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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Despir a camisola



Entrei para o AFIS pela mão do Joaquim Margarido, logo amparada pelas mãos do presidente (naquela altura), Manuel Ramos, que por sua vez tinha trazido até mim o Margarido uns meses antes. Círculos …

Amigos. São eles amigos que tenho no coração, como tão bem o sabem. Amigos. Que num momento de fragilidade (minha), me quiseram dar (e deram) a mão. Passei a representar o AFIS. Pela primeira vez em Constância na Páscoa de 2007. Com gosto, prazer, carinho e entrega, a possível, a única que sei, usei e suei a camisola com a chama ao peito interiorizada.

Representando um clube a 300 km de distância, a maior parte das vezes sozinha em provas por todo o país, enverguei a camisola e a chama que ardia era a minha, de mais ninguém.

Muitas vezes me questionavam como é que eu sendo de Almada, andava a representar um clube de Ovar. Respondia que tinha lá amigos. Tinha. E tenho. Amigos não se perdem. Mas hoje, vejo nitidamente que confundi as pessoas com o clube, e que só por isso lá estava. E só isso nitidamente não é suficiente.

Como num casamento apenas gasto pelo tempo, se não se encontra um motivo, uma razão ou acontecimento marcante que nos leve a sair, já o facto de não se encontrar uma razão igualmente forte para ficar, é, a meu ver, motivo mais que suficiente para sair.

E olho, e não encontro motivos para ficar. A chama (só a da camisola) extinguiu-se e o meu coração não bate por ela nem é ela que o alimenta. É preciso amor. Eu preciso de amor. Até para correr. E o AFIS não me ama, assim como eu nunca o amei, confesso. Consideremos um namorico, um curto episódio de um livro de muitas páginas.

No fundo, para mim, pertencer a um equipa significa convívio, espírito de equipa, camaradagem, cumplicidade, apoio, tanta coisa que à partida se sabe que 300 Km de distância tornam praticamente inviável. Ainda assim, não me arrependo de forma nenhuma destes tempos em que transportei a chama AFIS ao peito e o “Saramago” nas costas. Mas à medida que o tempo passou, senti falta. Faltas. De uma equipa. De pertencer a uma equipa. Sozinha por sozinha, dispo a camisola e sigo sozinha.

Sem mágoas mas também sem quaisquer culpas, domingo dia 5 de Outubro, na 20ª Meia Maratona de Ovar, será a última vez que representarei os AFIS.

2 comentários:

Fernando Andrade. disse...

Estavas, linda chama alumiando,
Os passos da Maria Sem Abrigo,
Quando a mente lhe surge questionando
Se era a chama que q’ria ou o seu amigo.
Fez uma opção. Então, se desnudando,
Subiu a chama e mostrou, sem castigo,
De forma decidida e sensual
Seu belo umbigo, livre de... metal.

Lénia disse...

Oi Ana,

Como te compreendo. Por essa mesma razão nunca me quis juntar a um grupo que não me providenciasse aquilo que mais desejo num grupo de corrida: camaradagem e convívio. E isso é muito dificil de conseguir qdo se está a 300 kms de distância. Estou prestes a juntar-me a um grupo de corrida com camisola e tudo, porque espero daí bonitas experiências e companheirismo. Se isso não se concretizar, prefiro despir a camisola e continuar sozinha.
Não vale a pena correr com uma camisola quando não se corre por ela, não é?!

Beijinhos e parabéns pelo teu tempo na meia de Ovar.