Apanha o barco, atravessa o rio e passa… para a outra margem. A sul. Vai para a fila do autocarro. Apanha-o. Desce na sua paragem. Olha o relógio. Já não passa pelo minimercado para comprar pão e leite, que faltam em casa, mas ainda chegam para amanhã.
Vai a casa e a correr muda de roupa e calça os ténis. Antes de sair, apanha a roupa estendida no arame e mete-a no secador, já que a partir de agora, só humidade da noite apanhará. Tira um bife do congelador para quando voltarem, enche uma garrafa de água, coloca uma toalha ao ombro, veste o colete reflector e entra no carro. Vai para o local de treino. Um local qualquer na margem sul. Pára no caminho pois tem de pôr combustível no carro. Paga. Segue viagem até ao local escolhido e possível.
Breves alongamentos e são 19:40 Hrs. Dá início ao treino. A correr, corre no único tempo que lhe resta: 40 minutos. Rápido. Respiração ofegante. Dói-lhe o tórax, dói-lhe tudo: pulmões, esófago, diafragma, fígado, ela sabe lá! Deve ser do ar frio. Não se sente pesada, ESTÁ pesada. E custa-lhe respirar. E corre. Quer despachar-se! Tem a filha a sair da aula de patinagem, que podia ser de outra coisa qualquer, e corre, e ainda bem que vai só pois se tivesse companhia não conseguiria falar.
40 minutos. Pára o cronómetro. Gasta entre 3 a 5 minutos em alongamentos, dá uns golos de água e o carro dirige-se velozmente para o clube onde a filha a espera. Explica sinteticamente o seu estado aos pais e mães que a interrogam sobre o equipamento e “arzinho” que ela deve apresentar, e ignora os que a olham de lado.
- Porque estás assim vestida? – uma menina pergunta com a frontalidade típica das crianças que infelizmente tem tendência a desaparecer com a idade, salvo raras excepções.
- Porque estive a correr perto da estrada e é para os carros me verem bem. – responde-lhe.
A pequena não se dá por muito satisfeita, pois continua a fixá-la com um ar perplexo, mas não há tempo para mais. Os pais que lhe expliquem. Há que pegar na mochila e na sua própria pequena e regressar a casa onde a labuta continua.
Por fim, noite dentro, deveres cumpridos (os imprescindíveis), banhos tomados, barrigas cheias, o silêncio na casa conforta-a num abraço que hoje não é frio. A pequena dorme, e o sossego e a paz (que nem sempre teve) dão-lhe um conforto e um bem-estar que sem dúvida se deve também àqueles 40 minutos em que a correr, correu.
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Esta história nada tem de invulgar, original ou especial. Podia ser acerca de qualquer pessoa. Qualquer mulher ou qualquer homem.
Mas é acerca de mim. Fui eu que hoje corri a correr e fiz 40 minutos.
(*) – Igreja dos Mártires, em Lisboa, onde Fernando Pessoa foi baptizado
6 comentários:
O que é preciso correr para se fazer umas corridinhas, hein?
Mas é assim que se revelam as grandes mulheres.
E quando chegarmos aos 60 anos, as senhoras mães das meninas da patinagem que te olharam hoje de lado, vão estar decrépitas, a queixarem-se das dores de cada vez que têm de subir meia dúzia de degraus. Mas tu não, irás a saltitar ao lado da tua bonita filha, já mulher feita, de sorriso na cara e dando graças pelo respeito, amor e cuidados que prestaste ao teu corpo e mente durante toda a vida.
É assim. Aqui se fazem , aqui se pagam. eh, eh, eh
Ana, está combinado? Daqui a 20-30 anos ainda andaremos por aí fresquinhas que nem duas alfaces, a correr pelas ruas e a abanar o esqueleto.
Beijinhos e um bom dia para ti.
E acredita, que não estás sozinha.
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Bom dia minha amiga Ana, muito obrigado pela msg, chamei a minha filha Bruninha e mandei ela ler e pediu que lhe agradecesse. Amiga realmente eu fiquei fascinado no sábado passado pq nunca tinha visto antes 600 crianças reunidas em prol do atletismo, Ana vc precisava ver a garra das gurizadas, fiquei impressionado pq as mães levaram seus filhos lá tinha crianças especiais, crianças com síndrome de down e crianças caldeirantes.foi um maior barato.
Ana, muito legal a sua cronica que vc relatou do seu treino dos 40 minutos parabéns, sensacional, amiga eu nem precisava dizer aqui né a nossa amia Lênia acima já disse tudo...risos...
Desejo a vc uma ótima semana e com bons treinos.
Bjs
www.jmaratona.blogspot.com
JORGE
Olá Ana,
Ainda bem que vais treinando. Não te preocupes se treinas só duas ou três vezes por semana, se estás com mais 1 ou 2kg (por vezes depende do nosso organismo ou até da altura da época do ano).
O que interessa é encararmos o desporto sem stresses do tipo, não bebo isto porque...não como este bolo ou estas batatas fritas porque...Come o que o teu "eu interior" te pedir, diverte-te! Treina também num ritmo descontraído, em que te saiba bem correr e não te esgote fisicamente. Mas porque te estou a dizer isto? Eu se aumento 2 kilos ninguém já me pode aturar e fico logo a pensar que vou fazer mais 1 min. aos 10 kms, me vão passar uns 10 atletas, etc. etc.
Pois é, eu estive quase a desistir de correr e por pouco que isso não aconteceu. Mas hoje enchi-me de força de vontade e já corri de manhã. Custou-me imenso a coordenar a respiração, o ritmo... e neste momento estou com dôres nos tornozelos e nas coxas. Não treino desde o dia 7 de Janeiro pois apanhei gripe. A tosse ainda por cá anda mas como quero ir ao GP de Queluz no próximo Domingo obriguei-me a ir treinar um pouco.
Como conclusão até achei que esta pausa me fez bem, foram umas fériazitas daquelas que gostas de fazer não é Ana?
Tudo bem para ti
Beijinhos
Fernando Sousa
Olá!!!!!Obrigada pela visita!! É verdade que tenho andado muito parada, mas isso deve-se a uma excelente fase a minha vida que agora começa, uma "corrida" gigante...pois é, estou grávida!!! Mas não podendo correr vou fazer de motorista aos meus pais e ao marido(ele só de vez em quando, hihihi).Vamos estar na de Sintra e de Cascais, obviamente nas minis. Se me virem faz favor de me cumprimentar, vou adorar conhecer as pessoas que visito!!! Uma grande beijoca e continuação de bons treinos!!!!!! Rosa Alexandra
Olá, Ana
Fez-me lembrar a "Calçada de Carriche do Gedeão :
Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve lhe o sangue
de afogueada;
saltam lhe os peitos
na caminhada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Passam magalas,
rapaziada,
palpam lhe as coxas,
não dá por nada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu a deitada;
serviu se dela,
não deu por nada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá lhe a mamada;
veste se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada;
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueija
pela calçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Fernando Andrade
esses 40m já estão. fazem parte de si porque já os conquistou. seguem-se os próximos.
força nisso! até breve
um bjinho
ab
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