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quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Fantasma e Bifurcação

Quando se vem de uma desistência, ainda por cima de uma desistência na prova Rainha – Maratona – por mais voltas que demos, por mais bonito que queiramos pintar a coisa, o fantasma está cá. Comigo. A viver oscilando entre as minhas entranhas e tomando a posição ao meu lado, praticamente colado a mim, não se afastando mais de um milímetro sequer, bombardeando-me com dúvidas e ameaçando-me com um veredicto final e fatal.

A Meia da Nazaré apesar de feliz até metade da prova, apesar dos beijos bons e das palavras motivadoras que recebi feliz, revelou-se muito desmoralizadora em termos pessoais. Apenas por responsabilidade minha, é certo. Responsabilidade, não culpa, como me frisou um amigo na tentativa (falhada) de me fazer sentir menos mal.



Demorei 2h13m39s para completar a distância da Meia Maratona. A partir de meio da prova sofri. Em demasia. Não foi para isto que a corrida se fez – penso vezes sem conta. E é esta a verdade!

Caminhei várias metros, alternando com corrida muito lenta. Demasiadas vezes, com o cansaço a pesar-me no corpo e mais ainda na alma. A ser incentivada por todos os que facilmente me passavam. Incentivo esse que durava sempre pouco pois depressa se afastavam de mim, e voltava a encontrar-me comigo apenas.


Questiono se mais alguma vez irei voltar a correr como dantes: com ligeireza (a minha ligeireza) e com todo o prazer. Se voltarei a fazer 1h36m na Meia, como já fiz. Se voltarei a fazer uma Meia em 1h45m com a maior das facilidades. Se voltarei a ser feliz na corrida. Se, se, se, se…

Medito sobre o sentido da corrida, e obrigatoriamente da vida. O sentido de tudo aquilo.

Estou a atingir o limite. O limite da falta de preparação, em paralelo com outros limites. Absoluta dona de casa arredondada que tenta correr aos domingos. É isso que eu sou, com a grave desvantagem de não ser grande dona-de-casa sequer. Não sei que sou. Mas corro, e sei que se deixar de correr morro. Isso sei. Literalmente morrerei. E não posso deixar que isso aconteça.

Cheguei a um ponto do caminho em que há bifurcações, e posso:
1 – Continuar no caminho que tenho seguido, o que significa continuar a correr como corro, sem hábitos de treino e manter um peso elevado, mas neste caso terei de limitar a minha participação a provas com distância inferior a 10 km, ou mesmo apenas a Caminhadas ligeiras e Minis;

2 – Optar por outro caminho: arrumar as botas (neste caso os ténis), o que significa abandonar completamente a actividade, e arcar com as consequências que conheço e não quero;

3 – Seguir em frente, criando um caminho próprio, a corta-mato, saltando giestas e cardos e rosas e espinhos, alterando hábitos, o que significa recomeçar a treinar de forma a poder tirar partido das competições que mais gosto me dão: longas!

Tendo em conta que a duas primeiras significam frustação, castração e mergulho num abismo de difícil regresso, resta-me escolher a terceira hipótese, mesmo sabendo bem o que ela acarreta também, na minha rotina diária.

Mas não estou só, mas não estou só! É tão bom saber! Só tenho de aproveitar … o que tenho!

14 comentários:

Anónimo disse...

Exactamente Ana, não estás só.

Estou cá eu.

Que não quero nem vou parar, até que o corpo me permita.

A minha vantagem em relação a ti,é que não ambiciono chegar a maratonista. É sofrimento demais, para o estilo de vida e os treinos que faço. Seria um esforço demasiado para mim e para os que me rodeiam.
Mas adoro ver-te a superar as barreiras, a ti e aos outros. Saúdo-vos e fico feliz por vocês.

Gostava que a corrida fizesse mais parte da minha vida, mas também sei que o meu corpo já não mo permite.

É que eu se pudesse,...partia uma manhã a correr devagarinho por aí fora,pela estrada, pela serra, pela praia e só regressava ao final da tarde, cansada, muito cansada mas feliz, cheia daquela felicidade de ter corrido. Sempre a correr.

Bem, há quem medite, nós corremos...

Maluques, o quéq sáde fazer?!

Muitos beijinhos!

Lénia

Zen disse...

Não gosto de fazer analogias e muito menos "passar receitas", o que te posso dizer é que tenho na minha equipa uma mulher, mãe, trabalhadora diária, que se levanta todos os dias às 6.30 da manhã para treinar.Esta semana vai fazer connosco mais de 200km em BTT a correr e de canoa numa altimetria que oscila entre os 200 e os 1600(!)mts.
Confesso que a admiro.
Alternativas "arrumar as botas" ou "arrumar o quotidiano"?
Admiro-te porque sei que nunca optarás pela 1ª.

Beijinhos

... e esperança!!!

Anónimo disse...

Acho que fazes bem em optar pela terceira hipótese.
A segunda é bastante perigosa e de consequências imprevisíveis.
A primeira, embora se adapte a imensas pessoas que conheço e que se conseguem satisfazer e libertar do dia-a-dia dessa forma, acho que não serviria plenamente para ti.
Faço votos para que consigas ultrapassar este momento menos bom.
Existe muita gente, que mesmo não te acompanhando diariamente na tua vida te apoia.
Força!
Carlos Pires

António Bento disse...

Bom dia Ana
a pergunta que sempre faço é: porque corro?
A resposta nunca é pela performance, pois como vamos ficando mais velhotes e as leis naturais são mandatórias, seria muito complicado insistir nesse ponto.
Resta-me o prazer e os benefícios para a saúde. O ritmo ... esse é bastante variável e vai do lento ao muito lento, com delírios e espamos motivacioinais próprios de um tartaruga.
Bons treinos, bom regresso a uma qualquer rotina, que pode ter poucas sessões semanais mas que tenho a certeza vai conseguir abraçar novamente.
Até breve
AB

Anónimo disse...

Bem, se ontem já tivesse lido este post, tinha-te puxado as orelhas!

Vou dizer-te uma coisa: para cada passada de ontem, fiz um esforço (e não foi só físico, aliás, físico ainda é o menos) tremendo.

Falar "naturalmente" daqueilo que nos magoa, é difícil.
Como sabes nunca corri, como nunca fiz ,muitas outras coisas na vida porque a vida é curta (às vezes demais) para fazermos tudo o que queremos. Por isso, só há uma proibição ou uma interdição que devemos repsitar ao máximo: nunca deixar de fazer o que podemos e enquanto podemos. Cedo virá o dia em que já não será possível.

Esta é a maior lição e o exemplo de vida que uma pessoa especial me deixou.
Lutar sempre até ao fim.
Esforço? Sem dúvida. Mas nós nunca desistimos.
Olha, no que depender de mim, não vais desistir. Podes é dizer "cala-te porque não tens nada a ver com isso". Mas eu respondo-te "tenho. conheço-te. é minha obrigação ajudar, ainda que seja um ajuda minúscula..."

Maratona para mim, está fora de questão, mas a Meia...
Estou à espera.

Beijinhos

Anónimo disse...

Olá, Ana Pereira

Ana, nem sempre as coisas nos correm
Bem quer na nossa vida, quer no desporto
Neste caso naquilo que mais gostamos
Correr, quantas provas nos corre bem
Outras menos bem, outras correm mesmo
Mal, que tem sido o seu caso nas ultimas
Duas provas, Maratona do Porto, Meia da
Nazaré, mas não invalida o nosso potencial
Ao longo de muitos anos de corrida, e temos
Que estar preparados para tudo isto.
Ana lembra-se no ano passado na Meia do
Algarve? corremos juntos até ao km 7
Posso dizer que me preparei bem para esta
Prova, no entanto ao km 9/10 dei o berro
O que é que se passou ? não sei! Sei que
Foi a prova que mais me custou acabei
Com muito sacrifício, e a Ana com toda a
Sua simpatia, deu-me apoio moral, duas
Semanas a seguir tínhamos a Meia da Nazaré
E eu disse não vou a esta prova, e vc mais
Uma vez sempre com apoio moral, e fui
Fazer a Meia da Nazaré que a partir do km
12 fomos sempre juntos, mais o António Pereira
E cortamos a meta os três, quero dizer com tudo
isto por morrer uma andorinha, não acaba a
Primavera, portanto minha amiga Maratonas
Há muitas, Meias muitas mais há, portanto
Aconselho-a , a seguir em frente, com a
Terceira hipótese,
Bom fim de semana, bons treinos e não
Esquecer das provas, FORÇA ANA
APinho

Anónimo disse...

Pois é Ana, se bem me lembro e por aquilo que aqui tenho lido, desde Setembro já fez pelo menos 4 ou 5 meias-maratonas. Além disso correu a Maratona do Porto. Bem ou mal esteve lá e pagou o preço do esforço.

É muita corrida para uma mulher só.

Eu, desde Setembro só corri a meia de Ovar e fiz mais 2 provas de 10 Kms. Sinto-me vivo e com vontade de correr e de treinar e isto porque não tenho excesso de provas.

Continuo a treinar 3/4 vezes por semana e tento ter noção das minhas "possibildades atléticas".

Isto de correr é como o diheiro, só se pode gastar o que se tem.
Não vale a pena andarmos a arrastar-nos pela estrada, sem prazer.

Primeiro tem de recuperar a paixão pela corrida e de encontrar-se consigo própria.

Tem de correr atrás de um objectivo, caso contrário não terá motivação. Se a maratona não está, de momento, ao seu alcance, porque não procurar dar o seu melhor numa distância que esteja mais ao alcance das suas possibilidades actuais.

José que também corre

Anónimo disse...

Olá Ana,
Então, o que é isso agora?
Não pode desanimar! Tenho quase a certeza de que todos nós, os que corremos, já passámos por momentos menos bons, com vontade de desistir ,desiludidos com os nossos resultados. Mas acontece que, dias depois, surgirá algo que nos volta a animar e a convencer de que somos capazes e devemos prosseguir. Também isso irá acontecer consigo!
Quando me sentia assim, aproveitava o isolamento proporcionado por um treino no campo para gritar bem alto, dizer palavrões e contemplar os meus "inimigos" com uns "mimos".
Outra coisa que me começou a ajudar nesses maus momentos foi a utilização, durante os treinos, de um "mp3" onde coloquei muita música seleccionada. Experimente e verá como funciona bem a interacção corrida + música preferida.
Vá lá Ana, levante essa moral e DIVIRTA-SE com a corrida!
Ânimo!!!

Anónimo disse...

"A música da maratona é uma tensão potente e marcial, uma das canções da glória. Exige que renunciemos ao prazer, que disciplinemos o corpo, que encontremos a coragem, que removemos a fé e nos tornemos na nossa própria pessoa, total e completamente."
George Sheehan


"Correr é viver, tudo o resto é esperar."
Mark Hanson

Jorge Cerqueira disse...

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Olá meu amiga ANA.
Gostaria de saber O QUE VOCÊ FAZ COM SUA MEDALHA APÓS A CORRIDA?
Este é o tema do meu blog, compareça por lá e deixe sua opinião.
Ah e quanto as falhas que vc teve na corrida de nazaré não esquenta não nem tudo que nós planejamos sai certo, olha uma vez eu treinei bastante para abaixar o tempo da maratona do rio e não é que saiu tudo errado eu não esquentei pensei positivo e na outra vez eu vi aonde eu falhei e na próxima saiu tudo certo.
www.jmaratona.blogspot.com

Um abraço

JORGE CERQUEIRA

Anónimo disse...

SOLIDARIEDADE ATLETICA...
Depois da minha desistencia e da desistência da Maria na Maratona do Porto,ambos,cada um por seu lado,ficámos com uma sombra a pairar sobre o futuro das nossas corridas. Eu calculei que à Maria custasse o mesmo que a mim a digerir um fracasso tamanho,mas com razões diferentes. Eu por erro técnico no treino da última semana,com todas as probabilidades de rápida recuperação - o que não aconteceu. A Maria com um problema maior por resolver: a evidente falta de condições para treinar e daí o peso a mais que numa Maratona é decisivo.
Esperava-nos a Nazaré e apesar dos beijos e das palavras ambos andámos a "apanhar bonés" na segunda parte. A minha 1.36 custou-me os olhos da cara(mais 8 minutos que o habitual). Imagino o que lhe terá custado chegar com mais de duas horas e as feridas que lhe ficaram na alma...
Mas como estes males se curam com o mesmo veneno, hoje mesmo consegui fazer o meu tempo habitual nos 12 km do CRP-Ribafria. Amanhâ recomeçarei a treinar sem limitações fisicas. E lembrar-me-ei da Maria que ama a corrida e não tem tempo para treinar...
Muitos gostamos da Maria não só porque é maratonista mas porque corre também provas mais pequenas onde a sua presença é valiosa. Posso nunca mais a encontrar nas longas por não lhe ser possível treinar, mas sei que nesse caso a Maria estará nas curtas onde dará o seu amor pela corrida, junto de jovens, veteranos,organizações...
Também penso que enquanto correr não morro e quando morrer não correrei.
Vai um abraço solidário!Até à`próxima!

António Almeida disse...

Claro que "A Maria Sem Frio Nem Casa" só pode ir pelo caminho 3.
A Ana não está só 2 vezes, porque além de existirem mais pessoas que têm que inventar o tempo necessário para correr (como a Ana), também existem muitas pessoas que estão consigo (no respeito e admiração que nutrem por si), alguns, creio mesmo que seus amigos (tesouro raro nos dias que correm).
Neste 2º ponto a Ana se calhar tem a sorte (que se procura é certo) de estar menos só que muitos outros.
Força "Ana" vamos lá à inventar...
Continuação de boas corridas.

Rodrigo Silva disse...

Cara Maria Sem Frio

Raramente venho ao seu blog e cada vez que venho lemnbro-me porque é que não venho mais !

O discurso é sempre tristonho, cinzento e lamuriento.

As vezes tambêm me acontece ficar assim...

Cada vez que lhe apeteça escrever um texto destes, vista o equipamento, saia para rua e comece a correr.

Faça acontecer as coisas que quer que aconteçam. Essse é o maior "segredo" da felicidade; fazer por que aconteçam, mais do que "acontecer"

Bons treinos e força !

Rodrigo

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Caro Rodrigo

Agradeço a visita e o conselho para optar por correr em vez de escrever textos "destes" (conselho bom sem dúvida, diria mesmo conselho de amigo, apesar de pouco viável - em mais de 98% das vezes).

Já o mesmo não se pode dizer do último parágrafo. Muito obrigada pelo incentivo.

Fazer acontecer é uma obrigação que temos para connosco próprios, e olhe, pode não acreditar, mas ... então aí sim, coitadinha de mim se eu não "fizesse acontecer", tanta e tanta coisa, Rodrigo.

E... não apareça só raramente. Se visitar o blog com mais assiduidade tem mais probabilidades de me apanhar num "dia bom", que também os tenho.

Desculpe este último parágrafo se não gostar do tom de brincadeira, mas fora dela, mesmo, obrigada pela visita e pelo comentário.

Até um dia destes, aqui ou ali

Ana Pereira