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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

20ª Meia Maratona Cidade de Ovar

Uma história

A uns passos da meta - Foto de Mário Jorge, e propriedade dos AFIS

Certamente uma boa parte de Ovar ainda dorme quando a 350 Km de distância ela acorda. Quatro da manhã. Desperta a filha, apanha o pai e os três seguem com amigos estrada fora, noite ainda rumam ao Norte.

Não foi convidada mas Ovar convida. É prova organizada pelo clube que representa há pouco mais de um ano. AFIS. Conhece a Meia Maratona Cidade de Ovar desde os seus primeiros anos, em consequência da empresa onde ela trabalhava ser assíduo e antigo patrocinador da Meia, até há muito pouco tempo, mas só a sentiu desde finais dos anos 90, quando a correu pela primeira vez. E desde a primeira vez a cativou. Sempre que pôde, lá voltou a cada dia 5 de Outubro.

E a 5 de Outubro de 2008, para participar na 20ª edição, ela moveu céus e a terra moveu alguém por ela.

O certo é que lá estava. Na partida. Numa festa de cor. Num ar que se respira fresco e alegre, pronto a acariciar os corpos assim que estes partirem.

A par da Meia, uma caminhada onde ela levou o pai e a filha, que decidiu ir mesmo à última da hora. Prova de amor incondicional que fica guardada e por contar. A corrida também serve para estas coisas. Para as pessoas mostrarem e provarem o que são e o que sentem. Também uma corrida para jovens levou centenas de crianças e adolescentes a correr em Ovar neste dia de festa.

Ovar não me surpreendeu. Apenas manteve o nível e o encanto. Carinho no ar, que se bebeu em tragos em cada passo pela cidade, ladeados pela floresta e lavados pela brisa do mar no rosto. Aplaudidos e cuidados (a presença da Cruz Vermelha e de membros da organização fizeram-se notados ao longo da prova), os atletas correm ao som de palmas e de incentivos do público que acorre às ruas. Porque há público em Ovar. Colorido como as casas de azulejos e doce como o pão-de-ló húmido das gemas de ovo.

Custo razoável, inscrições de forma simples e regular, assim como a entrega de dorsais com o especial destaque do envio de dorsais para residência de muitos inscritos, e muito boa organização nos momentos que antecedem a prova. Partida da caminhada a distância suficiente da partida da Meia, sem por isso deixar de encher as ruas de rostos de gente, que estão ali para correr ou para andar. Para passarem uma manhã a praticar exercício físico.

Ruas muito coloridas e zona muito animada. Corre-se em Ovar como gaivota voa sobre o mar. Assim se sentiu ela. Os quilómetros marcados não lhe pareceram excessivamente longos e sente-se muito bem. Como sempre ali se sentiu. Muito acarinhada, mesmo quando nem sequer sonhava vir a ser um AFIS.

Sem trânsito, dá por si a correr ora em ruas estreitas de casas de azulejo, ora entre pinheiros e um mar de caminheiros ao lado, ora ainda com a brisa do mar no rosto e as palmas no coração. Transporta consigo tesouros que engrandece em Ovar. Tempos de passagem são anunciados e o controle é feito por pulseiras, lembrando-a que a Meia Maratona Cidade de Ovar merecia já um outro rigor nesse controle.

A chegada à meta é única em Ovar. As placas anunciando os metros em contagem decrescente, o funil de gente empurrando-a para a meta sob um céu azul e envolta em cor que não vem só da publicidade dos muitos patrocinadores, fá-la sentir no céu. Felicitam-na e um saco bem recheado de produtos alimentares diversos e o prato de louça alusivo à prova, devem satisfazer a maioria dos atletas. A ela satisfez, apesar de pensar que um medalhão enriqueceria ainda mais o já farto saco de brindes, onde não faltou também a t-shirt, este ano particularmente bonita e entregue com o cuidado de acertar o tamanho desta ao do indivíduo que a recebe.

Classificações postas on-line rapidamente e um razoável serviço fotográfico, disponibilizado no site da organização.

Por tudo isto, está o AFIS de parabéns por ter levado a cabo pela 20ª vez, de forma quase perfeita, a Meia Maratona Cidade de Ovar.


Um único senão, um reparo, um passo atrás, uma ideia retrógrada a tresandar a xenofobismo sob uma capa qualquer que deixa mais que o rabo de fora, é a persistência da organização em permitir a participação de Atletas estrangeiros, apenas a atletas a convite da organização. Argumento algum poderá sustentar de forma séria, justa e humana, esta retrógrada cláusula do regulamento.

Participar na prova é pactuar com isto? Talvez pareça que seja. Mas participar na prova e denunciar o que em minha opinião é um erro grave de uma organização experiente, dedicada e empenhada e séria, é tentar que alguém veja e reveja essa cláusula sob um outro prisma, sob outros olhares que não o do seu próprio umbigo e talvez quem sabe corrigir e deixar a Meia Maratona Cidade de Ovar crescer, não tanto em quantidade mas em qualidade, evoluindo, para que a igualdade entre os homens passe de uma utopia, de um conjunto de palavras reunidas em papel ou em mesas de assembleias. E ela, deve de estar é na rua, onde os homens vivem, onde os homens correm. Em todo o lado. Também em Ovar.


E no final da prova, me despeço, não de Ovar, não dos amigos, não da Meia Maratona Cidade de Ovar. É apenas... o fim de um AFIS:

Foto de Joaquim Margarido

Mais algumas fotos da prova e deste dia 5 de Outubro de 2008, absolutamente memorável por feliz que me foi, no meu Album

6 comentários:

BritoRunner disse...

Olá Maria, parabéns pelo seu Blogg e pela sua participação na Meia de Ova.
Na viagem que fiz pelo seu album de fotos, qual foi o meu espanto e satisfação em ver uma foto minha com a minha esposa (foto 22).
Pode ser nos encontremos no futuro numa prova qualquer, até lá bons treinos.

JCBrito

Anónimo disse...

Olá Ana

Tenho acompanhado as últimas provas e..."puxa" - como dizem os brasileiros - isso é que foi uma evolução:)) Parabéns.

Foi com chave de ouro que deixaste AFIS.

Um beijinho
Paula

MPaiva disse...

Não sabia da questão da inscrição de estrangeiros. Concordo que não faz muito sentido limitar e participação de quem se pretenda inscrever com essa justificação. Esperamos que este reparo seja tomado em consideração.

luis mota disse...

Olá Ana!
Uma bela participação da comitiva, que cedo se levantou, em Ovar.
O convívio não faltou para enriquecer o dia.
Continuação de boas corridas,
Luís Mota

Anónimo disse...

Olá Maria.
Uma bela história contada à volta da Meia Maratona de Ovar, é um toque de magia e imaginação de quem vive e sente aquilo que faz.
Sobre os Africanos a questão é polémica, eu estaria de acordo consigo se eles participassem também nas outras provas populares, mas como só andam à procura de dinheiro!!! Isto também se aplica aos nossos atletas "profissionais". Que os treinos para a Maratona continuem a correr bem é o meu desejo.
Eu vou à Moita no Domingo mas é para apoiar a Susana, pois ainda não posso correr.
Saudações

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Agradeço as participações de todos.

Em relação à questão comentada pelo Joaquim Adelino, de facto é muito polémica e talvez por isso tão poucos falem dela.

Acreditando que a intenção é uma tentativa de protecção e incentivo ao atleta nacional, creio que uma grelha de prémios separada possa ser uma boa solulão, o que outras organizações fazem. Mas sobre este assunto haverá tantas opiniões quanto pessoas.