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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Treinos e Poesia

- Mas isto agora é só farras, rock para a frente e para trás...e então os treinos, pá?!
Onde estão as corridas, os treinos, os relatos fictícios ou reais, parvos e banais sobre aquilo que a gente gosta: a Corrida?

Quando os olhares se tocaram (ou seria trocaram? Na ânsia de fazer poesia, pegar em quatro olhos, bolas brancas protegidas por pálpebras e pestanas para evitar que se desencaixem, saltem e soltem das cavidades do crânio, caiam e rebolem pelo solo deixando à sua passagem um rasto de muco ensanguentado no chão, cada uma com uma bolinha preta chamada menina do olho a aumentar e diminuir de tamanho consoante a luz - vulgo pupila - rodeada de cores fantásticas, do castanho ao verde, passando pelo azul e pelo cinzento numa criação única, bela e perfeita da Natureza, e transformar o momento em que essa construção de células se confrontam e deparam com as de outro alguém frente a frente e nelas se detêm por instantes, transformar esse exacto momento em palavras bonitas e românticas a fazer sonhar com histórias de príncipes e princesas, ela, nessa situação nunca sabe bem que verbo usar: o tocar ou o trocar, pois ambos fazem sentido e normalmente ambos se aplicam na mesma situação) ela por um instante, um momento fugaz e esquivo teve a certeza que ele a reconheceu. Passou-lhe em memória filme antigo, a rebobinar em velocidade estonteante, e de olhos fixos nos dele, teve nesse exacto momento a certeza que ele via o mesmo filme que ela, ambos protagonistas, personagens principais que se separaram mal o filme começara. Segundos. Não durou mais que segundos o olhar deles preso um no outro e em conjunto a desenterrar memórias e a sensação de certeza foi de uma consistência e solidez de fazer inveja a muitas certezas que julgamos ter. Pena que durara tão pouco. Como chama de fósforo acesa em dia de vendaval. Quente e forte a queimar os dedos se lhe tocarmos, mas mal acende, apaga. Assim foi aquele momento. Um flash. Mas teve tanto de breve como de intenso.

Ela podia ter falado, metido conversa entre um copo e um cigarro mal fumado que é como ela sabe fumar, puxar uma cadeira, podia falar descontraída e naturalmente e desfazer qualquer equívoco. Mas não. Disse duas palavras a roçar o banal, e timidamente pegou no papel e desandou rapidamente dali como se fugisse. O seu momento tinha passado. Breve e saboroso. Assim como um sonho que se quer manter. Deliciosamente sonhado. Porque temeu que se falasse, assim como se desfaria o equívoco também se desfaria o sonho. E há situações em que é preferível apenas sonhar para... se poder continuar a sonhar.

- Mas tens treinado ou não?! Estás para aqui a falar de cenas que mais parecem enigmas que ninguém entende e a gente quer é saber se tens corrido ou se a rapariga vai fazer o último percurso da Maratona de Lisboa já no próximo domingo, mais uma vez estupidamente sem treinos!

- Sim! Corri! Corri Sábado e corri Domingo. 9 km no Sábado mais 9 km no Domingo! Estejam as meninas da Estafeta descansadas que eu corro aquilo no Domingo! Sim...eu sei que é praticamente sempre a subir...

6 comentários:

Isa disse...

E provavelmente até te aguentas melhor do que qualquer uma de nós.
Sim, porque podes andar a treinar de forma mais intermitente, mas já andas nisto há muito mais tempo do que nós.

Vai ser uma boa experiência com certeza.

Beijinhos

horticasa disse...

Gostei!
Gostei dos olhos presos uns nos outros, como se houvesse umas cordas invisíveis a segura-los, estou de acordo, acho melhor não falar fica o suspense no ar, como que a fazer-nos flutuar... muito bom.
beijinho

Anónimo disse...

Gostei da partilha entre o treino e a poesia (mais dois propósitos em comum). Logo eu que pensava que deveria ser...enfim.

E disse...

:)

gostei de saber de você!
de seus momentos breves e intensos, e de suas corridas!

bjs

Lilith disse...

não tenho dúvidas nenhumas: a maratona é tua :) depois conta tudinho!

beijinhos

Anónimo disse...

Afinal é domingo que vamos correr na mesma maratona...finalmente.
Beijinhos,
o homem que corre.