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domingo, 19 de maio de 2019

A Lanterna ou a falta dela

E ainda, em modo de resumo, de autoria do Fernando Andrade, eis o meu 7º Trilho das Lampas:


"Pegou na tralha à pressa e foi p’ró Trilho
E nem verificou o material
Que podia livrá-la de um sarilho
À noite, lá no meio do matagal.

Esqueceu-se que após o sol se pôr
Ainda sobrava muito p’ra correr
E o lusco-fusco, era de supor,
Daria o seu lugar ao anoitecer.

“-Ai Jesus, que não trouxe frontal
E é tão pouca a luz dos pirilampos
E vejo-me, sozinha, a bater mal
No breu que transformou os verdes campos .

Assim falava ela, mas, segura,
P’ra tentar enganar a sua mente, 
Vem às apalpadelas e então, jura
Que da próxima vez será diferente.

Aparece-lhe um anjo lá p´lo meio
Que lhe dirige a fala com voz terna
-“ Muito cuidado, menina, já que veio
Por caminhos tão maus e sem lanterna!

Plim,plim:”- Disse “lanterna”? fez-se luz!
Posso acabar de vez com a escuridão.
Cabeça a minha! Vejam o que aqui pus:
Trago lanterna! Frontal é que não !

Estava no telelé a solução
E a partir dali, sorriu sozinha
Rapidamente chega a S. João
Dispondo de um clarão que antes não tinha."

sábado, 18 de maio de 2019

7º Trilho das Lampas

11 de Maio de 2019

O 7º Trilho das Lampas realizou-se no passado sábado, dia 11 de Maio de 2019, e eu, estive lá!

Este ano com uma novidade (entre outras): para além da Caminhada e do Trail propriamente dito (cerca de 24 Km este ano), decorreu também o Trail em versão curta (15 Km), o qual em boa hora surgiu e assim me permitiu continuar a ser assídua participante neste Trail, que já vai na sua 7ª edição e no qual estou desde o início. Nada de especial, como verdadeiramente especial poucas coisas o são nesta vida, subvalorizadas na maior parte dos casos (ou tardiamente valorizadas) e que estão bem arredadas do mundo da Corrida. Ainda assim, porque este Trail me é verdadeiramente especial, e se mistura com valores sólidos como amizade, consideração, muita admiração, respeito e carinho pelo seu mentor, o amigo Fernando Andrade, sinto-me muito feliz e até sinto um pingo de orgulho por estar lá desde a 1ª edição e poder continuar a  sentir-me uma  felizarda e abençoada por isso. Haja vida e saúde e assim continuarei enquanto a Vida pulsar em mim!

Se haviam algumas dúvidas sobre o sucesso da prova, especialmente pela introdução deste ano do Trail Curto, e também da alteração do percurso, finda a mesma, facilmente constatámos pelos relatos dos que lá estiveram que a organização esteve muito bem e que no geral ninguém saiu de lá defraudado.

Confirmamos que as marcações estavam irrepreensíveis, a medalha era muito bonita, como sempre, assim como o percurso, (isto de começar de dia e acabar de noite, com o pôr-do-sol pelo meio dá um toque e sabor muito especial à prova), o levantamento de dorsais decorreu sem quaisquer complicações, t-shirt também bonita, a segurança ao longo do caminho esteve impecável, bons abastecimentos, com incentivo à diminuição do uso do plástico, pois cada atleta tinha de levar o seu recipiente para abastecer-se de água (não havia garrafas de plástico), no fim, sopa, bolinhos e fruta, depois de uma meta cortada no relvado do largo e medalha colocada ao pescoço, os resultados saíram rápidos e um certificado de participação foi disponibilizado a todos os finalistas. Foi esta a 7ª edição do Trilho das Lampas e está uma vez mais a organização: o Meia Maratona de S. João das Lampas - Grupo de Dinamização Desportiva, em parceria com a Sociedade Recreativa, Desportiva e Familiar de S. João das Lampas, de parabéns! Acrescente-se que este ano, a prova contou com o suporte técnico da WeRun, e estava integrada no Circuito Lisboa Trail de 2019. São dados e factos que se encontram com objectividade e fazem desta prova uma prova de sucesso, que cativa os atletas e cumpre parâmetros que satisfazem simultaneamente atletas de elite e atletas que fazem do Trail e da Corrida, uma forma de estar na Vida, simplesmente pelo prazer e pelas vivências experimentadas.
Muitos Parabéns à Organização e venha de lá a 8ª edição, que eu lá estarei de novo!

E agora, a minha prova...

Ah pois, a rapariga tem coisas que não lembra a ninguém. Corre há mais de 40 anos, já fez praticamente todo o tipo de provas. Claro que não corre "nada" mas experiência não é propriamente coisa que lhe falte. Em tão longo período à volta da Corrida, muitas fases passou e eis que chegou aqui e agora, 50 anos de vida, cansada um pouco mas ainda mexe. Confesso que descurou um pouco a preparação. Ai ele é isto, agora é aquilo, veio de uma operação onde lhe tiraram as safenas, perdeu peso, ganhou peso, perdeu peso, treinou bem, treinou mal, sentiu-e animada e forte e também fragilizada e completamente podre. Um jeito nas costas, umas dores danadas, treinos interrompidos, hoje sim, amanhã não. É o carrossel da vida a girar sem parar. Vai montada a galope num cavalo alado para logo de seguida se apear e seguir numa pileca magra mas de sorriso de ouro!

Está na partida do 7º Trilho das Lampas! Para sua sorte, esta edição proporcionou uma versão curta (15 Km) e ela pôde ir fazer que corria, ao invés de ter de aceitar que, tristemente, só estaria preparada para a Caminhada. Manias...

A coisa começou logo menos bem quando saiu de casa e verificou que o relógio/gps não tinha carga. Pensava que tinha carregado...Errado! Não tinha! Depois, segue-se o frontal. Pensava que tinha pilhas novas...Pensava...Errado! Não tinha! Pois, é verdade...a pensar morreu um burro! Gaita! Hoje o burro é ela! Mas o trail é o curto, pensa, talvez nem precise de frontal, pensa, uma vez mais, como o burro, num optimismo exagerado e fantasioso.

Assim, apresenta-se nas Lampas, sem ter cumprido o devido cerimonial que qualquer pileca que corra, cumpre minuciosamente. Ela...sente-se cansada desse cerimonial...Ou da vida. Ou simplesmente não teve tempo, que ocupou noutras coisas, mais ou menos importantes, depende dos valores de cada um...Nada de preparar equipamento com antecedência, nem o saco para depois, nem o cinto com o recipiente para a água, que era fundamental para repor água nos postos de abastecimento...,nada!. O carrossel gira a 1000 à hora e ela em 5 minutos prepara (?) tudo e está a caminho de S.João das Lampas. Mas porquê?!  Porque a Vida é isto: um Carrossel a girar sem parar e por vezes só temos mesmo de nos deixar ir, bem agarrados ao melhor cavalo de olhos assustadoramente arregalados que nos transporta na vida! 

S.João das Lampas está cheia de atletas. Reencontra alguns amigos, levanta o dorsal, que tão bem lhe fica, com o seu nome impresso e o contacto da organização. Pelo picotado, separa a "senha" que lhe daria direito à sopa no final, que oferece ao pai, que ali ficará a aguardar a sua chegada e no entretanto poderá aquecer-se com a sopinha de legumes que estava tão boa, veio a saber. Ela, dispensa-a sempre ao pai, pois também sabe pela experiência que após a chegada dificilmente o seu estômago aceitará alguma coisa.
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Com o dorsal, vieram umas lembranças e a t-shirt que ela veste por baixo da sua, pois verifica que a noite está fresquinha por ali. Mais uma vez, um excesso de confiança por ir "apenas" fazer o Trail Curto, fez com que menosprezasse os cuidados que deveria ter tido e claramente ir fazer a prova só em t-shirt, sabendo ela que haveria períodos obrigada a caminhar pela noite dentro, era uma imprudência.

E assim, desnorteada e arrepiada, lá alinhou na linha de partida, com um breve mas agradável aquecimento orientado pelo atleta, esse sim, Atleta, Paulo Guerra. Partida dada e segue feliz. Depois do beijo ao pai, corre feliz pelo relvado, como fosse ela serpente a deslizar natural e delicadamente no solo. Isto é como ela se sente, porque verdadeiramente, mais parece um bisonte no meio da manada.

Sensações tão boas quando corre! Depressa entra no terreno que ama, Solo, Terra! E o aroma! Oh meu deus o aroma! A vegetação! O moinho. A Terra. O percurso tem uma parte diferente das anteriores edições. Riachos, pontes e escadas! Sim, escadas, e cordas nas partes mais inclinadas. Aqui a medricas, que diz que gosta muito de Trail mas é uma desajeitada de primeira,  agradece! Senão ainda lá estaria a esta hora a estudar os melhores sítios para colocar os pés.E as mãos. E o rabo! A chegada à praia faz-nos passar bem junto à azenha. A praia! O Sol a pôr-se quando ela lá chega. Sublime. Sempre. A Vida na sua simplicidade, aparente repetição que não é mais que uma renovação, um começar de novo, sempre! A saída da praia. A subida íngreme mas a proporcionar-nos vistas arrebatadoras. De novo terreno para correr. E ela corre. A querer despachar-se para não escurecer já. Lembra-se da parte final das edições anteriores em estradões largos de terra mas com iluminação eléctrica. Esquece-se que está num versão nova. E dá por ela a enveredar-se no meio da mais densa vegetação, pareceu-lhe! É noite já! Elementos da organização (Bombeiros?) avisam-na para ter cuidado, há aí à frente muita pedra, muita pedra! Oh...se há! E árvores! Árvores no caminho dela! Ou é ela que está no caminho das árvores?! Vai só! Às "apalpadelas"! Ela, a noite e os ramos das árvores que lhe tocam, provocando-a "porque não trouxeste frontal mulher?!" e dão gargalhadas estridentes as árvores. As árvores... indiferentes ao medo dela, divertem-se e riem-se. De vez em quando um atleta passa por ela, iluminando um pouco o caminho, e sim, lá estão as setas em material reflector, para que ninguém se perca. Mas ela, sem luz, não vê nada. Segue muito devagar, a passo de caminhada, e as costas queixam-se quando o solo está mais abaixo do que ela supunha e o passo parece cair em falso. Sabem como é? Quando pensamos que o chão está aqui e afinal está mais abaixo e sentimos aquela falha nas costas, como se algo se quebrasse?  Até que de repente no meio da escuridão, há umas pequenas luzes, ali, à frente dela, piscando, indicando o caminho, pois permitiam-lhe ver as setas reflectoras. Que era aquilo? um atleta mais à frente? Mas virado para ela? Virado para trás?! Sem saber, seguiu as luzes que seguiam as setas, agora visíveis. Seguiu assim, em perseguição das luzinhas que piscavam, sempre alinhadas com as setas, uns valentes metros. Até que se apercebeu! As luzinhas que lhe indicavam o caminho não eram mais que pirilampos! Que assim, no meio do nada, dos troncos traiçoeiros, dos ramos manhosos e da total escuridão, acompanharam a rapariga e lhe indicaram o caminho por dezenas de metros. Sinais da vida. Sinais de vida. A seguir sempre! 
Depois as rãs. Um coaxar ensurdecedor, ao longo do caminho. Ela, a noite, as rãs e a vegetação. Isto de caminhar em plena escuridão tem também o seu encanto. Tenta rir-se mas está quase à rasca! O ritmo até para caminhada era agora muito lento. É passada por vários atletas, por ali desde o km 11,5 ou 12... em que a noite se instalou. Não há desespero nem medo. A rapariga apenas se dá. Vive as circunstâncias, aceita-as e avança como pode. Momentos longos de introspecção e de vivências verdadeiramente especiais! Até que de novo passa por um elemento da organização (ou Bombeiro) que a avisa "cuidado, muito cuidado aí à frente, e você sem lanterna, tenha muito cuidado". A palavra fez-lhe luz! Estupidamente, constatou que apesar de não ter frontal, ela tinha "lanterna"! A palavra! A palavra faz a diferença! Lembrou-se que apesar de todas as imprudências, ela levava o telemóvel, e o telemóvel, carregado esta manhã, tem lanterna! Literalmente, fez-se luz! E a partir daí a prova transformou-se de novo! Agora iluminada! Pela sua "lanterna! Usou as mãos, segurou-se onde foi preciso, avançou mais rápido, apesar da exaustão já não lhe permitir correr mesmo quando o terreno o proporcionava. Há troncos de árvore a obstruírem o caminho. Baixa-se. Passa-os por cima alçando a perna. Transpõe-os. Agora iluminada, a prova faz-se muito melhor. E se ela estivesse melhor preparada até poderia correr nalgumas partes. Já não sabe em que km vai, mas segue agora com outro ânimo e vivacidade. E de repente dá por ela num relvado macio (teria chegado ao céu?) plano e ladeado de archotes mágicos com as suas chamas magníficas. Alguém, sim, aqui já parece haver público, lhe diz que são só mais uns metros e ela corre, corre por entre os archotes, elevada a um patamar e dimensão extrassensorial compreensível por poucos. Estava de facto a chegar a S.João das Lampas. É verdade. Estava a chegar à meta. De 15 Km percorridos, "apenas". Viagem maravilhosa que este 7º Tilho das Lampas lhe proporcionou...
Sim, entra no relvado, já no largo de S.João das Lampas, agora de novo em passo de Corrida e corta a meta, vencedora! Sim, vencedora! De dúvidas, medos e fantasmas! Vencedora! Depois de uns escassos e meros 15 Km percorridos, mas que se revelaram uma viagem inesquecível. 
Marca o cronómetro da prova 2h13m06s. Uma menina coloca-lhe a medalha ao pescoço. Gesto singelo a dizer tanto! Carregado de simbolismo e emoção! Sabes? O que vale este gesto? O que pesa e significa? Sabes? Não? Então vem ao 8º Trilho das Lampas em 2020 e talvez percebas.
Reencontra o  pai e o Fernando Andrade, que sem ele, não estaria aqui. Agradece. Agradece tudo. A oportunidade de viver isto. A oportunidade de estar aqui. A oportunidade de desafiar-se e a oportunidade de se enriquecer, porque a riqueza da vida são os momentos vividos, a amizade comprovada, as emoções vividas e partilhadas. Nada mais...

Meta cortada, uma farta mesa com fruta, bolinhos, sopa e muito carinho em nos receber, como campeões, como se tivéssemos feito algo digno de reconhecimento, algo especial, quando no fundo não passou de uma viagem dentro de nós mesmos, com os obstáculos que nós próprios armadilhamos. E apesar disso tudo, saímos vencedores!

Obrigada Trilho das Lampas, e que venha a 8ª edição!

Da linha de partida à linha de chegada, demorei 2h12m42s (tempo líquido) para percorrer os 15 Km do Trail Curto, e fui o 320º atleta a cortar a linha de chegada de um total de 454 nesta prova.




















Resultados do Trail Curto (15 Km), podem er vistos aqui

Do Trail Longo (24 Km) podem ser vistos



Fotos do 7º Trilho das Lampas:

Por Luís Duarte Clara, para ver aqui

Por Leonor Durte, para ver aqui

Pelo Jaime Maurício, para ver aqui

Por WeRun.pt, para ver aqui

Pelo Luís Parro, para ver aqui

E algumas fotos tiradas entre mim e o meu pai, para ver aqui


quinta-feira, 2 de maio de 2019

Amizade, Corridas, Livros para ler e outras coisas mais




Conta. Conta hoje. Não esperes por amanhã, por depois de amanhã nem pelo dia a seguir, não esperes pelo tempo que não virá e em que as tuas palavras serão inúteis. E acredita que hoje são úteis. E carrega no peito com brio aquilo em que acreditas e faz eco das tuas crenças.

Conheci-a em 2010. Tomou a liberdade de me contactar e fomos juntas à Corrida do Mirante, na Ota. Descobri uma jovem mulher, de olhos claros, límpidos, timidamente a deixar transparecer a alma bonita e delicada. Uma simplicidade adorável e uma sensibilidade e capacidade rara para me "ler". Nasceu, cresceu e solidificou-se a amizade. Partilhámos mais alguns momentos, sempre com a Corrida em pano de fundo. Partilhámos também dores vividas quando estas já não eram suportáveis caladas dentro do peito. Um abraço quando se precisou. Uma Amiga. É a Ana Groznik.

2010

2012

2012

Foi embora de Portugal em 2014. Longe geograficamente mas jamais longe do meu coração, pois com a sua forma de ser e estar, ganhou um lugar cativo no meu coração.

Pelas vicissitudes da vida, o contacto foi rareando e já não sabia dela há algum tempo.

Até há alguns dias atrás em que me liga um elemento dos Run 4 Fun, equipa em que a Ana correu. O Vitor Aguilar, que não me conhecia, diz-me que a pedido da Ana tem um livro para me oferecer. "Correr pelo bem estar - O Clube Run 4 Fun"", da autoria de João Ralha, fundador do clube e grande dinamizador do mesmo. Pois na compra de 1 livro, o que ela fez, os elementos do clube teriam "direito" a poder oferecer mais dois livros a quem bem entendessem. E com surpresa minha, uma das pessoas que a Ana indicou para receber o livro fui eu. Eu...
Gestos que me tocam e marcam. Mais que qualquer coisa material, como o próprio livro em si, que conta um pouco da história do clube e que vou descobrir, mergulhando avidamente nas suas páginas daqui a nada, mais que qualquer coisa material, o gesto e o sentimento é o que valorizo, me toca e me marca. E me faz sentir que esta vida tem muita coisa boa e que vale a pena viver de verdade. Assim, a nos darmos, de forma tão natural que nem nos apercebemos que também marcamos os outros, assim, natural e simplesmente sendo nós próprios.

Obrigada Ana
Obrigada Vitor pela gentileza de me fazer chegar o livro de forma tão especial.
Obrigada João Ralha, pela dedicatóriacriativa e pela partilha dessa história que terei todo o gosto em descobrir em cada página que adivinho, vou devorar.