Por circunstâncias várias, das quais se destaca a vontade, que pode muito bem ser já por si consequência de circunstâncias, elas têm feito aquilo com frequência. Tal frequência que já se tornou rotina e de rotina depressa se transformou em ritual, tal é o prazer que sentem cada vez mais em fazê-lo juntas.
Cozinha arrumada ou não, têm optado por se deitar cedo (relativamente como quase tudo na vida), e ambas à mesma hora e na mesma cama. Sob os muitos cobertores e edredon, com aquecedor ligado e sobre várias almofadas fofas, cada uma delas se instala o melhor que pode. Corpos encostados para aumentar ou manter o calor, mantendo só de fora apenas as mãos para segurar cada qual o seu livro, as quais acabam sempre e invariavelmente por gelar ao ponto de se deixar de sentir as pontas dos dedos.
Lêem em silêncio, apenas interrompido quando uma delas se delicia de tal forma com uma passagem do seu livro que a quer partilhar com a outra, ou quando algo aflora aos seus pensamentos e se dá início a diálogos ricos e importantes. Ir juntas para a cama ler, não é mais que um pretexto para estarem juntas, muito mais que fisicamente. Amor que se reforça num momento do dia só delas.
Corpos unidos, aparentemente partilham apenas a cama, contrariamente ao que hipotéticas e práticas pedagogias ditam. Muito mais elas partilham nesse momento único do dia. Laços que deveriam ser cortados (diz-se), mas que propositadamente elas mantêm. " Porque um dia quando arranjares alguém...vai ser mais complicado..." dizem – como se as pessoas andassem por aí "avariadas" e ela estivesse na disposição de as consertar, leia-se "arranjar". A mãe não ouve. Um dia…Um dia… Hoje é o dia! O dia é hoje!
1 comentário:
O ritual vem da própria natureza, da selva, claro, quando tenho tempo disponível e também alguma paciência para assimilar tudo o que ela nos ensina eu navego e vejo tudo o que parece irracional, mas não é, e nós os humanos temos muito em comum nesse aspecto mas também temos muito a aprender e nunca mais nos convencemos disso.
Um abraço.
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