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sábado, 26 de abril de 2008

Alimento

No final da peça, quando de pé o público aclamava e as palmas e os bravos ecoavam na sala, as lágrimas corriam-me pelas faces. Não era só um nó na garganta, não. As lágrimas corriam, até chegarem ao queixo, contorná-lo e caírem perdidas, como já não corro eu nem choro eu, há muito.

Não que a peça e o tema se prestem a choradeiras ou toque o lamechas sequer, nada disso. É uma peça alegre onde batemos palmas ao tom da canção e das músicas e das cores alegres no palco, por diversas vezes.

Nós – ou eu - (cada vez acredito mais nisso) é que incapazes de chorar pelo que nos inquieta ou aflige ou mesmo tortura, cada vez mais pegamos em emoções alheias, pequenos nadas, que nos servem para nos agarrarmos e soltar as nossas lágrimas, assim dissimuladas e enganosamente justificadas, talvez adivinhando o fim trágico de Pedro no conto e não no palco.

E o Teatro traz tanta emoção. Está tudo ali. Frente a frente. Os olhares, as vozes, os gestos, as luzes. Nós e os actores. A emoção sente-se.

Tenho a minha estrela ao lado, e ela ilumina meu coração, e quero que ela absorva a mensagem: a estrela está dentro de nós. Sempre! Mesmo nas noites mais escuras e nos ceús carregados de nuvens. Lá por trás dessas nuvens haverá sempre uma estrela a iluminar-nos, pois ela está afinal dentro de nós.

Muito bonita a peça, como Filipe La Féria já nos habitou. “A Estrela”. Baseada no belo conto de Vergílio Ferreira (1916-1997).

É preciso alimento. Para o corpo e para a alma

Para o corpo, de regresso a casa compro leite e pão e queijo que é o que falta para amanhã de manhã, e o dinheiro no bolso ainda chega para isso, mesmo depois de pagar o bilhete do barco para a miúda – que agora a Transtejo nos obriga a comprar um cartão (EUR 0,55) e depois “carregar” viagens nesse cartão, nem que seja uma só viagem, e cartão e ida e volta deu EUR 2,09.

Para a alma, enchemos a barriga esta tarde. Um verdadeiro banquete que poderia ter custado de 15 a 24 euros (2 pessoas), mas como não há cão que não tenha sorte, tive eu 2 bilhetes oferecidos por um programa de rádio a um amigo que prescindiu deles, oferecendo-mos. Caídos do céu! Que nem ginjas! Que mais brilhante tornaram a minha estrela. Reluzente no céu e no nosso coração –não é afinal tudo e só a mesma coisa?


Para que percorres inutilmente o céu inteiro à procura da tua estrela? Põe-na lá.”
Vergílio Ferreira


Sem corridas ultimamente… Porque este blog persiste, Ana?

- Porque ...

“Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve” Vergílio Ferreira

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá Ana

Eu também ponho a minha estrelinha no céu, assim que desponta a aurora. Fica lá a descansar durante o dia. À noite, vou buscá-la e penduro-a na cabeceira da cama.

Esta é a minha estrela.
Mas há muitas, muitas estrelas. Estrelas de todas as cores.
Hoje, vou correr um pouco com estrelinha de cristal azul.

Correr, também serve de alimento para o corpo e para a alma. Quando quiseres...

Beijo

Paula Pinto

António Almeida disse...

Olá Ana

com ou sem corridas ainda bem que este blog persiste...
Força Maria.

Fernando Andrade. disse...

Ela falou de "alimento"
E apanhou uma tal "pansada"
Que se chega a este momento
(100 horas após o evento)
Sem voltar a dizer nada.
Com a "alma" tão atestada
Esqueceu-se até da comida
E que, estando, assim, parada
-Ou mais "sedentarizada"-
Nem há "escrita" nem "corrida".

Fora de brincadeiras, Ana:
Há anos que não vou ao teatro! Mas também sou daqueles que facilmente se emocionam. Mesmo com coisas em que não é suposta a lágrima, vejo-me aflito para me conter. E, ao ver teatro (ou cinema) coloco-me na história e sinto-a como minha. É bom esquecermo-nos de nós por algum tempo e vivermos a acção que, à nossa frente, está a ser interpretada. É que acabamos por passar por experiências que, mesmo imaginadas, vivemo-las.

O que é que eu já estou para aqui a dizer ?Só queria mesmo lembrá-la que está na hora de um novo texto.

Beijinho.
Fernando