Da saga “Férias 2019”
Capítulo I
A Falta
O lugar aguarda-te, vazio agora. Bem viva a memória desta manhã
de Sol, em que pela primeira e última vez te sentaste à beira da água e com
suavidade e carinho, esse mesmo carinho e amor raramente verbalizado e nem sempre
manifestado ao longo da vida, te espalhei o creme protector nas pernas e com as
mãos em concha trazia a água até aos teus joelhos, deixando-a escorrer depois
para voltar à imensidão do azul da piscina e te refrescar. Gesto repetido
sem cansaço ou enfado, sem saber ainda que não se repetiria este Verão, recompensado neste intante com o amor, a felicidade e a gratidão do teu olhar.
Deleitaste-te com a sensação e o momento. Raridade na tua
vida de oitenta anos. A frescura da água, o sol quente e a brisa morna, o riso
e a alegria dos teus a chapinhar na água azul sob o Sol brilhante. Brilhante como o teu olhar e o sorriso no
teu rosto nessa manhã a ver-nos divertir. Memória inapagável de momento impagável.
Vazio agora o lugar. Sem ti. O lugar e eu. Vazia. E perdida. A falta faz-se sentir. A falta entrou na casa e ocupou o teu lugar â mesa. Ocupou o teu lugar no jardim, na mesa de jogos e à beira da piscina. A falta esmaga-me o peito. A falta asfixia-me e a falta dói. Ainda
se tu estivesses aqui para me dizeres o que fazer, se tu estivesses aqui para me
iluminares e dares sempre uma outra visão das coisas e uma orientação lúcida e
sensata. Ainda se tu estivesses aqui nesta casa estranha que não
nos quer…Ainda se tu estivesses aqui Mãe...Mas tu já não estás e no teu lugar está apenas a Falta...
Continua…
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