O Sábado revestiu-se de outras cores, tonalidades mortiças e baças, a distorcer as imagens, mas tão reais e definidas elas, as tonalidades, cinzentas e baças. Recorda-o, ao Sábado, como se fosse hoje, hoje mesmo e de novo Sábado. Cinzento e molhado também como o outro. A repetir-se indiferente e alheio a ela. O Sábado vestiu-se de negro para sair e mais nenhum sábado será igual. Revê as pedras da calçada molhadas, entre as botas calçadas, que ela palmilha no caminho que fez naquele Sábado. Baço e chuvoso. Como hoje. Não havia mais ninguém na rua, Sábado cedo, Sábado negro. Recorda o cheiro do pato a cozer na panela quando reentra em casa. O caldo a fervilhar e o arroz que cozeu nele. Jamais uma canja de pato será igual para ela. Este Sábado entranhou-se de odores, de vozes, de sons e silêncios, de gritos mudos, de dores amordaçadas e escondidas fingidas, que digeriu sozinha.
Hoje, sábado de novo, igual e diferente, mas há coisas que nem o tempo apaga e o Sábado continuará a ter o mesmo sabor, ácido e cruel, amargo como o fel, o mesmo cheiro adocicado e fétido, nauseabundo misturado com o pato a ferver na panela, e o silêncio a doer na alma, apesar dos gritos dentro dela... estridentes e agudos, uivos de dor a rasgar-lhe as entranhas e a querer sair pela casa, atravessar janelas e romper paredes e perder-no no céu cinzento do Sábado, em busca de compreensão, perdão e paz.
Amanhã, Domingo, quere-se igual a tantos outros domingos: dia de Corrida, de rever gente, a correr e a repetir-se alheia e indiferente, como o Sábado, e é dia de correr sozinha e voltar para casa feliz... só porque correu.
Entretanto sente-a aproximar-se, a querer instalar-se ameaçando paralisá-a e castrá-la, mas ela sacode-a com as forças e as armas que tem. É só por isso que amanhã Domingo, ela vai correr. Se ainda for a tempo, se ela a não a apanhar antes disso.
E hoje, ouve vezes sem conta e canta, canta baixinho com o coração cheio de esperança e alegria e paz...não sem sentir um nó na garganta só porque se emociona, e chora e sorri ao mesmo tempo...e segura-se, e segura-se à Vida e canta e canta:
Israel "IZ"
"Somewhere Over the Rainbow"
Música de Harold Arlen, Letra de E.Y. Harburg
"Somewhere over the rainbow
Way up high,
There's a land that I heard of
Once in a lullaby.
Somewhere over the rainbow
Skies are blue,
And the dreams that you dare to dream
Really do come true.
Someday I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far
Behind me.
Where troubles melt like lemon drops
Away above the chimney tops
That's where you'll find me.
Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly.
Birds fly over the rainbow.
Why then, oh why can't I?
If happy little bluebirds fly
Beyond the rainbow
Why, oh why can't I?"
4 comentários:
Força aí amiga, vejo que estes textos magoados que vens escrevendo são mesmo sobre a tua dor.seja ela qual for, não me quero intrometer mas...~
Não sei que dizer, podes contar conosco, se quizeres.
beijos nossos grandes eugéniae Iosif
a sério
Minha queria Amiga Eugénia, deixa-me dizer-te: os amigos não se intrometem, mas sim, preocupam-se e interessam-se! E é nesse patamar que te tenho: de Amiga.
Deixa-me só "descansar-te": a Mafalda está bem e eu também; o resto (as dificuldades e obstáculos - as tais pedras no caminho ou as que nos caem em cima) não são nada a que não sobreviva.
Mas sabes... escrever na porcaria deste sítio, faz-me bem. É como expulsar os demónios de mim, faz-me bem e por isso o faço.
Obrigada por estares presente e disponível, aqui e fora daqui.
Um grande beijinho para ti e para o Bletan
Estou a ver que sábado cinzento é algo comum a almas diferentes:-)
Temos de espantar essa cor pardacenta e vestir o sábado de luz e cor.
Amanhã, ainda vais correr...que bom! Eu, amanhã, não correrei...ainda assim, acho que corro convosco.
Boa prova e beijinhos à nossa equipa.
Oi Ana,
Amo esta canção ! É linda!
Pôe-me bem disposta!
Bjo
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