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sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A minha MARATONA DO PORTO ou Foi bom enquanto durou!

Na Feira, jantar massa com música ao vivo: Antes da partida: O Melhor e mais forte abraço:
A darem-me força:

e mais força, que bem ia precisar:

Agora estamos todos para o mesmo: confiantes, apreensivos, nervosos, sabe-se lá o que vai dentro de cada um:



Partida dada: a sorrir feliz para o Margarido:


A avidar o francês para se preparar para a foto (obrigada Carlos):





Ainda confiante que ia chegar à meta a correr:
Dois dias felizes no Porto

Sem treinos mais longos que metade da distância da Maratona, e com regularidade de semanal a quinzenal, chegando mesmo a atingir as três semanas sem correr, assim cheguei eu à Maratona do Porto.

E quando praticamente na véspera, em conversa com um amigo, ele me diz que temia que eu lhe dissesse que ia mesmo fazer a Maratona, eu fingi não o entender, e reforcei a ideia de que apesar de muito mal preparada ia tentar, ajustando o ritmo e traçando um novo objectivo, e acreditei que ia ser possível. Acreditei mesmo.

No sábado véspera da prova, partimos de Lisboa, divididos em dois autocarros, 66 indivíduos rumo à Maratona do Porto, dos quais, exactamente 33 iam para a Maratona.

Segui tranquila, apesar de ter passado muitas dias e muitas noites a pensar se deveria alinhar à partida, a sentir medos e pavores, confiança e desgraça oscilando num mesmo segundo.

A véspera foi passada em viagem, um almoço com os amigos mais chegados: sardinhas fritas e arroz de tomate, e a tarde foi passada na Feira da Maratona, onde se levantava os dorsais e onde era oferecida a Festa da Massa.

Muitas caras conhecidas, verdadeiros reencontros felizes de pessoas que por mais distantes que estejam e sejam, continuam a ter esta magia que as une invisivelmente e que muitas vezes se torna visível: a corrida.

Saliento outra vez, acho que não é demais, o trabalho do gabinete do Apoio Psicológico ao Corredor, a decorrer na feira, onde reencontrei a Tatiana que me atendeu há 2 anos, e a Helena que me atendeu no ano passado, e que mais uma vez estiveram cinco estrelas no brio e entrega que têm ao que fazem. Se formos capazes, com elas (ou seus colegas) nos vemos a analisamos. Factores como a motivação, a ansiedade e a expectativa, são ali analisados e saímos sempre reforçados para alinhar na partida da Maratona e para suportamos os vários estádios que atravessamos na prova. Com elas e através delas, saímos mais fortes das nossas convicções e das nossas razões de ali estarmos. Para elas (e todos os seus colegas), do lado de cá, os meus mais sentidos agradecimentos e a maior salva de palmas.

E assim me deitei tranquila. Muito bem mentalizada e motivada para correr durante umas 4 horas e muito, talvez 5 horas. Devagar, devagarinho. Acreditei partir e chegar ao fim.

A manhã chega depressa e estou já na partida. De novo os mesmos amigos e agora outros também. Verdadeiro e sentido prazer em rever. Os que vão correr e os que estão ali só para nos verem partir. Emoção, muita emoção. O dorsal da Maratona pesa-me no peito e sinto a responsabilidade. Abraços leves e outros apertados.

- Gosto muito de ti, Mamã! – o abraço não me larga a corrida toda e ela, a minha filhota vai esperar-me para cortar a meta comigo.

Encontro ao meu lado na partida, posicionado bem cá atrás, um amigo que não via há 2 ou 3 anos. Está ali para se estrear na Maratona o Luís. Diz que se lembra muito do que eu dizia sobre a Maratona, e treinou para ela. Vai estrear-se mas vai com algum receio.

Seguimos juntos e também com o Fonseca que já tinha prometido acompanhar-me, o que eu agradeci mas pessoalmente não gosto muito desses compromissos, mais ainda numa prova tão longa. Apanhamos um francês e seguimos juntos. Devagar, felizes.

Ao quilometro 10, incentivo o Luís a deixar-nos e acompanhar 2 colegas que iam ligeiramente menos lentos.

- Segue Luís! Confia em ti! Tens treinos para acabar isto, e sempre é melhor ires com companhia. Por aqui as coisas não se sabe como acabam. Confia em ti! Vai!
E ele foi. E hoje é um Maratonista!

Nós seguimos bem os 3: eu, o Fonseca e o francês. Bem connosco e com o mundo.

Km 25 sensivelmente: o francês vai para a frente, o Fonseca para trás (com caimbras) e eu sigo conforme posso. Nesta altura sinto já um certo esforço em manter a passada (por mais ridículo que isto parecer a algumas pessoas).

Ao subir para a Ponte D.Luís, ainda a comer laranja do abastecimento, caminho e as pernas parecem troncos de árvore pesada que tento fazer deslocar para a frente: primeiro um pé, depois o outro, e parece que é isto andar…

Volto a tentar correr: não! Uma dor fina, aguda e bem definida está instalada no joelho direito e o tornozelo esquerdo queixa-se do mesmo, em cada vez que o pé toca o solo, alternadamente os pés, alternadamente as dores. Não! – grito mudo este. Caminho. Corro, caminho, corro, caminho, olho o cronómetro, corro, dois passos, o joelho, o pé, outro passo, caminho, impulsionar a perna para a frente é trabalho árduo e nunca pensei que caminhar pudesse ser tão difícil. Coordenar as pernas é difícil. Ouço-me. Paro, olho o rio. Mais 2 passos de corrida. Não! O joelho! O pé! Caminho.

Sou passada por alguns atletas que iam atrás de mim.

Ouço-me. Grito por dentro. Solto lágrimas sem soltar! Ouço-me!

Quilómetro 29: o cronómetro marca 3h19m19s. Faltam 13,195 m e eu ouço-me! Paro o cronómetro (como se isso fosse importante) e encosto-me à placa aguardando.

- Estás à minha espera? - diz-me o Fonseca ao passar por mim agora parada.
- Não… estou à espera da ambulância… mas estou bem, apresso-me a dizer.

A Cruz Vermelha abre-me a porta da ambulância e pergunta-me.

- Que é que você tem?
- Tenho falta de treinos, só isso. Estou bem! – respondo subindo já para o banco, onde choro por fim.

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- Mãe! Tu disseste que nunca se desistia!
- Amor! Sim, disse, mas mais importante que não desistir é sermos inteligentes para perceber quando temos de parar, e pararmos antes de cometer excessos que prejudiquem a nossa saúde e nos façam mal, percebes?
A Mãe tentou, mas ainda faltavam 13 km, estava a doer-me um pé e um joelho, estava exausta, até andar me custava, foi melhor desistir e estar agora aqui bem, do que não desistir e cair para o lado, não achas?

A explicação era para ela mas eu também precisava ouvir aquilo, por isso assim falei bem alto. E repeti vezes sem conta.

De facto, racional e inteligentemente fiz o que tinha de ser feito. Mas existe uma sombra, ai isso existe, e uma culpa, pois não respeitei a Maratona. Resta-me pensar que respeitei o meu corpo. Que acreditei, que tentei, e que foi muito bom… enquanto durou.

Antes da Maratona escrevi que participar seria um acto louco mas consciente. Hoje, resumo assim: a loucura enquanto durou foi muito bom, mas mesmo muito bom, e quando tive realmente de ser consciente e tomar uma decisão, fi-lo! Com inteligência e coragem!

Mas cá dentro o Km 29 ficará sempre na memória como um marco, uma barreira, e um fantasma! Ai quando passar por ele na minha próxima Maratona… mas irei treinada, porque loucuras destas não são para se repetir muitas vezes.

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10 comentários:

António Bento disse...

Bom dia Ana
há um limite que também aprendemos a superar e para o qual é preciso coragem: a capacidade de dizer não!
É tão importante como ir além dos nossos limites. E é importante saber utilizar essa força da recusa nos momentos em que sabemos estar em perigo.
A nossa saúde é o mais importante pois só assim podemos amar plenamente os que nos são queridos. Também a coloquei em 1º lugar e só terminei porque tinha mais quilómetros treinados. De resto ... foi muito semelhante. Não é por acaso que temos este vício comum, e a beleza reside precisamente em sabermos - sem ser preciso falar - o que todos sentimos.
Um bom fds, uma boa recuperação, bom regresso às corridas e parabéns pela coragem e capacidade de luta.
Até breve
ab

José Capela disse...

Boa tarde Ana,

Penso que pior que teres desistido era não teres alinhado à partida!
Certamente, que valeu pela experiência enquanto durou e que te será muito útil numa próxima maratona. Se analisares a corrida por uma prespectiva positiva, contabilizaste um belo treino longo!!!

Boa recuperação, boas corridas!!!

Beijokas

José Capela

Anónimo disse...

Olá Ana,
Nos dois comentários anteriores já se focou o mais importante e eu subscrevo-os. Por favor não faça disto um drama. A corrida existe e faz-se para nos divertirmos, não para nos deixar assim "em baixo". O melhor remédio para ultrapassar esta fase é começar já a preparar a próxima. Digo-o com conhecimento de causa já que, no passado, vivi duas situações semelhantes.
A maratona é mesmo assim, cheia de mistério e encanto.Por mais que convivamos com ela nunca a chegamos a conhecer a fundo. Nunca devemos perder-lhe o respeito...
Permita-me que a convide para participar na 16ª edição da Maratona Popular de Badajoz a realizar aqui bem perto de minha casa, no último fim de semana de Janeiro. É das mais fáceis que fiz.
Ânimo Ana e boa recuperação e bons treinos.
JC-Elvas

Jorge Cerqueira disse...

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-ooO--(_)--Ooo—
Ola amiga corredora estive visitando o blog do meu amigo corredor www.trilhosmiticos.blogspot.com e vi o seu blog lá e resolvi fazer também uma visita aqui, primeiramente meus parabéns pelo blog e pelas corridas e segundo informo que sou do Brasil da Cidade do Rio de Janeiro e que criei um blog de corrida www.jmaratona.blogspot.com e convido vc passar lá para deixar uma msg do que achou e mais uma vez parabéms pelo seu blog e se quiser me adicionar aqui ficarei grato é sempre bom fazer novas amizades principalmente vindo das corridas.
Bom final de semana.
Um abraço,
JORGE

TOTO disse...

Oma Ana;
sâo coisa que nos estemos sempre aprender.
por min nâo està nada perdido desta marathona,vôce tirou muintas ideias e pensou muinto.
eu sei que para aproxima marathona
vôce vai treinar doutra maneira.
tambem eu na meia marathona soufri. um boucadinho.
estava muinto calor.

espero encontrala mais uma véz ;
foi um prazer para min.
antoine

António Almeida disse...

Boa noite Ana,

Felicito-a pela coragem de ter tentado, não é por ter deixado de concluir esta maratona que deixou de ser uma maratonista já com 4 maratonas corridas.
Apesar de tudo penso que fez bem em ter tentado.
Pessoas como a "Maria sem Frio Nem Casa" fazem falta a este mundo de corridas, pessoas como você são uma inspiração e um exemplo.
Continuação de boas corridas.

Anónimo disse...

Fizeste o melhor que o teu corpo permitiu. E não foi assim tão pouco como isso. Muitos não chegam tão longe, outros nem sequer chegam a partir.
Tomaste boas opções, a primeira não desistir logo à partida a segunda parar quando era mesmo necessário.
Ficarás com mais esta experiência, e com as recordações de pelo menos 29 km de prova. Será certamente útil numa próxima vez.
Bjs
Carlos Pires

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Aos que me abordaram pessoalmente, ou em privado, já não preciso dizer mais nada, mas há sempre alguns cujo único contacto é este mesmo aqui, e não será por isso que têm menos importância.

Ao António Bento: mais uma vez, os meus agradecimentos. Voltaremos a encontrarmo-nos sem dúvida, por aí numa estrada qualquer.

Ao Capela: até já

Ao João Coco de Elvas: muito obrigada pela visita e comentário, e também pela sugestão!
De facto, no momento da desistência e depois, reafirmo para comigo mesma: a Maratona não se fez para isto! A Maratona fez-se para a vivermos, com gozo, e se a linha que divide o prazer da dor que leva à morte, pode ser ténue, eu desta vez reconheci-a perfeitamente e parei.
Não, não faço drama nenhum, mas claro que estaria mais feliz se tivesse conseguido chegar à meta, mesmo a passo de caracol (desde que com o mínimo de "conforto". Mas chegar à meta "a morrer" não é acto que considere heróico.
E sim João, já estou a considerar e planear a próxima.

Agradeço a sua sugestão - Badajoz -mas factores vários levam-me a apontar para Sevilha no final de Fevereiro.

Espero continuar a vê-lo por aqui e ali, na estrada (se o vir, por favor fale-me, quase de certeza que não o reconheço...apesar de já nos termos apresentado pessoalmente, não já?

Ao António (toto): Foi um prazer conhecer-te e passar aqueles momentos contigo! Continuaremos a ver-nos por aqui e até à próxima corrida.

Ao António Almeida: obrigada, faz-me sentir "alguém"...Retribuo as palavras na íntegra. O António, não desfazendo de ninguém, é também um exemplo! De alguma forma equiparo-o ao António Bento. A forma de correr, de estar, de viver, de transmitir, de trazer a família junto ao coração, é lindo! Continuação, muita força e até um dia aqui ou ali, na estrada a correr.

Ao Carlos Pires: até há pouco tempo pensava que o Carlos nem sabia da existência deste blog... é importante uma palavra, para saber que as pessoas estão aqui. Obrigada Carlos, por antes, e depois da Maratona e por agora! Um beijo à esposa e ao filhote. Até breve numa corrida qualquer.

Ao Jorge do Brasil: obrigada pela visita e esperemos partilhar experiências e aventuras neste mundo da corrida que atravessa oceanos.

Anónimo disse...

Olá Ana!

Começo por deixar um enorme obrigado pelas palavras que aqui escreves-te mas ainda mais pelas transmitidas no dia 21 antes e durante a maratona.

Foi a minha 1ª Maratona e foi importante o animo e os concelhos que me deste. Fiquei satisfeito pois agora as pessoas a quem digo que já fiz a maratona (tirando aquelas que confundem maratona com mini maratona... ou outra coisa qualquer)já me podem chamar maluco!! e é tão bom ser maluco!!

Comecei nesta história das "corridas" em 2002 depois de perceber que "para não ficar redondo", e dado que se tornava difícil juntar pelo menos 10 pessoas de uma forma regular para fazer um jogo de futebol, o melhor era correr uma vez que era mais fácil de concretizar.

Assim comecei com os concelhos e incentivo do Amigo Álvaro Costa que foi uma das primeiras pessoas que me deu a entender que isto de correr era , como diz o engenheiro "porreiro pá".

Lembro-me de lhe dizer na altura que gostava de um dia fazer uma maratona, ao qual ele me respondeu: Calma, tens tempo para isso... lá para os 30!! e assim foi 2007 foi o ano dos 30 e da 1ª maratona!

Em Agosto inscrevi-me na maratona do Porto dias depois de fazer um treino longo de 2:30 e 25 Km... Na altura não pensei bem no que estava a fazer e pensei: que se lixem os 20€

Ecoavam na minha cabeça as palavras que me disses-te uma vez... "o difícil na maratona é treinar para ela e não própriamente fazê-la"

Treinei de uma forma razoável até 1 mês e meio antes da maratona e depois desleixei-me um pouco e do objectivo inicial - acabar em 4:00h... passou para.. simplesmente acabar.

Tinha noção que não tinha respeitado a Srª Maratona nos treinos... mas lá fui em pézinhos de lã e terminei sem aquele enorme sofrimento que receava!!

Foi uma excelente experiência que espero repetir logo que seja possível treinar mais e melhor!

Estive à pouco com o Rui Nunes que é um grande amigo meu e que profissionalmente encontra-se em Barcelona... e não pertence ao grupo que me chama maluco ou me olha de lado... pertence ao grupo dos "és um campeão pá" e já alinhavámos uma participação na meia ou maratona de Barcelona!!!
Este "menino" quase sem treinar faz a meia em 1:35! (acho que já te tinha falado dele)

Um Beijinho para ti Ana e até breve!!

Luís Fazenda

Anónimo disse...

Olá Ana:
A Ana é enorme, até na hora de desistir. É preciso ter a coragem para enfrentar uma maratona tal como para saber quando foram atingidos os nossos limites. Gostava de participar na maratona do Porto mas ainda não será neste ano.
Desejo que a maratona do Porto 2013 deixe, apenas, muito boas lembranças à Ana.
Um abraço.
Seu fã,
Abílio Nunes