Recorda-se de algumas coisas. Recorda-se do seu braço moreno, forte e esguio, esticado no ar sobre a mesa irrepreensivelmente posta com uma toalha branca de linho bordada, e alcançar o copo de vinho tinto, que lentamente levantou no ar com os seus dedos finos e levou à boca. Recorda-se de ter pensado ao visualizar a sua própria mão, que deveria ter cortado as unhas e também do sabor intenso do líquido a descer-lhe a garganta, divinamente fresco em comparação com a temperatura que se fazia sentir na sala cheia. Recorda-se de discutir a importância da temperatura a que um vinho é degustado no expoente das suas qualidades. De apreciar a temperatura "certa", aquela à qual é recomendado a degustação e apreciação do mesmo. Recorda-se de rir, de falar entusiasticamente e de repetir o gesto demasiadas vezes.
Depois, recorda-se ainda dos rostos e dos sorrisos. Das mulheres jovens, bonitas e interessantes que acabara de conhecer, da sua companheira, bonita e de uma frescura notável apesar dos seus 40 anos, e recorda-se que o facto de não ter cortado as unhas deixara de ter importância. Recorda-se das gargalhadas, dos olhares lascivos, de lhe servirem mais vinho e por fim, de ter feito amor, assim, sem querer.
Hoje, acorda tarde e recorda-lhe o sabor amargo na boca seca, a noite que passou. Recorda-se de quase tudo, arrepende-se do sexo que teve e sabe que consequentemente o telemóvel lhe vai tocar daqui a pouco sendo isso apenas o início ou a continuação do que ele não quer. Recorda-se do rosto dela em êxtase quando debaixo dele se contorcia de prazer. Recorda-se de quase tudo e tudo se resolverá um dia, pensa. A única coisa que não recorda e que o atormenta verdadeiramente é se usou ou não usou preservativo...
3 comentários:
Pois é... é assim que elas acontecem! ;)
Gostei muito do texto.
Beijinhos**
Uau, que texto diferente e ousado. Amei.
O texto está muito bonito :) Gostei :)
Beijinhos e boa noite :D
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