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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

19ª Corrida do Monge

A 19ª Corrida do Monge – Serra de Sintra, prova que faz parte do Circuito Nacional de Montanha 2011 e organizada pelo Terras de Aventura, Junta de Freguesia de Alcabideche, e Sociedade de Instrução e Recreio Janes e Malveira realizou-se ontem, dia 30 de Outubro de 2011, com o apoio da Câmara Municipal de Cascais e Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada.

Corrida em montanha, com percurso maioritariamente em piso de terra e trilhos em plena Serra de Sintra, com distância anunciada de 11458 metros, e Caminhada em percurso idêntico.

Secretariado atencioso e regular entrega de dorsais.

Juntou a prova cerca de três centenas de participantes, que partiram de Janes em direcção à Serra para se embrenharem nela, usufruindo de magníficos cenários para a prática da Corrida em comunhão com a Natureza.

Percurso assinalado e quilómetros marcados.
Três abastecimentos de água.

Prémios de participação para finalistas da Corrida: T-shirt de algodão, pão com chouriço, sumo e água, e uma maçã.

Por classificação: prémios monetários, troféus e medalhões

A história contada da 19ª Corrida do Monge acabaria por aqui e aplaudiríamos  de pé uma prova e uma organização exemplar se uma desatenção e descuro por parte da organização, aliado a uma coincidência e um azar, não tivesse causado um reboliço justificado e uma revolta gritante. Refiro-me a uma sinalização ineficiente, agravada e/ou provocada pela existência de  marcações de uma outra prova de uma outra modalidade (BTT) a decorrer em simultâneo e em parte do percurso coincidente,  que levou a que mais de metade dos atletas da Corrida se afastassem do percurso correcto, e se perdessem, retomando ou não o percurso correcto muitos quilómetros depois, tendo alguns corrido o dobro ou mesmo o triplo da distância anunciada e correcta, a ainda outros tendo sido recolhidos mais tarde por carros da organização. Os efeitos de uma ocorrência destas na classificação são tão graves quanto a importância da prova, não esqueçamos, a fazer parte do calendário do Circuito Nacional de Montanha. No local, a classificação foi anunciada e os prémios foram atribuídos, mas até este momento, as classificações não estão disponíveis e a dificuldade de um rigor e de uma verdade desportiva está patente e dificilmente se clarificará. Coisas que acontecem, dirão alguns, mas que tiveram consequências nefastas demasiado importantes para quem vai competir e repito, trata-se de uma prova do Circuito Nacional de Montanha. Foi lamentável e talvez fosse evitável, se a Corrida do Monge se tivesse assegurado que em todos os pontos de possível engano (pontos de viragem, cruzamentos e entroncamentos), as indicações fossem claras e inequívocas, mas inequivocamente... não foram. Situação a corrigir, o que acredito certamente a Organização fará na sua 20ª edição em 2012, não tivesse ela já dado mais que provas do que é capaz de fazer e fazer muito bem, como é o caso do Terras de Aventura, que tanto tem feito e dado à Corrida em Montanha.


"A Maria perdida na Serra de Sintra" ou "A Corrida dos Desaparecidos", ou ainda, mais seriamente "A Corrida do Monge da Maria", ou "A Corrida da Maria do Monge", ou ainda "A Maria egoísta"

Ora bem, meus caros, a Maria foi correr ao Monge pela 1ª vez. Gostou. Oh se gostou! Amou aquela serra, aquele verde, aqueles ramos a roçar-lhe a pele, aquele húmus macio que pisou, tudo!

O pai ficara cá em baixo, em Janes, à espera dela. Ela embrenhou-se pela serra adentro ainda sem saber que ia andar perdida. Logo no início, já numa subida em que à sua volta se caminhava, incluindo ela, ouve "há quem venha para aqui e depois vá para os blogues dizer que a prova é dura e tal..." - Sorriem-lhe e ela retribui retorquindo "pois...têm a mania que correm e tal, e depois é no que dá...". Mas de novo ganha forças e retoma o seu lento passo de corrida, afastando-se uns metros. Não se sente bem. Está pesada, respiração ofegante, acusando a já habitual falta de treinos. Não se sente bem... recorda-se para logo se arrepender, que não fez a depilação às pernas e que os calções mostram mais do que deviam, não tomou duche de manhã e sabe que já vai a feder a suor, o que ela detesta nos outros, pois a transpiração em si não cheira mal, mas sim a decomposição das bactérias que se acumulam na pele não lavada e nos tecidos das roupas, que às vezes mesmo lavados, parece que vão buscar o cheiro desagradável. Não se sente bem... Ora anda ora corre. Vai ficando isolada. Poucos atletas à sua frente que ela aviste e menos ainda atrás. Vai-se sentindo melhor. Cada vez melhor. Serra dentro. Engolida pelo verde. O som do silêncio interrompido pelas aves, pela sua respiração e pelos seus passos. O odor que agora lhe enche as narinas e os pulmões é o da floresta. Da vegetação molhada, do solo, da terra. Ela foi engolida, e já não importam os pêlos nas pernas deste mamífero que ela é, nem o seu próprio odor. Só importa a Serra, e ela diluída nela, sem saber ainda que estava perdida, mas afinal aquele é o caminho certo, ela sabe-o, e é ali que se sente bem, enquanto desce um trilho completamente sozinha, consigo e por e para si própria. É para isto que ela corre. Para se perder assim. Só bastante mais tarde, já emersa deste sonho, e corre em alcatrão, no entanto sempre ladeada de verde, e avista uns companheiros à frente parados e a esbracejar, é que se apercebe que estava fora do percurso da corrida há já algum tempo. De facto, a última indicação de quilómetros que vira, foi o 5º Km... e o seu relógio já marcava agora mais de 9... Algo não estava bem.
Entretanto outros companheiros a alcançam e todos discutem e ponderam a situação. Há os que conhecem, os que estão totalmente perdidos (ela) e os que "acham isto e acham aquilo". Ela diverte-se com aquilo. Já sabia que ia ter de correr mais de 11458 metros, a distância anunciada, e por incrível que pareça, essa ideia agrada-lhe. A manhã está boa para correr, a Serra de Sintra é um espectáculo e tem companhia. Por esta altura, quando o grupo já decidira seguir junto (6 atletas), depois de perguntarem a uns turistas que passavam de carro, e também a elementos de uma mesa de abastecimento da prova de BTT, são abordados por elementos da organização da Corrida do Monge que vinham num carro e é-lhes indicada a direcção certa, o que naquela altura significava o caminho mais curto para o local da meta. De novo no trilho certo. Avista-se a placa dos 10 Km, depois dos 11 e por fim a Meta, onde chega a marcar 15,230 Km e um tempo de 1h51m. Excelente! Pensa secretamente. Permitindo-se ser hoje egocêntrica, não está mesmo nada chateada com o engano. Apenas o lamenta por uma Oganização que apesar de ter falhado, não merece ser crucificada, não depois de já tanto ter feito pela modalidade, o que se parece esquecer num ápice quando algo não corre bem. Há que olhar por todas as perspectivas e se admitamos foi uma falha da organização, admitamos também que não lembrava ao diabo haver uma outra prova com uma boa parte do percurso coincidente...


O Pai, desta vez tirou poucas fotos. Columbófilo de uma vida, imaginou-se numa Corrida à espera dos pombos... que vão e... nem todos vêm... e os que vêm, vêm  a conta-contas, perdidos nas serras e nos rios onde pararam para beber e descansar e ponderam não voltar. A filha foi e voltou.

2012, 20ª edição da Corrida do Monge... assim haja corrida e a Maria conta lá estar outra vez, pela 2ª vez na sua vida. De preferência para se "perder" de novo, e de novo se encontrar. É o que diz esta Maria egoísta, desta corrida que se esconjura hoje.


Até amanhã querido diário

 Antes da Corrida, com amigos: António Pinho e Mário Lima:

No aquecimento com o Pinho:
  

A Partida:
 Já durante a prova, numa das subidas, apanhada pelo José Carlos Melo:
Meta cortada, contente e alegre ao lado do Pai:

13 comentários:

luis mota disse...

Olá Ana
Esta era uma prova que gostava de ter participado, só não aconteceu devido à simultaneidade com os 20 Km de Almeirim (este ano meia Maratona). Gosto de Sintra, infelizmente demasiado longe de Tomar (é das regiões que guardo melhores recordações). É sempre bom ver a Ana a correr, acompanhada do pai (que admiro) para tirar umas belas fotografias da “sua menina”.
Cumprimentos e até domingo no Porto.
Aproveito para a felicitar por “levar” Maratonistas à invicta. Um trabalho meritório que torna o dia da Maratona em dois dias de boa festa. Infelizmente o autocarro ainda não passa por Tomar, mas agora com a A13, Atalaia> Tomar (que já tem 3 Km e 4 portagens), teremos no futuro mais uma alternativa para ir até ao Porto.
Até Sábado

Unknown disse...

Olá Ana,
Também eu gostei muito, também me perdi e reencontrei nesta Corrida do Monge. É muito gratificante fazer uma extra prova no belíssimo cenário da Serra de Sintra. Pró ano conto voltar mesmo que seja pra me voltar a perder.

Quem corre apenas pelo pelo prazer de correr pode dar-se a este luxo. Já é muito desagradável pra quem estava a competir pela classificação.

Bons treinos e até à próxima.

Henriqueta Solipa disse...

Boa Ana :-)

Parabéns pela prova que tanto prazer te deu fazer e parabéns pela descrição.

É complicado para quem faz a prova em competição a sério. Estou curiosa de saber como esta situação vai ser resolvida.

Beijinho

.JOSÉ LOPES disse...

Olá Ana
Com os anos parece que vamos desculpando mais os erros dos outros.
Fez o que gosta correu e ainda por cima num ambiente que também gosto o de floresta, mesmo om os enganos divertiu-se nessa manhã e isso é o mais importante.
Seja a correr ou a andar nessas subidas do percurso, estamos lá.
boas corridas
bjs
J.Lopes

E disse...

essas provas são lindas, né, Ana!
e seu relato é muito envolvente... quando dei por mim, eu também tinha sido engolida pela Serra de Sintra, e senti os galhos roçando minha pele, e me deslumbrei com todas as belezas do lugar;)

o melhor é que você se perdeu sem se dar conta disso enquanto esteve sozinha;)
e viveu intensamente e com prazer o trecho a mais do percurso;)

eu sou apaixonada por esse tipo de desafio, em trilhas, em meio à natureza... mas quando me inscrevo pra estas provas, fico sempre com um pouco de receio de a marcação do percurso não ser bem clara, e eu acabar me perdendo... já corri alguns quilômetros em provas com essa sensação de estar perdida, e não gostei nem um pouco...

mas acredito que a organização cuidará de garantir uma sinalização adequada nas próximas edições;)

parabéns pelo desafio!

bjs

Anónimo disse...

Boa tarde Ana. Enganos e gaffes da organização à parte, quando li isto «Ela foi engolida, e já não importam os pêlos nas pernas deste mamífero que ela é, nem o seu próprio odor. Só importa a Serra, e ela diluída nela, sem saber ainda que estava perdida, mas afinal aquele é o caminho certo», lembrei-me de imediato do anúncio da Nike, no filme "What Women Want":
«You don't stand in front of a mirror before a run... and wonder what the road will think of your outfit. You don't have to listen to its jokes and pretend they're funny. It would not be easier to run if you dressed sexier. The road doesn't notice if you're not wearing lipstick. It does not care how old you are. You do not feel uncomfortable... because you make more money than the road. And you can call on the road whenever you feel like it, whether it's been a day... or a couple of hours since your last date. The only thing the road cares about... is that you pay it a visit once in a while. Nike. No games. Just sports»
Adaptando ... a Serra não quer saber de pelos ou odores, mas apenas, que a vão visitar em harmonia com a vida vegetal e animal que ela possui.

Jorge Branco disse...

Dado o assunto em questão resolvi dar a minha modesta opinião sobre o mesmo lá no Último Quilómetro abstendo-me de fazer comentários nos vários blogues que se referem à questão.
Desta maneira evito repetições no que escrevo e dou o assunto por encerrado com um texto apenas.
Demorei um pouco a dar a minha opinião pois não quis reagir a “quente” optando por estudar e analisar o melhor possível o que aconteceu naquele dia.
Não vou comentar mais a questão pois não tenho nada mais a acrescentar.
Um beijinho.

Anónimo disse...

Olá Ana, obrigada pelas fotos.
Parabéns por ter concluído mais uma dupla prova, quando a Ana diz que gostou
Da prova eu também, diz que gostou do percurso eu também, gostou da Serra de
Sintra, eu também. Ou seja até aqui estamos de acordo, enquanto a Ana foi muito feliz a fazer a prova embora andasse perdida, eu também mas só até ao km5, porque a partir daqui é que foi o problema, corri kilometros sem saber por onde ía ao fim de 2h10 encontrei um grupo de atletas praí uns 20 todos perdidos, estavam á espera de transporte para regressar á meta, uma coisa é estarmos preparados para correr 11 kms outra é correr 18,19, 20, e outros fizeram 30 kms .
na minha opinião a organização esteve muito mal onde estava a placa dos 5kms aí deveria estar um elemento não estava ninguém, eu cheguei sozinho aos 5kms olho para as fitas … fitas do lado esquerdo, fitas do lado direito, pensei pró lado esquerdo e fui, mas errei era para o lado direito, mas se tivesse aqui alguém nada disto acontecia mais uma vez a organização não esteve altura, teve em todas para trás, mas nesta não.
Ana beijinhos, e um grande abraço aos meus amigos Melro, e Rui
Apinho

Gonçalo Seabra disse...

Olá Ana!
fui mais um dos que se perdeu e acabei por fazer 17,4 km, mas adorei correr na serra de Sintra! Aquelas descidas com o riacho ao lado foram fantásticas!! :)
Não quero deixar de referir que esse comentário que fiz no inicio da corrida não foi de maneira alguma depreciativo! Foi apenas um "cumprimento" - foi no sentido de lhe dizer "Olá, eu leio e gosto do seu blog!". Enfim, peço desculpa se não foi isso que transmiti! :)
Espero vê-la em mais e muitas provas! Boas corridas!

GS
(Zatopeques)

mariolima52 disse...

"A dada altura quando o caos já era total e com cerca de 16 kms encontro uma atleta do Sporting Clube de Braga , que quase com as lágrimas nos olhos me disse por favor tire-me desta serra.."

Depoimento de um companheiro nosso!

A Ana gostou, ainda bem, mas felizmente ou infelizmente nem todos pensam assim!

Gosto e amo a natureza. Gosto de sentir também o cheiro dos pinheiros, sentir o verde, olhar a imensidão das copas das árvores e o infinito sempre presente.

Não gosto é de não saber onde estou!

Tudo de bom e boa viagem para toda a comitiva até à cidade invícta.

Beijinhos e Parabéns pela prosa!

joaquim adelino disse...

Pois é...penso que é normal uma diversa apreciação sobre esta prova, provavelmente se eu tivesse participado teria muitas dificuldades em perceber na altura o que se passou, lendo agora a opinião de tantos participantes percebo que o estado de espírito difere consuante os objectivos de cada um, o que é normal, mas a indignação de alguns é compreensível e deve ser bem escutada, afinal foram participar num evento muito bonito e com história e saem de lá arrasados e sem norte. Cabe agora à organização da prova tirar as devidas ilações de modo a que salvaguarde a qualidade e as melhores tradições desta excelente prova para o futuro.
Um beijinho e até ás 08h. de Sábado no Campo Grande, se não estou em erro!!!

Unknown disse...

Boas Ana, eu também fui à Corrida e do Monge e também fui dos "perdidos", não sei ao certo quantos km's fiz porque não tenho gps, mas pelo que me apercebi dos comentários do pessoal que segui devo ter feito uns 17 ou 18 km's.
Para mim esta prova traz-me uma dualidade de emoções, porque por um lado o que aconteceu (independentemente de quem é a culpa) foi muito mau e triste, mas para mim que foi uma estreia absoluta neste tipo de provas até foi óptimo. Porque assim consegui ultrapassar em muito os meus objectivos e descobri que até estou numa forma física excelente (coisa que há muitos anos não sabia o que era). Fiquei completamente rendido e apaixonado por este tipo de provas e quero começar a treinar/participar em mais.
Parabéns pelo blog.
Nuno

Unknown disse...

Olá Ana;

É bom o espirito com que participou nesta bela prova. Afinal ainda é bom não ser dos chamados atletas de Top, que vão só para ganhar, onde participam.
Essa vantagem de sermos mais lentos, dá enganos de menor dimensão, aproveitamos mais do que nos envolve, e nesse caso a Serra de Sintra, e no final até se torna muito mais divertido.

Parabéns e um abraço dos Xavier's