Organizado pela
Associação de Atletismo Lebres do Sado, decorreu ontem dia 28 de Novembro de 2010, o
V Grande Prémio da Arrábida.
Com organização técnica a cargo do
Atletas Digital , a prova atingiu o número limite de inscrições (500), para ter chegados à meta no domingo de manhã 486 atletas na prova principal.
Em simultâneo decorreu ainda uma prova aberta, na distância de 7 Km sensivelmente.
Num misto de asfalto e terra batida, a prova sai de Setúbal e leva os atletas a Palmela , através de caminhos rurais, e da já conhecida e inesquecível de todos que lá vão, a Subida da Cobra. Elevados a Palmela, os atletas encontram aí uma meta volante, a partir da qual se inicia o regresso a Setúbal, enveredando os atletas pela não menos famosa Descida da Lagartixa, já em terra batida com areia solta, propícia a escorregadelas aos mais incautos. Finda a extenuante descida pela contenção do passo, os atletas são premiados com um abastecimento de Moscatel da região, que podem fazer acompanhar com biscoitos de canela também oferecidos. Uma graça a meio de uma prova, que mesmo não sendo o mais apropriado para abastecer, é certamente uma imagem a reter, o serviço por "empregado de mesa" trajado a rigor, e a oferta de tal produto da região fazem já parte da imagem de marca desta prova.
À parte esta brincadeira, a prova teve dois abastecimentos de água e esta também não faltou na chegada, onde um saco com duas t-shirts, bolo de frutas regional e garrafa de Moscatel esperavam todos os atletas.
O controlo era feito por chip, o percurso esteve bem assinalado, apenas houve umas gafes na marcação dos quilómetros, a chegada foi animada, assim como a partida, e o atleta de pelotão volta de lá satisfeito, tendo as classificações sido disponibilizadas rapidamente.
A nível competitivo e no sector feminino, a vitória foi alcançada por Cátia Serôdio (CCD Alvitejo) com 59.38, seguida de Carmen Pires (Asas do Milenium) com 1:00.02, sendo o 3º lugar do pódio de Patrícia Rosado (Vitória FC) com 1:00.10.
No sector masculino, foi Rui Baltazar (ACLIS Liberty Seguros) o vencedor, com 50.30, seguido de João Ginja (GD Macedo Oculista) com 50.38 e Rui Infante (Praças da Armada) com 50.50.
Troféus como prémio por classificação para os cinco primeiros atletas de cada escalão.
Tem esta prova ainda a particularidade de "obrigar" os atletas a correr em pelotão até ao Km 2, sendo imposto um ritmo que não é permitido ultrapassar, e só a partir daí é então dada a cada, a possibilidade de correr ao seu ritmo.
O Grande Prémio da Arrábida é uma prova muito castiça, que agrada sobremaneira ao atleta de pelotão que responde a cada edição.
Alguma demora na entrega dos dorsais leva a se repensar a forma de entrega dos mesmos, o que provocou nesta edição algum atraso na hora de partida.
Por tudo isto, é o Grande Prémio da Arrábida prova que está bem e se recomenda. Eu recomendo!
Ana Pereira
Classificações no Atleta DigitalApós a Subida da Cobra e da Descida da Lagartixa, dois terços da prova estavam feitos e há a...
... A Prova de Moscatel acompanhado de biscoitos de canela... (sim, sim, à laia de abastecimento a meio da prova! Uma tradição a manter!):


Fotos retiradas dos Albuns disponibilizados no site das Lebres do Sado
A minha corrida dentro da Corrida:

Desta vez não houve dúvidas. Ia e ia mesmo. À prova. Ao Grande Prémio da Arrábida. Desde a
sua I edição, em 2006, na qual tive o prazer de participar , que tive a certeza que esta é prova que sempre que possa, lá estarei. E se nem todos os anos o consegui, neste ano, voltei a marcar presença.
Corri entre amigos, e a eles devo o facto de ter conseguido manter quer o ânimo quer o passo: obrigada António Pereira e obrigado António Pinho. A lembrar corridas passadas e a imaginar futuras. A viver e a correr esta corrida, a aquecer no jardim relvado, a dar um beijo ao pai antes da partida. A desejar boa prova aos que estão connosco, a ligar o cronómetro e passar para a outra dimensão, aquela onde me encontro, devagar, como corro, em cada passo, em direcção a mim mesma e aos que amo.
Assim a torrente de atletas serpenteou pela estrada dirigindo-se a Palmela. Envereda por um caminho de terra, cheira a gado e a estrume. Há poças de água e lama. Bolotas caídas no caminho que pisamos. Está frio mas o sol dá à paisagem um brilho inigualável e há uma serenidade envolta em mim. Corro. Outra vez corro. Haverá liberdade maior?
Sinto as pernas cansadas e imensamente pesadas. E quando alcançamos o início da subida de terra batida, denominada de Subida da Cobra, já a serpente de atletas se dispersou e eu não sou mais que um ponto laranja na sua cauda, prestes a desprender-se, a fraquejar, a arfar e a não conseguir respirar. Caminho. Entretanto os meus amigos já se adiantaram, quase sem darem pela minha paragem. Sinto-me aliviada. Posso ... desistir, e ir apenas caminhado. Por instantes interrogo-me que faço ali, assim... a correr de domingo a domingo... e... antes que a avalanche de pensamentos sobejamente conhecidos se desmoronasse sobre mim, o António Pinho volta atrás e puxa por mim. E o Pereira também não ia assim tão longe: tinha abrandado afinal, ao dar pelo meu desaparecimento.
Emoções contraditórias: muita alegria, reconhecimento e agradecimento para com os meus amigos que sem saberem, não me deixaram desistir de mim, e desapontamento, precisamente pela mesma razão, e me ver "obrigada" a continuar.
Paralelismos à parte, com uma outra vida, mais ou menos real que esta, e lá sou rebocada por eles e depressa retomo o sorriso de orelha a orelha e é com imensa felicidade que outra vez alcanço Palmela, o cimo e o fim da imensa Subida da Cobra. Solto as pernas de novo em terreno de asfalto e onde a inclinação já era agora a antecipar a descida. Dou passos mais largos. Sinto-me de novo com força. Ainda pouso os olhos sobre Palmela, castelo que acabei de alcançar, e sobre os vales, onde crescem oliveiras alinhadas e outras árvores e plantações bem organizadas, em fileiras uniformes.
Depressa saímos do asfalto para fazermos a famosa Descida da Lagartixa, terra batida com areia solta, a ameaçar fazer-nos escorregar e eu sou uma medrosa, e travo e travo e travo. Já não posso com as pernas! Fim da descida e volto a chegar ao pé dos meus amigos, que entretanto abrandaram para me esperar.
Atletas amigos conhecidos, estão hoje bem vestidos, de bandeja na mão a oferecer o famoso néctar: Moscatel de Setúbal! Tradição desta prova, de que nunca usufruí em plena prova, mas que muito admiro e gosto de ver. Sorrio e sigo. Desta vez são os meus amigos a ficar para trás: biscoitos de canela e Moscatel. Eles não se fizeram rogados e deliciaram-se.
Depressa me apanham de novo. E eu, sigo com alguma energia ainda. Energia que nada tem a ver com o ritmo demonstrado mas antes com a forma com que me sinto em relação ao esforço.
Avista-se de novo o jardim de onde partimos. É já ali a meta. Avisto o meu pai, que a poupar as pilhas da máquina fotográfica, guardava alguma energia delas para ainda me conseguir fotografar a mim (e conseguiu), e que muito desanimado se queixa que não conseguiu tirar quase fotos nenhumas.
- Não faz mal. Não faz mal pai! - grito-lhe ainda em plena prova. E não faz mal mesmo. Mesmo! Cada vez mais me consciencializo da insignificância de certas coisas perante a magnitude e importância esmagadora de outras. E dessas outras, eu trago o peito cheio hoje!
Corto a meta. Avisto o Álvaro, um "velho" amigo que da surpresa fez alegria. De nos vermos ali mutuamente, sem o esperarmos. Desligo o cronómetro, que marca
1h22m14s para os 12,76Km da prova, recebo o saco, tiro o chip, alongo, bebo água, limpo-me, cumprimento amigos que ainda não tinha visto e estou já de volta a casa, a uma semana mais. Da nossa vida. Esta, com corridas. Provas. Metas, subidas e descidas. Todos os dias.
Até para o ano Grande Prémio da Arrábida e até amanhã ou depois querido diário