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terça-feira, 3 de abril de 2018

O carreiro e o treino no Monte

Um dia, quando caminhava no meu jardim relvado, em silêncio, usufruindo de momentos de paz e tranquilidade, pensando precisamente que aquela relva já estava a precisar ser aparada e melhor cuidada pois ervas daninhas começavam já a predominar e ganhavam uma altura que em certas zonas nos chegavam aos joelhos, quando, entre um olhar fugaz ao cão que, livre, serena e alegremente farejava aqui e ali, e um olhar para a planície imaginada a partir de meia de dúzia de metros quadrados de verde, eis que vejo de forma nítida e inequívoca, um carreiro  estreito, ali no meio da relva e também ele relvado, mas onde incrivelmente, a relva se mantém cortada e nem uma erva daninha se atreve a invadir o espaço. Estranho. Este "carreiro", ao contrário de muitos naturalmente criados pela regular passagem das pessoas, parece não vir e não levar a lado nenhum, dir-se-á à pimeira vista e continua a ser claramente verde, em vez de terra despida, provocado pelos passos e peso das pessoas Ali, a relva não está mais pisada que a restante existente ao redor. Como se os seus utilizadosres fossem de uma leveza e delicadeza surreal. Simplesmente, ali a relva não cresce tanto, como se fosse mais cuidada, e as ervas daninhas parecem estar interditas e respeitam o carreiro, não o invadindo. Curioso no mínimo.

Atenta ao "fenómeno", ao longo das semanas, constato que o carreiro se mantém e apresenta-se-me cada vez mais visível e definido, enquando ao seu redor todo o tipo de vegetação já cresce desgovernadamente. Um dia, entrei nele, no carreiro. Dou alguns passos e levanto a cabeça. Sinto-me leve, muito leve e de repente tudo faz sentido. Em frente, mesmo depois de acabar o relvado, e imaginariamente atravessando passeios e bancos de jardim que estão lá, o carreiro leva-nos direitinho para a porta principal da velha capela em ruínas. Exactamente em linha recta! Arrepio-me. E saio do carreiro.

Outros dias se seguem, e ele lá se mantém, até agora que a  relva e as ervas daninhas em redor  foram cortadas pelas máquinas e pelos homens, o carreiro mantém-se com uma tonalidade diferente de verde e perfeitamente identificável.

Por vezes atravesso-o ou dou apenas dois ou três passos dentro dele. Sinto-me demasiado leve nele e sei que me leva para outra dimensão, universo pararelo ou lá o que queiram chamar. Muda a percepção do tempo e do espaço. E depois sinto-as. E sinto medo. Um medo doce e tentador que me leva para o desconhecido. E salto fora do carreiro enquanto é tempo.

Tempo. Espaço.  Universos paralelos e dimensões desconhecidas e misteriosas. Um tema interessante sem dúvida.

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O treino no Monte

Todos os que correm, conhecem perfeitamente as boas sensações provocadas pela Corrida. Entre elas, as sensações de transcendência, imaginária ou real. Quem nunca sentiu, que enquanto corremos parece que somos levados para lá do conhecido? Para um universo distinto daquele que conhecemos? Viagem interior em cada um de nós, em cada Corrida ao encontro de nós próprios talvez. Sensações que afinal são tão facilmente explicáveis a nível científico, pela produção de substâncias, como por exemplo as endorfinas, no nosso corpo e cérebro quando o tempo de Corrida se alonga. E lá se vai a magia da transcendência...

E hoje, eu fui correr sozinha para o Monte. Só eu e o Monte. Vacas, cavalos, ovelhas, cabras, o cão pastor, o céu, a vegetação, as pedras, a árvore, o moinho em ruínas, eu e o Monte. Absolutamente maravilhoso. Sem grandes transcendências ou experiências extra-sensoriais. Afinal não corri mais que hora e meia.

Munida de telemóvel, para qualquer eventualidade, com  ele, de forma prática, também usufro do prazer da fotografia. Recolho imagens que trago comigo em forma de fotografia, para além da retenção na retina e na alma que só a memória pode guardar. Além disso, o meu único controlo de treino, tempo e ritmo, neste momento, é o telemóvel e o Strava, que utilizo, para além dos caminhos que já conheço, da experiência e da maneira como me sinto a correr, o que sabemos pode ser muito enganadora a nível de ritmos e distâncias.

Corri devagar e andei muito. Praticamente sempre que subia, andava. E subi ao ponto mais alto do concelho de Vila Franca de Xira: o nosso Monte Serves, a uns míseros 350 m de altitude mas é o que temos e é muito bom!

Estou a treinar para o 6º Trilho das Lampas, a realizar-se a 12 de Maio, e tenho muito trabalho e prazer pela frente! Para depois, usufruir mais e melhor da prova! E o treino de hoje foi o adequado e possível.

Treino maravilhoso. Comigo mesma, ao meu ritmo. Surpreendentemente, quando termino e desligo o Strava, ela marca 1h31m (1h23m em movimento) - bate certo, mas marca também 13 Km! 13 Km! Impossível. Pelos meus cálculos, fiz entre 10,5km a 11 km no máximo! Logo o ritmo médio é falseado! Primeira reação é ficar chateada! Uma pessoa gosta de saber o que fez, avaliar o estado em que está, etc., etc. Mas isso é tudo secundário! Absolutamente secundário! Afinal corri, subi ao Monte Serves, sigo a minha preparação para as Lampas e vivi bons momentos pelo Monte acima e Monte abaixo!

E depois, concluo que afinal o Strava deve também ter contado com alguns passos fantasmas que dei. Numa outra dimensão qualquer, numa realidade paralela qualquer por onde andei nesta manhã. E afinal, sim, acredito que o Strava está certo! Percorri e vivi muito mais que os estimados 10,5 km a 11 km que penso ter feito nesta realidade que conhecemos!

treino de hoje, registado pelo Strava, para ver aqui









2 comentários:

Anónimo disse...

Ana,

Parabéns...um bom relato e um bom treino.

Quanto aos kms que o relógio regista não terás entrado em transe durante uns momentos da tua corrida e não te lembras? Hum???

Bjs e continuação de bons treinos "dos quais" tenho muitas, mesmo muitas saudades.

Até...

Fernando Sousa

Filipe Torres disse...

Adorei a história do carreiro! Até me arrepiei eheh