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quinta-feira, 31 de agosto de 2006


5ª feira, 31 de Agosto de 2006
Faltam 45 dias para a Maratona do Porto

Hoje sinto-me cansada. Cansada. Cansada. Cansada. Cansada. E triste.

Cansada ao ponto de me interrogar qual a verdadeira razão desta luta? Porquê tudo isto? Cansada ao ponto da cama me esperar e eu estar aqui, escrevendo só para renunciar ir para algum lugar, evitando a dinâmica de uma decisão e consequente acção.

Poderei ficar aqui para sempre? Ao abrigo do mundo? Poderei refugiar-me aqui atrás das palavras que me salvam, ou pelo menos me mantêm à tona da água? Eu sei que não...

Daqui a pouco os meus amigos levar-me-ão para a cama onde esquecerei o mundo por escassas horas.


Hoje fiz 1 hora de Corrida Contínua lenta e como me senti? Exactamente! Cansada, pesada e trôpega.

O corpo e a cabeça formam um único ser: Eu.

terça-feira, 29 de agosto de 2006

Eu, Eduardo Santos e a rede da Pista de Atletismo fechada

3ª feira, 29 de Agosto de 2006
Faltam 47 dias para a Maratona do Porto


O Antes, o Durante, o Depois e o Agora

Estou de rastos, uma lástima, uma nódoa, um bicho pestilento a cair para o lado de agonia nauseando até à morte que o há-de salvar deste triste pesar.

Quer dizer, agora já me sinto melhor, mas a cena passou-se assim:

O Antes: Depois do treino mais rápido ontem, hoje fui para a relva de uma Pista de Atletismo fechada (a da Sobreda da Caparica, que para mim já não tem segredos para lá entrar seja lá a que dia e hora for) e resolvi que o treino seria rolar nas calmas na relva.

O Durante: Rolar rolei, mas senti-me um hipopótamo tal era o peso de cada perna cada vez que a tinha de levantar do chão. O vento forte não ajudou (parecia que não me deixava respirar), os ténis novos apesar de bastante bons, não me salvaram, e lá me aguentei durante 56 m Corrida muito lenta na relva.

O Depois: sem sede excessiva bebi água no final em quantidade normal. O regresso a casa é feito de carro a voar pelas estradas e chegada a casa, eis que o filme se repete com muito poucas variações: toda a água que bebi, tão limpa como entrou, sai teimosamente para a sanita num urro animalesco.

O Agora: Já jantei - sem grande apetite, deixei por beber um vinho especial qualquer, e agora semi-agoniada escrevo enquanto me doi o calcanhar e a tíbia esquerda. Não, não é nada, não vai ser nada, apenas o acusar da carga introduzida nos últimos dias.
2ª feira, 28 de Agosto de 2006
Faltam 48 dias para a Maratona do Porto

Pedacinhos...

A vida é feita de pedacinhos. Pedacinhos de amor, de dor, de pão, de lágrimas, de suor, sorrisos, de vinho, de mel e de fel.

Hoje corri 1 hora de Corrida contínua em ritmo bem mais vivo do que o habitual; entre 5m a 5m15s o km, o que considero bestial depois da sessão longa de ontem (2h11m). Senti-me razoavelmente bem, em esforço sim, mas um esforço controlado e bem gerido para durar exactamente 60 minutos, que foi o que fiz de forma mais que satisfatória. Começo até a ambicionar mais do que simplesmente terminar a maratona... Estarei a sonhar? A ter alucinações?

Um facto é certo: a coisa está a melhorar.

segunda-feira, 28 de agosto de 2006


Domingo, 27 de Agosto de 2006
Faltam 49 dias para a Maratona do Porto (7 semanas)


"Se o teu próprio assassino se debruçar sobre a tua campa, e nela derramar lágrimas e depositar as flores mais lindas, luxuriosas e caras, assim como beijos que tardaram, mas tristemente iguais e falsos como os do passado, vais ser capaz de lhe agradecer e sorrir? Quando já for tarde demais e ele insistir que tu vivas como antes, tu vais ser capaz?"


- Querida, tens o cinto posto?
- Sim Mãe... - nem o carro iniciava a marcha se o cinto não estivesse colocado. Bem colocado. - aquela conversa era só para confirmar o que já se sabia, pois nesta altura elas seguiam a mais de 160 km/hr pela A2.

Nada de especial. Há apenas a notar que algo a prende à vida. Muito mais que o cinto, mas o próprio conteúdo que o cinto segura. A Mãe carrega no acelerador, com a música aos berros e as duas cantarolam, presas à vida.

Hoje corri no pinhal durante 2h11m - Corrida Contínua lenta

Foi uma sessão estranha pois durante a mesma existiram os mais variados e distintos estados de espírito assim como sensações físicas. Acho que passei por todas:

- Não vou conseguir fazer 2 horas
- Para quê isto? É esforço inglório,não vou conseguir fazer a Maratona.
- Parece que vou melhor...Tenho de ver que esta é praticamente a 1ªsessão longa
- Estou bem, até fazia mais tempo.
-Vou de rastos....Calma, mesmo devagar é importante fazer o tempo estipulado. Gradualmente hei-de lá chegar
- Vou conseguir. Sinto-me relativamente bem. Fiz 2h11m e estou bem! Vou conseguir!

Este foi o último pensamento. Mas foi um treino estranho pois num mesmo treino não costumo ter tantas oscilações de estado de espírito e consequentes sensações físicas.

Revendo a história, de uma forma geral, a coisa foi melhorando à medida que o treino avançava.

Convém frisar que me abasteci (água apenas) durante o treino, talvez de 25 em 25 minutos, em média, o que me evitou sensações de desidratação como da última vez.

sábado, 26 de agosto de 2006

Sábado, 26 de Agosto de 2006

Faltam 50 dias para a Maratona do Porto

Hoje, podias estar aqui. Podias talvez ter treinado comigo 45 minutos e suado ao meu lado, para depois repousarmos e suarmos de novo, para por fim descansarmos exaustos.


Podias... mas não estás. Podias, mas outras opções me venceram. E eu? Treinei sozinha 45 m Corrida contínua, suei e agora repouso exausta sobre a cama.

"O Tempo que passa
Em cada segundo
A Vida é tão escassa
Que fica sem graça
O Sol do meu Mundo"

Olho em frente. Aceito o que tenho. Ambiciono mais. Terei mais. Mas não hoje. Hoje, como oportunista que me ensinaste a ser, aproveito o que tenho e não olho para trás. Cada segundo faz o presente, prepara o futuro para logo ser passado. É a Vida que passa e não se coaduna nem apieda com hesitações ou erros.

Amanhã é outro dia. Dia de sessão longa. Lá estarei a caminho da Maratona do Porto. E tu sempre ausente mesmo quando hipoteticamente presente, não passarás do que sempre foste: miragem, paisagem, fantasia e utopia.

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

5ª feira, 24 de Agosto de 2006

Faltam 52 dias para a Maratona do Porto


Estive dois dias sem correr...

- Lembras-te como foi a tua última Maratona rapariga?

Sim, lembro-me bem. Descurei os treinos, praticamente limitei-me a fazer as sessões longas semanais e houve semanas em que apenas corria ao domingo. Pois, claro que me lembro bem. Muito bem. A partir do km 28 foi arrastar-me até à meta. Triste e dolorosa Maratona.

Pois, mas de nada serve chorar sobre o leite derramado. Há sim que tomar providencias para evitar que o que correu mal no passado se repita.

Por isso, este ano, esta preparação iniciada tardiamente não pode de forma nenhuma assemelhar-se à do ano passado. As sessões longas semanais são obrigatórias mas também há que fazer treinos durante a semana. Quantos mais melhor. Há que fazer muitos e muitos kms.

Presentemente não tenho qualquer base para fazer um treino específico para a Maratona. Tenho de me limitar a fazer kms, de forma a criar a resistência necessária para correr ininterruptamente ao longo de 42,195 metros no dia 15 de Outubro de 2006 nas ruas do Porto e Gaia, atravessando o Douro gloriosamente e com plena capacidade para usufruir de toda a magnífica paisagem que me vai rodear!

Estive dois dias parada, mas hoje lá fui estrear uns ténis (só com os novos nos pés é que nos apercebemos de como os velhos estavam desgastados representando um autêntico perigo e uma porta aberta para as lesões).

1 hr Corrida Contínua ao longo da Baía. A do Seixal desta vez.

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

O Rottweiler está solto.

Afugentou tudo e todos e hoje põe aquele ar bonzinho, pachorrento e inofensivo, também possível nos Rotweillers.

A presa, indefesa, fingiu não perceber enquanto todos os cães se afastavam, restando apenas aquele, pronto para a defender e sempre ao seu lado demonstrando uma falsa e hipócrita coragem, entrega e dedicação, depois de a todos morder e aterrorizar.

Aterrorizada ela, fingiu sempre acreditar na casualidade dos acontecimentos. E foi vendo, um a um, os cães que se faziam seus amigos, Pastores Alemães, Boxers, Cockers, Serras da Estrela e até rafeiros, se irem afastando um a um. Uns mais descaradamente alegando mentiras esfarrapadas, outros frontalmente evocando as perseguições caninas de que eram vítimas, e outros ainda optaram pela cobardia, desaparecendo simplesmente em silêncio.

Seu amigo fingido, depois de a todos afastar sobrou apenas e só ele. O Rotweiler. A presa estava só, vulnerável julgava ele. Ele espera que ela o valorize e ame pela sua prestação de falsa amizade, falso companheirismo e firmeza de sentimento e comportamento. Sozinho, sem rivais, julga que o caminho está livre e fácil.

Mas ela pura rafeira de gema não se deixa enganar. O caminho está cortado. Jamais ele chegará verdadeiramente a ela. Inalcançável jamais será sua presa de novo. Porque ela o conhece, demasiadamente bem, talvez como nunca devéssemos conhecer ninguém...

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

2ª feira, 21 de Agosto de 2006
Faltam 8 Semanas para a Maratona do Porto
Mais especificamente 56 dias apenas

A boca está ainda seca. E continuo com sede. Não tanto nem de uma coisa nem da outra como durante o treino de hoje.

A maré vazia dá-nos o maravilhoso areal da Costa da Caparica para correr. Não há outro igual.

Anoitece mais cedo, e a maré vai enchendo. À 1h20m de treino liberto os pés dos ténis e meias encharcadas (por descuido ou necessidade de me refrescar pisei deliberadamente a água que corria ao meu lado e por vezes à minha frente) e faço mais 20m como mais gosto: de pés descalços, com água ora pelo tornozelo ora pela canela, saltando as ondas, parece que tenho ainda mais força do que quando calçada arrastava os pés pesados.
Cada ondulação é pretexto para levantar mais as pernas e avançar com a energia que ainda me resta. O que me cansa agora são os ténis na mão. Sorte tiveram eles não os ter lá abandonado...

A boca está seca, seca como um pedaço de madeira. Avanço e desejo água. Está muito calor nesta praia aquecida durante todo o dia, e nem agora depois do sol se esconder está mais fresco.

Anseio por água. Olho o mar e desejo água. É verdade que durante o dia bebi imensa água, mas agora precisava de mais.

Termino o treino com 1h40m de corrida e a morrer de sede. Alongamentos feitos e arrasto-me para o carro seguindo o companheiro de treino, quase a cambalear, e aí mato aquela sede anormal com uma garrafa de litro e meio. Primeiro bebi metade mas até chegar a casa acabei com ela. Em casa bebo mais, e continuo com sede.

Tomo banho, e quando me estou a pentear, sou assaltada por uma náusea e de forma violenta os perto de 2 litros de água que ingeri saem num jorro só acompanhados por uma dor no estômago.

Pronto, lá se foi todo o abastecimento. E o que sinto? Acabou a náusea mas continuo com sede!

Esta história já não é inédita em mim. Falta de hidratação durante o esforço e uma quantidade exagerada de água ingerida num curtíssimo espaço de tempo sem tempo ou forma de ser absorvida foram sem dúvida as razões para este triste episódio.

Agora o que me apetece? Água e fruta, coisas frescas, com sumo. Trinco uns pêssegos suculentos acabados de sair do frigorífico que deixam escorrer o seu suco pelo canto da boca e bebo alguma água, moderadamente agora. Mas continuo com sede...

- Foi um belo treino Amor.
- Não, não foi, sinto-me mal. Estou mal disposta - respondeu-lhe ela a sair do Audi novo dele - Mas de qualquer forma obrigada pela boleia e pela companhia no treino.
- Não precisas de agradecer - responde ele com sinceridade desta vez.

Ele sempre se prestou para essas coisas. Ajudar e orientar indivíduos que se iniciam (na corrida) ou que tentam alcançar qualquer objectivo, sempre foi um estímulo e uma motivação para ele. Uma vez gabou-se de já "ter posto" X mulheres a correr. Fiquei impressionada antes de perceber na totalidade os seus métodos e compreender completamente a sua entrega.

Uma atitude bonita essa de se disponibilizar para qualquer um, e para alguns como um autêntico treinador pessoal bem pago. É o seu amor à Corrida a explicação. E o Amor não se compra nem se vende. Dá-se! Muito bonito de se ver. Amanhã de manhã bem cedo parece que já tem treino marcado com um outro que fará uma maratona daqui a 3 semanas e precisa de companhia para treinar.

sábado, 19 de agosto de 2006

Sábado, 19 de Agosto de 2006

De novo e ainda na Ria Formosa, Algarve.

Desde que aqui estou tenho treinado dia sim dia não. Feito praia, piscina, conforme o tempo o permite mas infelizmente não tem permitido muito. Vento, frio e céu encoberto. Férias aproveita-se sempre mas não há dúvida que se o tempo estivesse melhor teria sido melhor.

Com excelente gastronomia me tenho regalado, mas também não sou difícil de satisfazer. Desde que haja peixe fresco grelhado sobre a mesa, um bom pão, bom vinho e boa companhia não peço muito mais.

Tenho é treinado sozinha, mas já dizia alguém: não se pode ter tudo.

Esta noite sonhei que corria. Corria a Transestrela, e estava a conseguir. A conseguir! Apreciava a paisagem e corria sem me cansar. No entanto acordei antes de chegar à meta...

E hoje senti-me cansada e não me apetecia nada treinar. No entanto, contrariei a preguiça e lá me meti pela ria. Fui devagar (pareceu-me) e senti-me bastante cansada e pesada, no entanto cheguei ao local onde tinha chegado com 30 minutos de corrida no último treino, hoje com 28 minutos. Entrei mais na ria até atingir os exactos 30 minutos e voltei. O vento está contra. Solto o cabelo que dança com o vento e prossigo com algum esforço, com alguma dificuldade. Olho de novo as diversas espécies de aves da ria. Voam, pescam, mergulham, fogem-me, seguem-me, nadam, brincam. Maravilhoso! Maravilhosa que é a Vida, na ria e noutros lugares!



A luta é minha, o esforço é meu e a vitória também - penso no regresso já a menos de 1 km do hotel enquanto subo para retornar ao alcatrão. Turistas na praia, ostentanto óculos de Sol da Chanel, bolsas Louis Vuitton e T-shirts Dolce & Gabbana olham-me admirados enquanto esperam um autocarro que os trará de volta da praia para o mesmo hotel para onde me dirijo eu, a correr, a suar e a ostentar uma t-shirt de algodão que diz "Estou a Treinar para a Maratona do Porto".
Aquelas pessoas não andam... mas estou certa que frequentam o ginásio...

Chego ao hotel com 58 m. Entro no pinhal mais 1 m e volto. Tenho feito mais um treino de
1 hr de Corrida Contínua. Senti-me cansada é certo, mas pelos vistos também andei mais rápido que no treino anterior. Há que reaprender a dosear o ritmo, agora que estou a reaprender a correr, e a reaprender a gostar de correr.

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

5ª feira, 17 de Agosto de 2006

Eis que estou na Ria Formosa, Algarve, terra de Mouros, mas que mais parece de Alemães, Franceses, Ingleses e Espanhóis.

Portugueses? Somos nós e mais alguns que nos oferecem serviços de maus modos e de má qualidade.

Que me desculpem os Algarvios, mas quando num restaurante de 4 estrelas não sabem o que é um simples mas divinal Moscatel de Favaios, e sugerem um internacional Martini, fico deveras decepcionada.

Portugal, para os portugueses? Não no Algarve... onde as ementas estão em destaque em diversas línguas e onde o português é apenas uma legenda em rodapé. Triste, é triste a mentalidade que continuamos a ter. Têm sido uma luta quase constante estas mini férias, onde não prescindo dos meus direitos de consumidor, português neste caso.

Tristes histórias levo deste Algarve, mas coisas muito boas também. Aquilo que o Homem ainda não destruiu.

Treino de 1 hora de Corrida Contínua em plena Ria Formosa, através de carreiros por entre a água. Eu, o céu, a ria, a fauna e a flora. Não preciso de mais nada por ora. Senti-me bem, comigo e com o que me rodeava.

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

3ª feira, 15 de Agosto de 2006

Há quem diga que a Maria não é a Ana e que a Ana não é a Maria. Mas o que poucos sabem é que a Ana e a Maria são a Ana Maria. E quem a conhece?

Quem pode dizer que conhece outro alguém ou até que se conhece a si mesmo?

Isto é "apenas" um blog.

Longe de casa corri sozinha num misto de asfalto e terra batida junto ao mar. Foi bom porque fiz 5 0 m Corrida contínua e não me senti muito mal. Até talvez bem, razoavelmente bem. Talvez pela novidade e descoberta do percurso.



Volto a mim. Há questões e não há respostas. Isto é um sonho e um pesadelo. Não pensar, mergulhar no mar e correr. É isto Viver?

Amanhã outro dia talvez.




"Quero que sejas o meu homem e faças de mim tua mulher"

Ele abraçou-a como sempre a abraçava. Ela apertou-o como se aquele abraço contivesse o mundo. O dela, aquele que ela ainda acredita que existe e onde gostaria de um dia viver.

domingo, 13 de agosto de 2006

Domingo, 13 de Agosto de 2006

Faltam 9 semanas para a Maratona do Porto, mais exactamente 63 dias se é que a tabuada não me falha.

Hoje as coisas estão melhores.

Primeiro, finalmente estou a escrever em tempo real. Hoje é mesmo domingo, pelo menos neste preciso momento e durante mais uns escassos minutos.

Em segundo, hoje recebi uns ténis novos que me estão como uma luva! Há anos que não tinha uns ténis que me ficassem como estes. Eu e o pé somos um só, sem existir qualquer incómodo pois a acomodação é perfeita, o amortecimento excelente e a estabilidade suficiente, mesmo o necessário para pesos pesados que é o no que eu estava em risco de me tornar caso não tivesse agarrado o cavalo! Mas agarrei o cavalo! Mesmo a tempo, o que vem mais uma vez demonstrar que estamos sempre a tempo! Só quando a morte já nos tiver levado é que será tarde demais.

E em terceiro, estreei os ténis e desta vez acompanhada, treinei durante 1h30m! Sim, leram bem! Aquele fardo que se arrastou ontem durante 32 minutos em sofrimento, hoje correu durante 1h30m e mais: ao longo do treino, durante talvez três quartos do mesmo senti-me muito confortável, muito bem mesmo! Sinal que o amor voltou. A Corrida está a dar-me de novo o que no passado já saboreei!

Pois foi 1h30m de corrida contínua no pinhal, em terra batida, e bem acompanhada.

Questiono-me: já não sei treinar sozinha? Coisa que quase sempre o fiz?

Será fraqueza, falta de força, de vontade, desanimo e um leque de palavras negativas? Não sei nem me interessa, também não tenho de ter respostas para tudo!

Agora, depois do treino, deitada de costas no chão macio do pinhal, sob as ramas dos pinheiros e o céu azul, levanto as pernas, cruzo-as no ar, vejo o caminho indicado nas meias brancas que hoje calcei e só tenho uma certeza: com estes ténis vou correr a Maratona do Porto 2006!

sábado, 12 de agosto de 2006

Sábado, 12 de Agosto de 2006

Sem encontrar resposta lógica, interrogo-me sobre o que faço nesta terra, nesta rua.

Andei. Sem saber ou querer, parei o carro na "Rua da Teimosa" e sozinha acabo de me equipar e vou pela estrada fora, agora a pé e em passo de corrida.

De ambos os lados gado. Bovino, ovino e cavalar. Na estrada os automóveis mais rápidos do que seria de desejar, e na berma, sempre correndo de frente para o trânsito, vou eu num piso acidentado alternando terra batida, areia e pedras, e ainda algum asfalto.

Estou decepcionada. Depois de 4 treinos em 7 dias, estou absolutamente na mesma! Ate parece que estou pior. É verdade que estava muito calor ainda, apesar da hora avançada da tarde, mas o piso era plano, não havia subidas nem dificuldades de maior! Fiz 16 minutos e retorno, pelo que totalizei 32 m de corrida contínua, em absoluto esforço apesar da lentidão.

Estava bem hidratada (bebo água em grande abundância repartida ao longo das 24 horas do dia), e se é verdade que não me lembro de ter almoçado na forma como 95% dos portugueses interpretam o almoço, e se comi a meio do dia um bom pão rico em diversas sementes, queijo fresco e fruta fresca, essa situação em mim é usual, pelo que não vejo nada que justifique tal cansaço no treino. Dificuldade em respirar, extrema e disparatadamente ofegante tendo em conta o ritmo, um peso no corpo, falta geral de energia. Que se passa comigo?

Mas há outra coisa: um pensamento constante esteve comigo durante o curto treino:

"Que faço eu aqui nesta terra de estranhos, sozinha a correr, apenas com o meu amor? " - O próprio, entenda-se, que apesar de ténue e frágil é ainda o único que me acompanha para além do da minha família.

Estou inscrita para a Maratona do Porto, mas ainda vejo a minha participação extremamente comprometida. Sinceramente, penso que não vou conseguir. Uma razaõ aponto para isso: o prazer de correr que eu tinha? O meu amor pela Corrida onde está? Alguém o viu passar, ou fugiu de mim e encostou-se aí num lugar qualquer ?

Se alguém tiver dele qualquer informação agradeço imenso que me contacte. Procuro-o incessantemente mesmo sem ter a certeza se vale a pena voltar a encontrá-lo. Temo que nada seja igual. Houve demasiadas agressões, estragou-se qualquer coisa, que eu busco em vão agora.

Como ele é? Daquilo que me recordo, ele era grande, belo, contagiante, singular, fazia-me sentir como ninguém... Dava-me vontade de sorrir, de lutar, de viver. E ultimamente...tenho sorrido pouco...

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

4ª feira, 9 de Agosto de 2006

Faltam 67 dias para a Maratona do Porto.

A Inscrição para a Maratona já seguiu.

A Maratona… desta feita a do Porto. Embora aparentemente pareça um fim, um objectivo a alcançar, não o é de todo! A Maratona não é nunca um fim, mas um meio. Um meio para me sentir capaz, forte, viva. Um meio para suportar melhor a vida. Um meio para me sentir melhor e colorir os meus dias. Um meio para viver melhor afinal. É isto que a Maratona é para mim.

Hoje, à mesma hora da véspera, na mesma praia, a mesma mulher e o mesmo homem a correr. Os mesmos pescadores roubando vida aos mesmos peixes, as mesmas gaivotas, os mesmos últimos banhistas, as mesmas ondas, o mesmo Sol, o mesmo mar, a mesma brisa, o mesmo céu e a mesma lua.

Sabes para onde vais e ainda assim vais? – perguntam-lhe as ondas do mar enquanto a afagam docemente na escuridão que a envolve.

Ela responde que sim, que ainda assim vai. E mergulha outra e outra vez naquele mar maravilhoso com o qual partilha segredos, estórias e emoções. Escorre o cabelo molhado comprido que lhe acompanha as costas, seca-se e vai comer um daqueles peixes mortos roubados ao mar, agora sobre o carvão e divinamente temperado com sal, azeite, alho, limão e coentros.
O Treino? Foram 52 minutos de corrida contínua no areal macio e molhado.

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

3ª feira, 8 de Agosto de 2006
Faltam 68 dias para a Maratona do Porto.

Peripécias, Tesouros e a Importância das coisas

Emerjo na mesma praia, apenas o dia vai mais avançado e o Sol já toca de novo o mar para nele descansar.

E eu? Corro pela areia molhada, maravilha da natureza. 47 minutos de corrida contínua apenas interrompida uma dezena de vezes para voltar atrás, baixar-me, colher tesouros e retomar o ritmo. Tesouros, autênticos tesouros depositados no areal limpo que agora tenho em casa ainda salgados a lembrar vida.
Cai já a noite, e o peixe é roubado ao mar para agora descansar morto na areia molhada. Hoje sou eu a amante despida banhada pelas ondas sem Sol. Este mar fresco que me afaga e ama. Melhor que o treino sem dúvida. Ou talvez o tenha sentido assim, precisamente porque tinha acabado de treinar. Tem destas coisas a vida. Se algumas coisas são tão boas e nos sabem tão bem, têm afinal uma razão menos boa que sem esta no entanto aquela não seria o que é!

Perder uma chave de carro num imenso e vazio areal quando a noite já sobre nós caiu e nos cobre totalmente não é coisa que se deseje a ninguém! Molhados, frescos e quentes dos beijos trocados, a roupa suada no chão, e um carro por abrir, fizeram o cenário da noite que durou até à uma da manhã.

Hoje, outro dia para correr.

terça-feira, 8 de agosto de 2006

Fonte da Telha, 2ª feira, 7 de Agosto de 2006

O dia chega ao fim.

Os banhistas absorvem os últimos raios de sol e à brisa fresca que se levanta oferecem seus corpos despidos dourados. A água fresca e viva deste mar único recebe-os e ama-os como se amam aqueles dois amantes que ingenuamente se entregam ao sabor das ondas. Pescadores protegidos do frio pelas roupas fortes recebem o peixe fresco acabado de ser resgatado ao seu mundo. Gaivotas rondam preguiçosas na esperança de algo colher.

E eu? Eu corro pelo areal. Já nada é novo. Nem o mar, as ondas, a brisa, o sol, as gaivotas ou o amor. Nem os peixes, nem a corrida, nada.

Tudo me parece irremediavelmente velho e gasto esbatido.

Corro 20 m contra a brisa e ainda bem que assim o fiz, pois depressa me sinto em esforço, e quando retorno soube-me imensamente bem deixar de sentir a brisa contra e sinto-me renovada pela prazer antecipado de acabar dali a outros 20 m e assim como o sol, no mar me deitar, nele me fundir e desaparecer.

Assim o fiz. 40 m de corrida contínua na areia molhada. O pensamento? A Maratona do Porto? É quase uma missão impossível, mas ainda assim vou tentar, pois se não o fizer nunca me perdoaria, desistir sem tentar.

No fim, cansada, e nem por isso feliz, me deito no mar e desapareço. Até amanhã emergir de novo numa praia qualquer.

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Sábado, 5 de Agosto de 2006

Não me interessa que digam que hoje é outro dia. Hoje é sábado, 5 de Agosto de 2006 e faltam 71 dias para a 3ª Edição da Maratona do Porto, prova que se realizará a 15 de Outubro de 2006.

Ontem tomei uma decisão e um compromisso para comigo mesma: vou participar nessa prova.

Único e mesmo assim ambicioso objectivo: conseguir fazê-la num tempo não muito superior às 4 horas.

Estou no ponto de partida em que a única bagagem é a experiência do passado e muitas promessas a mim mesma, mas o facto é que as memórias e as promessas, só por si de nada valem. A mala está vazia e inicio a viagem de mãos a abanar. Levo comigo apenas a minha vontade e muitos sonhos.


Hoje depois de meia hora a brincar a andar de bicicleta, voltei a treinar. Apenas 30 m de corrida contínua em estrada. Assusto-me! Sinto-me como se nunca tivesse corrido na vida!

Persistência é do que mais necessito agora. Para manter a motivação para treinar e para continuar a acreditar que vale a pena!

quarta-feira, 2 de agosto de 2006


Recordar olhando para trás, e Caminhar em frente com mais bagagem. Obrigada Sálvio!

Memorial Sálvio Nora - 9 de Julho de 2006

Agora custa-me escrever. Porque é que ontem à noite no meio da trovoada na noite escura apenas momentaneamente iluminada pelos relâmpagos, pelo piar assustado das aves e pelo correr do rio agitado pelas violentas gotas de chuva, tudo me parecia tão claro e óbvio, e as palavras dançavam na minha cabeça, fluidas, fáceis e belas e se entendiam e arrumavam em harmonia? Estarias comigo sem eu o saber?


Estou a escrever-te debaixo da mesma azinheira onde te ouvi e te falei pela última vez. Agora falo-te e ouço-te em qualquer lugar. Mas naquele dia, involuntariamente talvez, mentiste por certo dizendo que estavas melhor.

Pouco mais de dois meses passados reencontramo-nos. Na Serra da Freita desta vez. Para o Memorial Sálvio Nora. Se gostei do Memorial? Não, não gostei. Teria preferido que estivesses entre nós a correr naquele magnífico cenário numa prova igual mas com um outro nome qualquer.

Detestei olhar o teu velho equipamento agora sobre um boneco, como se fosse uma farda de um militar de que ninguém recorda o nome, meticulosamente limpa, vincada, arrumada, esquecida e sem vida no canto de um museu qualquer. Queria-o sujo e suado sobre o pulsar do teu corpo quente e coberto de pó.

Resta-me pensar que quem gosta de nós e quem nós gostamos nunca nos deixa completamente e na verdade tu estiveste entre nós esvoaçando entre as borboletas e guiando-nos pela magnitude desta serra tantas vezes lida mas nunca corrida, neste teu "Mundo Fantástico" que sem ti é de difícil compreensão e de sentido duvidoso, mas ajudai-nos por favor a tentar alcançar um pouco dessa sabedoria. Estou perdida Sálvio, muito para além da imensidão desta serra e do percurso desta prova onde as fitas sinalizadoras foram claramente ineficientes.

As vacas que me ensinaste arouquesas, a água que corre, o céu que nos cobre e abençoa e as pedras, as outras e as parideiras que guardo como valiosos troféus, uma aceite durante a minha experiência de 12 Km, e outra resgatada por um amigo que tu gostarias de ter acompanhado neste Trail de 50 Km, e que me foi ofertada dias depois, são preciosidades da vida contidas em forma de pedras agora a descansar na frescura da minha casa, amontoadas ao lado da tartaruga de madeira.

Um dos ensinamentos que me passaste e da forma mais abrupta possível foi que mesmo das coisas más poderemos sempre retirar coisas boas.

Com a tua partida fui levada a conhecer uma pessoa extraordinária. Ela é especial, encanta, transmite alegria e é uma tua grande e verdadeira amiga, companheira de treino também e sempre presente no teu "Mundo Fantástico", que aqui homenageio pois sempre preferi as homenagens aos vivos: Margarida Pinto!

Ao vê-la chegar dos 50 Km tive a certeza que tu estiveste ali o tempo todo a sorrir connosco e que tudo aquilo vale a pena, que a tua morte me fez conhecer esta maravilhosa pessoa e família, e que ainda fez nascer este Memorial que tem todo o potencial para se tornar uma referencia internacional no género, sem perder o essencial: o ar que se respira e a envolve e que és tu!

E tu, gostaste do Memorial, Sálvio? O que nos escreverias sobre ele de forma majestosa e apaixonante trazendo-nos até ele apelados pelas tuas palavras mágicas?

De forma humilde e talvez medíocre, em oposição à riqueza de emoções e sentimentos que sinto em catadupa, e lutando para contrariar a anarquia das palavras soltas que me assaltam, isto foi só o que eu consegui escrever sobre esta edição experimental do Memorial Sálvio Nora.



3ª feira, 1 de Agosto de 2006

O comboio partiu e eu fiquei no extremo da linha. Onde as pessoas chegam e de onde as pessoas partem. Quase todas com um rumo.

Encruzilhadas de linhas à minha frente misturam-se e baralham-me o olhar e o pensamento.

O Porto é além. O comboio partiu. Há outras e muitas maneiras de lá chegar. Mas cada dia que passa torna o caminho mais penoso.

Deverei ficar? Ou seguir a linha? Mas que linha? Ao comboio já lhe perdi o rasto e neste emaranhado não consigo perceber que linha hei-de seguir.