Logo de manhã tinha arranjado a mochila com a tralha da Natação e levara-a para o emprego, pois tencionava ir fazer piscina ao fim da tarde.
Estava dorida em termos musculares, mas apenas fruto do trabalho muscular a que se submeteu esta semana (Corrida e Natação) depois de muitos dias de total inactividade.
Mas o Corpo pedia-lhe descanso, suplicava pelo sofá e argumentava que merecia um dia de regresso ao nada fazer, enquanto se entupiria de comida, até fingir esquecer as minúsculas e insignificantes contrariedades com que se debate no dia a dia, saciando-se e confortando-se enquanto se enterraria no sofá e simultâneamente num pântano de onde não é fácil sair. Já a Alma, sabia que se o Corpo ganhasse, aliado à parte negra da própria Alma que também lhe sussurrava para não ir, haveria um novo trilho traçado, um passo dado em direcção ao Inferno. Por outro lado, se a parte lúcida e clara da própria Alma ganhasse e ela fosse à piscina, o caminho continuaria iluminado, ganhando até uma nova tonalidade de azul onde ela se sente tão bem.
Reuniu forças como se de um exército se tratasse e com firmeza e surpresa - não fosse ele reagir e defender-se - e atirou o Corpo à água, juntamente com a parte negra da Alma.
Nadou vigorosamente durante exactos 60 minutos, e saiu da água renascida. De Corpo e Alma, unidos num só, coabitando em plena harmonia, felicidade e serenidade, afastado agora que estava o negrume da Alma, certamente afogado jaz morto no fundo da piscina e está por isso desaparecido por agora.
Até amanhã querido diário
4 comentários:
Texto expressivo, significativo e belíssimo.
Oi Maria
O Corpo puxa para um lado, a Alma puxa para o outro... o melhor será afogar essas ambiguidades na agua da piscina ou, digo eu, noutros liquidos.
Bjs.
SE
O "Auto do Corpo... e da Alma"
Vendo que o Corpo lhe pedia a asneira
De se enfartar à maneira
E descansar,
Recorre à Alma
E com calma
Sacode a tola,
Pega na sacola
E vai p’ra piscina nadar.
“Oh Alma querida,
Faz-me sempre assim
Olha-me p’la vida
E por mim!
Se é forte a tentação
Dá-me um empurrão
E o meu Corpo domina,
Que terei sempre à mão
Tudo o que há precisão
Na piscina!”
eheh.
Grande beijnho, Ana
Lindíssimo, lembrei-me de um sermão antigo, onde o pastor explicava o significado místico do batismo: entra na água o velho homem, sai da água o novo homem, purificado de seus pecados. Repleto de significância, abundante em VIDA.
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