- Gosto do que tu escreves e como escreves, mas… é muito …à mulher… - disse-lhe um amigo há uns tempos atrás. Ela quis entender aquilo como um elogio e retorquiu que se calhar era precisa e simplesmente por ..ser ela mulher, pois ao escrever não pretende mais que ser ela.E se assim não fosse, hoje, após a Corrida das Lezírias, provavelmente no ver dele, ela não diria que correu nas asas do vento, sob um sol morno que a acariciou junto com a brisa e o Tejo no olhar, sobre a terra e o pó e a erva, no dorso de um cavalo selvagem, tão livre quanto ela, cavalgando a galope, tão veloz quanto o vento, crina e cauda ondulando como o seu próprio cabelo, músculos torneados sob o pêlo suado do animal, braços dela nus em torno dele, coração forte como o dela, batendo juntos, num corpo só, ela e animal, sonhando todos os sonhos dentro de um sonho, onde o limite é o céu.
Assim é na Corrida das Lezírias. Prova organizada pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira com o apoio técnico da Xistarca, com distância de 15.000 metros, certificada pela CNEC, onde somos levados depois de uma breve passagem pela cidade, a atravessar o Tejo e a percorrer parte das lezírias ribatejanas, em caminhos de terra batida e vegetação, parte deles ao longo do Tejo, retornando à cidade, ao mesmo local de onde se partiu, e onde se encontra instalada a meta. Este ano com perto de 1400 atletas chegados à meta.
Com partida junto ao Pavilhão do Cevadeiro, dada em ambiente bem animado, com música e apelativo ao movimento, dada a horas, a Corrida das Lezírias proporciona também a Corridinha Infantil, para escalões jovens, e que decorre após partida da prova principal, assim como uma Caminhada aberta a todos.
Como a Xistarca já nos habituou, inscrições são feitas de forma expedida assim como a entrega dos dorsais. A prova principal tem controlo por chip electrónico, placas com marcação dos quilómetros e abastecimentos de água de 5 em 5 Km aproximadamente.
Percurso bem sinalizado e com trânsito perfeitamente condicionado, proporcionando a segurança necessária aos atletas. A passagem pelas lezírias com os campos, as quintas, os cavalos, o rio, a ponte e a cidade, é nota positiva que torna esta prova no que ela é: inigualável.
Enriquece e caracteriza também esta prova a presença do Campino ribatejano, vestido a rigor montados sobre seus cavalos, em vários pontos da prova.
Uma imagem emblemática da região, e na minha opinião a manter. O regresso à meta leva-nos de novo à cidade, passando a Estação dos Caminhos-de-ferro e a Praça de Touros, para nos encaminhar para o Parque Urbano de Vila Franca de Xira, onde a meta nos aguarda conforme merecemos, com espaço para alongamentos, repouso e devolução de chip.
Saco final com medalha com logótipo da prova, t-shirt, bolo, água e bebida isotónica. Mais uma vez está a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e todos os envolvidos, de parabéns!
Ana Pereira
Cobertura fotográfica com milhares de fotos captadas pela equipa da
AMMA - Atletismo Magazine Modalidades AmadorasResultados no
site da XistarcaAgora, eu e os cavalos e a Corrida das Lezírias:Como sabem os atentos, esta semana não posso dizer que não treinei. Treinei e muito! Mas como muitos poucos poderiam saber, chego a domingo, cansada! Mas verdadeiramente cansada!
Não que os treinos tenham sido muitos ou exigentes, mas a falta de descanso proporcional, provocou precisamente este cansaço. Após os 10 minutos de aquecimento antes da partida, sinto-me já cansada.
Parto com cautela e assim me deixo ir com o meu habitual companheiro de corrida nesta fase, Fernando Oliveira. Sem grandes aspirações, quereria fazer o melhor que conseguisse hoje, mas temo não ser muito melhor que Tomar ou mesmo se será melhor (prova com a mesma distância ).
Há um arrastar pelo asfalto que alivio com o olhar no rio e nas barcas nele adormecidas. Está calor mas esse não me aflige. A entrada nas Lezírias é sempre uma melhoria dos sintomas. Esquece-se o cansaço e a integração na paisagem é completa. Os cavalos que correm ao nosso lado levam-me dali para fora. Já não sou eu que corro, são eles. São os cavalos o misticismo desta prova que a mim me faz voar e sair dele, do meu corpo que deixo em terra, e me faz voar o espírito, abandonando as dores e os incómodos existentes, como a carne ferida entre as coxas, derivadas da fricção acompanhada de suor e de água, que resultaram em sangue e ferida em chaga ardente. Mas tudo isso é pormenor.
Ao km 11, o meu companheiro desta corrida, está ligeiramente pior que eu (talvez lhe faltassem os cavalos a ele) e eu, continuo a correr, arrisco e vou para a frente.
Cansada mas uma energia anímica difícil de compreender, e avanço pelas lezírias.
Passo bastantes atletas nesses últimos 4 km. Chego à meta e desligo o meu cronómetro que marca
1h30m01s (bem melhor que Tomar!).
O corpo volta e custa-me a andar. Mas é só isso. Depois de uns bons alongamentos, muito tempo para descomprimir, e um banho quente, sinto-me bem… apesar de mal conseguir andar…
Fiquei em 1209º lugar, entre 1384 chegados à meta. E por hoje é tudo. Não há provas à vista… só já para Abril. E até lá… logo se verá (foi só para rimar)
Antes da prova:

Já a partida dada e aqui vamos nós na cauda do pelotão:

Já a meio das Lezírias e já não posso dizer que vou muito bem:

Ao lado do Tejo:


E com a meta à vista:

O depois... a recuperar e a constatar os "estragos":

Já depois do banho: