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sábado, 14 de abril de 2007

Os amigos imaginários

Pobby e Dingan

Li e amei. Recomendo: "Pobby e Dingan", Ben Rice

"Pobby e Dingan vivem em Ligthning Ridge, em New South Wales, capital das opalas, na Austrália. São amigos de Kellyanne Williamson, filha de um mineiro; na verdade, apenas Kellyanne os pode ver: Pobby e Dingan são amigos imaginários.

Ashmol Williamson, irmão de Kellyanne, acha que a irmã devia crescer e deixar de ser assim chalada - até ao dia em que Pobby e Dingan desaparecem, o mesmo dia em que o pai é acusado de ratoneiro, o pior crime que um mineiro de opalas pode cometer.

Enquanto Kellyanne, roída de mágoa, começa a definhar, Ashmol convoca toda a povoação para procurar Pobby e Dingan. Porém, acaba por descobrir que só ele os pode encontrar, e só os poderá encontrar se também começar a acreditar que são reais."

A dificuldade que temos em acreditar no que não vemos. E no entanto, o poder que o invisível tem…Um livro extraordinário este, pela sua simplicidade, ternura e sensibilidade.

O papel e a necessidade de amigos, qualquer que seja a nossa idade, e o poder estrondoso da fé, seja lá no que for.

Hoje, eu acreditei, abri só um pouquinho a cortina, e o Sol invadiu a minha sala (Obrigada José que também corre), e fui correr. Não sozinha, pois estavam comigo alguns amigos.

1 h de corrida contínua lenta e 20 min de ginástica localizada.


"Kellyanne abriu a porta do carro e enfiou-se no meu quarto. Trazia o rosto esbaforido e pálido, todo franzido. Mal entrou disse:

"Ashmol! O Pobby e a Dingan estão talvez mortos." Foi assim que ela disse.

- Ainda bem - disse eu.- Talvez agora comeces a crescer e deixes de ser assim chalada.

As lágrimas começaram a correr-lhe pelas faces. Mas isso não me fazia ter pena nenhuma dela, e vocês também não teriam se tivessem crescido com Pobby e Dingan.

- O Pobby e a Dingan não estão mortos - disse, disfarçando a fúria com uma golada de Mello Yello.- Nem nunca existiram. O que nunca existiu não pode morrer. Topas?

Kellyanne fixou-me por entre as lágrimas com o mesmo olhar de quando eu tinha batido com a porta da carrinha na cara de Dingan ou daquela vez em que eu tinha pisado no sítio onde ela dizia que Pobby estava sentado e dei socos e pontapés no ar onde era a cabeça dele para mostrar a Kellyane que Pobby não passava de uma ficção saída da sua imaginação.

Já perdi a conta do número de vezes que me sentei à mesa a dizer:

"Mamã, por que tem de pôr lugares para o Pobby e a Dingan? Nem sequer são reais."

E também lhes punha comida nos pratos. Dizia que faziam menos barulho e se portavam melhor do que eu e que bem mereciam o que comiam."

.../...

Não dormi nada o resto daquela noite, mas assim que a manhã despontou entrei no quarto de Kellyanne para lhe contar o que se tinha passado. Havia um cheiro a doente no quarto todo. Abanei Kellyanne pelos ombros e disse:

- Acorda, mana. Tenho uma coisa para te mostrar. Acorda!

Kellyanne pestanejou e entreabriu os olhos. Tinha um aspecto de quem já não tem muita vida. Senti-me como que desesperado. Ia ser eu contra a morte. Eu sem ninguém a ajudar.
…/…
- Fiz o que tinhas dito, Kellyanne, e fui ao fundo da mina…/… A cobertura tinha caído numa das galerias … O Pobby e a Dingan ficaram debaixo dela… Sei isso porque encontrei a opala que a Dingan tinha no umbigo… Estavam ali deitados todos pisados na mina…Estavam lá… E estavam mortos. Mas tinham um ar sereno… Estavam deitados um ao lado do outro de mãos dadas… e ainda estavam um bocadinho quentes e tudo.

Começaram a correr-me lágrimas dos olhos, talvez por estar estafado, mas também estava com um medo danado que Kellyanne não acreditasse numa palavra do que estava a dizer.
…/…
- Posso ver a opala? – murmurou Kellyanne daí a instantes.

Tirei o sapato e estendi a opala na palma da mão que tremia como um peixe. De repente fiquei mesmo aflito porque pensei “Não tem nada o ar de uma opala que alguém pusesse no umbigo”. Era grande demais.

Mas Kellyanne sentou-se de rompante e passou-me os braços à volta do pescoço a dizer:

- Ashmol! Encontraste os corpos. Encontraste o Pobby e a Dingan ! É isto! È esta a pedra que a Dingan usa no umbigo!

Quando ouvi isto , fiquei de um momento para o outro desoprimido e aliviado e alvoraçado. Havia um grande sorriso no rosto de Kellyanne. Era como se lhe tivessem tirado de cima uma grande pedra. De súbito pensei:

“Óptimo! Já passou! Consegui! Agora a Kellyanne vai ficar melhore vai tudo ficar fixe” – Mas Kellyannne olhou para mim e disse:

- Agora a única coisa que tens de fazer , Ashmol, é tratar do funeral.

- Quê? – por instantes pesei que estava a falar do funeral dela.

- Toda a gente tem um funeral. E o Pobby e a Dingan também têm de ter. Não descanso enquanto eles não forem sepultados, Ashmol. Eu tratava disso, mas não posso porque tenho de ir para o hospital de Walgett por uns dias.

Voltou a fitar-me com aqueles olhos de olheiras escuras. Não estava completamente convencido que o hospital a livrasse delas.
…/…

…o mais importante de tudo era que a Kellyanne ficasse boa, e que se isso significasse trocar uma magnífica opala por uma campa para Pobby e Dingan era isso mesmo que iria fazer.

- Só faço isto se ficares melhor e deixares de afligir assim a mamã e o papá – disse eu num tom firme. – E só se prometeres não morrer porque se não lá tenho de fazer outro funeral e ter uma trabalheira dos diabos.

- Prometo – disse Kellyanne. – Obrigada Ashmol. E agora promete-me também uma coisa. Promete que não dizes nada à mamã nem ao papá que encontraste a opala da Dingan.

- Está bem, está bem.

- E que não a mostras a mais ninguém a não ser ao senhor da agência funerária.

- Prometo.

- E que não vais estar a ver se ganhas algum dinheiro com ela. A opala não é tua, nem do papá, Ashmol. É o umbigo da Dingan. Não é uma pedra qualquer para sacares uma data de massa com ela.

Fiquei um bocado a pensar naquilo, e pensei na pena que era deitar assim fora a primeira vermelho e preto que encontrava. E então disse:

- Prometo não ganhar dinheiro com ela.

Depois saí do quarto, já cansado de prometer tanta coisa.
…/…

E quando chegamos junto delas, a mamã girou a cadeira de rodas para nos mostrar que Kellyanne estava também a sorrir. E Kellyanne Williamson ficou a sorrir para o resto da vida dela.”

…/… continua... o fim desta história não é cor-de-rosa não...

Ben Rice – nasceu em Devon, Inglaterra, em 1972
“Pobby e Dingan” foi o seu primeiro livro

2 comentários:

tornadocontrolado disse...

Li as suas palavras, não as do livro. Porquê?

Jacke Gense disse...

Como foi na prova de hoje?
Bjs