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domingo, 3 de dezembro de 2006

Por vezes caímos. Caímos porque não temos nada e porque temos tanto que não sabemos usar. Caímos afinal, porque não sabemos viver. Porque nos falta o que não temos, mas também porque nos sobeja o que não sabemos usar. Por isso caímos.

E depois levantamo-nos e deparamos com as mesmas faltas e com as mesmas abundâncias dadas como inúteis. Apenas com mais feridas para lamber e sarar. Apenas com mais dor e mais ódio e pena, de nós mesmos, pelo que desperdiçamos e que parece nunca virmos a saber usar. Estúpida inteligência esta...
Caímos porque estamos frágeis e vulneráveis. Porque nos falta o pão, o amor e a saúde. Porque nos falta uma festa no rosto, um afago nos cabelos, uma noite descansada ou a ilusão de sermos amados, ou ainda a certeza de sermos queridos. Porque nos falta paz e o amor próprio. A eminência do fundo do abismo, leva-nos a querer agarrar algo, e esse algo nem sempre é o melhor. É a mesma queda sem darmos conta. Para o fundo, para esse mesmo abismo. Sem retorno. O pior de tudo é que eu estou consciente. A consciência é uma grande chatice. A embriaguez salvar-me-ia desta racionalidade inútil. Estúpida inteligência esta...

Falta-me correr. Esta imobilidade não me faz bem. Talvez por isso mesmo a admita e a procure deliberadamente apenas mal disfarçada com desculpas esfarrapadas. A auto flagelação dá-me o que eu mereço. Por isso caio. Por isso levanto-me só para cair de novo. O prazer da dor. Há outra forma de viver?

Eu sei que há. Até eu, em tempos, vivi feliz…

E lá diz a canção para nos embalar e fazer-nos acreditar que é possível... ainda:

“Muda de vida
Se tu não vives satisfeito
Muda de vida
Estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida
Não deves viver contrafeito
Muda de vida
Se há vida em ti a latejar

Ver-te a sorrir, eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens
Que ser assim
…/…

Olha que a vida não,
Não é nem deve ser
Como um castigo que
Tu terás que viver
Olha que a vida não,
Não é nem deve ser
Como um castigo que
Tu terás que viver …/…”

Humanos

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