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domingo, 4 de abril de 2010

23º Grande Prémio de Páscoa - Constância

Correr em Constância

O 23º Grande Prémio de Páscoa - 3 de Abril de 2010
Adicionar imagemNão tenho dados, números ou nomes de atletas vencedores. Nem os procuro saber. Bastam-me os nomes dos meus amigos. Por favor permitam-me ser egoísta e egocêntrica por uma vez (ou mais uma vez?), e apenas falar de mim. EU!

Correr em Constância passou a ser para mim, correr com Ana Paula Pinto. Correr em Constância é correr pela Margaret, menina bonita que não conheci e que viveu e morreu com Cancro numa idade em que ninguém devia morrer (24 anos) - Agosto 2007. Deixou a mãe, o irmão, e restantes familiares e amigos. Era amiga da minha filha, logo, minha amiga. Deixou a vida, deixou o mundo.

Despedi-me dela na igreja de Constância, com um beijo no seu rosto frio, ao lado de sua mãe, no alto do cemitério, de onde se avista o Zêzere a morrer no Tejo, para afinal não desaparecer mas antes, engrandecer esse outro rio, o Tejo, majestoso como o conheço tão bem, em Lisboa, onde por sua vez desaparece para engrandecer o Mar.

Assim Margaret não desapareceu. Vive no coração dos que a amaram, marcou mundo e meio segundo os que a conheceram. Eu não. Não tive esse privilégio. Leio-a apenas pela boca da mãe e gosto dela. Gosto. Mesmo sem a ter conhecido. E enquanto a Paula quiser, e eu puder, estarei em Constância a correr pela Margaret.

E não quero saber de tempos, marcas e médias. Nem sequer de organizações e entidades e dorsais, inscrições, segurança, etc e tal. Quero só correr. Ao lado da Paula. Correr com ela. Por uma razão dela. É-me suficiente.

Não me importa as contrariedades que venço para ir correr, nem a culpa que sinto por ser eu, apenas eu...

Corro, e talvez por tudo isto e muito mais, chego à meta e molhada da cabeça aos pés, quando a água já escorre pelo cabelo e me pinga pelo pescoço abaixo, sinto vontade de chorar e de não parar, de ir "assim", a correr, caminho fora, até casa, mesmo que lá não chegue, ou propositadamente eu não queira lá chegar. Apenas correr. Ir e não chegar. Foi o que senti e dei a mão à Paula e ao Adelino, assim como ao António, que cortam a meta comigo e eu com eles. Cada um com um mundo dentro de si. A passar ou não pelas nossas mãos dadas.

...... / .....

Praticamente uma hora antes, na molhada da partida, pega-me nas mãos e diz-me que me quer apenas dizer que gosta do que escrevo, que eu continue. Conheço-o de vista, não lhe sei o nome nem isso importa. Já não sei o que importa. Apenas o momento. Cada momento da nossa vida é o que importa. Gostei daquele.

Cada palavra que dou à luz, é o momento que vivo, que me alegra e apraz. Por isso continuo.

Depois da prova, depois do banho, enquanto almoçamos, olho-os através de uma vitrina, distante. Amigos e conhecidos. Familiares e a minha própria vida. A desfilar à minha frente. Risos, gargalhadas, conversas, afagos, novos e velhos conhecimentos, amizades a nascer, a solidificar, a desaparecer também... Distante, olho-os e fujo dali. Que me desculpem todos... que o que me apetece é partir...

............. / ................

Escreveu e de imediato apagou. A borracha espalmada contra o papel, friccionada violentamente para um lado e para o outro sobre as palavras acabadas de escrever, deixando aparas de borracha sobre o próprio papel e a mesa, que ela sacode com a mão para o chão, a deixar o papel arranhado, irregular, áspero, onde antes estavam as palavras inicialmente escritas sobre um papel liso e macio, suave, e onde ela coloca de novo o bico do lápis e recomeça a escrever exactamente as mesmas palavras. Indiferente ao mundo... ela...é ela. Egocêntrica e egoísta. E escreve, com a gana de quem ralha ou grita. Em silêncio, ela pega no lápis e escreve.


Imagens:

Poucos metros depois da partida, (partimos bem do fim como se vê):
Já no retorno:
E a correr para a Meta, como se a meta fosse a "meta" para estes seres molhados, de camisola agarrada ao peito onde dois olhos vivos de menina bonita se expressam e emanam luz:Corremos 10 km, em 59:36, média de 5:55 o Km

Mais fotos no site da AMMA - Atletismo Magazine Modalidades Amadoras, de autoria de meu pai, que participou na Caminhada, e à chuva fez a sua "reportagem":
Mais fotos da Isabel Almeida que caminhando fez também a sua "reportagem" fotográfica", enquanto acompanha o seu companheiro de vida, por essas corridas fora, António Almeida:
Mais fotos de Joaquim Adelino, o Pára que não pára, que correndo, fez a sua "reportagem" fotográfica" que se pode ver aqui no seu Album Picasa:Classificações - ver link

14 comentários:

Carlos Alexandre Lopes disse...

parabéns

joaquim adelino disse...

Fica sempre um misto de saudade e o desejo de regressar rapidamente.
Parabéns pelas bonitas palavras que aqui deixou, elas vão certamente encher a alma e o coração de uma mãe que sofre. É uma luta tremenda, mas como se viu no Domingo em Constância ela não está só, ali ou em qualquer lugar terá sempre o apoio e o carinho dos amigos.
Um beijinho e dizer-lhe que gostei muito de estar consigo e familiares próximos.

Vitor disse...

olá Ana,
QUE belo post que partilha, muitos parabéns.
Correr pela homenagem a "estrela azul" menina Margaret para que nunca seja esquecida.
Boa semana
Bjs grande
Vitor Veloso

MPaiva disse...

Parabéns pela prova e pelo bonito gesto de solidariedade.

bjs
MPaiva

amantes da corrida disse...

Olá Ana,

Parabéns pelo "post" e pelo carácter altruíta que demonstrou ,onde o principal foi correr prestando homenagem à Estrela Azul, o que faz desta corrida especial, onde participar é que conta.

Um abraço e boa semana!

horticasa disse...

Olá maria!
Correu bem apesar da chuva?
Também fui correr sozinha para o estadio universitário fiz um bom treino, pena de Constancia mas hei-de ir para o ano.
beijos eugenia

Fernando Andrade. disse...

Olá, Ana
Breve o encontro em Constância, mas feliz por termos partilhado de um mesmo espírito (se bem que, desta vez, me tenha "adiantado" um bocadinho).
A emoção que o seu texto transmite, contagia-nos a todos e "certifica" que foi uma grande "jornada" a que se viveu no sábado.
Grande beijinho.
FA

ana paula pinto disse...

Pois, Ana

Lendo as palavras de agora e as de há quase três anos atrás, é impossível não me emocionar.
Deixei passar algumas horas até vir aqui fazer este registo. Tinha de ser. Quero continuar com risos e "graçolas", pois aquilo que se sente, guarda-se (quando se consegue) e disfarça-se para que os outros não percebam.

Lá estaremos no próximo ano, se Deus quiser. Terão, decorrido nessa data, 3 amos sobre a sua morte.

Até sempre

Kim disse...

Parabéns pela post e pelo gesto de solidariedade.
Mais uma vez lhe confirmo que gostaria de a ver participar na mais bonita meia maratona de Portugal (Douro).

Bjs

Jorge Cerqueira disse...

Olá Ana já faz tempo que não venho aqui, pois o tempo está curto demais, pois como os treinos para ultras são bem pesados, e também como tem muitos blogs para visitar, daí já viu né...Espero que vc teve uma boa páscoa...Muito legal esta corrida do Grande Prémio da Páscoa que vcs participaram, foi uma bela homenagem que vcs fizeram para a Margaret, com certeza aonde ela estiver agora ela está orgulhosa de todos vcs...Parabéns...
Desejo uma boa semana e bons treinos.

Um abraço,

Jorge Cerqueira
www.jmaratona.com

mariolima52 disse...

Olá Ana

Correr por uma causa, mesmo que nessa causa esteja uma lembrança angustiante de uma mãe que perdeu a filha.

É contra-natura. Nunca um filho deveria ir antes dos pais. A dor do parto é grande, maior é a morte de quem no corpo foi gerado.

Não estive lá quando por ela correram pela 1ª vez. Talvez o meu sorriso fosse enorme enquanto o vosso era de tristeza, senti isso quando a vi nos pavilhões. Só quem viu e sentiu o rosto frio pode dar alma é um texto como o seu. Tudo o resto é um vazio onde a alegria não entra, e esta singela homenagem à «estrela azul» é um reconfortante conforto à mãe saber que os amigos presentes não a esqueceram.

Quero aqui também dar um abraço ao seu pai. Quando aconteceu aquela situação em Vila Franca de Xira procurei ver quem o tinha deixado assim, pois vi que algo o tinha abalado, não consegui saber quem era, mas ainda bem, pois o sujeito não passaria dali.

Tudo de bom

luis mota disse...

Olá Ana!
Venho por este meio agradecer todo o apoio e simpatia manifestado pessoalmente e nos comentários deixados no Tomaracorrida e no Dorsal 3739.
Uma boa semana, Luís Mota

Unknown disse...

Prazer em conhecê-la! Pssei aqui nos eu blog, muito legal!!!

Como surgiu essa ideia "sem frio nem casa"(rsrsrsr)???

Fiquei curiosa... abraços, bons treinos!! Pri

www.corridasemaratonas.blogspot.com

Rita disse...

Parabéns pelas palavras, mas acima de tudo é de salientar a razão que a moveu a correr.