- Mãe?
- Diz.
- Temos de começar a treinar. Posso correr contigo, por exemplo todos os sábados ou todos os domingos. Mas sempre! Não há preguiça nem "ai quero dormir". É para ir... é para ir!
- A sério? Queres? Mas porquê? - a Mãe não consegue esconder a surpresa. A filha sempre abominou a corrida perante os bens intencionados amigos e colegas de corrida da Mãe que sempre que vêm a miúda insistem para que ela corra, como se isso fosse uma pisada a seguir só porque a Mãe corre, e o pai e o avô correram até a saúde o permitir.
- Ora Mãe! Para estar em melhor forma física. Para apanhar o Ricardo quando ele me rouba o boné, por exemplo. Oh Mãe, eu gosto mesmo de correr, estás a ver? Mas correr mesmo, fazer sprints, depois abrandar, assim, estás a ver? Depois descansar um bocado e depois correr de novo a alta velocidade, sentir os cabelos ao vento e... aí sinto-me como...como... um cavalo selvagem! Adoro! Estás a perceber Mãe? É que eu gosto mesmo muito de correr, mas assim, não em provas, com inscrição e dorsal e isso tudo, isso é uma grande seca..."
Surpresa, a Mãe está a ver sim senhora. Está a ver e a perceber que afinal a miúda, genuinamente gosta de correr, gosta efectivamente de correr, como a Mãe se recorda de ter gostado também um dia. Talvez se tenha distraído e fugido da essência, da essência da corrida, longe das provas e das multidões e das t-shirts uniformes e das cores dos clubes, dos Garmins e dos Polares e das pseudo reportagens escritas e fotográficas que se espera que se faça, porque as organizações merecem, porque é importante divulgar, etc. etc. Tudo muito válido, mas há que garantir a essência, senão nada que se faça fará sentido. A Mãe precisa de regressar à Essência. Sua, para encontrar de novo a Corrida na sua plenitude. Desejem-lhe sorte nesta busca por favor.
