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quarta-feira, 4 de março de 2009

Os Pais

Confesso que tenho vivido como se tivesse todo o tempo do mundo. Como se o que não faço hoje, pudesse ser feito amanhã, depois de amanhã, ou para a semana, ou para a outra ainda, ou até mesmo para o mês que vem, ou ainda e só no próximo ano.

A Morte (a nossa morte), é uma ideia abstracta, que apesar de sabermos que viaja connosco o tempo inteiro mesmo ao nosso lado no banco do pendura e nos acaricia a coxa como os seus dedos delgados e frios enquanto conduzimos pela estrada fora, não temos de facto verdadeira consciência que vamos morrer. Eu pelo menos não tenho. Agora. Porque há-de chegar o dia e o momento (o tal, o que interessa e que temos de viver em pleno) que será o… Agora! No entanto, confesso, vou vivendo como se fosse imortal, apesar de saber que não sou.

Se no que às relações que justificam investimento e entrega diz respeito, exijo de mim própria uma presença viva constante, já em muitos outros aspectos da minha vida, confesso que “deixo andar”.

Por outro lado, questiono-me: se partisse amanhã, que faria hoje, agora e até lá? E que importância terá mesmo, o que, e como deixamos?

De repente, sinto uma necessidade de arrumar tudo, de deixar tudo pronto. De deixar todas as palavras ditas, embora haja muito poucas que me faltem dizer. Também o terreno arado e a semente deitada à terra para quem cá fica e mais sentirá a minha partida. Ideias estranhas estas que me assaltam.

Sou uma privilegiada por chegar aos meus 40 anos com os meus dois pais vivos e de relativa saúde. E ambos, pai e mâe (sim, porque eu também tenho uma mãe) numa idade em que eu toda a vida considerei normal uma pessoa morrer. Assusta-me pensar nisso.

Sou uma privilegiada eu…e por reconhecer isso, de repente sinto algo que se assemelha a medo. Ter amor à vida paga-se com o preço de ter de viver também com medo de a perder? Nunca tinha nem pensado nem sentido isto.

Que esta consciencialização e reconhecimento não sirvam para me amedrontar, mas sim e apenas para me fazer viver mais e melhor em cada segundo que passa da minha vida.

Ámen
Treinos de 2ª, 3ª e hoje 4ª: 0 (Zero)

1 comentário:

joaquim adelino disse...

Parabéns para si e para os seus pais.
É enternecedor ver a sua relação com os seus pais e de eles ainda fazerem parte da sua vida activa.
Tudo tem o seu tempo e a vida não é excepção, é por isso que lhe devemos dar a cada momento o valor que ela merece, com aquilo que temos e com a felicidade familiar.
Umbeijinho.