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quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Os Homens e as Máquinas, ou neste caso

A Mulher e a Máquina

Eles passam por mim e vejo-os através da vidraça do escritório. É quase meio-dia, está Sol em Lisboa, e correm em grupos numerosos ou de 2 ou 3 apenas, de camisola ensopada e pernas másculas e bem trabalhadas exibindo os músculos em cada passada vigorosa subindo ou descendo a calçada. Homens. Ainda não vi lá passar nenhuma mulher a treinar, já que a correr é frequente, tendo em conta o bulício em que a cidade vive e no qual eu participo. Têm sorte eles. A correr a esta hora.Não, a foto não está estragada nem ficou escura sequer. Está autêntica, é pura realidade em imagem digital. E é apenas o lugar e a hora em que termino o meu treino de hoje: 6:30Hrs da manhã e findo um treino de 46 minutos sensivelmente.

Seguindo o conselho de um companheiro de estrada (obrigada Serafim Lourenço), hoje tive de ir “pôr a máquina a funcionar”, e é se quero ir correr os 21097 m da Meia Maratona de Viana já no próximo domingo. E eu quero! Ai isso é que quero! Quero ver se me colo ao grupo das 2 horas e não os largo.

A “máquina” funcionou suficientemente bem no meio da escuridão. Luzes de presença, médios e máximos penetravam na noite e abriam caminho. As juntas estão bem oleadas e o peso da carroçaria não é demais para os pneus. A máquina funcionou, e bem iluminada enfrento a Meia com uma tranquilidade relativa.



Mas uma outra máquina já não funcionou assim tão bem.

Com a humidade da noite, se andava já a mostrar sinais de cansaço e velhice, hoje, o motor gripou por completo.

Chego aos 23 minutos e retorno.

A partir desse fatídico momento, nunca mais o meu querido e único cronómetro deu sinal de vida.

Sinais vitais perdidos. Morreu…

Não, não é da pilha, ele já andava com problemas de saúde antes. E hoje morreu.

Ele que me acompanhou nos últimos 12 anos, o que corresponde a praticamente todo o tempo de corrida e provas de forma mais regular e activa, hoje deixou de respirar.

Fiz com ele todos os treinos, todas as preparações especiais e vulgares e todas as provas e todas as maratonas.

Uma vida em conjunto que acaba hoje.

Sob o Sol escaldante, a chuva intensa, o granizo, e até a neve, ele esteve sempre comigo enquanto eu corria.

Na estrada, na praia, na serra, no pinhal. Ouvindo-me respirar e amparando o meu suor, misturando-se nele, entranhando-se-me na pele e fundindo-se em mim. Sentindo o que eu sentia, sofrendo e sorrindo comigo.

Um verdadeiro companheiro este. Já me era absolutamente impossível prescindir dele quer nos treinos quer nas provas. Ainda vou ver se o ressuscito mas temo que não seja possível, pois nesta vida há danos que são irreparáveis e irreversíveis.

É assim a vida. Páginas viradas, páginas em branco para preencher, perdas e ganhos, portas fechadas e outras portas à espera de ser abertas. Avanço para a próxima porta e aperto a chave na mão direita fechada e transpirada pelo medo da incerteza mas também pela coragem da descoberta.

4 comentários:

Anónimo disse...

Olá Ana

eu nunca deitaria esse relógio fora, a tal máquina que a acompanhou durante 12 anos, siga o meu conselho, e guarde-a com o carinho que demonstra nas suas fotos.
Que bom que é ouvir falar de treinos, e logo agora que tenho tanto para contar.
É muito bom correr, é muito mau não o fazer, só quando estamos parados, é que damos o vervadeiro valor, do valor que a corrida tem.
Espectacular, é a única palavra que encontro quando corro, da mesma forma que a aplico ao sentimento dos outros. Espectacular. Apenas isso.
Um beijinhho
Jorge Teixeira

Jose Paulo Neto disse...

Muitos parabens às 6:30 já estava com o treino feito, acho que não tenho assim tanta coragem.

Este ano com muita pena minha não vou participar na meia de viana, ano passado foi a minha estreia na distância, 1h30(penso que foi um bom resultado mas também ainda não fiz mais nenhuma).

Os maiores desejos para que mesma lhe corra bem.

Até lá, bons treinos.

TOTO disse...

Ola boa noite;
sim tambem digo foi um bom companheiro.
hoje tambem fiz a minha saida as 7h 15 que demerou 1h 39
boa courrida para domingo

((antoine))

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Pois esse verdadeiro companheiro é de facto demasiado valioso para me desfazer dele!

E ainda não perdi a esperança de o ver respirar de novo ao meu ritmo, marcando o tempo!

Mas como entretanto tenho um novo que me tinham oferecido pelo Natal, o qual já usei no treino de hoje (Um verdadeiro estranho colado ao meu pulso!), o velhinho vai ficar guardado a descansar por uns tempos.

José Neto: agradeço as palavras. Pena que aquela coagem só apareça de vez em quando...

E também ao Antoine, obrigada pelos votos de boa prova no domingo.

Veremos como corre. 2 horas? mais? menos?

Se isso é importante? Claro que sim!