“Não pares agora…”
Seria uma pena de facto, agora que parecia que a rapariga ia de novo entrar nos eixos, ajustando-se e criando a sua própria engrenagem que põe em funcionamento uma maquinaria complicada, enferrujada e adormecida, e absolutamente improvisada e reinventada agora, desperta por ele, engrenagem essa que a impulsiona para a frente em quaisquer circunstâncias, mas há por vezes um deslizar suave dos lençóis que a cobrem nas noites frias e que lhe expõe o corpo e a alma, mais esta que aquele, pondo-a a nu, desprotegida e frágil, vulnerável e debilitada, susceptível e fraca.
Assim, uma derrapagem momentânea poderá facilmente ser interpretada como paragem, deslize, fraqueza, incerteza, desinteresse, medo e/ou desistência.
Assim estão os treinos e a forma física. Assim como o beijo que ela lhe deu… a medo, sequioso mas tímido, pedindo tudo e dando tudo, mas no entanto incapaz de expressar o que grita, muda, a alma, num sufoco agonizante, ardendo de desejo e da angústia da ausência. Assim, o rosto dela deslizou sobre o dele, para lasciva, natural e inocentemente, deixar os lábios dela tocarem os dele, num doce e suave rascunho de beijo, espontâneo, não planeado, previsto ou intencional, como desenho em papel branco imaculado, mal definido, com contornos vagos a traços suaves de carvão, no entanto um beijo sem dúvida alguma, apesar de não passar de um rascunho. Assim estão os treinos e as corridas e outros exercícios. Não passam de rascunhos à espera de definição numa sebenta de capa preta. Assim está o beijo deles, em rascunho a aguardar forma.
“Não pares agora…”
Sob o olhar penetrante dele, ela rendeu-se desarmada… e prometeu que não iria parar.
2 comentários:
olá Ana
qualquer obra, em qualquer das vertentes da vida, começa sempre com um rascunho.
Bj
AB - Tartaruga
As palavras pesam tanto quantos os sentimentos..
Seja o corpo ou a alma não será, concerteza, um peso ou pesos que as inibem de ser os rascunhos...mais que um rascunho todos precisamos do beijo.... mesmo sendo rascunho quando se escreve....efectiva-se.... e aí ultrapassa a dimensão da folha onde foi rascunhado.
Belíssimo post, parabéns Ana.
JGarrido
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