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quarta-feira, 17 de março de 2010

O Encontro e a Corrida das Lezírias 2010

O Encontro / O Homem e a Besta / A Besta e o Animal / A Corrida das Lezírias

“É erro vulgar confundir o desejar com o querer. O desejo mede os obstáculos, a vontade vence-os.”

Alexandre Herculano

Cenário 1:

Sem Treinos (mesmo!)
Sem Vontade
Sem Esperança
Sem Amor
Com um ténue desejo apenas

Cenário 2:

Sem Treinos (mesmo!)
Com Vontade
Com Esperança
Com Amor
Com desejo ardente


Acordou. Outro dia em que acordou. Fixou a parede branca e ficou imóvel. Segundos. Minutos. Longos minutos a correr e ela sem se mexer. Como se a sua imobilidade parasse o mundo e nada se movesse, e a vida fosse adiada. Uma prova em que estava inscrita. A Corrida das Lezírias. Confrontou as duas dentro de si, opondo-as uma à outra, obrigando-as a olharem-se de frente, bem dentro dos olhos uma da outra, onde se deslumbravam dois mundos bem distintos, e após desgrenhada luta, escolheu o cenário. Cerca de uma hora depois estava em Vila Franca de Xira. Entre amigos. Para viver uma manhã feliz.

A Corrida das Lezírias

Escrever sobre a Corrida das Lezírias é escrever acerca de cerca de 1500 atletas, indivíduos coloridos que enchem as artérias da cidade taurina, as percorrem para logo sair da mesma, pela ponte em direcção a Sul e se infiltrarem pelas Lezírias dentro. Caminhos de terra batida, pedras e vegetação, e pousar os olhos no campo enquanto as pernas correm e o coração bate no peito. É procurar os cavalos e os cavalos sermos nós. Sem a dignidade e a nobreza. Somos apenas humanos errantes. A correr em busca de nós. Eu. Cada um conta uma história. A sua. Nas Lezírias. Esta é a minha. É perder o olhar nos campos, ora verdes ora completamente brancos cobertos de margaridas. É inspirar a vida mais do que em qualquer outro lugar. Mesmo que digam que sim, isso poderia ser dito de qualquer outra corrida, mas não, não pode. Ali há o Tejo a correr ao nosso lado. Há o campo, os cavalos, os touros. Corrida inigualável. Como tantas afinal.

Escalões jovens têm também provas adequadas às suas idades, o que dá à manhã um movimento, brilho e alegria continuada.

Mariana Mota, vencedora no seu escalão. Haverá sorriso mais bonito que este? Muitos Parabéns Mariana, pela prova e pelo sorriso. Parabéns também ao mano, Luís Mota, que sei que também venceu o seu escalão e certamente presenteou todos com um sorriso igualmente bonito!

Decorre também uma caminhada. Animação antes da prova, com incentivo ao aquecimento ainda esquecido por tantos, apesar da sua real importância.

A cargo da Xistarca o apoio técnico, a prova não revelou irregularidades ou reparos significativos.
Controlo por chip. Partida a horas. Trânsito cortado. Logística organizada. Massagem no final. Classificações disponibilizadas rapidamente.

Prémios de presença, t-shirt em material supostamente indicado para a prática do exercício físico, saco e água.

Cada vez ligo menos aos prémios materiais, visíveis e palpáveis. Cada vez absorvo mais, com sofreguidão, o essencial, o invisível para os olhos, mas claro como água para o coração. E a Corrida das Lezírias é das que melhores e mais valiosos prémios me dá. A mim. Porque os valores não são iguais para todos, como é natural.

Os campinos, trajados a rigor sobre cavalos brancos em vários pontos da prova são uma imagem inapagável e já indissociável da prova.

A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira está de parabéns por esta Corrida, que nesta edição, uma vez mais se solidificou como uma corrida de qualidade, do agrado se não de todos, certamente da maioria. Sempre que possa, é corrida que não quero perder.




E depois, depois de ter ganho Vontade, essa mesma Vontade se reforça. E parto, em cada dia volto a acordar e há sempre uma partida em cada manhã, cada vez que abro os olhos. Só é preciso é escolher o cenário certo.



Partida. Mesmo, mesmo da cauda do pelotão, como se vê:


Ao lado do Tejo:

Pertinho da meta, com o amigo António Pinho, cansado dos Trilhos e apanhado a meio da prova, e com o chefe da equipa, que me acompanhou a prova toda:

Meta cortada. Com o meu amigo Fernando Oliveira, a quem muito devo, mesmo talvez sem ele se dar conta:
A tentar tirar o chip, e surpreendida pelo meu amigo Carlos Viana Rodrigues:
A minha equipa, amigos, entre os quais me sinto muito bem - Clube do Sargento da Armada:
António Melro, meu pai, peça fundamental para a manhã se e me completar:
A tirar fotos, passear, conversar e convier, num ambiente que descobriu tarde mas que ainda assim o cativou, surpreendeu e surpreendeu-nos a nós, quando com mais de 60 anos se iniciou nas corridas, depois de uma vida de alcoolismo e solidão. A mostrar que nunca é tarde. E que há sempre algo para dar, para receber, para aprender e para ensinar.

7 comentários:

Bons Km disse...

Lindas as fotos...
Bons treinos
boa semana.
Ju

horticasa disse...

Grande reportagem!
Então e a Adelaide? Não aparece nem como fotografa?
beijos também para a Mafalda.
eugenia

António Almeida disse...

Ana
"manhã feliz" descreve bem o que foi a corrida das Lezírias para muitos de nós, feliz também porque tu lá estiveste, gostamos de te ter nas corridas, acho que sabes isso mas nem por isso o devo deixar de dizer.
Até um dia destes numa corrida por aí que diga-se de passagem no nosso caso nos últimos tempos não esteve nada mal (Alto do Moinho, Atlântico e Lezírias).
Beijos.

Ricardo Baptista disse...

Olá Ana,
Nunca é tarde. Para recomeçar. Mas às vezes não é fácil. Força. Bons treinos. Boas provas. Muitos dias felizes.
Beijos.

joaquim adelino disse...

Olá amiga Ana, foi bom voltar a vê-la pois já fazia tempo que isso não acontecia.
Espero que agora se decida sempre pelo plano ou cenário B, pois os resultados obtidos foram excelentes como deixou transparecer no bonito relato que aqui deixou.
Sei que voltaremos a encontrar-nos em Constância para mais uma bonita jornada de amizade e solidariedade.
Até lá, um beijinho.

luis mota disse...

Olá Ana!
Aproveitamos para te felicitar pelo desempenho e presença em VFX.
Também gosto muita desta prova. É das que quero marcar anualmente presença.
Agradeço também a referência que fazes aos meus meninos. Muito obrigado.
Agora que o tempo começa a aquecer é aproveitar para dar umas corridas.
Nós estaremos este ano em Constância, tal como no ano passado.
Uma boa semana para ti, um grande abraço para o teu pai.
Luís Mota

Susana disse...

E foi o cenário acertado! ;)
Linda escrita! Viver pode ser um prazer!
Obrigada pelas palavras Ana!
Tudo de bom!
Beijinhos