Pelos primeiros dias de Janeiro
2021
Molly, meu amor
Que guardas de mim? Que vês?
Que guardas de mim e levas contigo meu amor?
Eu de ti guardo já onze anos de
muitas alegrias, traquinices, companheirismo, lealdade, dedicação, cumplicidade,
partilha e também algumas preocupações, despesas, trabalho, mas
indiscutivelmente sobressai do saldo, amor, muito amor.
E tu? Que guardas de mim?
Quando me olhas assim, nestas madrugadas frias no Outono da vida, em que vamos
ao jardim, nesse momento só nosso tal como o jardim, as árvores e os melros e
pardais que acordam e nos rodeiam saltitando e esvoaçando, indiferentes aos
nossos teatros mal ensaiados, nestes momentos parados no tempo, em que sou só
eu e tu e tudo o resto se cala, olhas-me como nunca me olhaste. Ficas parada
sem te mexer, buscas-me os olhos e fixas-me o olhar, bem directa aos meus olhos
e entras em mim como nunca o fizeste, atravessas carne e ossos e músculos
dilacerando veias e rasgando carne e músculos e órgãos e tendões e chegas ao
coração e vais mesmo além dele, despedaçando-o, sangrando e tocas-me a alma e
eu nesse momento sei. Simplesmente sei. Agacho-me e afago-te a cabeça, o
pescoço, percorro a mão pelo teu corpo quente, estranho as saliências dos ossos
que no dia anterior não estavam lá e termino na pontinha da pata traseira ou da
cauda, para retomar a carícia na cabeça e repetir o gesto vezes sem conta na
madrugada fria e falo-te. Não só com os olhos e a alma, mas com palavras também
porque tu entendes. Entendes tudo. Não te deixarei aqui meu amor, nem penses
que te deixo aqui, nem penses que te deixo desistir, nunca te deixarei meu
amor. Nem neste relvado gelado onde te deitas, te recusas a andar e mexer, e
imóvel pareces implorar-me o que eu não te consigo dar. Não princesa Molly,
nunca te deixarei e nós não vamos desistir. E se tens de ir, leva-me contigo
meu amor, leva-me aos pedaços contigo, arranca pedaços de carne deste coração e
leva-me, leva-me contigo meu amor. Porque eu nunca te deixarei e porque quando
existe amor, nunca há separação ou despedida possível. Sei que assim será.
Quando chegar o dia levarás pedaços de mim. E eu, guardo já pedaços de ti
dentro de mim, tantos, tantos, meu amor.
Amanhã outro dia minha
pequenina. Somos fortes e vamos vencer esta batalha. Cada dia uma batalha e nós
estamos juntas e somos fortes. E cada dia é uma bênção e uma vitória. E ainda
temos muitas histórias para viver juntas minha pequenina, ouviste?!
Muito feliz por te ter na minha
vida, minha doce Molly.
Sem comentários:
Enviar um comentário