O Cupido tinha consciência que tinha feito merda. Aquela seta disparada, num tiro certeiro mas erróneo, isolado por falta de setas, nunca devia ter acontecido.
Agora era ver o rapaz atingido, a olhar para o mundo e a vê-lo cheio de florzinhas cor-de-rosa e borboletas azuis a esvoaçar à volta dele e dela, e ela, a rapariga a quem deveria o Cupido ter atingido com uma segunda seta, era vê-la por aí, feliz da vida, completamente indiferente àquele momento de encontro com o rapaz, tão especial mas só para ele como nós sabemos. Simpática como sempre, atenciosa, carinhosa e educada, mas ela é assim com toda a gente amiga. Ele sabe isso, ele tem provas disso mas quer acreditar que cada gesto e olhar dela para com ele foi especial. Mas no fundo sabe que não. Sabe muito bem que este seu estado de pairar nas nuvens e viver a suspirar se deve apenas àquela malfadada seta.
O Cupido também sabia muito bem que as coisas não deviam fazer-se assim. E a crise com a consequente escassez de setas não podia ser responzabilizada.
Tinha de fazer alguma coisa. E então aproximou-se de novo do rapaz e decidiu retirar-lhe a seta. Puxou. Estava bem introduzida, tinha penetrado mais fundo que ele pensara e a resistência era grande. Aaaauuu...gemeu o rapaz sentindo os sucessivos puxões do Cupido já desesperado ao ver que não ia ser assim tão fácil corrigir a situação.
Dóiiiii..., disse o rapaz, mas o Cupido estava decidido. Com um ímpeto feroz, segurou a seta com ambas as mãos papudas, vincou os pés gorduchos nas costas do rapaz para funcionarem como alavanca e puxou com toda a força que tinha. E a seta cedeu e saiu por fim fazendo o Cupido cair para trás.
Auuuuuu..., gemia o rapaz, isso doeu... continuava a queixar-se o pobre rapaz.
Pois é natural que doa. O orifício ainda estava aberto, pequena ferida que vai cicatrizar mais depressa do que o rapaz supõe e depressa tudo voltará ao normal. Esta perspectiva se por um lado dava algum alívio ao rapaz, por outro entristecia-o ter de abandonar tais emoções tão violentas quanto doces ainda antes de as ver desenvolvidas e viver plenamente.
Pronto, suspira o Cupido. Está o mal remediado, agora estás de novo por tua conta, remata o Cupido colocando a seta no saquinho que transporta às costas e partindo rapidamente em busca de novos alvos. Ali...um outro rapaz...ou talvez "aquela" rapariga ali...
4 comentários:
Agora estou mesmo triste! Mesmo muito triste, profundamente triste, desolado, amargurado, em pranto!
Não se faz! Caramba.
Isto é indecente, ignóbil, inqualificável!
Já tinha eu feito um profundo estudo do meu (des)orçamento de desempregado de longa duração, perdido noites de volta de folhas de calculo do Excel, mais umas tantas de insónia e depois de muito estudar e meditar tinha chegado a uma “brilhante” conclusão: não tenho dinheiro para comprar umas setas para o cupido de marca mas, com muito esforço, dá para comprar umas na loja dos Chineses que também vão resolver o assunto!
Até já tinha feito a encomenda!
Tudo preparado para oferecer as setas ao cupido para ele poder acertar na rapariga e o filme acabar com passarinhos a cantar!
Que tristeza!
eheheh Portou-se mal!
Bravo, Maria Sem Frio Nem Casa!
desculpa, sim aqui ter entrado
encontrei a porta toda escancarada
as coisas não acontecem por caso...
Te segui desde a nossa amiga Pérola,
ao teu comentário achei muita graça
por isso mesmo não resisto a coisa bela
só gostava que no mundo não houve mais desgraça!
Desculpa ter evadido,
a tua casa sem porta
nem tudo estará perdido
viva a selecção portuguesa na copa!
Um abraço.
Eduardo.
Pronto, acabou, acabou de uma forma trágica, esse cupido podia tentar arranjar uma seta nem que fosse de madeira ou arame sei lá!!
Desistiu muito fácil mas, pelo menos não causou danos de maior, deve ser por isso que há tão poucos apaixonados.......Ai!
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