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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

V Grande Prémio da Arrábida

Organizado pela Associação de Atletismo Lebres do Sado, decorreu ontem dia 28 de Novembro de 2010, o V Grande Prémio da Arrábida.

Com organização técnica a cargo do Atletas Digital , a prova atingiu o número limite de inscrições (500), para ter chegados à meta no domingo de manhã 486 atletas na prova principal.

Em simultâneo decorreu ainda uma prova aberta, na distância de 7 Km sensivelmente.

Num misto de asfalto e terra batida, a prova sai de Setúbal e leva os atletas a Palmela , através de caminhos rurais, e da já conhecida e inesquecível de todos que lá vão, a Subida da Cobra. Elevados a Palmela, os atletas encontram aí uma meta volante, a partir da qual se inicia o regresso a Setúbal, enveredando os atletas pela não menos famosa Descida da Lagartixa, já em terra batida com areia solta, propícia a escorregadelas aos mais incautos. Finda a extenuante descida pela contenção do passo, os atletas são premiados com um abastecimento de Moscatel da região, que podem fazer acompanhar com biscoitos de canela também oferecidos. Uma graça a meio de uma prova, que mesmo não sendo o mais apropriado para abastecer, é certamente uma imagem a reter, o serviço por "empregado de mesa" trajado a rigor, e a oferta de tal produto da região fazem já parte da imagem de marca desta prova.

À parte esta brincadeira, a prova teve dois abastecimentos de água e esta também não faltou na chegada, onde um saco com duas t-shirts, bolo de frutas regional e garrafa de Moscatel esperavam todos os atletas.

O controlo era feito por chip, o percurso esteve bem assinalado, apenas houve umas gafes na marcação dos quilómetros, a chegada foi animada, assim como a partida, e o atleta de pelotão volta de lá satisfeito, tendo as classificações sido disponibilizadas rapidamente.

A nível competitivo e no sector feminino, a vitória foi alcançada por Cátia Serôdio (CCD Alvitejo) com 59.38, seguida de Carmen Pires (Asas do Milenium) com 1:00.02, sendo o 3º lugar do pódio de Patrícia Rosado (Vitória FC) com 1:00.10.

No sector masculino, foi Rui Baltazar (ACLIS Liberty Seguros) o vencedor, com 50.30, seguido de João Ginja (GD Macedo Oculista) com 50.38 e Rui Infante (Praças da Armada) com 50.50.

Troféus como prémio por classificação para os cinco primeiros atletas de cada escalão.

Tem esta prova ainda a particularidade de "obrigar" os atletas a correr em pelotão até ao Km 2, sendo imposto um ritmo que não é permitido ultrapassar, e só a partir daí é então dada a cada, a possibilidade de correr ao seu ritmo.

O Grande Prémio da Arrábida é uma prova muito castiça, que agrada sobremaneira ao atleta de pelotão que responde a cada edição.

Alguma demora na entrega dos dorsais leva a se repensar a forma de entrega dos mesmos, o que provocou nesta edição algum atraso na hora de partida.

Por tudo isto, é o Grande Prémio da Arrábida prova que está bem e se recomenda. Eu recomendo!

Ana Pereira



Classificações no Atleta Digital





Após a Subida da Cobra e da Descida da Lagartixa, dois terços da prova estavam feitos e há a...

... A Prova de Moscatel acompanhado de biscoitos de canela... (sim, sim, à laia de abastecimento a meio da prova! Uma tradição a manter!):
Fotos retiradas dos Albuns disponibilizados no site das Lebres do Sado


A minha corrida dentro da Corrida:

Desta vez não houve dúvidas. Ia e ia mesmo. À prova. Ao Grande Prémio da Arrábida. Desde a sua I edição, em 2006, na qual tive o prazer de participar , que tive a certeza que esta é prova que sempre que possa, lá estarei. E se nem todos os anos o consegui, neste ano, voltei a marcar presença.

Corri entre amigos, e a eles devo o facto de ter conseguido manter quer o ânimo quer o passo: obrigada António Pereira e obrigado António Pinho. A lembrar corridas passadas e a imaginar futuras. A viver e a correr esta corrida, a aquecer no jardim relvado, a dar um beijo ao pai antes da partida. A desejar boa prova aos que estão connosco, a ligar o cronómetro e passar para a outra dimensão, aquela onde me encontro, devagar, como corro, em cada passo, em direcção a mim mesma e aos que amo.

Assim a torrente de atletas serpenteou pela estrada dirigindo-se a Palmela. Envereda por um caminho de terra, cheira a gado e a estrume. Há poças de água e lama. Bolotas caídas no caminho que pisamos. Está frio mas o sol dá à paisagem um brilho inigualável e há uma serenidade envolta em mim. Corro. Outra vez corro. Haverá liberdade maior?

Sinto as pernas cansadas e imensamente pesadas. E quando alcançamos o início da subida de terra batida, denominada de Subida da Cobra, já a serpente de atletas se dispersou e eu não sou mais que um ponto laranja na sua cauda, prestes a desprender-se, a fraquejar, a arfar e a não conseguir respirar. Caminho. Entretanto os meus amigos já se adiantaram, quase sem darem pela minha paragem. Sinto-me aliviada. Posso ... desistir, e ir apenas caminhado. Por instantes interrogo-me que faço ali, assim... a correr de domingo a domingo... e... antes que a avalanche de pensamentos sobejamente conhecidos se desmoronasse sobre mim, o António Pinho volta atrás e puxa por mim. E o Pereira também não ia assim tão longe: tinha abrandado afinal, ao dar pelo meu desaparecimento.

Emoções contraditórias: muita alegria, reconhecimento e agradecimento para com os meus amigos que sem saberem, não me deixaram desistir de mim, e desapontamento, precisamente pela mesma razão, e me ver "obrigada" a continuar.

Paralelismos à parte, com uma outra vida, mais ou menos real que esta, e lá sou rebocada por eles e depressa retomo o sorriso de orelha a orelha e é com imensa felicidade que outra vez alcanço Palmela, o cimo e o fim da imensa Subida da Cobra. Solto as pernas de novo em terreno de asfalto e onde a inclinação já era agora a antecipar a descida. Dou passos mais largos. Sinto-me de novo com força. Ainda pouso os olhos sobre Palmela, castelo que acabei de alcançar, e sobre os vales, onde crescem oliveiras alinhadas e outras árvores e plantações bem organizadas, em fileiras uniformes.

Depressa saímos do asfalto para fazermos a famosa Descida da Lagartixa, terra batida com areia solta, a ameaçar fazer-nos escorregar e eu sou uma medrosa, e travo e travo e travo. Já não posso com as pernas! Fim da descida e volto a chegar ao pé dos meus amigos, que entretanto abrandaram para me esperar.

Atletas amigos conhecidos, estão hoje bem vestidos, de bandeja na mão a oferecer o famoso néctar: Moscatel de Setúbal! Tradição desta prova, de que nunca usufruí em plena prova, mas que muito admiro e gosto de ver. Sorrio e sigo. Desta vez são os meus amigos a ficar para trás: biscoitos de canela e Moscatel. Eles não se fizeram rogados e deliciaram-se.

Depressa me apanham de novo. E eu, sigo com alguma energia ainda. Energia que nada tem a ver com o ritmo demonstrado mas antes com a forma com que me sinto em relação ao esforço.

Avista-se de novo o jardim de onde partimos. É já ali a meta. Avisto o meu pai, que a poupar as pilhas da máquina fotográfica, guardava alguma energia delas para ainda me conseguir fotografar a mim (e conseguiu), e que muito desanimado se queixa que não conseguiu tirar quase fotos nenhumas.

- Não faz mal. Não faz mal pai! - grito-lhe ainda em plena prova. E não faz mal mesmo. Mesmo! Cada vez mais me consciencializo da insignificância de certas coisas perante a magnitude e importância esmagadora de outras. E dessas outras, eu trago o peito cheio hoje!

Corto a meta. Avisto o Álvaro, um "velho" amigo que da surpresa fez alegria. De nos vermos ali mutuamente, sem o esperarmos. Desligo o cronómetro, que marca 1h22m14s para os 12,76Km da prova, recebo o saco, tiro o chip, alongo, bebo água, limpo-me, cumprimento amigos que ainda não tinha visto e estou já de volta a casa, a uma semana mais. Da nossa vida. Esta, com corridas. Provas. Metas, subidas e descidas. Todos os dias.

Até para o ano Grande Prémio da Arrábida e até amanhã ou depois querido diário

3 comentários:

horticasa disse...

Que grande texto, confesso que não li todo mas; que lindo sitio para correr, há tempos que não faço uma prova assim, com tanto verde, que saudades do Zé Carlos...
beijos nossos para voces.
eugenia

António Almeida disse...

Olá Maria
foi bom ver-te e aos teus acompanhantes, quanto à prova é como disses está bem e recomenda-se (daí ter as inscrições esgotadas bem antes do dia da prova), no meu caso não abdiquei do moscatel.
Até uma próxima.
Beijos e abraços.

Álvaro disse...

Tem piada, Anita, relaciono algo que aqui escreveste com o teu texto seguinte, sobre a tua gordura horrorosa (hihihi!):
"Paralelismos à parte, com uma outra vida, mais ou menos real que esta, e lá sou rebocada por eles e depressa retomo o sorriso de orelha a orelha e é com imensa felicidade que outra vez alcanço Palmela, o cimo e o fim da imensa Subida da Cobra"
Tás a ver? O cansaço fez-te ir ao centro do teu ser, foi de lá que vaio essa felicidade que sentiste e te deu força para chegares ao fim muito bem!
É portanto aí que também vais buscar LUZ e FORÇA para resolveres o problema da "Gordura"...
No fundo, há um processo de meditação, que eu encontro muitas vezes na corrida, mas que também se pode transpor para a comida: Cozinhar em meditação, degustar em meditação. Curtindo cada segundo e gozando a grande sorte que é termos comidinha boa e genica para corrermos...!
Experimenta!