Cochicham entre dentes que ela tem uma coisa má. Cancro ou mesmo Sida, é ao que eles se referem, mas evitam a palavra, sempre a palavra, como se a palavra, proferida por suas bocas, saída entre os lábios deles, em sussurro que fosse, os pudesse misteriosamente contaminar.
A conversa, ao invés de revelar preocupação, o que à primeira vista nos poderia sugerir, reveste-se antes de fonte viva de mexerico, de alienação da sua própria vida, substituída e preenchida com a do alheio, numa íntima e secreta satisfação
Ela enfrentou os olhares deles, acompanhados de sorrisos baços sem graça ou vivacidade ou naturalidade sequer, retribuiu como pôde e passou por entre eles, abrindo caminho em silêncio e sentindo de seguida os olhares deles a cravarem-se-lhe nas costas como punhais afiados de dentes em serrilha.

Ninguém a abordou. Trocam olhares entre si e mal ela se afasta o suficiente para não os ouvir, a conversa retorna até ao momento de ser substituída por outra, de carácter idêntico ou não, mas sem dúvida com o mesmo intuito, sobre outro alguém que deixara o grupo entretanto.
Não imaginam sequer, nem verdadeiramente lhes interessa, quão má é a coisa que ela tem.
"O suicida fracassado, utiliza o insucesso da sua própria morte induzida e fracassada para fazer crescer o rol de incapacidades com que se auto define, e dessa forma infligir maior dor e angústia à sua existência até a tornar de novo numa tortura dolorosa até ao humanamente insustentável. O suicida bem sucedido... bem...esse não está cá para contar."