move, não deixa de ser aberrantemente injusto e discriminatório quando uma atleta de 70 anos "compete" com uma de 40. Situação a corrigir para melhorar. Apesar desta desigualdade gritante não deixam de estar de parabéns a Organização e todas as entidades envolvidas que permitiram a realização do evento.

Ana Pereira

Algumas fotos pelo meu pai, António Melro, a ver aqui, no site da AMMA Atletismo Magazine Modlidades Amadoras

A minha prova, para ser vista aqui: 20,700 Km percorridos em 2h35m50s

Classificações no site das Terras de Aventura, a ver aqui

Mais fotos:

Pelo Clube Atletismo da Barreira, ver aqui  


Pela t'inc, aqui

outro album, a ver também aqui

E pelo Terras de Aventura, mais fotos, a ver aqui

E um breve video para terem uma ideia do percurso: