A Estafeta na Maratona permitiu a centenas de atletas participarem na mesma sem terem de correr os 42.195 metros. Farão companhia aos Maratonistas, darão animação, encherão as ruas, dirão muitos, mas no meu entender, que até gostei imenso de ter participado na Estafeta, tiram o brilho à Maratona. Não gostei de ser "confundida" com os Maratonistas, não gostei de ser aplaudida como se estivesse a correr a Maratona. Não gostei de estar na Maratona sem correr a Maratona. Mas isto sou eu que sou muito esquisita.
Olho para o meu umbigo e digo que foi bestial! Adorei correr com estas amigas e sentir o espírito da equipa. A responsabilidade, o saber que todas contamos com o nosso esforço para o "sucesso" de todas.
Quando a Carla me desafiou, hesitei mas não muito. Com agrado escolhi o último percurso, com o qual parecia que ninguém simpatizava e que partia ao km 30 para terminar precisamente na Meta, 12.195 metros depois. Para mim, seria o culminar do esforço de todas. Cortaria a Meta e daria por bem empregue o esforço e os passos de todas. Daria o meu melhor e com isso sentir-me-ia bem. Puro engano que ainda não sabia o que estava para me acontecer.
A noite de véspera fora de ligeira borga, mas suficiente para me tirar umas horas de sono. E se previa só começar a correr lá pelo meio dia, não deixei de ir com bastante antecedência como gosto de fazer.
Belém. Muitos atletas na zona de transmissão do testemunho. Conta-se que estavam inscritas umas 180 equipas. Vejo os atletas passarem em sentido contrário ao que eu iria, vejo passar o meu amigo Joaquim Adelino e logo a seguir a Carla, que fazia o 3º percurso da minha equipa, teria de ir lá abaixo, fazer o retorno para então voltar e me entregar a pulseira/testemunho. Ia muito perto do Adelino que corria a Maratona. Pensei logo, a Carla há-de-me passar o testemunho e eu faço a prova com o Adelino até à Meta, sendo ele Maratonista!
Esperei. Esperei. Esperei. Não que a Carla demorasse muito mas o frio e a ansiedade fez-me sentir a espera demasiado longa e deu para me enregelar.
Por fim avisto o Adelino! Lá vem ele! Mas... e a Carla? Ou ele se adiantou ou ela se atrasou mas a distância entre eles passou de 2 metros para... muitos e largos minutos.
Lá vem o Adelino! |
A transmissão |
A Carla já depois de me ter passado o testemunho |
Vamos juntos nas calmas até ao km 5 (meu), mas o Adelino diz-me já ir um bocado estoirado e resolve parar um bocado no abastecimento ao km 35 da Maratona (km 5 para mim). Eu sigo sozinha. Acelero um pouco o ritmo a que vinha embora não tão forte como até apanhar o Adelino e continuo a ultrapassar Maratonistas.
Praça do Comécio, Martim Moniz, Rua da Palma e agora é aquela subida, pouco acentuada mas muito longa, até ao Areeiro.
Pelo caminho vou encontrando amigos, e ia bem. Ao 53 minutos de prova, passava pouco dos 9 km de prova, encontro o Pedro Carvalho, estreante e sigo com ele, mas praticamente de forma instantânea sinto o coração disparar no peito (Taquicardia) e os meus batimentos cardíacos passaram dos confortáveis, estáveis e regulares 165 bat. / min, para 221 bat. / min., vindo-se a confirmar pelo registo do Garmin que a brincadeira durou 8 minutos, com batimentos médios de 220 / min, chegando mesmo a atingir 233. Oito minutos em que caminhei, levantei os braços, tossi, conversei com o Pedro que entretanto tinha também começado a caminhar, e assim de repente, tal como começou...parou! Como se um interruptor se desligasse. Deixei de sentir o coração! Não, não morri, ainda, pensei, apenas não sinto aquele cavalo bravo à solta no peito, e olho para o Garmin e marca, claro, 143 bat / min, o normal para quem ia a caminhar numa subida. Então, que faço agora? Tenho uma corrida para acabar. Aquelas miúdas estavam à minha espera na meta, só tinha de recomeçar a correr, entrar naquele estádio e cortar a meta por nós quatro! Assim fiz, mesmo deixando o Pedro para trás que entretanto também já começara a correr, e se veio a consagrar Maratonista minutos depois!
E na Meta, lá estão os meus fotógrafos preferidos, dos quais destaco o meu pai, claro! Cortar uma Meta sem ele não é a mesma coisa.
4º percurso (eu), Pedro Carvalho, Maratonista há minutos, o 1º percurso (Isa) e o 2º percurso (Rute) |
A nossa equipa, agora também com a Carla que fez o 3º percurso |
Chego bem, mas algo preocupada. O que me acontecera, se por um lado não é inédito, também nunca me aconteceu em plena prova ou treino e nunca durou tanto tempo.
Terminei assim, o meu percurso de 12,195 Km em 1h15m27s.
E esta é a história da minha Estafeta na Maratona de Lisboa. Porque para falar da Maratona teria de ter corrido a Maratona e isso não aconteceu.
Reparei que o abastecimento dos 35 estava de facto abastecido quer de sólidos quer de líquidos, havia bastante água, um percurso sem trânsito, uma prova animada pelo elevado número de pessoas a correr, não só Maratonistas. Gostei da entrada no estádio e das metas. Das fotos da AMMA, As classificações parece que sofreram uma certa baralhação e diversas correcções e erros. Gostei das medalhas. Não gostei da feira nos dias antecedentes onde se levantavam os dorsais.
E esta é a história da minha Estafeta na Maratona de Lisboa. E não me apetecia escrever, e ainda bem que não me apetecia, porque a ver pelo longo texto, se me apetecesse, só parava de escrever amanhã de manhã.
E agora há que ir ao médico. Fazer exames e perceber as causas e as possíveis consequências.
Já fui! Claro que devo continuar a correr! Claro que sim! Nas calmas, diz ele. (que sorte ter um médico que também corre!!!) E para evitar as provas. Evitar as provas, doutor?! Mas estou inscrita já para a São Silvestre do Porto no domingo! Se fosse a si não ia. Mas... Só se for "a brincar"... Sim, irei "a brincar", e não é sempre assim, "a brincar" que faço as provas?
Até amanhã querido diário, e sim, já treinei depois deste episódio e a máquina portou-se lindamente! Claro que treinei "a brincar" (8 Km em 50 min.).
12 comentários:
Olá Ana
2011 em Almeirim também tive um episódio muito estranho, diferente do teu, que nunca tinha sentido nem tornei a sentir. Também fiz uma bateria de exames e estava tudo 100% normal.
Às vezes temos reacções estranhas, até sentados a descansar acontece podermos ficar mal dispostos sem saber de quê.
Fizeste bem ir ao médico. O que não gostei foi de ter lido que não é a primeira vez que te acontece, embora com menos intensidade.
Convinha tentares perceber o porquê.
Beijinhos e boa S.Silvestre do Porto (esta está em falta no meu "currículo")
:( No post anterior, sem saber ao certo o que tinha sucedido e ao ver os dados Garmin, desejei que tivesse sido um erro de medição. Mas não foi. Isso foi um enorme susto e mais um aviso da 'máquina' (lembro-me dum post antigo onde se referia um episódio desses após um treino). E continuar a correr depois de 8min com o coração a 220bpm? Acredito que a vontade de correr seja enorme e que se sobreponha a tudo o que o bom-senso possa recomendar, por isso, salientar apenas a sugestão do médico «correr nas calmas»
O Bluewater68 tem muito boa memória. Pois esse episódio foi o 1ª assim de maior intensidade e duração, e agora este, e que na altura também me levou ao médico que me pediu apenas que ficasse atenta e lá voltasse se repetisse.
Repetir ... repetiu, mas nunca passa de segundos, em circunstâncias de calma e repouso, mas como são sempre muito breves (mas eu sinto-as com clareza) não ligo, e penso: é do stress, da tensão, do excesso de café, etc. etc.etc.
Agora...foi a sério e assustou. Vamos ver o que é, e o que fazer para evitar.
Pois... assim que deixei de sentir a máquina estava a 143 e sentia-me bem, aliás mesmo durante os 8 minutos "apenas" sentia o coração acelerado (acelerado?? os batimentos são visíveis sob a camisola e o soutien e isso tudo!) e estava nervosa, mas de resto estava bem, nem tonta, nem mal disposta, nem dores, nada...
e era uma estafeta, não ia abandonar...
E sim, o treino depois disso já foi nas calmas e a SS Porto assim será também.
Eu volto!
João Lima, pois.. muitas vezes não há explicação... mas pelo menos é minha obrigação ir à procura dela também para perceber os riscos e evitar situações que possam provocar tal reacção.
Convém ter muita atenção e cuidado com isso!
Eu aconselharia um exame no Centro de Medicina desportiva mas o pior é o preço.
Não há apoio nenhum para quem pratica desporto. Na verdade um vulgar cidadão já tem enormes dificuldades em ter acesso aos serviços de saúde.
Mas "Pikena" convém ver isso com atenção.
Tenho recordações trágicas de um amigo corredor que resolver não escutar os médicos...
Um beijinho.
:) Ana, o Bluewater68 nos blogues e Luis Santos no FB, além de ter muito boa memória é sobretudo um leitor atento aos pormenores, que lê sempre com muito gosto todas as linhas e palavras deste blogue. Ele próprio também anda às voltas com uma cabeça zonza que o tem impedido de treinar ou de pensar em entrar em provas, como foi o caso dessa.
Olá Ana.
Ainda bem que não se repetiu, mas cuidado, com esse não se brinca.
Da minha parte, agradeço as tuas palavras. Gostei da tua companhia e fez-me bem. Mas a razão da tua companhia fez-me desejar não a ter.
Só espero que seja só isso, um episódio, sem repetição.
Beijos.
É um grande susto... Ainda bem que foste ao médico e ele foi eficiente e prestável (e, correndo também, é mais empático com a tua vontade de correr). Vai nas calmas na S.S. do Porto (também ouvi dizer que vai estar uma ligeira chuva... ;) ), sempre a controlar essa f.c.
Beijinhos e obrigada pela companhia nas estafetas!
Espero que o coraçãozinho esteja melhor :)
e parabéns pela resistência e por não ter desistido, mas agora é ouvir o Sr Doutor que tb corre, e ir a brincar!!
Beijinhos e as melhoras!!
Olá Ana,
Tinhas razão, não tem a ver com o garmin.
Vi com agrado que já foste a um médico e se ele tb corre melhor compreenderá o fenómeno da taquicardia momentânea ( repetido? percebi bem?)
Também te aconselho alguma calma antes de retomares os treinos com regularidade, deves redefinir prioridades assim como os objectivos desportivos (o desporto não é tudo na vida)
Deves fazer alguns exames complementares de diagnóstico que o médico deve ter indicado certamente, (prova de esforço, ecocardiograma e até TAC)
Creio que não será um caso de grande preocupação mas nestes casos devemos ser sensatos. Conheço casos semelhantes, alguns deles nem sequer estavam a fazer desporto mas sim sentados na sala a ver televisão e são maratonistas e ultras no activo.
Fazes bem tentar ter a vida o mais normal possível, mas quem sabe se não é excesso de carga que tens, e pode não ser só corridas, mas trabalho, stress, ansiedade.ok?
Vai correr tudo bem e vai sempre dando o feedback sff.
Boa prova de s.silvestre no Porto.
Jorge
Olá Ana
Parabéns pela estafeta e para mais nesse percurso mais difícil.
Deves ter cuidado com isso da taquicardia ,primeiro está a saúde tens de fazer um exame rigoroso.
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Às vezes aparece a treinar com o grupo que treino habitualmente um atleta com 61 anos que já teve um ataque cardíaco e continua a correr como se não lhe tivesse acontecido nada apesar dos avisos do médico para só fazer jogging, faz provas curtas e ainda corre os 10 km em 44/45 minutos.
Não acho isto normal, mas cada um ...
bjs
J.Lopes
Olá Ana.
Quando no final das estafetas nos falaste desse episódio não percebi que tinha durado tanto tempo.
Agora fiquei um pouco preocupada, mas se já foste ao médico e ele disse que podes correr, mas calmamente, então é uma questão de estares atenta e de ires com calma.
A saúde está sempre em primeiro lugar.
Beijinho
Olá amiga Ana, tive muita pena de não poder seguir mais tempo na sua companhia para além dos 35kms, o ritmo que levámos até ali era muito bom mas confesso que ia nos limites e a paragem fez-me bem. Depois, bem pelo que leio aqui a coisa complicou-se, talvez a pressão de ser uma estafeta obrigou a que tivesse ido além dos limites e aconteceu! Em jeito de brincadeira sempre lhe digo, eu tenho um Pacemacker para controlar o mínimo de impulsos cardíacos, talvez não fosse má ideia que arranjasse um para controlar o máximo de batimentos, mas falando mais a sério, em situações desse tipo o corpo começa a dar sinais muito antes de o colapso acontecer, é ai que de imediato devemos começar a controlar o esforço que dispendemos e não insistir até à exaustão ou próximo dela. Beijinho e muita vigilância.
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