Não
sei se será da idade, se das experiências com que a vida me tem presenteado, o
certo é que aprendi a relativizar as coisas e a valorizar o que realmente é
importante. Também perdi a impetuosidade de outros tempos (em parte),
própria da juventude e aprendi a viver com paixão e alegria tudo
aquilo que a vida me permite fazer ao invés de chorar o que não posso fazer. É
outra Ana.
E
a antiga Ana, não iria jamais ao 8º Trilho das Lampas. A má forma, aliada às
lesões e algumas limitações que não interessam nada para aqui pois cada um tem
as suas, jamais se permitiria acreditar que seria capaz de percorrer os 15 Km
do Trilho. Mas esta Ana, eleva ao expoente máximo, o valor da amizade, da saúde
e das oportunidades que a vida lhe dá. E quando o Fernando Andrade a desafia,
em poucos minutos passou do "nem pensava nisso de todo, não estou em
condições" para um firme "Vou sim senhor!" A tal impulsividade
ainda cá mora e em doses moderadas é uma coisa bastante positiva na maior parte
das vezes.
A
verdade, é que o Fernando Andrade simplesmente me pôs lá a Correr e eu...fui.
Fui e fiz! Simples! E com a brincadeira continuo a ser totalista da prova, a
dizer presente desde a 1ª edição, o que muito me orgulha, até porque foi no
Trilho das Lampas que me iniciei no Trail, decorria o ano de 2013.
"...eu
quero é que desfrute do Trilho"...foram as palavras-chave. Deixou de
interessar a péssima forma e outras condições físicas limitativas e passou a
ser prioridade...desfrutar do Trilho, e assim foi. Prioridade também a amizade,
dos amigos que convenceu a participar (nas 3 modalidades da prova: Caminhada,
Trilho curto e Trilho Longo), do Fernando Andrade, que por razões de força
maior teve de assistir a tudo de forma remota e não podemos dar-lhe aquele
abraço e agradecer por tudo isto e ainda a amizade dos amigos que
reencontrámos, e que mexem com emoções por vezes adormecidas.
O
Trilho das Lampas começou às 19:30hrs, e corro por aquele relvado tão familiar,
o plano era correr na partida e depois na chegada. Era o mínimo exigido a mim
própria. No durante, faria o que pudesse, acautelando-me para não sofrer
desmesuradamente e não me dar mal.
Dou
por mim a aguentar-me relativamente "bem" no meu passinho de Corrida
muito lenta. E o Trilho está tão bonito. Tão docemente apetecível, como se me
abraçasse e me envolvesse nos seus braços à medida que avanço. Há sensações inexplicáveis, e ali, sinto-me em casa, acolhedoramente
abraçada por toda a Natureza e ambiente envolvente. Caminho nalgumas subidas,
naturalmente. E descubro que afinal as Caminhadas que tenho feito por serras e
vales, contam alguma coisa para a preparação, e foram o que me valeram aqui,
não tenho dúvida alguma.
O tempo está seco, algum vento, mas mal começamos a correr, sentimos a temperatura amena. O céu está cinzento e não vai haver pôr-do-Sol. A praia da Samarra, o som do mar, os riachos que atravessamos, a água que parece cantar, o verde, os pássaros, as rãs. Todos os sentidos alerta, uma sinfonia de emoções, orquestra magistral a tocar na minha alma. Depois fica noite, acendem-se os frontais (desta vez com pilhas novas) e apuram-se ainda mais os sentidos. Há passagens verdadeiramente mágicas no Trilho das Lampas, Marcações irrepreensivelmente bem colocadas e mesmo quando fiquei sozinha no Trilho, senti-me tão bem, tão segura, talvez porque nunca estamos verdadeiramente sós. Sensivelmente a partir do km 11 ou 12, apesar do Trilho ser perfeitamente corrível e o meu frontal iluminar o caminho muito bem, foram as pernas que me traíram e passei para o modo Caminhada. Não respondiam simplesmente. Mas a cabeça também manda e segui firme um passo a seguir ao outro. Queria também guardar alguma energia para cortar a meta a Correr e também por isso, mantive o passo de Caminhada. Entra-se num espaço, que fiquei a saber ser privado, gentilmente cedido para a nossa passagem e parece uma floresta mágica. As árvores nossas amigas, iluminadas pela luz do frontal, espectros fantásticos a alimentar a magia. Há archotes a iluminar o caminho e é hora de recomeçar a correr. Por fim sai-se do portão para o largo de S. João das Lampas, entra-se no relvado e corto a meta, feliz e completa, com a inequívoca certeza de que somos capazes de muito mais do que julgamos. Na Corrida ou no que for.
Demorei
2h25m43s para percorrer o Trilho curto (15 Km). Fui a 215ª a chegar à meta de
um total de 268, e ainda a 14ª no escalão (F50) de um total de 20 miúdas do meu
escalão.
A
versão Trilho Longo, com a distância de 24 Km, teve 199 atletas chegados à
meta.
Os
abastecimentos foram do melhor, e ainda uma sopinha de legumes no final. Muito
bom.
A
medalha muito bonita. E até a Caminhada teve medalha!
A
Corrida, o Trilho, a Amizade. Coisas boas da Vida. E Correr, Correr no Trilho das Lampas é
tão bom! Sem dúvida que usufruí do Trilho. De forma grandiosa e intensa. Por
inteiro. Com todos os sentidos apurados, dedicados e empenhados em absorver
tudo avidamente e processar internamente e depois transformar em emoções que nos fazem
sorrir e ser feliz por dentro.
Agradeço
especialmente ao amigo Fernando Andrade por tudo, à Organização: Meia Maratona de
S.João das Lampas - Grupo de Dinamização Desportiva, à Sociedade Recreativa,
Desportiva e Familiar de S.João das Lampas e a todos os envolvidos
que contribuíram para que o 8º Trilho das Lampas se realizasse e nos recebesse
assim, desta forma única e tão especial.
Para o ano, lá estarei de novo! Afinal, sou totalista da prova, já vos tinha dito não já? E enquanto houver vida em mim, assim quero continuar.
Outras informações:
O site da prova: Trilho das Lampas
Resultados podem ser consultados aqui
A Partida, por Miguel Pinho, pode ser vista aqui
E para quem tiver curiosidade, aqui, através dos links abaixo, fica a minha história de amor com o Trilho das Lampas, desde o seu início:
1ª edição - 2013 + Imagens, aqui
Com o amigo Mário Lima |
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