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sábado, 19 de julho de 2008

A gente tem tudo Anucha!


Dói-me. Não sei onde nem porquê mas doí-me.

Entrou de mansinho no quarto e tocando-me num ombro sacudiu-me com suavidade mas vigor suficiente para me acordar.

- Anucha! – chamam-me Anucha com o carinho de quem me conhece há 25 anos. – Anucha! Acorda! Acorda Anucha!

Com o sacudir do corpo letárgico, acordo, abro os olhos num rasgo sonolento e descortino a Ana, magra, de faces secas deixando sobressair os ossos da cara de forma assustadora. Talvez a penumbra do quarto lhe acentuem e exagerem os traços e ela não esteja realmente assim.

- O Paulo perguntou se já vendeste a casa. Anucha! A gente tem tudo Anucha! Temos saúde, a gente tem tudo… Se o visses assim numa cama sem …

Não terminou a frase mas eu compreendi. Apertei-lhe a mão com um nó na garganta e compreendi. Acordei.

Obrigo o corpo. Saio da cama e puxo o estore da janela. Estou sozinha em casa. E aquelas palavras comigo. Sozinha mas acompanhada. Compreendi. Tomei duche e aguardo amigos que me darão boleia para a Lagoa de Santo André. Tenho uma corrida para fazer. Eu tenho tudo. Eu tenho tudo…

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