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quarta-feira, 18 de março de 2009

A Morte

Entra assim de rompante, sem bater, sem aviso, deitando a porta abaixo com estrondo, sem ter dado sinais ou fazer-se anunciar.

Surpreende-nos, sentados mais ou menos confortavelmente no sofá da sala da nossa vida, pega-nos sem preparo, e no entanto nós sempre soubéramos que ela ali estivera, silenciosa e presente.

Pensamos sempre que é de acidente. Uma notícia assim, de uma morte precoce, súbita, inesperada, de quem no Natal passado estava perfeitamente bem, e que contava 42 anos de vida. Mas não. Não foi um acidente, pelo menos de viação que é dos que mais depressa nos lembramos, ou ainda dos cardiovasculares. Mas não. Foi um acidente no crescimento e desenvolvimento anormal das células do seu corpo. Só isso. Um acidente portanto.

Se na idade adulta, por força das circunstâncias da vida ou por fraquezas nossas, pouco convivemos, já a minha infância está repleta da sua presença. Brincadeiras, partidas, risos e reinações que me punham a chorar para depressa soltar gargalhadas entre corridas suadas e jogos de apanhada. Os passeios pelo campo a apanhar amoras silvestres, os coelhos, os nossos avós… Memórias apenas agora.

Ai… como queria acreditar num deus qualquer para lhe pedir menos acidentes. Mas não posso. Estou por isso desamparada, à mercê de todos os acidentes que a vida me reserva ainda… E como eu quero viver! Viver! Mais que nunca… eu acho…

Mas os acidentes são isso mesmo: acidentes, em qualquer segundo a vida muda, dá uma volta completa de 360º, ou maior volta ainda que deixa de ser ela própria, vida.

Inúteis pensamentos estes, restando apenas este preciso segundo para viver… e legar o que o nosso eu tenha de melhor. Aproveitemo-lo então. Somos nós capazes?

Amanhã acompanhá-lo-emos à sua última morada. Descansa em paz, Paulo Jorge…

2 comentários:

joaquim adelino disse...

Uno-me ao seu sentimento.
Um beijinho

Fernando Andrade. disse...

Olá Ana.
Imagino a tristeza que lhe invade a alma nestes momentos...os tais momentos que nos trazem à realidade e nos mostram que é fugaz a nossa passagem.
Faltam também as palavras, mas isso não impede de lhe prestar a minha solidariedade na dor da perda do seu amigo de infância.
Beijinho, Ana.
FA