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domingo, 29 de julho de 2007

MEIA MARATONA DE POMBAL

Se sem Internet a vida não pára, já da vida de um blog não se pode dizer o mesmo. E foi o que aconteceu. Mas vou recomeçar onde o blog parou:

29 de Julho de 2007 – MEIA MARATONA DE POMBAL

- Queres ir a Pombal, Ana?
- Correr?!
- Claro! Bem… também podes ir só passear.
- Estou tesa!
- Eu levo-te! E as inscrições são gratuitas!
- E trazes-me?
- Não… deixo-te lá.
- Ok, vou e vou correr, claro! Sempre tenho garantidas cerca de duas horas de corrida.


Assim corri em Pombal: 2h05m sob um Sol abrasador. Se fiquei com uma dúzia de atletas atrás de mim foi muito, mas de qualquer forma fui um dos sobreviventes.

Antes da partida e A Partida


Os primeiros:
O meu amigo Fernando Sousa:
E quase por último, eu:
Eu:
E agora sim, já depois de acabar, eu:

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Em marcha

E o comboio para a Maratona do Porto continua em marcha.

Abranda aqui, acelera ali, deslizante ou aos solavancos, o que é certo é que a máquina avança puxando as carruagens.

Vou numa delas, agora sentada recuperando fôlego para continuar, vendo a paisagem fugir mais rápida do que eu.

Próxima 2ª feira, dia 30 de Julho dá-se início à contagem decrescente de 12 semanas para a Maratona. Estou preparada.

Hoje fiz no Estádio Nacional 1h05m de corrida que se quis contínua mas dado o desnível houve inevitáveis oscilações de ritmo. Ainda assim, senti-me bem, muito bem, principalmente depois de vencidas as subidas.

Findo o treino, nada como um prato de comida saudável: uma gigante dourada grelhada com legumes cozidos.

O peso há-de baixar!

terça-feira, 24 de julho de 2007

Humanos

Sofre-se sempre.

Por mais fortes que queiramos parecer, triunfantes e felizes de sorriso nos lábios, alheios às pancadas e inabaláveis, é mentira. É mentira… sofre-se sempre.

E sofre-se apenas porque felizmente continuamos humanos e o coração ainda bate ao sabor das ondas e dos beijos e dos sonhos.

Ai se fóssemos só músculos tensos e ossos duros de roer e carne mole para abater, nada disto se sentiria.

Mas isto, esta "humanidade" que existe ainda em nós, há que preservar, pois se fosse de outra forma, o sabor e o aroma da vida perder-se-ia por completo.

E eu ... continuo humana e assim me conserve por muito tempo.

1h21m de corrida contínua não muito lenta (para mim).

domingo, 22 de julho de 2007

Fim de Semana. Por onde andei...

Sábado 21 de Julho: muito longe de casa, umas braçadas na piscina, e muitos quilómetros... mas foi de carro!

Domingo 22 de Julho, já na minha terra, apenas uma cidade com cerca de 31 100 habitantes e onde acabaram de fechar o SAP, fiz 50 minutos de corrida contínua.

Entretanto, aqui fica mais um pedaço de Portugal que tive o gosto de conhecer no sábado:
Vila Ruiva, concelho de Fornos de Algodres, distrito da Guarda. O número de habitantes não chega a duas centenas. (sim, centenas! 200!)

As pessoas cumprimentam-nos. Sorriem-nos. Quem lá passa uma semana, deixa amigos. Conversas abertas onde se contaram estórias de vidas e sorrisos. Até uma lágrima no canto de uns olhos cansados, também. A saudade dos que partiram. A alegria quando os familiares voltam nas férias. Simplicidade e franqueza estampadas nos rostos.

O carro que traz peixe e outros bens para vender, liga o altifalante a anunciar a sua chegada.

A escola primária que fechou o ano passado.

Não sei porque o sino da igreja não toca. O sol vai alto e o meio dia é assinalado por doze badaladas que saem de uma gravação aos berros de um altifalante.

Só lá estive umas escassas cinco horas, o suficiente para trazer a vontade de voltar.

O sino:
Uma das várias fontes:

O meu pai e um carro carregado de erva para os animais:
O Forno comunitário e sua chaminé... fechado agora:


Os cães:
Os cães, e o medo vencido pela fome, diante de um pedaço de pão:
Uma capela, fechada também, mas bem estimada por fora:

Casas que já tiveram vida e onde hoje só se ouvem as pedras e o miar de um gato que ali se recolheu:Uma outra fonte:
As ameixas em cacho:

Os meus queridos pais:

E não sabia que o meu amigo Fernando Sousa tinha lá uma casa:

As ruas por onde andei:

E o luxo, onde se pode verdadeiramente descansar: A quem puder, e procurar conforto no meio do rural, descanso e o bom ar das serras: aconselho vivamente.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

O Vento e o Prazer de Correr

Apesar de me sentir cansada, do pouco tempo livre que tive hoje, do vento forte e da vontade não estar no seu auge, no fim do dia lá calcei os ténis e passeei o corpo e a alma pela minha baía.

Devagar. Inalo a maresia que invadiu o Tejo, o penetrou e se entranha agora em mim. O vento trá-la matreira e envolve-me os cabelos no abraço que se viu. Ele afaga-me como dantes. Momentos fugazes mas felizes. Senti-lhe o corpo colado ao meu como dantes, o abraço desta vez apertado e difícil de separar. Ele está em mim e eu nele. Um só. Como dantes.

Sinto devagar o seu regresso. A cercar-se de mim e a penetrar-me devagarinho. Sempre esteve comigo, mas algo distante é verdade. Agora volta cauteloso e acomoda-se de novo do meu coração.

40 minutos de corrida contínua lenta e saborosa. Com ele.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Serenidade e Conforto

É assim a vida. Feita de altos e baixos, de verdades e de mentiras, de choros e de risos, de palmadas nas costas e de chutos no cu. E de muitas mais coisas também.

E se ontem não corri, hoje chego ao final do dia com uma certa melancolia que põe em risco a realização de qualquer actividade.

No entanto, pela força do que estava já combinado, lá me obriguei a não falhar, mais para com quem tinha combinado do que para comigo mesma, e se não devia ser assim, o que importa é que fui correr.

Estádio Nacional, 1 hr de corrida contínua com inevitável abrandamento de ritmo nas subidas, mas com absoluta recuperação de ritmo e de bem-estar quando o terreno voltou a ficar plano.

Um treino muito agradável seguido de um bom prato de sopa de legumes e de salmão grelhado com legumes cozidos, que me deixou com uma serenidade e um conforto que há muito não sentia.

Não sei porquê (ou sei?) ando a dar um valor extremo (o verdadeiro e merecido valor?) a um simples prato de comida ofertado.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Treino, Vinho e Sexo (ou a ausência dele)

Tudo isto é vida, tudo isto é fado.

Hoje portei-me bem.

Quando prevejo que vou ter bastante mais tempo disponível do que o habitual, tenho a tendência para programar muitos e bons treinos, mas a máquina não vai dos zero aos cem, assim… como se de repente se carregasse num pedal e eis uma semana repleta de quilómetros palmilhados, em contraste com muitas outras semanas de quilometragem zero!

Por isso, o comboio segue devagar. 30 minutos no sábado, 40 no domingo, ontem nada e hoje

51 minutos. A engrenagem está em marcha, mas ainda levará o seu tempo a deslizar sobre os carris com a facilidade desejada.

O destino é o Porto, já todos sabem. Chegada prevista: 21 de Outubro, Maratona do Porto.

A carruagem onde sigo já leva gente, mas a maioria já vai lá à frente nas carruagens de primeira classe. Mas todos chegaremos ao mesmo destino. O caminho até lá é que não é o mesmo para todos.

Treinou sozinha. Esforçou-se por manter o ritmo e não parar. E não parou, mesmo quando aos 25 minutos retornou e foi brindada com um vento que a empurrava para trás.

Depois do banho, a campainha tocou. Era ele. Não pôde treinar com ela pois trabalhou até tarde. Conforme combinado trazia camarões cozidos e um bolo de chocolate para a sobremesa.

Jantaram na sala com a luz suave de duas velas vermelhas quentes. Brindaram à amizade que os une há já alguns anos. Conversaram e riram e o vinho descia bem, fresco e traiçoeiro. Ela começou a alargar os gestos enquanto falava, mas ria, feliz. O brilho das estrelas reflectido nos olhos deles. Ele ria com ela, encantado.

Como é bom estar com ele – pensou ela. Um amigo. Com quem não se tem de fazer posses, manter imagens, ou fingir emoções. Libertos, falaram e riram de parvoíces e de coisas sérias e de corrida também. Fizeram planos, ditaram sonhos e escreveram-nos no céu estrelado.

Acabaram no chão encostados ao sofá e um ao outro, sobre almofadas fofas, a ver um filme que ele tinha trazido. Acabaram com o vinho que descia lentamente pela garganta deixando os lábios frescos por instantes.

Um amigo. Um bom amigo. O melhor amigo. Daqueles de quem não precisamos esconder nada. Daqueles com que não se pode ter sexo. Mas a ela apetecia-lhe. Queria beijar aqueles lábios carnudos enquanto ainda a frescura do vinho se mantinha neles. Queria aquecê-los com os seus num beijo que durasse a noite toda. Mas não podia. O sexo acaba quase sempre com uma amizade, pois por muito emancipados que sejamos, salvo raríssimas excepções, há sempre uma parte para a qual o acto adquire outros significados para além da satisfação física. Por isso ela não pôde. Com o vinho a entontecer-lhe a cabeça e a quebrar-lhe o corpo, deixou-se descair pelo ombro dele, deliciando-se com o seu perfume, descansou a cabeça na sua perna e deixou-se ficar a sentir as mãos dele acariciando-lhe o seu cabelo e rosto. Fechou ou olhos e não chegou a ver o final do filme.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Foto em destaque

De todas as fotos que tirei no Raid Melides Tróia, destaco uma.

O sorriso e o olhar feliz de quem aos 60 anos se vence a si próprio e alcança a meta.

António Miranda, Clube Atletismo de Óbidos

domingo, 15 de julho de 2007

Raid Melides Tróia 2007


A par do ano passado estive lá hoje. Por amor. Não à camisola, mas à corrida e à fotografia que não chega bem a amor, mas raia.


Na partida, na chegada e na entrega de prémios. Em busca de rostos, corpos, olhares, expressões e emoções.


O que captei pode ser visto aqui:

http://www.pbase.com/mariasemfrionemcasa/root

É o último album que foi introduzido, pelo que está no final da página.


Espreitem, talvez gostem.


Disponibilizo fotos em tamanho original a quem as solicitar.


Foi um dia cheio, e em cheio.


Nota: ontem sábado corri 30 minutos em alcatrão, e hoje 40 minutos na areia molhada da praia de Tróia.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Gaja de Sorte

Definitivamente, sou uma gaja com sorte. Com muita sorte.

Como o bom portuguesinho que quando o vizinho parte uma perna lhe diz que tem sorte pois poderiam ter sido as duas, eu, quando poderia ter partido a bacia, as costelas, o pescoço, a clavícula, os dois pés, as várias costelas (quantas são?), os dois braços, as duas pernas, as duas mãos, os dois pulsos e ainda o crânio, só para mencionar algumas zonas sujeitas a fractura, limitou-se a sorte a reservar-me apenas uma perna, como se centopeia eu fosse e me sobrassem noventa e nove intactas e inabaláveis, pelo que mais sortuda não me podia sentir.

E de facto assim é. E para além dos insignificantes estragos que a vida sempre teima em fazer, tenho ainda a sorte (mais sorte ainda…) de ter quem me coloque almofadas atrás das costas, me ajude a sentar na cama, me traga sopa e fruta que me mata a fome, me aconchega a barriga e o coração.

Portanto, se de casa saí hoje devagar e a chorar, logo entro a gargalhar e a pular.

Ainda mais depois de passar mais de uma hora numa fila de trânsito e a minha carrinha a namorar o tempo todo com um Volvo preto lindo. Ela acabadinha de lavar, clarinha, cheirosa e vistosa. Ele, imponente, preto reluzente como garanhão à solta num prado verde, lindo! Nós numa fila, eles numa outra fila ao nosso lado. Ora avançamos nós. Ora avançam eles. E os gajos a namorarem-se! Olhinhos para cá, olhinhos para lá, pelos espelhos laterais, ou descaradamente lado a lado. Avançamos, deixamos avançar, devagar, deixai-o ir, observamos nós, e avançamos nós agora, deslizando por ele e parando uns metros à frente, aguardando desejosas.

Um autêntico namoro! Quer dizer, pelo menos passaram quase uma hora a “morderem-se” um ao outro. Estivemos quase para lhe dar um “beijinho” propositado, mas ao de leve! Queríamos apenas estabelecer contacto, nada de violento, mas a última conta na enfermaria desta menina, não nos permite mais arranjos e consertos este ano, e não nos pudemos dar ao luxo de tornar esse saboroso devaneio em algo mais palpável.

Assim, quando o trânsito se descongestionou, quase já noite sobre o Tejo, arrancamos a toda a velocidade (pelo menos nós arrancamos, deixando-os para trás e nunca mais os vimos). Cada um em direcção à sua vida. A uma vida qualquer.

E na minha vida de ontem e de hoje, não houve (não houve mesmo!) espaço para treinar. E porque nem só de corrida vive a mulher, adianto já que até ao final de semana vai ser muito complicado treinar, mas descansem os meus amigos: esta recta final de final de época de inúmeras e diversas actividades não compromete de forma alguma o conteúdo da minha última mensagem.

sábado, 7 de julho de 2007

Encarrilar de novo - Sábado, 7 de Julho de 2007

Eh pá… olhem aí para cima. A Maratona do Porto aproxima-se e o tempo não se apieda com quem perde o comboio e se deixa ficar somente a vê-los passar.

E como não tenho feito nada para baixar o peso, o resultado está aí à vista e não me surpreende. Até tenho vontade de me esconder. Mas da realidade ninguém consegue fugir. Pelo menos durante muito tempo.

A quantidade de comida que ingiro é inversamente proporcional aos treinos que faço. Ou seja, quanto mais como menos corro e quanto menos corro mais como.

Assim chega-se a hoje com 65 Kg e ao tentar correr pareço uma dona de casa que descobriu a corrida à beira dos seus quarenta anos e fica muito contente se conseguir correr 15 minutos consecutivos. Daquelas que já o séc. XXI vai por aí fora e descobrem de repente que podem e devem começar a mexer-se. E que têm esse direito.

Isso é muito positivo e muito bom. Mas não para quem já fez 1h36m à meia e 1h04m aos 15 Km.

Ou talvez seja se esse indivíduo nos últimos e longos meses se limitou a ganhar peso e a brincar aos atletas de domingo a domingo, de prova em prova (eu).

Por isso, hoje que faltam 15 semanas para a minha 5ª Maratona lá me arrastei durante

30 minutos sentindo-me como só me poderia sentir. E respondendo a vários amigos que me têm interrogado se ainda penso ir à Maratona, só lhes posso responder:

- Claro que sim! Não há razão nenhuma para não a fazer! E há todas as razões (as minhas) para a fazer! Por isso, lá estarei!
Assim, apanho o comboio (ainda fui a tempo) e encarrilo de novo.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

II Ultra Trail Serra da Freita Memorial Sálvio Nora

Ainda eu no meu Trail Serra da Freita:

Fotos de Joaquim Margarido que pôs aqueles caminheiros AFIS, todos a gritar e puxar por mim!

Foi muito bom, mas como o percurso já subia (ligeiramente é certo, mas era o suficiente), custou-me um bocado e talvez consigam imaginar o esforço que fiz para correr e não caminhar como eles como o corpo me estava quase a implorar já nessa altura, mas que por razões mais que óbvias não podia fazer.

E aguentei-me! Corri, corri e só parei para caminhar quando já ninguém me avistava...

domingo, 1 de julho de 2007

II Ultra Trail Serra da Freita – Memorial Sálvio Nora - 1 de Julho de 2007

Sálvio Nora, falecido em 9 de Maio de 2006:



Antes da partida dos heróis para os 50 Km:

Célia Azenha e Mayer Raposo:



A partida do Ultra Trail (50 Km):

O Caminho a seguir:

Partida! Aí vão eles:

O aquecimento dos 15 Km:
A nossa partida (para 15 Km apenas):

A minha chegada:


Acabei de acabar:

Já depois do banho, no pódio (Ah????? no pódio????):

II Ultra Trail Serra da Freita – Memorial Sálvio Nora - 1 de Julho de 2007

Desajustada e desalinhada é como me sinto aqui sentada ao centro desta tenda que mais parece uma pele de batata cozida pelada e encharcada em água que não pára de cair dos céus. Branda mas firme.

São quatro da manhã e sem sono velo pelos que dormem comigo. Tapo os pés ao pai e certifico-me que estes ainda não estão molhados. Passo a mão pelo corpito da pequena e alivio-lhe a roupa, pois transpira. Afasto-lhe o cabelo molhado do rosto e ela suspira alheia à água que invade o espaço. A minha almofada está encharcada e não volto a repousar nela o rosto.

Serra da Freita. Quatro da manhã. Interrogo-me que faço aqui. E não encontro resposta. Por mim. Por ele. Por ela. Por eles. Não sei. Pouca coisa faz sentido, e esta não é uma delas. Ou eu não o encontro com clareza. No entanto, estou cá. Com a única certeza do nada. Só que tinha de cá estar.

Sinto fome e conforta-me a merenda arranjada pelas mãos doridas de minha mãe, que também existe. Mastigo lentamente o pão com queijo enquanto eles dormem. E espero.

Cinco e quarenta e cinco e saio da tenda. Está escuro ainda mas já muitos se movimentam. Não chove agora. Quero vê-los partir. Para essa Serra que nos abraça e assusta também. Talvez um dia vá com eles. Admiro-os. Desejo força e coragem aos que encontro e trocam olhares comigo. Um misto de admiração e emulação invade-me. Deixo-os ir. Pela ainda noite dentro. Pela serra dentro. Que… qualquer coisa os proteja. Que cheguem todos em bem. Desejo-o como sempre desejo tudo: com o coração.

Fico e aguardo a minha vez. Fingir dormir e acordar. Levantar. Chamar a malta. A minha malta. Pequeno-almoço para eles que eu já não preciso. Agora sim, já há sol. Vejo amigos. Alegria. Já percebi porque vim. Por isto. Partem os caminheiros e depois nós. Vamos só fazer quinze quilómetros.

Serra dentro. Sou feliz quando corro. Ali. Sozinha ou acompanhada estive sempre acompanhada. Corro. Caminho. Paro e vejo bem onde estou. Que sou eu? Um ínfimo do universo.

As pedras, a vegetação, os caminhos criados e os acabados de inventar. Os muros saltados e os arranhões nas pernas e nos braços. A água que corre. O Sálvio em mente.

As graçolas ditas e ouvidas e os cheiros a verde. As aldeias e as vacas. O estrume fresco a tornar escorregadios os caminhos. As narinas invadidas. As gentes a ceifar erva e a foice que salto em pleno voo enquanto mãos enrugadas apanham a erva que os animais hão-de comer.

Os braços abertos com a desculpa de me equilibrar fazem-me voar. E eu gosto. Sobre os vales depois de subir os montes. E depois parar com a desculpa de descansar e olhar. Absorver e deixar-me ser absorvida também. Inalo o mundo. E o meu companheiro desta viagem acorda-me da letargia momentânea com um assobio, já no cimo do monte ele, com uma inequívoca pronúncia alentejana: “Atão? Que fazes aí?”

Sorrio. Cheia de mundo agora volto-me de novo para a subida e continuo a caminhar até ao cimo com a respiração ofegante.

E assim, com mais companheiros agora, chegamos de novo ao parque, onde está a meta, o meu amor e o meu pai. Ambos de máquina fotográfica em punho. O que eles não sabem é que a melhor foto tirei eu. A imagem deles à minha espera gravei-a na retina e está já em lugar de destaque no álbum da minha vida, aquele que nada destrói. Nem o fogo nem a água. Só a morte. Mas essa, quando vier, já será tarde, pois este feliz momento já ninguém nos tira.

O cronómetro marca 2h15m. Mas que importância tem isso? Sinto-me tão feliz.