Eu não quero fazer análises nem relatos artísticos ou estatísticos. E muito menos falar dos vencedores e das marcas obtidas com eventual significado nacional. Sim, porque os Trilhos do Monsanto é uma prova integrada no calendário do Circuito Nacional de Montanha 2011 e a sua organização a cargo da Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica e das Terras de Aventura, teve o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e da Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada. Por isso teria tudo para ser anunciada e divulgada e depois bem noticiada com profissional reportagem nos meios de comunicação social de grande prestígio. Mas isso não aconteceu.
E eu sou só uma mulher que corre. E só quero dizer que adorei a corrida. Não sendo novata em provas de Montanha e nascida e criada e trabalhadora durante mais de 20 anos no coração de Lisboa, espantosamente nunca tinha corrido os Trilhos, mesmo já conhecendo o Monsanto, pulmão verde da minha cidade. E nos Trilhos descobri uma Montanha dentro da minha cidade: Lisboa. Não muito alta mas grande em verde e suas sombras frescas. Grande em terra e odores. Simplesmente grande e magnífica.
Foi-me fácil a inscrição com o pagamento, via mail, foi-me no entanto muito difícil e demorado o levantamento do dorsal mediante o crescente aparecimento de "problemas" com inscrições e a falta de flexibilidade e expediente da organização para os resolver. No meu caso, tinha levado comigo o comprovativo de pagamento, inclusive o comprovativo da própria organização acusando o recebimento e confirmando as inscrições (minha e do António Pereira), ambos constávamos na lista de inscritos afixada no secretariado da prova, ele com o dorsal 135 e eu com o 134. Com ele estava tudo bem, mas o meu dorsal (134 de acordo com lista da organização) tinha simplesmente desaparecido... Aceita-se um engano, uma entrega indevida, uma rabanada de vento que o levasse para o céu, e tudo continuaria a estar bem se a organização não se mostrasse impotente para resolver o problema (?) quando tudo indicava e provava que a minha inscrição estava feita e paga. O problema (?) residia no facto de "não haver mais dorsais" e a senhora parecia não saber sair desta situação difícil (?)... Depois, fala com A, com B, com C, correu o alfabeto todo e por fim depois de muitos minutos decorridos, diz-me que eu tenho sorte e lá vem com um dorsal, de seu número 509, onde escreve à mão o meu nome e apelido. Sorte? Eu sorri, aceitei o papel chamado dorsal e repeti para ela "Tive muita sorte! Olhe a sorte que eu tive! Muito obrigada!" Saí dali o mais depressa que pude, desculpando o amadorismo e nervosismo enquanto outros atletas lá ficaram a tentar resolver problemas idênticos. Desejei-lhes "boa sorte" e saí para a rua. Ainda a tempo para um café, equipar-me, aquecer e apresentar-me na zona de controlo.
Portal insuflável para a partida. Os Caminheiros tinham partido 15 minutos antes. Partida dada.
Algum asfalto e depois terra e muito e muito verde. Por tudo aquilo vale a pena! A vegetação e seu cheiro, os ramos a tocarem-nos nas pernas e nos braços, as pedras e as raízes das árvores a romperem do solo. As dores no pé, o levantar cedo, os treinos que fiz e todas as batalhas vencidas para poder correr. Tudo isso estava agora compensado ali, durante quase hora e meia no meu caso. E que importa isso? Tinha o meu pai de novo à minha espera, inspirava vida em cada inalação e em cada passo dado. Foram assim os meus Trilhos do Monsanto.
O percurso muito bem marcado, de dificuldade ligeira a moderada, quer em desnível quer em perícia e técnica exigida, suficientes abastecimentos de água, simpatia dos voluntários, excelente cobertura fotográfica - AMMA, saco no final com água, bolachas e chocolates e t-shirt de algodão. Excelente controlo de trânsito também facilitado pelo pouco asfalto que pisamos.
Classificações disponibilizadas com rapidez. Prémios monetários para os primeiros classificados e conste na história que aqui acaba que o dorsal 509 saiu de lá muito satisfeito. Já do 134 nada sabemos e a sua história continua por contar.
Classificação geral:
No sector masculino:
1º Rui Muga, do Mogadourense, com 45:06
2º Pedro Rodrigues, do Mogadourense, com 45:24
3º José Sousa, do ARC Águias de Alvelos, com 46:15
No sector feminino:
1ª Fernanda Miranda, do ARC Águias de Alvelos, com 54:30
2ª Amélia Vieira, do GDC Castelo de Paiva, com 58:01
3ª Verónica Scutaru, do Garmin Olímpico de Oeiras, com 58:24
Algumas imagens
Poucos metros depois da Partida:
A poucos metros da Meta:
E uma boa sequência na Meta, apanhada pelo José Gaspar, da AMMA:
Durante a prova, hei-de recordar sempre os Trilhos do Monsanto, uns bocados correndo e outros...andando!
Fotos da AMMA - Atletismo Magazine Modalidades Amadoras, estas duas especificamente do trabalho fotográfico de seu colaborador Manuel António
8 comentários:
Ana,
O teu texto é sensacional. Acontece cada coisa nos bastidores, que só quem corre pode contar.
As fotos estão d+!!!
Bjão... Ingrid
oi, ana!!!
prova linda!!!
gosto muito de provas assim!
me sinto mais viva quando participo desse tipo de desafio, em meio a todos esses deliciosos aromas e cores...
a lamentar apenas essa sorte antes da largada;)
ainda bem que sua sorte mudou durante a prova, e você curtiu muito o desafio!
parabéns!
as fotos ficaram lindas!
e naquelas da chegada, vê-se bem seu sorriso de satisfação depois de conquistar um desafio tão duro e belo!
parabéns!
bjs
Olá Ana;
Com que então, foi cá uma sorte teres feito a prova de Monsanto. Ele há cada um!!!?!
Só teriam era de pedir desculpas pelo tempo e o stress que passas-te...
Mas acima de tudo participas-te e muito bem!!..
Um abraço
dos Xavier's
Ana,
Realizas-te um excelente Trail, ontem no treino lunar só se queixavam com dores!!
Já por três vezes que tenho a intenção de “provar” os trilhos de Monsanto e fico nos bastidores, para próxima só não vou, se não poder!!!
Grande bjinho
VV
Olá, Ana.
Mal te vi em Monsanto, mas agora fiquei mesmo na dúvida se eras tu ou o Dorsal 134. O que interessa é que correste, seja com sorte ou sem sorte, estiveste lá e bem acompanhada pelo teu Pai para mais uma prova.
Até Domingo , no Avante!
Beijinhos.
Filipe Fidalgo
É sempre com espectativa que venho "saborear" o teu Blog. Espectativa porque sei que me vou deliciar com as tuas histórias e a forma fresca, genuína, que não fica a dever nada á eloquência, que essa está presente em cada frase lançada. também senti essa "estranheza" de estar em lisboa, e em simultaneo numa "floresta densa", um coração selvagem que eu desconhecia mesmo aqui, em plena cidade. Só desejo que assim se mantenha, que não seja desvirtuada esta mata espectacular!... Beijinhos
Sandra
Fui obrigada a me ausentar alguns dias de seu blog, pois não tenho conexão em casa, somente no trbalho, e quando tenho muitos pcientes não posso ficar no computador (eu apanharia deles...rs..). É com muita satisfação que retorno hoje e encontro esse belíssimo texto. Desculpa não ter nem ficado triste pelos seus transtornos, mas me perdi em divagações com as fotos belíssimas e o texto muito bem escrito... Provas com problema de organização vão sempre existir, mas o que revolta é a má-vontade dessa organização de resolver os problemas que aparecem...
Amei Aninha... essas provas são sensacionais :)
Amei as fotos!!
bjs
Jacke
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