... viver bem durante vários dias, semanas, meses, com tudo ilusoriamente controladinho, fera presa e dominada, segura por rédeas curtas e mãos firmes auxiliadas pela cabeça. Sempre a cabeça a dominar tudo.
E de repente, ela surge. Primeiro espreita a medo e é refreada, mas logo a seguir se solta, imparável, incontornável, inevitável e absolutamente incontrolável. Rédeas soltas, couro rasgado e quebrado, besta à solta à sua vontade. Própria como se a alma nada pudesse fazer senão aceitá-la, deixá-la consumir até bater no fundo para depois voltar ao lugar onde vive. Adormecida, mas jamais aniquilida. Até à próxima vez.
Assim, a rapariga chega a casa e como autónomo manipulado, dirige-se à despensa e ao frigorífico. Portas abertas de par em par. Analisa a velocidade relâmpado o interior. Divide com uma visão raio-X os comestíveis e/ou digeríveis das matérias não digeríveis como plástico, vidro, lata, etc. E então, absolutamente possuída, de forma voraz e descontrolada, tudo o que é comestível, ela pega e leva à boca, àquela abertura que permite a entrada de alimentos no nosso organismo. E através dessa cavidade ela faz passar tudo o que consegue. Mal mastiga, não degusta, apenas enche, enche o espaço. Até não ter mais. Espaço. De forma dolorosa, só pára quando a dor física a trai. Esófago, diafragma, estômago, revoltam-se em conjunto contra o ataque, bombardeamento real, tentativa de destruição total e tentam salvar o corpo num grito mudo em uníssono. Dão sinais: pára! E ela insiste, até mesmo não poder mais e depois...depois sente a outra dor, aquela que não consegue localizar com exactidão em parte alguma do seu corpo.
No dia seguinte acorda ressacada sem ter ingerido um pingo de álcool. Toma duche e olha-se ao espelho. Não aconteceu nada? Não aconteceu nada?! Finge. Hoje é outro dia. Já passou. Finge outra vez. Mas o abdómen inchado, saliente e de pele esticada até quase rebentar não a deixam esquecer. Nem as bochechas inchadas, como hamster que esconde comida aí e quer convencer o mundo que não foi ele que acabou com a comida toda, a deixam esquecer ou mentir sequer.
É denunciada e só lhe resta uma coisa: avançar. Agora que a fera recolhe de novo, de mansinho ao seu ninho, a ela resta-lhe empurrar a porta para que esta não saia de novo tão depressa.
É assim viver com ela. Ela...a Compulsão Alimentar.
4 comentários:
Que mau!!
Que pena, haver doenças assim!!
Que raiva não conseguirmos controla-las!!
Tens que ter força, continua.... força aí rapariga.
beijinhos
Querida prima,
Que coisinha fofa, que amorosa...assim só estás a pedir umas festinhas.
Bem, mas e quanto à velocidade...ainda a tens para fugir aos predadores? Se calhar não...mas usando a astúcia acho que consegues, tu és um "animal esperto" e parvos são os outros.
Boas corridas para a dispensa ou frigorífico mas também não exageres e pondera no que ingeres.
Espero ver-te em breve numa toca por aí a roer um bom pedaço de queijo acompanhado de um bom tintol.
Viva a gordura pois é formusura...o pior é depois...aos domingos de manhã a tentar fugir das investidas dos "búfalos"
Bjs porquinhos
Há duas maneiras de abordar este assunto, pelo menos na minha modesta óptica, uma pelo lado serio, outra pelo lado mais ligeiro (que se calha até é serio):
Problemas dessa índole requerem acompanhamento e tratamento por especialistas na matéria mas para isso é preciso que a pessoas aceite dar esse passo (o que nem sempre é fácil) e que se tenham acesso aos especialista o que, igualmente, nem sempre, é fácil
No caso deu eu ser acometido de uma problema desses esgotaria o stock alimentar e como a verbas são escassas e rigorosamente controladas muito provavelmente faria uma dieta forçada até poder repor o stock.
Esta carência em que vive muita gente deve ser uma medida profiláctica do governo para evitar determinadas doenças do foro alimentar. Tão cuidadosos que eles são como o bem-estar do povo!
Mas que fará alguém que sofra dessa patologia e não tenha recursos para saciar esses impulsos? Entrará em ressaca como noutra qualquer dependência?
Beijinhos “Pikena” e cuide-se!
O que vale é que a gente não sabe se a "Maria" está a falar na 1ª ou numa 3ª pessoa!!!Ela gosta de fazer destas coisas.Umas vezes estamos a pensar que é ela e afinal, sai-nos uma outra figura da cartola. Outras vezes pensamos que é outra pessoa e vai-se a ver...é ela.
Mas o importante é que sabe sempre bem ler o que a Ana escreve e coma ela o que lhe der na vineta, ou jejue se fôr para aí que estiver virada, gostamos muito de a ter a dar os seus sinais. Mas... e Corrida? como é que é, Ana?
Beijinho. Ah, e não se do "grande evento primaveril" que está a animar o face e o cidadão.
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