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segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Domingo, 24 de Setembro de 2006
Faltam apenas 21 dias para a Maratona do Porto

"Tomou um banho com a água bem quente e perfumada a acariciar-lhe o corpo. Limpou-se à toalha mais macia que tinha, hidratou a pele com creme suave que a deixava macia como a de um bebé. Perfumou-se no pescoço, pulsos, interior dos cotovelos, por trás dos joelhos e entre os seios. Uma gota do néctar desceu-lhe pelo ventre.

Vestiu-se bem. Uma lingerie sexy mas confortável, e roupa prática mas sensual. Preta. Queria sentir-se bem. Até se maquilhou. Lápis e rímel nos olhos, uma cor nas pálpebras e nos lábios e penteou-se de forma simples. Cabelo solto, comprido a moldar-lhe o rosto, por trás das orelhas onde os brincos eram simples mas esplendorosos.

Estava pronta. Meteu-se no carro e acelerou ao som da canção. As palavras eram para ela. As palavras eram dela. A canção era dela. Aumentou o volume. Pisou o acelerador quase a fundo. As costas encostaram-se ao banco. Gostou da sensação. A paisagem voava ao seu lado e os outros viram-na avançar parados eles.
O asfalto à sua frente esperava-a, chamava-a. A estrada era dela e era ela. Aumentou mais o volume e simultaneamente carregou mais no acelerador. Só ouvia a canção. Lentamente, em contraste com a velocidade com que tudo o que a rodeava decorria, levou a mão direita ao fecho do cinto de segurança e em plena auto estrada, soltou-o.
Não sabe quanto tempo depois, acordou no hospital. Uns tubos no nariz e nas veias dos braços. A boca seca e o corpo praticamente dormente. O branco envolvia-a. Paredes, lençóis e a bata daquele homem que falava com uma enfermeira que em total incompreensão recalcitrava apontando para ela ali deitada imóvel. Uma náusea invadia-a. Estava viva…"

Alguém sabe o que sente um falhado suicida que até no acto mais cobarde falha, pois nem na fuga à vida é capaz de levar a missão por diante? O barco a um porto qualquer, já que o bom porto parece estar reservado apenas para alguns? Um porto qualquer serviria, mas nem na morte ele é bem sucedido…



Hoje, fui fazer mais uma sessão longa. Queria correr 3 horas. E o treino teve efectivamente a duração de 3 horas. Mas infelizmente não de corrida contínua, pois a partir talvez dos 40 min, comecei a sentir-me cansada. E do cansada depressa passei ao exausta, e já só ouvia a minha respiração ofegante, os pés a arrastar no solo, e na minha cabeça só me martelava a voz dos demónios que nos incapacitam: não vais ser capaz… a sentir-te assim como serás capas de correr continuamente por mais de 4 horas? Para quê tudo isto? Provar o quê? A quem? Vencer-me? Superar-me? Mas para provar o quê?! Que preciso eu de mostrar? A mim mesma, aos outros? Que gozo isto tem?

E se pudéssemos dizer que no fim me senti muito bem por ter conseguido fazer um treino de 3 horas, é mentira! E se quando pisar a meta da Maratona do Porto vos disser que me sinto muito bem por a acabar com quase 5 horas, será mentira! Já não sei se isto vale a pena… O que vale a pena nesta vida? Porque corremos? Porque vivemos?

O treino teve vários abastecimentos, boa companhia e o local é agradabilíssimo. Terra batida molhada pela chuva da noite, e agora os raios de sol, fazendo emanar aromas de todas as plantas e arbustos, e da própria terra mãe.

Contabilizando, foi assim:

2h20m – corrida contínua
5 min – caminhar
5 min - corrida contínua
5 min – caminhar
10 min - corrida contínua
5 min – caminhar
10 min - corrida contínua

Tempo total do treino: 3 horas, conforme previra, mas que raio de treino foi este? Miserável!

Como me senti depois e agora: pernas sem força, doridas e trémulas. Psiquicamente: em estado quase deplorável, com a teimosia no entanto de que hei-de fazer a Maratona do Porto seja lá em que estado for, mas também com a mesma firmeza: sem possibilidade e motivação para me preparar e fortalecer quer física quer mentalmente, não será tão depressa que me meto noutra!

5 comentários:

Lénia disse...

Força Ana!
Tens é de te mentalizar que se não acabares a corrida no Porto em 4 horas, acabas em mais...e nem que seja a marchar durante alguns minutos,... vais chegar ao fim. Uma coisa tem de ser dita. Não é qualquer pessoa que faz uma maratona. Mas tu és uma das que faz e que consegue e bem. Agora, o que é necessário, é moral em cima! Faltam cerca de 20 dias, ainda tens algum tempo...
Olha, que me tens servido de inspiração, para acabar uma prova no próximo domingo! São 16 kms a subir e a descer, qdo os treinos têm sido todos em terreno plano.Mas, depois penso em ti e lá fico mais moralizada. Não sou a única a testar as suas capacidades.
Muita força, é o que te desejo!
Arrebita!

Anónimo disse...

Força Ana

Estamos contigo.

Bons treinos!

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

"...desesperadamente necessitados da mão de um estranho..."
James Douglas Morrison

e assim estou eu, e estão muitos dos bem intencionados autores de blogs...

Obrigada Lénia! As tuas palavras foram importantes. Foste hoje o estranho que me deu a mão.

Estranho este mundo não é?
Obrigada, a sério.

Ao Peter (Pan?) a Fada Sininho também agradece a Força!

Anónimo disse...

Olá resistente!
subscrevo a 200% a Lénia!
Arrepiei-me com o texto "da estrada". será mesmo que é cobardia? ou apenas desespero, a que uma voz (mesmo de um estranho) pode interromper?
Porque vivemos? O que achas de "para sermos felizes e fazer os outros felizes"???
Não penses na maratona quando corres. Fica leve a pisar o solo e pensa em coisas lindas da tua vida... cabelos encaracolados e sorrisos, no amor incondicional pela vida, sei lá! mas leve, leve, sem obrigaçoes...
palavras de tartaruga, "elefante" quando corre, rs!
Leveza e alegria!

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Tartaruga!

Ainda bem que voltaste!

Pensei que alguma coisa que te tivesse escrito te tivesse feito "desaparecer". Ainda bem que voltaste!

E cá estamos nós... a agradecer encarecidamente e com um nó na garganta palavras de estranhos. O ser humano é um bicho muito estranho, não é? Porque não vivemos nós de forma simples como os animais? Isto é um desabafo. Sei muito bem que a inteligência e o raciocínio são um bem. Temos é de os saber usar.

Claro, vocês têm toda a razão. A Maratona será apenas um belo passeio pelo Porto e Gaia, em passo de corrida (corrida de elefante para mim, só espero que as pontes aguentem).

A estrada...pois. Ai de mim, se não fossem os cabelos encaracolados e os sorrisos...

"Ser Feliz e fazer os outros Felizes..." Obrigada Tartaruga.